terça-feira, novembro 06, 2007

Ronda Gramatical

Hoje, o jornalista Josafá Batista foi criticado por escrever em sua matéria "sul-cruzeirense". O ruim não é a crítica, mas a soberba da ignorância de quem critica um dos melhores textos jornalísticos do Acre.

O que existe de errado em "sul-cruzeirense"? O crítico disse que não há norte-cruzeirense. Bem, a melhor saída, ele: o livro.

Se você abrir uma gramática ou o Manual da Redação, da Folha de São Paulo, encontrará a resposta.

Na página 278, do Manual da Redação, quem nasce em Mato Grosso do Sul é mato-grossense-do-sul ou sul-mato-grossense. Não há nenhum impedimento para haver uma analogia, isto é, quem nasce em Cruzeiro do Sul é sul-cruzeirense ou cruzeirense-do-sul.

Os livros, sim, é preciso ir a eles antes que a arrogância se engane.

Açeçôr de Inpremçá

Quem lhe procurou?

1. Eu tenho meus limites gramaticais, porque, sei, não domino a LÍNGUA. Sabedor disso, o caminho é leitura e mais ela: leitura;

2. Tem gente que critica texto de jornalista e erra 2 + 2. Sim, essa matemática equivale a uma regência verbal errada;

3. Quem procura, meu caro, procura alguém e não a alguém, ou seja, o verbo não pede a preposição "a", não havendo, portanto, o uso de "lhe"; e

4. O correto é "quem a procurou?" Primário.

A professora











Conheço a professora Lucinéa Wertz há anos, 15 para ser exato. Conheço seus defeitos, conheço os meus defeitos. Os meus.

O seu maior defeito é confiar no ser humano e esperar deles o gesto simples da confraternização.

Em uma escola, não precisamos de bundas e de coxas, mas de belos cérebros. Miss Inteligência deveria receber apoio da direção, mas, como não recebe, ela realiza sozinha uma ótima idéia.

De Bernardo de Carvalho









Escritor, Bernardo de Carvalho recebeu o Prêmio Jabuti em 2004 com o romance Mongólia. Estou para ler um de seus romances. Sua inteligência, sedutora.

Ótimo artigo.

O fracasso do pensamento

Num mundo em que o jornalismo substitui a filosofia, é lógico que o bom senso não tem vez

UM MUNDO sem reflexão, onde a violência da realidade obriga o sujeito a deixar de pensar para agir, cedendo ao senso comum, ao simplismo e ao pragmatismo cínico, recorrendo ao preconceito e a ações impensadas que antes ele condenava, quando essa mesma realidade ainda não o atingia diretamente e ele podia repetir belas teorias da boca para fora, não é um mundo menos hipócrita (como alguns gostariam), é um mundo pior.

Um mundo sem arte (no qual a arte, aceitando a pecha de ilusão e perfumaria, cede ao consenso da realidade e passa a funcionar como jornalismo e sociologia) também.

É nesse mundo desiludido que a representação de jovens tolos e inconseqüentes, repetindo Foucault da boca para fora, para acabar quebrando a cara na prática contraditória do trato direto com a realidade nua e crua, passa a ter um efeito catártico junto a platéias em busca de um bode expiatório.

É desse mundo (o do fracasso do pensamento) que trata "Tropa de Elite": onde só é permitido escapar à violência (e deixar de ser violento) fora da realidade -tudo o que o capitão Nascimento quer, ou diz querer, é sair desse mundo (onde quem pára para pensar morre), para poder cuidar em paz do filho e da família.

Gostei do filme, embora tivesse preferido o longa-metragem anterior de José Padilha, o documentário "Ônibus 174". Não acho o filme fascista. Mas é inegável que, como qualquer representação da realidade, ele tem um discurso (que não é exatamente o mesmo do capitão Nascimento), a despeito de dizer que se limita a mostrar a realidade. E não é um discurso novo.

