segunda-feira, março 26, 2007

Livro e, depois, Cinema













Após um ano, retornei com a leitura de Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, na escola Heloísa Mourão Marques.
Pensei em outra temática, mas mantive a leitura sobre ordem e paixão; família e individualidade; tradição e liberdade. Tais conceitos, muito intensos nessa obra literária, serão compreendidos por meio de uma narrativa complexa e poética.
Como digo à minha símpática colega de trabalho, professora Maria Célia, lemos um belo livro não para saber se é romântico ou realista, mas para que percamos a inocência, como escreveu Sartre.
Por meio de seus personagens, desejo repensar a vida. Não só.

Gramática

No primeiro dia, marcamos alguns aspectos gramaticais: pronome, uso do "onde". Além disso, os alunos abriram o dicionário para encontrar o significado mais adequado ao texto. Quanto a outro termo, vou à sua raiz para que o aluno saiba sua importância etimológica.
A gramática que destaco na leitura relaciona-se aos problemas redacionais, os mais comuns, impossível querer pontuar todos. Por isso, seleciono os que são muito úteis à organização interna do textual, por exemplo, vírgula.
Ler não como um burocrata, mas ler para se emocionar com o que é lido. É preciso teatralizar a leitura e, para tanto, o professor se apaixona quando lê.
Mas a leitura nem sempre é aprazível. Há momentos chatos, porque, para ler bem, se faz necessário pensar e pensar - verbo rejeitado por alguns alunos.
Às terças, em um lugar silencioso e confortável na escola, meus alunos lerão, pelo menos, um livro por ano. Educados, atentos às minhas "loucuras", muitos, mesmo com as dificuldades financeiras dos pais, compraram a fotocópia.
No final, passarei o filme para que percebam a imaginação do diretor na tela, o que Luiz Fernando Carvalho realizou com a sua leitura em forma de cinema.
Antes de concluir a leitura de Lavoura Arcaica, mostrarei um filme realista, porque desejo que percebam a diferença entre o poético e o que não tem beleza.

O feminismo de Elisabeth Badinter






















Texto retirado da revista EntreLivros

Depois do feminismo, a guerra dos sexos. Esse é o receio de Elisabeth Badinter expresso em Rumo equivocado, que está sendo lançado neste mês no Brasil. Feminista conhecida, Badinter surpreende seu público ao fazer ressalvas sobre os caminhos do movimento que outrora apoiou. Sua posição é inequívoca a partir do título do livro.

"O feminismo tomou um rumo que nos leva à regressão", diz. "Em vez de se concentrar na igualdade entre homens e mulheres, o feminismo enveredou por um caminho muito influenciado pelos EUA. Esse rumo aponta a mulher não como igual ao homem, mas como sua vítima."

Badinter falou a EntreLivros em Paris, em seu apartamento defronte ao jardim de Luxemburgo. É uma mulher austera que, sexagenária, guarda a beleza da juventude nos grandes olhos azuis e na ardência da defesa de suas idéias.

Mulher de Robert Badinter - ministro da Justiça no governo socialista de Mitterrand nos anos 80 - e herdeira de uma das maiores agências de publicidade do mundo, a Publicis, Elisabeth é mais conhecida como intelectual.

Não se deve deduzir que as críticas de Badinter a colocariam no campo antifeminista. Ela própria ainda se considera uma seguidora de Simone de Beauvoir.

"Eu me tornei feminista em 1960 no ônibus da linha 82, lendo O segundo sexo. Tinha 16 anos, e foi uma revelação", declarou ao L'Express em 2003, quando seu livro foi lançado na França.

Em O segundo sexo, de 1949, Beauvoir fazia a sustentação do que viria a ser o feminismo francês expandido pelo Ocidente: o alerta sobre a necessidade da participação da mulher na sociedade, revendo seu posicionamento sempre secundário em relação aos homens, sobretudo em termos de política.

Pode-se dizer que o mote da obra de Badinter está centrado no problema da maternidade. Longe de ser avessa a crianças - teve três filhos -, ela questiona a idéia de que o amor das mães seja inato. Essa reflexão já causava polêmica há 20 anos, pois se trata de um tema que desenvolveu em L'amour en plus (1981), editado no Brasil sob o título Um amor conquistado - o mito do amor materno, e esgotado em 1998 na 9ª edição.

Pesquisas sobre a gestação e o aleitamento de crianças nos séculos passados mostraram que a maioria delas era completamente negligenciada, entregue a amasde- leite mercenárias. Muitas morriam antes de completar quatro anos de idade. Apoiada em números estarrecedores e no estudo do comportamento social - ela nota que para as mulheres da alta burguesia era desprestigioso ocupar-se da prole, enquanto que para as operárias, dada a jornada de trabalho, era tarefa impossível -, a autora chega ao questionamento de uma "vocação natural" para a maternidade.

Para Badinter, dois fatores estão ligados à formação do "mito do amor materno": a necessidade de assegurar a sobrevivência dos descendentes e a idealização da figura da mãe, a fim de que certa completude se fizesse sentir entre a mãe e a criança. Não se trataria, segundo ela, de "instinto", pois o afeto se formaria da convivência e seria algo "conquistado", como é o caso da paternidade. A pensadora acredita que não haja tanta distinção assim entre o amor paterno e o materno, movimento ao menos no que tange ao aspecto natural.

O simples fato de levantar dúvida sobre algo aparentemente cristalizado na organização social gerou polêmica e levou a críticas e certas generalizações a respeito de suas posições, ao mesmo tempo que despertou a atenção dos especialistas e colocou sua obra no centro dos estudos de psicologia e na defesa do feminismo contemporâneo.