quarta-feira, maio 31, 2006

Vazio 3


Foto de Gleilson Miranda. Hoje, mais um vazio sindical. As atuais direções do Sinteac e da APL reduziram os problemas da educação à isonomia salarial. Porra, será só isso até o final dos dois mandatos? Isonomia é justa, mas será só isso?
No faixa da foto, questão de gênero. Essas mulheres ignoram o que seja gênero feminino, porque conduzem os dois sindicatos segundo o gênero masculino.
Como deve ser a organização sindical segundo o gênero feminino? Respondam-me, por favor!!!

Vazio 2

Foto de Alberto Nogueira. Em 25 de abril deste ano, o sindicato mostrou que precisa se transformar. Na Assembléia Legislativa do Estado do Acre, ele reuniu, mais uma vez, um número muito pequeno de filiados.
Eu não sou o culpado. Não sou sindicalista. Não desejo o poder. Não faço do sindicato um meio para a minha candidatura. Quem tanto deseja o poder tem a obrigação de apontar outros caminhos.

Vazio 1


A foto acima revela o quanto a assembléia sindical não passa de solidão. Um grupo, sem inteligência para aglutinar pessoas, fala para si mesmo. Surdo, o sindicato não ouve os apelos do tempo, da história.
Há anos, escrevi no Página 20 que o movimento sindical acreano perdeu o mouse da história. O tempo precisa passar mais ainda para que percebam que a imagem sindical não reflete em uma nova realidade social. O corporativismo e a falta de inteligência impedem ver além.
No caso da APL, lamentável. Quando surgiu, pensei que a Associação dos Professores Licenciados fosse apresentar no tempo um novo modelo de organização sindical, mas a APL caiu no lugar comum, no clichê.
Todo mês, sai do meu bolso R$ 14 para a conta bancária da APL e, até hoje, não recebi na escola onde leciono um boletim informativo sobre os gastos. Uma questão tão óbvia que deveria estar diante de meus olhos, mas a APL, não me informando, nega a ética mais elementar - a prestação de contas.

Um Talento


Aluno da escola estadual Heloísa Mourão Marques, o calmo Wílson, do 3º ano do ensino médio, é um talento ignorado pela escola pública.
Não foi ignorado pelo excelente desenhista Enílson Amorim, funcionário da TRIBUNA e no mercado de trabalho há anos. Enílson Amorim olhou o desenho de Wílson com admiração.
"Peça a ele para vir à Redação, poderíamos trocar umas idéias", sugeriu.
A Secretaria de Educação, por outro lado, não reconhece; não premia; não cria condições para alunos diferenciados pelo talento.

Para o meu ótimo ex-aluno, eu exponho neste blog o desenho de um rapaz que merece uma escola que tenha outra prática - a do reconhecimento.

Em 2004, coloquei em prática, com os alunos, um jornal publicado pela TRIBUNA e escrito pelos estudantes. Nunca recebi um incentivo da secretaria e da escola.
Ildo Montezuma, o responsável pelo currículo do ensino médio, deveria motivar novas práticas nas escolas, mas...

Depois, sou obrigado a ouvir que o professor não inova.

Minha Nada Mole Vida

Por Ana Carolina Soares

O ator revela que vê pessoas que já morreram. E ainda fala sobre a timidez, a primeira transa, vaidade, casamento e fé. ''Acredito em tudo.''