É o discurso de um realismo funcional que volta e meia reaparece para dizer que a realidade é o que é. E que só os fatos (ali representados) contam.

Num mundo em que o jornalismo substitui a filosofia (e em que a arte se esconde como discurso para se apresentar como espelho de uma realidade unívoca), é lógico que o bom senso não tem vez. A demagogia e a ira, sim. É preto no branco. Produção de subjetividade é coisa de elite irresponsável. Aqui, nós tratamos de fatos objetivos.

Com o desbaratamento das idéias, este passa a ser um mundo de polarizações em torno de questões simplistas e indiscutíveis. Não se produz pensamento; tomam-se partidos. Vozes da ponderação e do conhecimento de causa -como a de Alba Zaluar, que exercita o bom senso semanalmente e sem maiores alardes nas páginas deste jornal- vão se tornando inaudíveis em meio ao bruaá dos lugares-comuns estridentes.

O bom senso não aparece, porque não tem graça nem dá manchete. As idéias foram reduzidas a representações sociais. Basta que cada um fale e seja reconhecido como representante do seu grupo social (e que muitas vezes se aproveite disso para respaldar a banalidade ou a demagogia do que diz).

O que conta não é o teor das idéias (em geral, as mais simplistas), mas que sirvam para identificar o lugar social de quem as manifesta no campo de batalha. Essa aparente desordem apenas encobre uma ordem geral, o consenso em torno da realidade como um campo de forças autônomo, um teatro de ação e reação, imune à reflexão e à inteligência.

Foi em meio a esse contexto que bati com os olhos na recém-publicada edição espanhola dos artigos e palestras do dramaturgo francês Enzo Cormann: "Para que Serve o Teatro?" (Universidade de Valência). Na conferência de 2001 que dá título à coletânea, o autor diz que o teatro (e de resto toda arte que se preze), por ser reflexão, "consiste em reinjetar subjetividade num corpo social entrevado pelo uniforme demasiado estreito do pragmatismo econômico" -ou (por que não?) do realismo oportunista que reivindica para si uma pretensa objetividade, condenando ao mesmo tempo toda produção subjetiva à impotência e ao ridículo, como se dela não fizesse parte.

Em nome de uma representação unívoca da realidade, o discurso embutido em "Tropa de Elite" (que não se assume como discurso) limita a própria possibilidade de produção de subjetividade a quem está fora desse mundo, ao diletantismo ridicularizado de estudantes inconseqüentes.

Ao associar a produção de subjetividade aos ricos, aos tolos e aos irresponsáveis, como se tampouco estivesse produzindo subjetividade, o filme acaba, provavelmente sem perceber, dando um tiro no próprio pé, pois contribui para estreitar o entendimento do que num passado não muito remoto, e graças ao esforço e à resistência de grandes cineastas, garantiu ao cinema um lugar entre as artes, justamente como produção de subjetividade.

Muito além dos sindicalistas (2)



A Secretaria de Educação do Estado do Acre deveria promover um encontro estadual com os professores de língua portuguesa e de literatura para que idéias pudessem ser registradas como parâmetros.
Trata-se de um assunto urgente. O texto ao lado, escrito por um outro aluno de ensino médio, delata a péssima qualidade de ensino em língua portuguesa.

Para iniciar as melhoras, o problema ultrapassa a própria disciplina. A solução depende também de administração escolar.

Muito além dos sindicalistas (1)



Quando o assunto é qualidade de ensino, sindicalistas pensam que sabem o que dizem. Ao lado, texto de aluno do ensino médio.
Como um aluno chega ao ensino médio com essa escrita?

E não é somente um. Não são somente dois. Não são somente três. Muito chegam ao ensino médio com uma escrita que se assemelha à quinta série, no máximo.
Trata-se de uma questão muito séria, ou melhor, a palavra encontra-se enferma na escola sem que o tratamento seja adequado.

Não basta o professor em sala. É pouco. Muito pouco.