segunda-feira, fevereiro 15, 2010

EntreVista

Em época de Carnaval, a inteligência, tão raríssima na TV, desaparece quando, por exemplo, aquele repórter pergunta ao folião se o Carnaval está alegre ou quando aquele folião diz que o Carnaval está alegre. Detalhe: repórter e folião concluíram o ensino superior.

Se isso é superior, estive com Georges Minois em Rio Branco para entrevistá-lo sobre o reino de Momo. Minois não é repórter e nem trabalha na TV Aldeia. Historiador francês, ele publicou História do riso e do escárnio, um belíssimo livro sobre o Carnaval.

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Minois, há três dias você assiste ao Carnaval de Rio Branco, qual sua observação?
Georges Minois - Diferente do que o russo Bakhtin escreveu, o riso na Idade Média é usado a serviço dos poderes, ou seja, ele é mais conservador do que destruidor. Em Rio Branco, o riso de Momo é domesticado, não zomba dos que exercem o poder em Rio Branco. Aqui, o poder público organiza o Carnaval conforme seu entendimento. Organiza para dominar sua subversão simbólica.

Subversão simbólica?
Georges Minois - Sim, Momo é um mito que subverte a ordem dos deuses, ou seja, ele coloca em seu reino o poder do avesso. No Acre, o governo do Estado organiza o Carnaval para alterar o sentido dessa festa e, nesse sentido, o poder não aparece do avesso por meio do riso, do sarcasmo.

O poder sempre buscou domesticar Momo?
Georges Minois - Eu digo em meu livro que o Carnaval muda de tom no século XVI. Eu poderia lhe dar vários exemplos, mas fico com o que ocorreu nas cidades flamengas. Nelas, o imperador interdita a festa do Rei dos Bobos. Nessa época, o cômico é substituído pelo didatismo, como ocorre em Rio Branco. Aqui, a interdição existe, ela é sutil.

Suas últimas palavras.
Georges Minois - Isso que está aí não é Carnaval, o poder público matou o sentido original do reindo de Momo, e o que restou ao povo foi brincar sobre seu cadáver.