Aos 56 anos, Luiz Fernando Guimarães é conhecido pelo bom humor e pela descontração. É sempre visto sorrindo ou fazendo graça com os amigos. Nesta entrevista exclusiva, o ator carioca revela um lado até então desconhecido.
"De vez em quando, eu vejo espíritos. Mas não converso com eles. Apenas sinto a presença deles", conta.
Mas a intensa espiritualidade não tira o jeitão leve e espontâneo tão característico de Luiz Fernando. De fala rápida e gestos largos, o ator é, de fato, aquele cara divertido e gente boa que parece ser na TV - ele estava na série Minha Nada Mole Vida, cujo último episódio foi ao ar na sexta-feira passada (26), na Globo.
A seguir, veja o que ele fala sobre família, vaidade, morte, religiosidade e amor.
Timidez
"Até os meus 17 anos, eu era muito tímido. Na época, comecei a trabalhar num banco, como escriturário. Até então, não sabia que eu era um cara engraçado. Lembro de uma vez em que fiz um manifesto contra a gravata. Pesquisei a origem dela e descobri que tinha a ver com Luís XV (rei da França, que governou em meados do século 18), na época dos babados, que eram usados para esconder os botões da camisa. Falei para o pessoal que seguir uma tradição como essa, da época de Luís XV, era, no mínimo, ridículo. Hoje, no meu armário, só tenho duas gravatas. Só uso em casamento, em cena ou para apresentar shows."
Infância
"Fui um garoto muito feliz. Fui criado num condomínio de bancários, em Laranjeiras (Rio de Janeiro). Até hoje, a minha mãe mora no mesmo apartamento em que eu cresci. Tinha uma garotada enorme no condomínio. A gente fazia até piquenique no parque."
Terror
"Desde criança, gosto de sentir medo. Eu adorava as histórias de Monteiro Lobato e sempre ia para o escuro sozinho, para ter o calafrio. Eu nem olhava para trás, porque tinha certeza de que havia uma mula-sem-cabeça me seguindo (risos). Até hoje, adoro filmes de terror e de suspense, como O Sexto Sentido, por exemplo."
Na escola
"Nunca fui o palhaço da turma, mas dava um certo trabalho. Gostava muito de português. Por outro lado, não entendia nada de física nem gostava de matemática."
Primeira namorada
"Apesar de minha imensa timidez, nunca tive dificuldades para ter relações ou para namorar. Minha primeira namorada se chamava Tânia. Ela era a garota mais popular da nossa turma. Eu tinha uns 14 anos. Nosso relacionamento não durou muito, apenas uns dois dias (risos)."
Primeira transa
"Aconteceu quando eu tinha 14 anos. Foi com uma chinesinha que trabalhava lá no prédio. Mas não foi nada muito marcante."
Pé-de-valsa
"Eu era o rei das festas. Dominava a pista de dança. Até as garotas mais velhas queriam dançar comigo. Eu era o bambambã da dança. E até hoje gosto muito de dançar."
Pais
"Sou filho de dona Yara, 91 anos, uma bancária aposentada, e de seu Hélio, que também era bancário e morreu há seis anos, aos 85, de câncer. Tenho dois irmãos: Luiz Felipe, 60, e Luiz Carlos, 55. Esse negócio de colocar o nome de Luiz em todos os filhos foi uma idéia que meus pais tiveram."
Vaidade
"Sou vaidoso por causa do trabalho na TV. Não sou bonito. Mas me acho interessante. Se eu fosse bonito, teria sido modelo aos 13 anos. Eu era muito franzino. Depois, comecei a malhar. Agora, acho que estou com o corpo legal."
Paixão
"Há seis anos, estou apaixonado e casado. Mas não moro junto. E não falo o nome da pessoa. Não quero esconder nada, mas também não estou preocupado em levantar bandeiras."
Filhos
"Já tive muita vontade de adotar uma criança. Hoje, não tenho mais. Meu dia-a-dia é muito complexo."
Qualidade
"Sou sincero, bom colega, saudável e uma pessoa boa para se conviver." Defeito "Sou muito aflito e, às vezes, inseguro. Sou ciumento, mas não com as pessoas. Sou ciumento com meus objetos."

