terça-feira, março 31, 2009

Entre o “e” e o “i”

De Aldo Nascimento

Na última terça-feira, dia 24, publiquei neste jornal o artigo “Acreano, uma mentira morfológica", onde, de forma muito detalhada, expliquei o porquê de escrever acriano. Sobre isso, uma pessoa disse-me: “Tanta pobreza neste Estado e pessoas perdem tempo com algo que já foi decretado pelo presidente da República”, criticou. “Isso é insignificante.”

Concordo, é insignificante, não será por causa de um fonema (unidade mínina não significativa) que a memória e a identidade de uma gente se perderão. Todavia, por outro lado, entre o “e” e o “i” oculta-se uma palavra que deveria nos ensinar: escola. Saber escrever depende, primeiro, dela.

Quando políticos defendem “acreano” em um blogue - sim, aportuguesei - da Assembleia Legislativa do Acre, eles menosprezam o ensino de Língua Portuguesa na escola. Um professor, caso tenha boa formação acadêmica, lecionará a morfologia correta, qual seja: acriano. Mais: afirmará que Francisco Mangabeira, por desconhecimento, quando registrou acreano no belo hino, cometeu um erro morfológico. Não cabe à Assembleia Legislativa, portanto, ser escola.

Assim como um bom professor de História não admite diante de alunos que houve revolução acreana, um bom professor de Língua Portuguesa não pode ensinar a seus pupilos que “acreano” representa o vernáculo. “Acreano” foi um desvio morfológico cometido pela ignorância, verdade mantida pelos usuários, ou seja, verdade fora da palavra.

A língua, entretanto, eu seu, vive de seu próprio erro. Se a comunidade registrou “gols” ao longo do tempo, quem se atreve a escrever “goles” ou “gois” em uma matéria esportiva? A própria preposição surgiu do latim impuro, vulgar, ou seja, surgiu do erro. Regências verbais não são fixas, digo, são vivas e, por causa disso, transformam-se no tempo. Se dizemos obedecer ao pai, podemos dizer também obedecer o pai; mas, dependendo do lugar, falamos obedecer ao pai e não obedecer o pai.

Como desvio, erro morfológico, “acreano” existe; porém, por não representar o vernáculo, não deveria estar no hino ou em documentos do Estado, porque essa forma se opõe ao saber escolar, à língua padrão, à gramática normativa. Sou favorável a “acreano” desde que permaneça à margem de registros institucionais, de registros oficiais.

Agora, se deputados desejam escrever “acreano” mesmo com o Acordo Ortográfico, escrevam, mas deixe a escola fora disso, porque não é na Assembleia Legislativa que se aprende a escrever.

segunda-feira, março 30, 2009

Tanto por muito pouco

Nesta terça, a assessoria da deputada federal publicou matéria nos jornais acrianos. Neste blogue, entetanto, há uma diferença: comentarei.

Perpétua Almeida anuncia recurso à ABL
contra gentílico “acriano


“Queremos salvar o jeito acreano de ver o mundo e nos apresentar como um povo consciente de suas verdades, tradições e cultura.” Assim se pronunciou a deputada Perpétua Almeida (PC do B), na tarde desta segunda-feira, no plenário da Câmara Federal, ao confirmar o recurso a ser movido por um grupo de intelectuais e políticos do Acre à Academia Brasileira de Letras contra a imposição do gentílico “acriano”. Desde janeiro, o termo define o cidadão nascido no Estado.

Comentário 1: tanta pobreza neste país e a minha deputada comunista resolve lutar contra o fonema "i". Em seu pronunciamento, eu entendi que, havendo o "i" em "acriano", a minha filha, Lara Velentina, de 11 anos, nascida em Rio Branco, deixará de ver o mundo com o jeito "acriano", além de perder a verdade, as tradições e a cultura de sua terra. Sinceramente, não acredito que uma deputada tenha lapidado algo que não tem a ver com algo. Minha acriana filha não perderá suas marcas caso escreva "acriana".

