sexta-feira, maio 25, 2012

Faculdade Euclides da Cunha

Nos dias 16, 23 e 30 de junho, das 14h às 18h, aplicarei um curso de extensão na Faculdade Euclides da Cunha, com as notas 4 no curso de Geografia e 3 no curso de Pedagogia.

Estudaremos as orações subordinadas adjetivas e adverbiais, além de pontuações em textos, por exemplo, de Roland Barthes, em uma das cartas de Heloísa a Abelardo.

domingo, maio 20, 2012

A gestão do professor Waldir 2


Ontem, houve a entrega dos boletins aos pais dos alunos.


Essas reuniões deveriam ser melhor planejadas. Raras foram as bem planejadas na escola HMM. 

Raras.

Pulsa um hábito nessas reuniões de se falar mal dos estudantes ("os alunos estão agressivos", "os alunos não querem estudar") e ainda falam de forma genérica.

Os professores não apresentam números específicos. No entanto, não são todos os alunos. Na turmas, sabemos quais são, é uma minoria em cada sala.

A maioria não é violenta. A maioria se dedica aos estudos. Por que os professores não apresentam números no lugar das generalidades?

Outra: por que não elogiam os melhores alunos, os mais destacados? Não, os professores preferem dizer que "os alunos são agressivos".
Os alunos mal comportados e com notas ruins deveriam estar com os pais nos conselhos de turma em dias distribuídos na semana.

É um saco ouvir que "os alunos são agressivos". Generalidades das generalidades.

Que coisa chata!!!


A gestão do professor Waldir 1

Quase um semestre de gestão do meu colega de trabalho, o professor de Física Waldir.

Sobre gestão escolar, a imprensa acriana só noticia em época de eleição.

Fora desse período, só existe a petrificada mudez, porque os nossos jornais não são alfabetizados o suficiente para ler a importância da educação pública para a identidade de uma região.

Talvez não devamos falar do gestor, mas de uma parte do corpo docente e dos funcionários que o elegeu na prévia eleitoral.

Waldir, sabemos, é a consequência dessa parte de funcionários que não gostou da gestão anterior. Ora, se não gostamos de algo, se rejeitamos, é pelo fato de termos condições de fazer o melhor.

Se funcionários negaram o nome da Osmarina na prévia, isso não quer dizer que conquistas da gestão anterior não estarão na gestão atual.

Uma dessas conquistas: a ordem.

Osmarina deixou falhas para qualificar o ensino - disse isso a ela -, porque talvez sua prioridade tenha sido a ordem.

Certas vez, colocando o pé encostado no armário da escola, ela me chamou atenção: "Não coloque o pé aí". Outra vez, quando estava na sala dos professores para beber água, "não é horário de beber água, você deve estar em sala".

Jamais a vi como "desumana" ou "menos humana" por causa de suas "chatices". Jamais. Nesses meus anos de Acre, Osmarina foi a primeira diretora que conheci, porque ela ordenava, ou seja, ela colocava as pessoas no seu devido lugar.

Na escola pública, sabemos, a desordem existe, porque as pessoas desconhecem o seu lugar. Um aluno, se passar pela sala de professores, precisa pedir licença ou então não é lugar de aluno passar.

A ordem manifesta-se nos detalhes.

Hoje, brotam-se murmúrios de que a escola HMM está sendo regada pela desordem.

Eu permanece com a mesma postura de antes. A escola é o meu ambiente de trabalho e não gosto quando falam mal dela.

Qual será a postura dos funcionários que elegeram o professor Waldir na prévia?
         
Sem ordem, impossível o equilíbrio

  

 

quinta-feira, maio 17, 2012

Alunos e uma revista

Retorno ao assunto.

Contra a postura antiprofissional de uma funcionária da Secretaria da Educação do Acre, alunos do 1º e do 2º ano e ex-alunos do 3º assinaram um documento contra essa funcionária.

Foram 320 nomes.

Jovens, mais uma vez, muito obrigado pela solidariedade.

Revista Pontos da Educação

A Faculdade de Educação Superior Acriana Euclides da Cunha é a única instituição particular a publicar uma revista.

Após meses de trabalho, eu consegui materializar, em parte, uma ideia de revista acadêmica.