"Fui criado na religião católica, mas não sou católico. Acredito nos espíritos, mas também não sou espírita."
Espiritualidade
"De vez em quando, eu vejo espíritos. Minha avó e minha mãe também tinham esse dom. Eu só vejo pessoas que foram amigas, que freqüentavam a minha casa. Não forço nada. É um negócio bacana. Não sei como explicar. Não falo com esses espíritos. Apenas sinto a presença deles em algum cômodo da casa. Na primeira vez em que isso aconteceu, eu tinha 15 anos. Vi um amigo que tinha morrido de tétano. Um dia, ele apareceu no meu apartamento e ficou na sala. Encaro isso com naturalidade. Não quero que as pessoas olhem para mim e pensem: 'Que cara esquisito. Ele vê espíritos'. Eu poderia ser médium, mas não quis desenvolver esse meu lado. Não quero ficar levando mensagens dos espíritos para as pessoas."
Envelhecer
"Acho que envelhecer é muito legal. Sou saudável e faço tratamento com medicina ortomolecular. Acho que o medo da velhice está muito ligado ao medo da solidão. Eu não tenho esse tipo de receio. Não tenho medo de ficar só. Quando me sinto mal, pego o telefone e ligo para os meus amigos."
Dinheiro
"Quando era mais jovem, meu maior medo era saber como iria pagar as contas de gás e de luz. Mas já superei isso há muito tempo. Sou bastante cuidadoso com o meu dinheiro. Gosto de ter dinheiro para cuidar da saúde de pessoas próximas."
Fim do mundo
"Tenho medo da humanidade. Acho que, um dia, a água vai cobrir todo o planeta ou o mundo vai secar, algo assim. Vejo isso pelo que tem acontecido no meu sítio. Já vi trechos de rios secarem totalmente. Acho o filme O Dia Depois de Amanhã realíssimo."
Plástica
"Fiz uma no nariz, porque ele era muito caído. Fiz também no tórax (aponta para o peito direito), para corrigir um defeito de nascença. Fiz também um implante de cabelo. E vou fazer tudo o que for preciso para continuar bem."
Daqui a 50 anos
"Até lá, acho que já morri. Não queria morrer muito velho. Mas não tenho medo da morte. Acho que a lei que impera é aquela do "aqui se faz, aqui se paga". Depois da morte, é tudo ótimo."
Relação com fãs
"Acredito que nunca terei problemas com fãs. Mas não sou de engolir sapos. Certo dia, eu estava numa praia do Nordeste e uma pessoa exigiu que eu posasse para uma foto ao lado dela. Essa pessoa falou: 'Vai tirar foto, sim! Quem mandou ser ator?' Daí, eu falei: 'Que negócio é esse?' Mas isso é raro. Normalmente, os fãs chegam de forma tranqüila. Nunca cheguei a dar porrada em ninguém. Acho esse tipo de coisa uma energia muito ruim, quase um crime."
Styling: Alê Du Prat. Produção: Bruno Couto. Calça: Black Jeans Ricardo Almeida. Camisa: Paul Smith. Sapatênis: Puma

terça-feira, maio 30, 2006

Frei Betto testemunha desmoralização da esquerda no poder

MICHAEL LÖWY
ESPECIAL PARA A FOLHA
Como se sabe, o autor deste belo ensaio sobre o papel corruptor do poder -a picada da "mosca azul" do titulo- é um dos mais importantes teólogos da libertação e um "companheiro de caminhada" do Partido dos Trabalhadores. Se eu não aderi, explica ele com ironia, é porque temia que os partidos reproduzissem os vícios das igrejas.
É com nostalgia que ele se lembra do PT que conheceu anos atrás, o partido do trabalho de base, do sonho socialista, do orgulho de ser de esquerda, da luta pela reforma agrária e contra o pagamento da dívida externa.
Insensivelmente, no curso dos anos 90, o PT foi se distanciando tanto dos movimentos sociais como de seus objetivos institucionais, para privilegiar as posições de poder. Betto atribui essa mudança em grande parte à queda do Muro de Berlim, que teria obscurecido o horizonte utópico do PT e sua perspectiva socialista.
É o único argumento do livro que me parece discutível: a maioria dos quadros do PT -em suas diferentes sensibilidades- nunca teve por referência ideológica principal os assim chamados "países do socialismo real". Aliás, em 1990, um ano depois da queda do muro, por ocasião de seu congresso, o partido aprovou um documento, "O Socialismo Petista", que reafirma, da forma a mais categórica, o compromisso anticapitalista e socialista do PT.
Em todo caso, Frei Betto, como a grande maioria da população brasileira, e os militantes e simpatizantes do PT em particular, recebeu com grande entusiasmo a vitória de Lula nas eleições de 2002.
Nesse contexto é que ele aceita organizar, com um outro amigo de Lula, Oded Grajew, a mobilização social no quadro da grande iniciativa do novo governo, o programa Fome Zero. Dois anos mais tarde, desencantado, ele se demite: "Quando me dei conta", escreve, "de que o barco não ia na direção prevista, mas em sentido contrário, não tive outra escolha senão deixar ali minhas bagagens e mergulhar no rio...".
Segundo Betto, o governo ensaiou algumas políticas sociais inovadoras, mas, no essencial, ficou refém das elites e dos mercados financeiros. Resultado: "Um pequeno núcleo dirigente do PT conseguiu em poucos anos o que a direita não obteve em décadas nem nos anos sombrios da ditadura: desmoralizar a esquerda".
Pior do que as maracutaias é ver o medo, frente às injunções dos banqueiros, vencer a esperança. O que aconteceu? A sede de poder -a "mosca azul"- e a adaptação à religião do mercado conduziram à perda de perspectiva estratégica e ao desmoronamento do horizonte histórico. A mística se tornou máquina.
O poder deixou de ser um instrumento de mudança social para se tornar - como o havia previsto Robert Michels em sua clássica obra sobre os partidos políticos de massas- um fim em si. E os dirigentes políticos, acavalados no poder, se tornaram amnésicos, fugindo de suas próprias palavras anteriores como o Diabo da cruz.
Em um dos comentários mais importantes do livro, Betto constata: "A política amesquinha-se quando perde o horizonte utópico". E agora, José? Convencido de que o capitalismo é intrinsecamente incapaz de construir um mundo de justiça e de liberdade, Betto se dispõe a recomeçar. Um outro mundo é possível, e devemos chamá-lo por seu nome: socialismo.
Na luta por esta nova sociedade, é legítima e necessária a convergência entre marxistas e cristãos, porque a divisão da sociedade não se dá entre crentes e não-crentes, mas entre opressores e oprimidos... Um livro que testemunha ao mesmo tempo a profunda crise que atravessa a esquerda brasileira e o obstinado engajamento ético e político do autor.