O recém-criado “Fórum de Defesa da Nossa Acreanidade”, que reúne jornalistas, escritores, historiadores, professores, representantes do Governo do Estado, da Universidade Federal do Acre e da Academia Acreana de Letras, não vê como insubstituível a nova regra ditada pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Afinal, os dicionários brasileiros mais tradicionais, o Aurélio e o Houaiss, embora reconhecendo a grafia com “i” como sendo a mais correta, apresentam como aceitável a grafia com “e”, usada há mais de 100 anos. Ao aderir ao movimento que tenta preservar a grafia tradicional, o próprio governador Binho Marques determinou que seja mantido o gentílico “acreano” em todos os textos produzidos pela Agência de Notícias do Acre.

Comentário 2: penso que não deveria haver uma só forma. Uma pergunta: o que ensinar na escola? Ensina-se o correto, e o correto é "acriano".

Repúdio no mesmo sentido partiu do presidente da Assemblíea Legislativa, deputado Edvaldo Magalhães, que não se considera “acriano”.

Comentário 3: cabe à escola dizer o correto. A assembleia deveria aprovar leis que qualificassem o ensino, pois, havendo qualidade, os alunos escreverão "acriano", o correto.

O recurso
“Vamos recorrer à ABL e, se assim os acreanos preferirem, a este parlamento e até ao Supremo Tribunal Federal”, avisou a deputada, que idealizou a criação do fórum. Não pensem se tratar de um capricho sem fundamento. A nossa Língua é a nossa pátria, como disse Fernando Pessoa. E, ademais, a Gramática tem sido injusta com o Acre. Até hoje, ao consultarmos, no Aurélio, a definição do verbo ‘morrer’, vemos, inquietos, a expressão ‘Ir para o Acre’. Não concordamos, claro, mas aceitamos como se fosse uma licença cultural do Brasil baseada numa época em que as adversidades ambientais matavam aventureiros nordestinos”, disse Perpétua Almeida. “Nasci no Acre, vou morrer acreana”.

Reações
A deputada citou, em seu pronunciamento, reações diversas assinadas por acreanos respeitados que aceitaram compor o “Fórum em Defesa da Nossa Acreanidade”.

“Eu havia decidido ignorar essa reforma. Como escritor, não necessito dela: uso meu idioma, aquele que aprendi de meu povo e que vou aperfeiçoando e adaptando às minhas preferências. É um lindo idioma, com origens diversas”, escreveu o jornalista Antônio Alves.

Comentário 4: respeito Toinho, mas seus equívocos aqui são imensos. Diria mais: são inocentes.

“Quem elabora a evolução, quem faz a língua, contrariando, às vezes, a forma proposta pelos gramáticos e filólogos, é o falante, e este ainda não decidiu nada. E desde que o Acre é Acre sempre se escreveu acreano.”, assinalou a doutora em Língua Portuguesa, professora Luisa Galvão Lessa.

Comentário 5: querida Luísa, na escola, o professor deve ensinar o vernáculo, a forma fixa, pois tal forma pertence à Língua. Cabe ao Estado, acolher a gramática normativa, não os desvios da Língua, cometidos pela Fala.

“Os seringueiros que ocuparam a região a partir das duas últimas décadas do século XIX, pouco afeiçoados ao linguajar indígena não pronunciavam corretamente o nome Aquiry, por isso aos poucos a toponímia indígena foi sendo corrompida. Aquiry, Acri, Acre.”, conta o historiador Marcos Vinícius Neves, presidente da Fundação Garibaldi Brasil.

Comentário 6: sim, há mudanças internas, leis internas na palavra, mas o Estado deve manter em seus documentos a gramática tradicional, porque essa gramática é irmã do discurso oficial.

O fórum
Compõem o fórum, membros do Sindicato dos Jornalistas, Fundação Cultural do Acre, os jornalistas Silvio Martinelo, Toinho Alves e Altino Machado, os historiadores Marcos Vinícius e professor Carlos Vicente, os membros da Academia, professoras Clara Bader, Luisa Lessa e o professor Clodomir Monteiro, Presidente da Academia, o Presidente da Assembléia, deputado Edvaldo Magalhães, entre tantos outros que estão se juntando.