Ainda não saiu da forma como pensei, mas o resultado final me agradou. Procurei, dentro do possível, conceber uma revista acadêmica que não ficasse condicionada às bibliotecas.

Por causa da forma da revista, os textos de  intelectuais, de mestres e de doutores podem estar em lugares mais populares.

É o começo. A próxima poder ser mais elaborada. É um bom começo.               

terça-feira, maio 15, 2012

Vanessa, 20 turmas e mais de 800 alunos

Hoje, pouco antes entrar em sala, caminhei pelo corredor com a colega de trabalho Vanessa, professora de Espanhol.

"Estou muito cansada, não estou me sentido bem", disse antes de entrar em sala.

Existem funcionários públicos que trabalham em gabinetes com ares-condicionados, porém estão lá sem o critério republicano.

Deixar de lecionar em salas desconfortáveis para ocupar espaço na secretaria só com tais princípios: o padrinho escolhe ou o partido indica.

Recentemente,disseram "não quero ficar em sala", e a secretaria arranjou um lugar para esse profissional da educação. Nunca deu o suor como funcionário e, como não criticava a ordem estabelecida, porque para esse indivíduo tanto faz como tanto fez, recebeu como descanso um gabinete da secretaria.

Muito diferente desse funcionário público vagabundo, Vanessa leciona para 20 turmas. Por causa da secretaria e por causa de alguns professores da escola HMM, Vanessa leciona para 20 turmas, ou seja, leciona para mais de 800 alunos.

E pessoas que estão na secretaria por apadrinhamento ou por partidarismo ainda dizem que "o professor deve saber prender a atenção do aluno com aulas interessantes".

Desgraçado quem fala assim. Vanessa não concluiu seu tempo de aula hoje, porque ela achou mais interessante ir para o hospital.

sábado, maio 12, 2012

A semestralidade e o muro

É hábito secular do poder transferir a culpa a outros, nesse caso, aos professores.

A  qualidade de ensino não se reduz somente a eles, mas a um conjunto de ações da Secretaria de Educação do Acre.

Segundo uma fonte da própria secretaria, existem números que confirmam resultados positivos com a semestralidade.

Existe escola estadual que manteve a semestralidade, não foi o caso da Heloísa Mourão Marques.

Com a semestralidade, corta-se pela metade o número de alunos, o número de salas, ou seja, cansa-se menos e, com isso, leciona-se com mais empenho.

A secretaria, no entanto, sem uma avaliação mais profunda, determinou a anualidade na escola por questões de ordem econômica.

Quem está na secretaria exige qualidade de ensino, mas a própria secretaria não prioriza a qualidade, e sim redução de custos.

O muro
A máquina estatal é lenta. Há anos diretores da escola HMM pedem um muro e há anos a Secretaria de Educação só ouve.

Em um posto de gasolina, o secretário de Educação viu alunos da escola pulando o muro. Disse que colocará uma grade de um lado para evitar a desordem.

Alunos então deverão pular agora do outro lado, porque, do outro lado, quem está no posto não vê.
  

sexta-feira, maio 11, 2012

"Paraísos Artificiais"

Quando o poder público fala de drogas, a imagem é horrenda.


Policiais civis e militares mostram fotos de pessoas "destruídas" pelas drogas.

Poucos dias em cartaz - diferente de "Os Vingadores", filme de entretenimento -, a película "Paraísos Artificiais" teve uma bilheteria pequena.

Em 1851, o poeta francês Charles Baudelaire iniciou seus ensaios sobre "alteração da percepção" com o título "Paraísos Artificiais".

Ler Baudelaire é perceber o quanto as autoridades são superficiais. Assistir ao filme é perceber o quando as autoridades são superficiais.

Em 1860, dando continuidade a seus ensaios sobre drogas, o poeta escreve "a verdadeira realidade está apenas nos sonhos". Quem assistiu ao filme viu sonhos.

As drogas, senhores, não leva à morte, mas às delícias dos Paraísos Artificiais. A batalha é desigual. O prazer venceu.







   

Política cultural do PT

Em São Paulo, tem "Virada Cultural".

No Rio de Janeiro, tem "Viradão Carioca".

E no Acre?

Neste ano, não houve a bienal do livro.

No ano passado e neste ano, não houve o circuito de teatro na Usina de Arte João Donato.

"Virada Cultural". "Viradão Carioca".