MICHAEL LÖWY é autor de "Walter Benjamin, Aviso de Incêndio" (Boitempo, 2005) A MOSCA AZUL: REFLEXÃO SOBRE O PODER Autor: Frei Betto Editora: Rocco Quanto: R$ 32 (317 págs.)

O Pobre

Essa boca grita "gooooool!!!" na final da Copa. Brasil consegue a sexta estrela, mas seu brilho não se encontra no céu dessa boca.

Os Ricos

"Junto à"

"Estava em negociação junto ao Banco do Estado."

Evite essa construção. O correto é "estava em negociação com o Banco do Estado".



segunda-feira, maio 29, 2006

Livro & Cinema

LETICIA DE CASTRO, da Folha de São Paulo

O que você prefere: encarar cerca de 400 páginas de leitura ou aguardar alguns meses e conferir a mesma história condensada em até três horas numa sala de cinema? Preguiça, falta de tempo ou de interesse são alguns dos motivos que levam muitos a escolher a segunda opção.
Juliano Balogh, 15, adora literatura, escreve poesia, mas confessa que, quando soube que "O Código Da Vinci", de Dan Brown, viraria um filme estrelado pelo Tom Hanks, desistiu de ler o livro.
"Tive vontade de ler porque o enredo é cheio de mistério e teorias da conspiração, mas quando soube do filme decidi esperar, porque o livro é muito grande e eu estava lendo outras coisas na época", admite Juliano.
A convite da reportagem, ele assistiu ao "Código" no cinema, na quarta-feira passada. "Valeu a pena esperar. Por enquanto, o filme saciou a minha curiosidade pelo assunto", comentou.
Bárbara Vieira, 14, trocou o livro de J.R.R. Tolkien pelos filmes dirigidos por Peter Jackson. Ela começou a ler "O Senhor dos Anéis", mas parou antes de chegar à metade. "O livro é legal, mas eu prefiro o filme", diz a estudante.
Principal "teenbuster", a série "Harry Potter" também facilitou a vida de muitos fãs do bruxinho, que optaram por conhecer a saga de Hogwarts nas telas em vez dos livros de J.K. Rowling.Flavia Sayeg, 16, começou a ler o primeiro, mas desistiu antes de chegar ao final.
Viu todos os longas da série e encontrou uma lógica curiosa para justificar a preferência: "Ler o livro antes deixa você cheio de expectativas e você acaba achando o filme ruim".
Já Carolina di Giácomo, 19, aluna do curso de rádio e TV, acha que livro e filme são coisas totalmente diferentes.
"O filme não precisa ser igual ao livro. As pessoas têm de assistir ao filme, tentar entender por que ele é dessa maneira e não se preocupar com o que faltou", diz.Fã de Harry Potter, ela leu todos os livros e viu todos os filmes.
"Os filmes têm o mais importante, que é o clima do livro. Os detalhes não importam."
Carolina garante que não embarcou na "febre Código Da Vinci" quando o livro foi lançado.
"Tenho preconceito mesmo, por ser best-seller [o livro já vendeu mais de 400 milhões de exemplares]. Tenho coisas mais importantes para ler", diz. Mas ao filme ela não resistiu.
"Eu estava com vergonha, porque é muito mainstream, mas ao mesmo tempo fiquei curiosa para saber a história. Dá para passar duas horas e meia no cinema com 'O Código Da Vinci'. O que não dá é perder semanas ou até meses lendo o livro", diz.