“Que prevaleça a verdade de nossas tradições. Nascemos no leito generoso do Aquiri. Andamos nos varadouros da vida, produzimos borracha com a seiva da seringueira, bebemos da caiçuma, da ayahuasca e nos fizemos fortes para resistir aos ditames da natureza. Domamos o sentimento do medo para poder ouvir na noite longínqua o ronco da onça, o zumbir do carapanã, o deslizar aquático e aparentemente inofensivo do puraquê”, finalizou a deputada.

Comentário 7: o que tem a ver isso com morfologia?

A íntegra do pronunciamento da deputada pode ser conferido no site da parlamentar (www.perpetuaalmeida.org.br).

domingo, março 29, 2009

Ronda Gramatical

Operação Se não Estudar, Apanha
prende deputados acreanos

Ontem, à tarde, policiais do Departamento de Morfologia invadiram o prédio da Assembleia Legislativa do Acre para prender deputados que se opõem ao Decreto 6.583, de 29 de setembro de 2008, assinado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que promulga o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990.

Comandada pelo capitão Evanildo Bechara, a operação desarticulou o crime organizado sou acreano. Segundo o capitão, os deputados são muito violentos, cometendo todo tipo de agressão contra a língua portuguesa.

“Eles criam blogues contra policiais acrianos, homens que trabalham para manter a ordem cívica ortográfica. Já os deputados são uns criminosos gramaticais que em seus blogues cometem todo tipo de violência contra a crase, as vírgulas”, observou o capitão Bechara.

Segundo o comando da Polícia Morfológica (PM), todos fazem parte do Movimento meu Povo é Pobre mas é Acreano (MPPA), uma organização que desejava matar todos os professores de Língua Portuguesa que ensinam acriano em sala de aula.

Por causa disso, foram conduzidos à unidade de recuperação Celso Cunha. Nessa unidade de segurança máxima, eles ficarão trancados em uma sala de aula e, de segunda a segunda, aprenderão a Língua Portuguesa com o major Celso Pedro Luft e com o tenente Rocha Lima.

“Isso é para eles aprenderem que deputados não estão acima do decreto de um presidente e, além de tudo, aprenderem que Assembleia Legislativa não é escola”, observou o capitão Evanildo Bechara.

sábado, março 28, 2009

Princesinha perdeu o encanto

Ex-companheira de luta de Chico Mendes
diz que Xapuri passa por seus piores dias

De Gilberto Lobo

Dona Francisca Macedo, de 43 anos, é uma senhora batalhadora e, com todas as dificuldades oferecidas nos anos de combate à expansão pecuarista pelos quais passou Xapuri, cidade símbolo da luta pela preservação do Meio Ambiente, ainda conseguiu ingressar na Universidade Federal do Acre (Ufac), tornando-se bacharela no curso de Geografia.

A ex-secretária do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, participante ativa dos empates da década de 1980, uma das companheiras de luta do ex-líder seringueiro Chico Mendes, também conclui pós-graduação em educação ambiental.

Ela denuncia a situação de abandono pela qual está passando “a princesinha do Acre” e, principalmente, o bairro Sibéria.

Se as coisas estavam ruins antes, agora estão piores. Nunca tivemos tão sozinhos”, lamenta Francisca Macedo.

A professora explica que a Estrada Petrópolis, via de escoamento de vários seringais, está intrafegável, impossibilitando os produtores rurais de levar a produção ao comércio da cidade.

Voltamos ao tempo em que usávamos animais para o transporte. Não há carro para nada, nem para levar os doentes ao hospital.

Lixo e lama

Outro problema denunciado por Francisca é a falta de limpeza pública no Centro de Xapuri e no restante dos bairros. Segundo a ex-secretária de Chico Mendes, o lixo se mistura com a lama das ruas sem asfalto. Em frente às escolas, há depósitos de lixo da prefeitura virados. “Moro no Sibéria, mas trabalho no Centro, passo por esse tipo de coisa todos os dias.

Só a dengue é quem lembra da gente. Os casos aumentam a cada dia. Nos postos de saúde não há remédios. Meus filhos pegaram dengue e tive que comprar os remédio. Não tem nem aqueles pacotinhos de soro”, desabafou dona Francisca.

