sexta-feira, dezembro 15, 2006

Os R$ 267,32 da Copeve

Aldo Nascimento

No país do samba e do futebol, o brasileiro, no começo do século 21, lê menos de dois livros por ano. Na Inglaterra e nos Estados Unidos, são cerca de cinco livros. Na França, sete. Na Finlândia, esse número chega perto de 20.
Em nossas escolas públicas, o aluno passa pelos ensinos fundamental e médio sem ler, em sala de aula, uma narrativa. Não há leitura na escola, e os irresponsáveis por isso, eles: professores e currículos formais do Estado e dos municípios.
Nem tudo, entretanto, nega a leitura. A Copeve, da Universidade Federal do Acre, a Ufac, contribui para que o aluno adquira o hábito prazeroso de ler à força. “Compre os dez livros da lista para a prova de Literatura.” Tanto pela quantidade quanto pelo conteúdo, esses dez mandamentos literários estimulam, dê-mais, os alunos a ter antipatia pela arte literária.
Somente em junho deste ano, a Copeve divulgou à imprensa uma lista não com os dez livros, mas com oito - Álbum de Família, de Nelson Rodrigues; e Inocência, de Viconde de Taunay, excluídos.
Em agosto, entretanto, o vestibulando se deparou com os dez livros no manual do candidato. Para coroar esse estímulo literário desorganizado, eis o grand finale: na prova de Literatura, domingo, dia 10, o vestibulando não leu sequer uma questão sobre um dos dez livros. Outro estímulo para ler.
“Prestei vestibular para Medicina e, por causa disso, comprei os livros da lista da Copeve, porque todo ponto é importante para eu passar”, disse João Carlos, do pré-vestibular Ideal.
Filho de uma família humilde que investe em seus estudos, seus pais gastaram R$ 267,32 para comprar 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 & 10 livros. João leu todos, superando, graças à Copeve, a média anual dos brasileiros.
“Não caiu uma questão sobre os livros, meus pais gastaram dinheiro em vão, e eu perdi tempo”, disse o aluno. “Na próxima vez, vou ler os resumos desses livros”.
Há muito tempo, a Copeve reproduz em suas provas de Literatura questões que visam somente ao anacrônico historicismo literário. Ao empobrecer a Literatura, por exemplo, de uma Clarice Lispector, a Copeve concedeu aos vestibulandos o vício dos resumos fotocopiados.
Há muito tempo, decretou-se a morte da leitura. Neste ano, a Copeve se superou. Parabéns!!!