Arthur




Ontem, o carioca Arthur Moreira Lima tirou-me da rotina, ofertando aos meus ouvidos a música que sensibiliz a alma. Às 17h40, ele entrou no palco para tocar a grandeza barroca de Bach. À margem do rio Acre, sob o céu amazônico, Jesus, alegria dos homens, comoveu-me.
Do outro lado do rio, em um bar-restaurante, vinha o ruído de Calypso, um câncer sonoro que nos vulgariza. Jesus, alegria dos homens, elevou-se acima do comum, do ordinário.

Havia poucas pessoas no calçadão da Gameleira, talvez pelo fato do melhor destinar-se a alguns. A mó não cultua o belo. Depois de Bach, o romantismo de Beethoven. Outro momento, Villa-Lobos, com Trenzinho Caipira.

Ótimo momento cultural. Alguns são responsáveis por isso, por exemplo, Jorge Viana, Tião Viana, Raimundo Angelim, todos do PT. Que venha mais.

Ique, do Jornal do Brasil (RJ)

sexta-feira, maio 26, 2006

A COE nos educará

Publiquei este artigo na TRIBUNA hoje

Como ficou incômodo questionar nos jornais acreanos. É arriscado. O tempo tem sido para adular ou para ofender. Creio, no entanto, que podemos melhorar o Céu por meio de uma crítica ética para o bem não de anjos, mas para o bem dos cidadãos. Do grego krinein, crítica significa julgar, isto é, ponderar. Sabemos - criticar é um bem democrático.
Aqui, não tenho muito tempo: poucos, os parágrafos; poucas, as linhas. Mero artigo. O conteúdo, eu sei. Mas qual a forma? Serei irônico? Devo ser sério? Que tal perder o juízo? Sintaxes barrocas ou mais estáveis?
Em 25 de maio deste ano, o clima estava ameno, com Sol, só ficou ruim na escola estadual Heloísa Mourão Marques. Ruim é exagero. O tempo fechou por causa da alta temperatura da Companhia de Operações Especiais, a COE. Quatro viaturas e homens armados entraram na escola para impor ordem. Alunos foram algemados e presos.
Tumulto, meu irmão, muita desordem dominou a escola. A COE foi chamada para (re)educar o que não tem limites no espaço escolar, porque, se educar não pune mais, se os alunos mandam em uma instituição, armas e algemas disciplinam. A COE nos educará.
Essa violência emerge, porque excessos anteriores se ramificam no cotidiano, corroem gradativamente a instituição. São licenças, permissividades, impunidades, libertinagens e vulgaridades que modelam comportamentos de alunos, inibem inspetoras idosas e frágeis, acuam professores e riem da autoridade escolar.
Os excessos. A céu aberto e profano, podemos assistir a uma adolescente ser beijada no biquinho do peito. Mata-se aula para sentir prazer. No intervalo, alunos, convocados para o espetáculo, ouvem os ruídos do pseudoforró do grupo Saia Rodada, cuja letra estimula aquele a meter o dedo no “cuelhinho” do outro diante de todos no pátio da escola. O riso, nesse momento, eleva-se acima da instituição.
Há dias, concluí a leitura de A era do vazio, ensaios sobre o individualismo contemporâneo, de Gilles Lipovetsky. Finalizo este insignificante artigo com as palavras desse francês - Apenas uma ação política determinada a restringir os desejos ilimitados, a equilibrar o domínio privado e o domínio público, a reintroduzir repressões legais, tais como a proibição da obscenidade, da pornografia, das perversões, é capaz de restaurar a legitimidade das instituições democráticas.

quinta-feira, maio 25, 2006

Cruz e Souza (1861-1898)

Condenação fatal

Ó mundo que és o exílio dos exílios,
um monturo de fezes putrefato,
onde o ser mais gentil, mais timorato
dos seres vis circula nos concílios;