A professora diz que a população pede uma solução à prefeitura, mas o atual prefeito explica apenas que não há dinheiro. “Ele só vive com choro, dizendo que a prefeitura está falida e não fala de solução.

Na última reunião que tivemos com o prefeito, ele não mostrou nenhuma saída. E se antes estava ruim, agora está pior. Essa é a nossa pior fase. Só queremos que o atual prefeito faça alguma coisa pela gente”, ressaltou Macedo.

Nesse período de chuvas, os extrativistas xapurienses não podem cortar seringa e nem coletar castanha. O resultado é a falta de dinheiro e condições mínimas de sobrevivência, de acordo com a especialista em educação ambiental.

quinta-feira, março 26, 2009

Muito índio

Montagem de Werverton Silva











Um dos bons valores que o Acre ofertou a mim foi o vegetal. Bebi pela primeira vez em Cruzeiro do Sul, o município mais lindo deste Estado e um dos mais atrasados politicamente.

Depois de sentir o que senti, igrejas de pastores e de padres não se comparam ao céu sul-cruzeirense e muito menos seus sermões, que não se comparam aos de Antônio Vieira, encantam como as vozes interiores que a bebida proporciona.

Nativos amazônidos, esses sim sabem o que é religiosidade.

Teatro & Teatro

Vá ao teatro. 27 de março, Dia Mundial do Teatro. Infelizmente, por causa do jornal, não poderei ir. Merda!

REAPRESENTAÇÃO DE PIQUENIQUE NO FRONT NESTA SEXTA FEIRA, DIA 27 DE MARÇO, EM COMEMORAÇÃO AO DIA MUNDIAL DO TEATRO, NO TEATRO PLÁCIDO DE CASTRO, ÀS 20:00 HORAS.

INGRESSOS a R$ 10,00 E R$ 5,00.

Piquenique no Front é a primeira peça escrita pelo autor espanhol Fernando Arrabal, referência do Teatro do Absurdo e é uma crítica à bestialidade da guerra.

O espetáculo “Piquenique no Front”, de Fernando Arrabal, com direção de Nonato Tavares, reapresenta-se no dia 27 de março de 2009, às 20:00h, sexta-feira, no Teatro Plácido de Castro.

A apresentação será em comemoração ao Dia Mundial do Teatro numa realização da Fetac – Ponto de Cultura Inter – Arte - Ação, parceria do Curso de Artes Cênicas da Ufac e apoio da FEM, FGB e Ministério da Cultura.

Senhor e senhora Tépan resolvem fazer um piquenique com seu filho, o soldado Zapo, em pleno front de batalha. O mais interessante é a forma como o casal se porta em relação à situação, encarando-a como um "belo passeio no campo".

É, sem dúvidas, um espetáculo mágico e de grande riqueza de detalhes e símbolos, onde o inusitado nos impressiona a todo o momento, de maneira bem humorada, mostrando como nada é impossível quando buscamos a paz, ainda que em meio a uma guerra.

A peça serve de metáfora para o mundo contemporâneo, que já incorporou tantos conflitos na vida cotidiana, tornando-os banais e imperceptíveis aos nossos olhares. Escrita há mais de meio século, essa fábula antibélica permanece atual.

A montagem conta com a participação dos atores Lenine Alencar, Claudia Toledo, André César, Yuri Montezuma, Sandra Buh e Dino Camilo, e marca o primeiro trabalho efetivo da Cia. Visse & Versa de Ação Cênica.

O projeto de montagem foi contemplado pela Lei Estadual e Municipal de Incentivo a Cultura de 2008 e tem o patrocínio da Uninorte e da VLG. Os Ingressos estarão à venda no dia da apresentação no Teatrão e terá valor de R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia).

