quarta-feira, março 25, 2009

Boa entrevista

Recortei o que me interessou mais. Leia na íntegra a entrevista de Altino Machado

Evanildo Bechara 1
"Eu vejo no movimento pela manutenção do acreano uma devoção ao nome. Os árabes dizem: dar nomes às coisas é sinal de possuí-las. Então eu vejo o movimento sentimental dos acreanos com alegria, porque eu vejo o respeito pela forma escrita. Como filólogo, repito, isso me causa muita alegria. Mas como técnico da língua, vejo em acreano com “e” um erro de história da língua. Quer dizer, nós estamos defendendo acreano em nome da história do Estado, mas contrariando a história da língua. Então o que há é a história da língua, que é universal, contra a história dos acreanos, que é digna de respeito e admiração, mas é muito pontual."

Evanildo Bechara 2
"Veja bem: à altura em que nós estamos, com a implementação iminente do acordo, tenho a impressão que ainda prematuro a pessoa fazer qualquer movimento nesse sentido."

Evanildo Bechara 3
"A rigor não acontece nada. Apenas os alunos que fizerem concursos para as instituições oficiais, se o professor não aceitar o apelo popular e ficar na estrita decisão oficial, os alunos serão penalizados com uma falta ortográfica. E ainda mais, o que é mais grave, porque não sabem escrever o nome da sua cidade ou região. É como antigamente a palavra Brasil, não é? A palavra Brasil, por influência inglesa, era escrita com “z”. Ainda no início de nossa Academia, ela era uma “Academia Brazileira”, com “z”. O nosso Rui Barbosa sempre escreveu o nome dele com “y”, mas acontece que a Fundação Casa de Rui Barbosa, instalada na casa onde ele morava, a fundação escreve Rui Barbosa, com “i”, de acordo com a decisão ortográfica de 1943. Todo mundo tem o direito de escrever como imagina, como quer. Há muita gente que ainda escreve filosofia e fósforo com “ph” etc. É um direito que lhe cabe. Ao lado desse direito pessoal existe um compromisso social e a ortografia é um compromisso social."

Evanildo Bechara 4
"Defender acreano porque termina por “e” é um erro de história da língua. Veja bem: em acreano esse “e” não faz parte do radical. Então esse “e” desaparece. Por exemplo: Camões. Também tem um “e” no fim, mas quando se faz o adjetivo camoniano, esse “e” tem que ser passado pra “i”. É o que acontece com Açores, que também tem “e”. Mas quando se faz um derivado, ele passará a açoriano, com 'i'."

Evanildo Bechara 5
"Sim, é uma opção deles. É uma opção que está sujeita, por exemplo, numa prova de um aluno, ao professor dizer: 'Você não saber escrever o nome do seu próprio estado?'. A pessoa pode passar por esse dissabor."

Evanildo Bechara 6
"Eu interpreto como uma boa vontade de atender aos seus eleitores, mas cometendo um erro de ciência lingüística. Então a pessoa fica na opção entre cometer um erro por amor à forma e demonstrar um desconhecimento de um fato de língua. É como o poeta que acha que lágrima devia ser escrito com “y” porque o “y” lembra o rolar da lágrima pela face."

Evanildo Bechara 7
"Mas como técnico da língua, vejo em acreano com 'e'um erro de história da língua. Quer dizer, nós estamos defendendo acreano em nome da história da cidade, mas contrariando a história da língua. Então é uma história da língua, que é universal, contra a história dos acreanos, que é digna de respeito e admiração, mas é muito pontual. Mas vamos ver. É como os portugueses, lá em Portugal, que são contra o acordo porque eles se dizem os donos da língua. Nós somos apenas condôminos da língua. Mas a verdade é que o destino da língua portuguesa hoje está mais no Brasil do que em Portugal."