terça-feira, outubro 28, 2008

Quem é deficiente?

Apae pode fechar suas portas
De Gilberto Lobo

Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do Acre (Apae) e o Colégio Dom Bosco podem ser fechados. O projeto da Secretaria Estadual de Educação (SEE) é inserir todos os alunos com necessidades especiais na rede pública de ensino para promover a inclusão social. Dessa forma, os órgãos que trabalham com os excepcionais passariam a ser, apenas, centros de saúde especializados.

Mas o problema desse tipo de trabalho de inclusão, atualmente utilizado em Minas Gerais, pode não dar certo no Estado.

“A nossa realidade é outra. Lá, eles têm o incentivo da iniciativa privada, bancado o transporte para levar as crianças com necessidades especiais à escola, e as escolas públicas já estão adequadas para recebê-los, com rampas de acesso e com professores capacitados”, explicou a diretora da Apae, Raimunda Souza, que há seis anos trabalha com ensino especial.

Agora, para tentar contornar a situação, de acordo com a diretora, os pais de alunos e a diretoria da Apae terão que elaborar uma contraproposta, um conteúdo com novas propostas de ensino e as dificuldades por que alguns excepcionais passarão para se adaptar a esse projeto de inclusão.

“Aqui, temos um aluno com síndrome de down de 27 anos, que é muito carinhoso, muito amoroso, mas têm dias que ele fica violento e é difícil contê-lo. Ele bate em todo o mundo. Como será um aluno que passa por esse tipo de dificuldade no meio dos outros? Vai ser complicado”, detalhou.

Problemas
Outro problema com esse tipo de projeto é o pré-conceito que pode ser gerado, porque as salas de aulas que forem receber esse tipo de aluno terão que reduzir o número de vagas. Isso pode gerar conflitos com a comunidade.

“Na hora do intervalo, como uma criança com deficiência física irá se sentir quando vir as outras correndo e brincando? Quando não conseguir acompanhar o desempenho da turma, ele vai se sentir inferior, e isso pode causar um mal irreversível.

“Fechamento”
A Apae, atualmente, tem 250 alunos. Todos com necessidades especiais. Eles têm, além do ensino básico e fundamental, aulas de informática, artesanato e acompanhamento médico. Os funcionários, alimentação e parte das despesas são pagos pelo Estado.

“Temos que oferecer tudo que uma escola comum oferece e um pouco mais, mas sem recurso, mas, como dependemos do governo para nos manter, pedimos que o Estado compreenda a nossa situação, porque queira ou não a transformação da Apae em centro de saúde é quase um fechamento”, desabafou.

“Não sou contra a inclusão, mas isso deve ser feito aos poucos, com cuidado. Temos alunos que saíram daqui para a rede pública de ensino. Eles estão bem e são ainda acompanhados, assim pode dar certo”, explicou Raimunda Souza.