No Acre,tem "Virando as Costas para a Cultura".

 


Em menos de 6 meses

Hoje, houve uma reunião entre direção e corpo docente para que esses dois segmentos coloquem Heloísa Mourão Marques em seu devido lugar.

Um fedor grácil de desordem já ultrapassou os muros da escola.

O aroma da ordem precisa retornar, por isso a reunião de hoje. No entanto, se alguns professores nem mais usam o crachá, outras medidas podem ser impossíveis.

Crachá
Como sabemos, o crachá foi uma ideia da professora Osmarina. Antes de sair de sala, o professor entrega o crachá ao aluno para ele ir, por exemplo, ao banheiro, garantia de que ele foi autorizado para sair de sala.

Quem está sem crachá não foi autorizado a ficar no corredor escolar.

Ideia simples e boa; no entanto, até hoje, ela é ineficaz, porque certos professores se negam a cumprir essa norma.

É aluno ou professor que deve ser advertido?

Horário
Os professores fecharam um acordo: 
para quem estuda no  horário matinal, o aluno deve estar na escola às 8 horas.

Depois disso, portão se fecha. Todavia, existe caso e existe Caso.

Mais: o diretor quer que os professores cheguem às salas de aula antes dos alunos. Quando o aluno entrar, o professor deve estar à espera dos alunos.

Celular
Nunca antes na história da escola HMM, celulares incomodam tanto as aulas.

Eu sugeri que celular
, se estiver em sala, deve ser recolhido pelo professor para ser destinado à coordenação.

Se não for contra alguma lei, os aparelhos devem ficar retidos na escola durante 10 dias e, só depois disso, os pais devem ser notificados.

Se o aparelho não puder ser retido por dez dias, o aluno deve ser advertido por escrito.

Caso haja uma segunda advertência, suspensão por dois dias. Se houver a terceira, três dias. Se houver a quarta, quatro dias de suspensão e assim sucessivamente.    

Antes disso, os pais devem assinar um documento, determinando o não uso do aparelho na escola segundo as normas.

Quer telefonar para o filho? Ligue para a escola. Antes do celular existir, era assim. Ninguém reclamava.

Agressão verbal e desrespeito verbal
Conselho de turma precisa funcionar, nunca funcionou na escola. Nunca.

O professor Hildo foi agredido verbalmente. Os professores da turma precisam se reunir para que possa ser deliberada uma ação pedagógica a esse aluno.

Um colega de trabalho agredido significa que o aluno agrediu todos os professores.

Faltas
Problema que sempre retorna, nunca há solução. Para mim, a solução é simples: se o professor já está caracterizado como faltoso, ponto cortado e aula reposta.

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Será que, em uma próxima reunião, nós falaremos dos mesmos assuntos?

Por exemplo, falaremos do crachá?

Espero que não.

sábado, maio 05, 2012

A morte





Não compreendo a vida 
senão pela intensidade do gesto.





A intensidade do gesto da amizade.
A intensidade do gesto do amor de mãe.
A intensidade do gesto de exercer a profissão.
A intensidade do gesto das paixões.

Sem intensidade, o peito não se estufa.
Sem intensidade, a alma não se expande.
Sem intensidade, a palavra não se agiganta.
Sem intensidade, o corpo se retrai. Se cala.


Mas há pessoas que não são intensas. Jamais estão à vontade. Até o choro é retido. Medido. Os que não são intensos estão sozinhos, escondidos.

Desejo o que é intenso para tocar na maior de todas as intensidades: a morte. A tua. A minha. A nossa.
 

Alunos, obrigado!

A vocês, eu sempre disse "assistam a bons filmes, a filmes que deem bons exemplos para nossas vidas".

"O Sorriso de Mona Lisa", "Ao Mestre com Carinho" e "Sociedade dos Poetas Mortos" são alguns que mostram a relação entre professor, aluno e escola. Boas películas. 

Mas por que são boas? Porque, entre outros valores, elas expressam a importância vital e elegante da desobediência.

Esses filmes projetam a ideia de que não devemos nos conformar. A desobediência, meus jovens, é virtude contra a arbitrariedade, contra o falso, contra a opressão, contra o cínico, contra o indiferente, contra o parcial,

contra uma funcionária da Secretaria de Educação do Acre que pressiona a direção da Heloísa Mourão Marques para eu ser retirado da escola.