Onde de almas em pálidos idílios
o lânguido perfume mais ingrato
magoa tudo e é triste, como o tato
de um cego embalde levantando os cílios;

Mundo de peste, de sangrenta fúria
E de flores leprosas da luxúria
De flores negras, infernais, medonhas;

Oh! Como são sinistramente feios
Teus aspectos de fera, os teus meneios
Pantéricos, ó Mundo, que não sonhas!

quarta-feira, maio 24, 2006

PP & PC do B

Robeto Campos
(1917-2001)



João Amazonas

(1902-1992)

O passado histórico não existe. Hoje, entre Zorra Total, Casseta e Planeta e Pegadinhas do Faustão, rimos do passado e, quando rimos, como diz Henri Bergson, tudo se nivela, por exemplo, as diferenças políticas.

Hoje, no jornal A TRIBUNA, a jornalista Charlene Carvalho entrevistou Edvaldo Magalhães, do PC do B, para o líder do governo da Frente Popular afirmar que César Messias, do PP, é o candidato a vice-governador pelo Acre. O candidato a governador, Arnóbio Marques, do PT.

No palanque, eu vejo João Amazonas com Roberto Campos. Unidos, eles, agora, lutarão por uma nação melhor, mais irmã. Trata-se de uma política neobarroca, buscando encontrar um ponto de fusão entre opostos históricos.


Também refiz dogmas ideológicos para o bem de outros. A miséria neste país não suporta tanta divisão política. Só falta, agora, o mais impossível - a esquerda se unir. Roberto e João não crêem nisso.

Ique, do Jornal do Brasil (RJ)

Desejo ouvir a Inteligência da Oposição

Creio em fadas e em gnomos, só não creio na inteligência da oposição acreana quando o assunto é educação. Até o momento, não ouvi algo que se assemelhe a uma boa idéia.
Por parte da situação, idéias sobre novas possibilidades inexistem. Não as ouço. Meu ouvidos cansaram-se do passado educacional da Frente Popular, do que fizeram. Desejo o novo, o revolucionário.
Ninguém fala. Ninguém escreve. Deus, no entanto, assiste a tudo e observa que nossas escolas públicas não são o exemplo de administração.
Sobre isso, sobre esse detalhe, seu cotidiano escolar, a oposição ignora e a situação permanece indiferente.

As escolas públicas são bem administradas? Quais os erros? O que melhorar? Deve haver outro modelo?

Creio que essas questões em outubro menos importarão do que ataques e vaidades pessoais. A educação vai mal. A educação vai bem. E assim o maniqueísmo democrático nos empobrece.

sábado, maio 20, 2006

Dois Revisores

No centro de Rio Branco, após passar pelo jornaleiro, o tempo deixou-me rever Bené Damasceno, o bom revisor do Página 20.

"Aldo, nós precisamos abrir o sindicato dos revisores", propôs Bené em tom de brincadeira.

Disse-lhe que não somos revisores. Somos, sim, pessoas que apagam as vergonhas de alguns repórteres que cometem e repetem os erros mais crassos contra a LÍNGUA.

Eu cometo erros, bem sei, mas busco aprender. Saber mais um pouco. No entanto, no Acre, há jornalistas que não precisam aprender, pois a relação entre amigos viabiliza não só um emprego, mas a estabilidade nele.

Repare este exemplo.

"Para o Ministério Público Estadual é inegável a preocupação da prefeitura com o combate à esses crimes."

"À esses" - Esse acento grave, indicador do fenômeno da crase, revela a vergonha por que o jornalista passa quando, em uma Redação, o revisor não apaga seu erro vexatório.

Outro.

"Páram"- Esse erro foi publicado em uma capa de jornal. Era uma manchete. A imagem de um jornal é o que escreve e como escreve.

Na TRIBUNA, há volume grande de notícias e, por isso, não consigo dar conta de tudo. Não faço o melhor trabalho, mas tenho certeza de que evito, dentro do possível, que colegas de Redação, alguns, passem vergonha. É minha obrigação.

Se houvesse a cultura de desejar ser melhor, poderíamos nos preocupar com outra natureza textual nos jornais, mas, quando alguém escrevinha "à esses" ou "páram", estamos longe do que é inteligente e culto.