segunda-feira, outubro 31, 2011

Obrigado!

Há momentos em que o desânimo cai sobre mim como âncora. Mas sei que é só momento, nada mais do que momento.

Hoje, recebi de longe uma mensagem de ex-aluno. Suas palavra animam esse desejo inquieto de lecionar, ainda. Ainda.

Olá, caro professor! É com orgulho que escrevo a você. Fui seu aluno no segundo ano do ensino médio, na escola HMM. Caro professor, você leu "Werther", de Goethe. Fiquei maravilhado por conhecer a literatura estrangeira. Pra mim, o melhor professor que eu tive na área foi o senhor. Hoje, eu faço Biblioteconomia no estado de Rondônia. Pretendo voltar ao Acre, ser gestor de biblioteca e encarar de frente este desafio, de fazer novos leitores. Caro professor, continue assim, sua metodologia deu certo. Obrigado!

Só quem foi ou é meu aluno pode falar bem ou mal de mim. 

quinta-feira, outubro 27, 2011

O futuro é hoje


Quando adolescente, a ditadura militar propagava "o Brasil é o país do futuro". Quem sabe do futuro são empresas como a Microsoft ou homens como Steve Jobs.

Sempre sinto o futuro em meus dedos quando toco na tela de meu samartphone. Algo mágico, uma harmonia entre beleza e funcionamento.

No entanto, quando entro em sala para lecionar, recuo no tempo, presencio um passado que permanece morto-vivo.

Sim, o futuro, eu vejo, é hoje, mas a escola é de ontem.

sexta-feira, outubro 21, 2011

Onde ler?

De Aldo Nascimento, publicado no jornal "O Rio Branco", na coluna Ler.

A palavra ler, como muitas palavras, provem da cultura rural, dos hábitos agrários: o ato de escolher os grãos de um cereal era o ato de ler. Se separarmos a raiz “leg” da palavra latina “legere”, encontraremos essa mesma raiz em eleger. Em português, “leg” transformou-se em “l(e)”, da palavra lei; transformou-se em “lh(e)”, da palavra colheita; transformou-se em “le.ç”, da palavra seleção; e transformou-se em “lei.t”, das palavras leitor, eleitor. “Leg” também surge sob a forma apofônica “lig”, que está na palavra inteligente. A palavra colega, por mais que possa soar estranho, significa “quem lê junto”.

           
O que significa, afinal, ler? Como escrevi no início, o ato de escolher os grãos de um cereal era o ato de ler, ou seja, ler significa escolher, selecionar – ora, quem escolhe (ou quem sabe ler bem) jamais escolhe o pior. Mas entendamos que, se ler é “escolher o melhor”, isso quer dizer que o melhor nos aproxima do outro. De um cereal, separamos (ou lemos) os melhores grãos dos piores não só por serem os melhores – óbvio! - que nos alimentarão, mas porque, quando servidos, os melhores grãos unirão os comensais à mesa. O melhor, portanto, nos aproxima. Porque cria repulsa, o pior nos afasta.

Antes de ler, porém, é preciso haver o espaço selecionado para a leitura, por isso esta pergunta: onde ler “O Pequeno Príncipe”? O ato da leitura exige conforto, por exemplo, o conforto do silêncio. A temperatura deve ser agradável, entre 20º e 25º. O leitor deve estar prazerosamente acomodado em um ambiente que o faça se sentir separado dos ruídos e dos desconfortos da rua.

Centro de Rio Branco. Na Biblioteca Estadual, segundo piso, encontra-se o conforto do leitor infantil: paz, temperatura agradável, acentos confortáveis, silêncio, tudo selecionado para que o lugar da leitura seja aprazível. Entretanto, na escola, a sala de aula se nega a espaço de deleite, de aprazimento. Muito longe de ser oásis de leitura, o chão de uma sala é infecundo para a abertura de bons livros. Entre suas quatro paredes, não há o conforto do silêncio, muito menos temperatura agradável e acentos confortáveis. Porque cria repulsa, a sala de aula nos afasta do ato de ler.

Uma estrada rasga a floresta. Um viaduto se ergue sobre casas. Milhões de reais gastos com o que o discurso político chama de progresso e de desenvolvimento. Ler, no entanto, nunca representou em propagandas de governos a grandeza cultural de um povo, por isso a sala de aula vale menos do que estradas e viadutos, por isso a sala de aula é esse lugar desinteressante e desagradabilíssimo para ler Ruth Rocha, Ziraldo, Carlos Eduardo Novaes, Fernanda Lopes de Almeida.

O que pensar de escolas que, inadequadas à leitura, roubam de seus alunos a paixão pelos livros? Pela editora Casa da Palavra, os organizadores Júlio Silveira e Martha Ribas publicaram “A Paixão pelos Livros”, páginas simples e repletas de ternura pelo ato de ler. Drummond, Flaubert, Caetano Veloso, Montaigne são alguns nomes que pensam o gesto da ler, que é separar o melhor grão do pior, de preferência, em um lugar agradável.

segunda-feira, outubro 17, 2011

Grandes descobertas científicas


1. Se você ficar gritando por oito anos, sete meses e cinco dias, terá produzido energia sonora suficiente para aquecer uma xícara de café.
(Não parece valer a pena.)