Bendita sonoridade que sai
da boca dos inquietos

dos que não são domesticados
pelo afago de um deus

sonso
cínico
e lerdo.

Bendita sonoridade que sai
da boca dos injustiçados

dos que não são apascentados
nos campos dos obedientes ruminantes,

que comem sapos
que mastigam cadáveres de esperança
que ingerem a constância do fim
que degustam, sem tempero,

a abundância do manso capim.

Bendita sonoridade
chamada Desobediência,

palavra sem repouso
que também tem os 
seus direitos

perante os que falam como franciscanos
aos que passam, quase todo dia,

fome (de feijão com arroz bem feitos)
sede (de água pura e cristalina).

aos que passam
fome e sede

de justiça
.

Uma funcionária da Secretaria de Educação e o abaixo-assinado dos alunos

De forma arbitrária, uma funcionária pressiona a escola para que um professor seja retirado da escola, que ele seja advertido.

Sem apurar os fatos ocorridos em uma sala, sem ouvir alunos que presenciaram o ocorrido, o pré-juízo de uma funcionária determina uma acusação parcial, determina uma acusação unilateral: ele é culpado.

No entanto, de forma espontânea, alunos da turma onde aconteceu o problema manifestaram-se a favor do professor por meio de um abaixo-assinado, com a clara intenção de dizer que "o professor não tem esse tipo de postura agressiva ou de constrangimento em sala de aula".

Mais do que isso: alunos de outras turmas assinaram o documento. Muitos, tantos, vários, a grande maioria, enfim, segurou firme canetas para assinar nomes e nomes, e nomes, e mais nomes, e tantos, e vários nomes em nome de um professor.

Funcionária, o abaixo-assinado será entregue à senhora. Agora, por favor, tenha coragem e diga aos olhos deles: jovens, vocês estão errados, porque esse professor já foi processado e ele só arranja confusão.

   



  
 

Uma funcionária da Secretaria de Educação do Acre

Uma aluna diz à sua mãe que o professor a destratou em sala de aula. A mãe e a irmã da aluna vão à Secretaria de Educação.

Uma funcionária diz à mãe e à irmã que o professor tem muitos processos contra ele e que se trata de um indivíduo que só apronta confusão.

Depois, instrui para que a família da aluna vá ao Ministério Público para processá-lo.

Achando pouco, essa funcionária pressiona a escola para que o professor seja retirado da unidade de ensino e que leve ainda uma advertência.

Uma instituição não pode agir dessa forma. Isso é abuso de poder. Abuso. A funcionária confunde antipatia por uma pessoa com o cargo que ocupa em uma secretaria. Impressões pessoais não coadunam com a ética e com a imparcialidade de uma instituição de ensino.

Antes de qualquer condenação prévia ou unilateral, a sala de aula em que o fato ocorreu deve ser ouvida. Alunos simpáticos ou antipáticos ao professor devem ser ouvidos.

Eles presenciaram tudo. Eles ouviram tudo. Não é funcionária que assiste às aulas do professor mas eles, somente eles: os alunos.

Só quem pode falar de um professor com justeza(sua postura, suas brincadeiras, sua responsabilidade, sua irresponsabilidade, suas humilhações, seus constrangimentos, sua alegria, sua agressão, sua gentileza, se ele bom, se ele é ruim) é o aluno.

Os alunos, entretanto, não foram ouvidos. Uma acusação em si mesma determinou o que o professor é, sendo ainda essa acusação parcial, instruída ainda por uma funcionária parcial.

Isso não é justo.      




sexta-feira, maio 04, 2012

Que escola pública nós queremos?

Ontem, à tarde, a gosma da insanidade sujou funcionários, professores e gestão da escola Heloísa Mourão Marques.

Um aluno não foi à escola para estudar, mas para matar à faca outro aluno. Não conseguiu. Atingida duas vezes, a vítima  encontra-se no hospital. O aluno marginal encontra-se preso.    

Dias antes, um estranho entrou na escola e roubou um celular de uma aluna.

Mas isso não é comigo. A vítima não é meu filho. O marginal não é meu sobrinho. A faca não foi retirada de minha casa. Eu não leciono à tarde. Mais: na prévia, não votei no professor Waldir.

