segunda-feira, abril 30, 2007

Não existe greve na educação


Artigo publicado na TRIBUNA,
de Aldo Nascimento

No Estados Unidos, em 1955, a negra Rosa Parks recusou-se a ceder seu lugar para um branco. Achincalhada, ela foi obrigada a sair do ônibus.
Depois desse fato, Martin Luther King [1929-1968] observou que o negro, e não o branco, representava a maioria no transporte coletivo, isto é, os empresários obtinham muito lucro por causa da cor de Rosa Parks.

A partir disso, Martin Luther King inicia uma campanha contra os empresários: os negros passaram a andar a pé. O lucro das empresas diminuiu consideravelmente. Sem saída, os empresários negociaram e, desde então, a Suprema Corte Americana decidiu que não haveria segregação racial nos ônibus. Esse fato histórico recebeu o nome de boicote aos ônibus de Montgomery.

Em outro país, algo semelhante ocorreu. Um homem foi expulso de um compartimento de primeira classe de um trem por se recusar a ceder o seu lugar a um branco. Seu nome, Mahatma Gandhi [1869-1948].

O líder negro espelhou-se em Gandhi, e este, por sua vez, leu muito sobre as idéias anarquistas. Por causa dessa segregação em transportes coletivos, a greve, conceito anarquista, tinha o propósito de causar um “colapso na economia”. E causou.

Seguidores dos ideais anarquistas, Luther King e Gandhi promoviam a desobediência civil. A greve é uma conseqüência simbólica dessa desobediência. Ambos conheciam o pensamento de Pyotr Alexeyevich Kropotkin [1842-1921], o russo que aprimorou as ações políticas dos anarquistas.

E a greve dos professores? Diferente, por exemplo, dos negros que andaram a pé, a greve dos professores não causa colapso na economia, não incomoda os agentes econômicos. A cidade não pára. O que pára é a escola, somente ela.
Mas mesmo essa paralisação é mentirosa. A greve na educação não existe, porque, depois, lá na frente, os professores irão repor os dias parados. Como então posso chamar de greve dias de trabalho que serão repostos? Trata-se de uma incongruência.
Aqueles que desejam o poder sindical têm a obrigação de recriar o conceito de greve na educação. Eu não desejo poder, não desejo ser líder sindical, mas, como o sindicato sobrevive à custa de meu dinheiro de filiado, não posso me isentar de críticas.
Alunos não precisam ser críticos? Pois bem, sou um eterno aprendiz. Preciso ler mais sobre os anarquistas.