2. Se você peidar constantemente durante seis anos e nove meses, terá produzido gás suficiente para criar a energia de uma bomba atômica.
(Agora sim!)

3. O coração humano produz pressão suficiente para jorrar o sangue para fora do corpo a uma distância de dez metros.
(Uau!)

4. O orgasmo de um porco dura trinta minutos.
(Por que a natureza foi tão generosa logo com o porco?)

5. Uma barata pode sobreviver nove dias sem sua cabeça até morrer de fome.
(Ainda não consegui esquecer o porco)

6. Bater a sua cabeça contra a parede continuamente gasta em média cento e cinquenta calorias por hora.
(Não tente isso em casa; talvez no trabalho!)

7. O louva-deus macho não pode copular enquanto a sua cabeça estiver conectada ao corpo. A fêmea inicia o ato sexual arrancando-lhe a cabeça.
('Taí a origem do ditado: perde-se a cabeça por um bom ...')

8. A pulga pode pular até trezentas e cinquenta vezes o comprimento do próprio corpo. É como se um homem pulasse a distância de um campo de futebol.
(Trinta minutos...que porco sortudo! Dá pra imaginar?)

9. O bagre tem mais de vinte e sete mil papilas gustativas.
(O que é que pode haver de tão saboroso no fundo de um rio?)

10. Alguns leões se acasalam até cinquenta vezes em um dia.
(Ainda prefiro o porco... qualidade é melhor que quantidade!)

11. As borboletas sentem o gosto com os pés.
(Isso eu sempre quis saber... Quando uma borboleta pousa na gente, está experimentando o gosto? Vou tomar mais cuidado com esses insetos!)

12. O músculo mais forte do corpo é a língua.
(Hummmmmmmm... e provavelmente a língua das mulheres é mais forte que a dos homens...rs)

13. Pessoas destras vivem em média nove anos mais do que as canhotas.
(E se a pessoa for ambidestra?)

14. Elefantes são os únicos animais que não conseguem pular.
(E é melhor que seja assim!)

15. A urina dos gatos brilha quando exposta à luz negra.
(E alguém foi pago para descobrir isso?!)

16. O olho de um avestruz é maior do que o seu cérebro.
(Conheço gente assim)

17. Estrelas-do-mar não têm cérebros.
(Conheço gente assim também)

18. Ursos polares são canhotos.
(Se eles começarem a usar a mão direita, viverão mais)

19. Seres humanos e golfinhos são as únicas espécies que fazem sexo por prazer.
(Sei...E aquele porco???)

20. Agora que você já deu pelo menos uma risadinha, é hora de mandar esses fatos malucos para alguém que mereça rir também, ou seja... TODO MUNDO!



Não consigo esquecer aquele porco..rsrsrsrs..

sexta-feira, outubro 14, 2011

Depois de fevereiro, bons e ruins resultados



Em 16 de fevereiro deste ano, meus alunos elaboraram uma introdução após a leitura da proposta redacional do Enem de 2005. Quero destacar aqui o texto de uma dupla muito atenta à refacção textual: Késsia de Lima Monteiro e Renata Melo Silva.

Com quatro aulas de produção textual por mês, o processo de reconstruir o próprio texto é longo e muito cansativo. Sem que eu explicasse algo, elas escreveram a seguinte introdução:

Hoje em dia podemos afirmar que no Brasil o trabalho infantil já não é mais algo anormal e sim um erros dos familiares, e do poder publico ao permitirem que isso aconteça. O pior é que a maioria desses jovens que atuam nos lugares dos pais não terminam os estudos e não conseguem alcançar uma faculdade, e isso acaba prejudicando os seus futuros, fazendo com que eles acabem perdendo a melhor oportunidade que o mundo nos dar de ter uma boa vida.

Após eu explicar os textos da redação do Enem de 2005 e o tema relacionado a esses textos, elas apresentaram, depois de muitas críticas, sugestões e reconstruções, esta introdução:

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 5.438 milhões de crianças e de adolescentes entre 5 e 17 anos trabalham no Brasil, lugar onde "o futuro espelha essa grandeza". O maior índice de trabalho infanto-juvenil localiza-se no Nordeste, com 2.296 milhões (42.2%). Em segundo, aparece o Sudeste, 1.513 milhão (27.82% ).

Outubro. Sem minha ajuda para a reconstrução textual, elas escreveram uma introdução conforme o Enem de 2002.