Por último: meu pai chama-se Pôncio Pilatos, e eu aprendi com ele que devemos lavar as mãos diante da desgraça alheia.

Se não fui atingido, permaneço indiferente em meu cristão lugar. Sempre vou à igreja aos domingos. Entrego tudo a Deus.

Eu, entretanto, não creio em um Deus impassível. O Deus em que eu creio não se finge de morto.

Perdi na prévia eleitoral da escola. A professora Osmarina deixou a disputa porque perdeu na prévia - isso foi uma consequência de um acordo entre os professores.

Dessa forma, ou seja, com a saída da professora Osmarina, uma esmagadora quantidade de voto destinou-se ao professor Waldir.

Quando lancei a ideia da prévia, era para não haver briga entre candidatos, era para haver uma unidade absoluta ao redor de um nome, no caso, professor Waldir.

Ora, eu faço parte dessa unidade. A violência na escola me atingiu. O professor Waldir é gente muito boa, um ótimo colega de profissão, e escola pública não é circo para a gente ver pegar fogo.

Na tristeza ou na alegria escolar, estamos juntos, todos, funcionários, professores e gestão, porque não se trata de diretor A ou B, mas da imagem do lugar onde trabalhamos.

Eis o sentido da prévio, agora é hora de manter esta palavra: unidade.

Nesta semana, uma reunião urgente é necessária.
  

terça-feira, maio 01, 2012

"Lírica e Sociedade"...


é uma obra de Adorno (1903-1969). Como meus alunos estão postando versos em seus blogues, quero deixar aqui algumas breves palavras relacionadas à linguagem lírica segundo o sociólogo Theodor Adorno.

1. O eu-lírico ou linguagem lírica não pulsa somente nos versos. Podemos encontrá-la, por exemplo, nos cinemas "O Carteiro e o Poeta", "Lavoura Arcaica", "Doutores da Alegria"; nas minisséries "Hoje é Dia de Maria", "A Pedra do Reino";

2. A linguagem lírica é a força provocativa do ato estético. Compreendamos como estético o sentido da "forma", do significante, ou seja, o adversário do significado conforme diz Roland Barthes;

3. A importância do significante, eu a encontrei quando li "Da Sedução", de Baudrillard. Por que seduz? Seduz porque não significa, ou seja, a sedução é o significante;

4. Ao Adorno. Ele afirma que "o conteúdo de um poema não é a mera expressão de emoções e experiências individuais". Para esse alemão, a universalidade do conteúdo lírico é essencialmente social;

5. Nesse aspecto, a poesia "tem sua grandeza unicamente em deixar falar aquilo que a ideologia esconde". O eu-lírico (des)cobre;

6. A poesia "implica o protesto contra um estado social que todo indivíduo experimenta como hostil, alheio, frio, opressivo (...)";

7. Hostil, "desfavorável"; alheio, "estranho"; frio, "sem vigor"; opressivo, "fechado". Essas palavras, nós as encontramos no filme "O cheiro do ralo", onde predomina o realismo, ou seja, a presença dos objetos, a presença da palavra-objeto, da palavra ordinária, da palavra utilitária. 

8. Despossuída de lirismo, a palavra sindical é opressiva porque, fechada em si mesma, ela  asfixia ou sufoca a transfiguração, o desejo, o imaginário;

9. "O eu que ganha voz na lírica é um eu que se determina e se exprime como oposto ao coletivo, à objetividade", diz Adorno. A fala sindical destina-se ao coletivo, por isso ela é fechada.    
O grande erro dos movimento sociais foi negar, por causa de suas incompreensões, o ato estético nas lutas políticas.

No entanto, o capital, há um bom tempo, manipula, a seu favor, a estética.

O capital, que ironia!, poetizou-se.

Aos velhos do PT, poesia


O governador do Acre eliminou dois valores apreciados por meu paladar: a bienal do livro e o festival de teatro na Usina João Donato.

Em termos de cultura, o PT de Tião Viana tem sido um zero "à esquerda".

Você já reparou que governantes não falam aos jornais de cultura? Só falam frases feitas de estradas, de economia, de mercado.

Um desses dias, estava lendo os versos de Camões. Lembrei-me de dirigentes petistas acrianos.

A eles, os velhos do PT, dedico o que não entendem, ela: a poesia.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo de esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.