sábado, junho 10, 2006

Dia dos Namorados 2

Um livro para os namorados

“No fundo, o mundo foi feito para acabar num belo livro”, escreveu o poeta simbolista Mallarmé.
No dia 12 de junho, as pessoas deveriam se apaixonar por Mary Del Priore, autora do livro História do Amor no Brasil. Ela lecionou História do Brasil Colonial nos Departamentos de História da USP e da PUC-RJ. Publicou mais de 22 livros e, por duas vezes, venceu o Prêmio Casa Grande & Senzala. Mary mantém uma crônica no jornal O Estado de São Paulo.
História do amor no Brasil, da editora Contexto, inicia-se com Brasil Colônia: o ideal do amor domesticado, passa pelo amor no Velho Mundo, pelos séculos 19 e 20 e chega ao fim em 500 Anos de Amor.
Por meio dessa leitura simples e agradável, os namorados saberão que o amor teve um grande inimigo, a Igreja. Mas não foi somente esse o adversário. A medicina também atestou contra esse sentimento quando o sentenciou como doença.
“Para a medicina, O amor excessivo era ruim para a saúde. A ‘luxúria’ era considerada um desarranjo fisiológico, como expressão direta desse amor, tinha de ter remédio”, esclarece Mary.
Esse diagnóstico da medicina tem suas origens na Idade Moderna, de que o comportamento do indivíduo é determinado pela qualidade e pela quantidade do calor de seu corpo. Corpo suado, febril, circulação sangüínea anormal. Tais sintomas não causados pelo fígado ou pelo cérebro, mas, segundo os médicos, pelo coração.
“Um coração em mau estado não podia dar em boa coisa”, observa a autora do livro.
Apesar da educação, da fé religiosa, do medo do castigo, a razão não conseguia dominar o calor vindo do coração. Os namorados, carentes de racionalidade, sofriam, porque não colocavam a decisão do tal coração nos limites adequados às normas.
No final do século 16 e início do 17, publicam-se tratados médicos para que Eros - uma criança que representa o mito do amor – se aquietasse conforme as leis sociais da época. Em 1599, edita-se O Antídoto do Amor. Em 1609, A Genealogia do Amor.
Um outro livro, Anatomia da Melancolia, de Robert Burton, publicado em 1639, defende a idéia de que a paixão é uma estranha infecção do sangue. Enfermos, os namorados ficam infectados. E como isso ocorria segundo a medicina?
“A fascinação, na forma de vapor indesejável, penetrava pelos olhos e envenenava todo o corpo”, responde a autora de outro livro, História das Mulheres no Brasil.

Dia dos Namorados 1

Os Corpos dos Namorados

Criado para ser encontro, o Corpo sussurra, na pele do ser apaixonado, a mais profunda carência. Sozinho, o corpo seria triste, visto que negaria sua própria natureza, que é sentir outro corpo, sentindo-se. O Prazer nos alegra!
E é assim que o desejo e é assim que, aos poucos, me aproximo. Em gestos delicados, condenso agora toda emoção em um toque, mas, antes que eu o tocasse, precipitei-me em suor. As mãos gelaram-se. Meu Corpo, orgulhoso, estremeceu-se. Ao te tocar, perceba, fragilizo-me.
Sim, eu sinto. Mais: por meio de ti, eu me sinto. Se não fosse você, sozinho, eu desconheceria a desmedida de minha felicidade, que é, sob os desvios de tuas carícias, sentir minha carne suavizar-se.
Tua pele... na minha... minha carne, já molhada e febril, confessa: ofereces a mim o prazer de estar onde sempre desejei estar – em teu Corpo, lugar-carne que me acolhe; extrai de mim a certeza de que estou viva, imensa, alegre. Quase infinita.
Perceba. Sou oferenda entregue a essa humana carência de ser desejada por ti. Feliz carícia que desliza. Fragiliza-me. Retira-me da solidão. Por causa de ti, faço-me presente para não mais, a mim, pertencer. Olhe, escute-me, eu te amo!
Imerso em suor e entre gemidos, eu, também, a amo, mais ainda, quando meu Corpo entra em transe; mais ainda, quando minha carne se declara insana. Corpo que se contorce. Agiganta-se. Foge ao controle. Rebela-se. Transpira. Geme. Grita. Exagera.
Já pressinto o gozo, sensação de que irei, por alguns segundos, me desencarnar. Minha carne já pode sentir o sabor suado dessa vertigem. Quando gozamos, tenho a impressão de que somos lançados ao não-lugar, restando a essa breve viagem fechar os olhos e... e... hummmmmmmm! Deus, isso é milagre.
Agora, após o orgasmo, meu Corpo, cansado e feliz, tomba sobre o teu, e, ao teu ouvido, sussurro que, sem você, eu jamais poderia sentir, sozinho, o que senti em minha carne e em meu espírito.
Tu foste o caminho por onde cheguei, mais sensível, a mim mesmo. Por meio de ti, sou devolvido a mim muito mais feliz. Só o Outro, você, essa minha diferença, possibilitou o excesso. Saboreando tua carne, movimentando-me ao seu bel-prazer, vivi a alegria de não mais a mim pertencer. Fui teu. Saborosamente, teu.