Em 1984, em São Paulo, a sociedade realizou um comício pelas Diretas já!, em busca do direito da população votar e ser votada, conquistando assim a democracia. Por falta de conhecimento histórico, os jovens de hoje não sabem valorizar a importância de um voto, deixando espaço livre para a corrupção.
Comparado ao texto de fevereiro, houve melhoras. Há problemas ainda; porém, durante meses, muitos erros foram evitados. Evidente que outros alunos não superaram seus limites. Um professor não consegue  100%.


quinta-feira, outubro 13, 2011

De Fagundes Varela



Tristeza

Minh'alma é como o deserto
De dúbia areia coberto,
Batido pelo tufão;
É como a rocha isolada,
Pelas espumas banhada,
Dos mares na solidão.

A escola pública acriana abandonou os clássicos, muito mais a poesia. Não há gênero textual mais exuberante, complexo e elaborado do que o gênero lírico. E saibamos que o lírico não se limita à poesia. Os elementos líricos estão, por exemplo, no filme "Lavoura Arcaica" ou na minissérie "Dom Casmurro".

Os alunos do ensino médio, todos, ignoram os deslocamentos dos termos nas frases-oracionais. Estudar tais deslocamentos nos versos significa passar da Ordem Sintática Indireta para a Ordem Sintática Direta. Por meio dos versos, quer dizer, por meio de termos deslocados, porque é característica dos versos os deslocamentos, o aluno aprende a colocar na ordem direta os termos da oração.

Outro ponto louvável do texto lírico: a riqueza vocabular. Além da noção da ordem e da desordem sintática, o aluno precisa ampliar o seu cardápio semântico. Sem ampliar seu vocabulário e sem o seu devido sentido no verso ou na prosa, estreita-se a consciência de.

Essa riqueza vocabular associa-se também à combinação com outros vocábulos, permitindo assim a inquietação da polissemia.

Poderia, aqui, destacar outros pontos, mas permaneço com esses.

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Aos meus alunos do ensino médio, ofertei a seus olhos versos de Fagundes Varela. Primeira tarefa, colocar na ordem sintática direta a primeira estrofe para que percebam a sequência lógica (direta) do verso. Considero esse exercício importante para que eles, quando dissertarem, saibam deslocar os termos.

Só nessa estrofe, o aluno aprende vírgula, ponto e vírgula, concordâncias nominal e verbal, além, é claro, de os versos provocarem uma palavra que nos separa dos outros animais, esta: imaginação.

No entanto, nas escolas públicas acrianas, os clássicos estão mortos, mais ainda a poesia. Como disse certa vez um professor: "Meus alunos não estudam poesia, porque no mundo de hoje eles não escreverão versos." Tristeza. E pensar que um jumento como esse recebe um salário igual ao meu.
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Exercício 1:
Colocar na Ordem Sintática Direta  

Minh'alma é como o deserto
De dúbia areia coberto,
Batido pelo tufão;

Ordem Sintática Direta: Minh'alma é como o deserto coberto de dúbia areia, batido pelo tufão.

Uma vez na ordem, o aluno precisa ir ao dicionário para encontrar o significado e, depois, por meio de reflexões, o sentido da palavra adequado no verso. O que significa "dúbia"?

No dicionário Houaiss, há três significados. Qual o mais adequado? Eu penso que seja "difícil de caracterizar". E "batido"? Resposta, "marcado". E "tufão"? Nesse caso, não basta ir ao dicionário, é preciso interpretar a palavra, porque ela se encontra em estado conotativo. "Tufão" tem sentido de "desordem", "desarmonia", "irregularidade".

E "alma"?

Depois da ordem sintática direta, depois do sentido das palavras, interpretar a poesia.

Em sala, essa prática é cansativa. Sem uma boa leitura, sem perceber como o texto lírico é elaborado, escrever melhor torna-se mais difícil.      

terça-feira, outubro 11, 2011

quarta-feira, outubro 05, 2011

Quando eu voltar a blogar, não sei. Se eu voltar.


Certa vez, perguntaram a mim o que seria morrer. Sem apelo religioso, sem pensar em outra vida, sem defender a ideia de que existe vida após a morte, respondi que morrer é a suprema perfeição do esquecimento.

Não importa se amanhã ou se a dois mil anos. Eu, por exemplo, serei lembrado no máximo em uma missa de sétimo dia. Tenho a mais serena compreensão de minha insignificância.

Semelhante a Sísifo, carregamos a pedra ao topo e, depois, deixamos que ela role. Outra vez, nós a carregamos ao topo para que a pedra role outra vez. No entanto, embora façamos esse gesto sem futuro,  sem esperança, precisamos encontrar um sentido para esta vida.

Um sentido. Entretanto, ainda que possamos encontrar um sentido, a morte nos sepultará na cova profunda do esquecimento. Morremos para ser esquecidos.

Resta, portanto, preparar-se. Já li em obras literárias e já vi em belos filmes personagens que deram ao ato final a beleza de não haver o medo do fim, por exemplo, estes: Cyrano de Bergerac (peça teatral de Edmond Rostand), Drogo (romance O Deserto dos Tártaros), Selma (filme Dançando no Escuro), Adolf Hitler (filme A queda) e, antes deles todos, o filósofo Sêneca

Por meio deles, o autocontrole, isto é, a senhora Razão os guiou com a cor da serenidade.