Informações 3224 6890 ou 3223 9725

quarta-feira, março 25, 2009

Boa entrevista

Recortei o que me interessou mais. Leia na íntegra a entrevista de Altino Machado

Evanildo Bechara 1
"Eu vejo no movimento pela manutenção do acreano uma devoção ao nome. Os árabes dizem: dar nomes às coisas é sinal de possuí-las. Então eu vejo o movimento sentimental dos acreanos com alegria, porque eu vejo o respeito pela forma escrita. Como filólogo, repito, isso me causa muita alegria. Mas como técnico da língua, vejo em acreano com “e” um erro de história da língua. Quer dizer, nós estamos defendendo acreano em nome da história do Estado, mas contrariando a história da língua. Então o que há é a história da língua, que é universal, contra a história dos acreanos, que é digna de respeito e admiração, mas é muito pontual."

Evanildo Bechara 2
"Veja bem: à altura em que nós estamos, com a implementação iminente do acordo, tenho a impressão que ainda prematuro a pessoa fazer qualquer movimento nesse sentido."

Evanildo Bechara 3
"A rigor não acontece nada. Apenas os alunos que fizerem concursos para as instituições oficiais, se o professor não aceitar o apelo popular e ficar na estrita decisão oficial, os alunos serão penalizados com uma falta ortográfica. E ainda mais, o que é mais grave, porque não sabem escrever o nome da sua cidade ou região. É como antigamente a palavra Brasil, não é? A palavra Brasil, por influência inglesa, era escrita com “z”. Ainda no início de nossa Academia, ela era uma “Academia Brazileira”, com “z”. O nosso Rui Barbosa sempre escreveu o nome dele com “y”, mas acontece que a Fundação Casa de Rui Barbosa, instalada na casa onde ele morava, a fundação escreve Rui Barbosa, com “i”, de acordo com a decisão ortográfica de 1943. Todo mundo tem o direito de escrever como imagina, como quer. Há muita gente que ainda escreve filosofia e fósforo com “ph” etc. É um direito que lhe cabe. Ao lado desse direito pessoal existe um compromisso social e a ortografia é um compromisso social."

Evanildo Bechara 4
"Defender acreano porque termina por “e” é um erro de história da língua. Veja bem: em acreano esse “e” não faz parte do radical. Então esse “e” desaparece. Por exemplo: Camões. Também tem um “e” no fim, mas quando se faz o adjetivo camoniano, esse “e” tem que ser passado pra “i”. É o que acontece com Açores, que também tem “e”. Mas quando se faz um derivado, ele passará a açoriano, com 'i'."

Evanildo Bechara 5
"Sim, é uma opção deles. É uma opção que está sujeita, por exemplo, numa prova de um aluno, ao professor dizer: 'Você não saber escrever o nome do seu próprio estado?'. A pessoa pode passar por esse dissabor."

Evanildo Bechara 6
"Eu interpreto como uma boa vontade de atender aos seus eleitores, mas cometendo um erro de ciência lingüística. Então a pessoa fica na opção entre cometer um erro por amor à forma e demonstrar um desconhecimento de um fato de língua. É como o poeta que acha que lágrima devia ser escrito com “y” porque o “y” lembra o rolar da lágrima pela face."

Evanildo Bechara 7
"Mas como técnico da língua, vejo em acreano com 'e'um erro de história da língua. Quer dizer, nós estamos defendendo acreano em nome da história da cidade, mas contrariando a história da língua. Então é uma história da língua, que é universal, contra a história dos acreanos, que é digna de respeito e admiração, mas é muito pontual. Mas vamos ver. É como os portugueses, lá em Portugal, que são contra o acordo porque eles se dizem os donos da língua. Nós somos apenas condôminos da língua. Mas a verdade é que o destino da língua portuguesa hoje está mais no Brasil do que em Portugal."

terça-feira, março 24, 2009

Escrever & Reescrever


Professores são unânimes:
treino é o caminho seguro para uma boa redação

Ana Okada
Simone Harnik
Em São Paulo

Muitos estudantes se prendem a diversas regras na hora de escrever redações para o vestibular mas se esquecem de algo fundamental: a escrita. Leitura, conhecimentos de gramática e de atualidades ajudam muito na hora de redigir um texto, mas só o treino é que faz com que o estudante domine as técnicas para poder expressar suas idéias com precisão.

"Podemos comparar a escrita à habilidade de tocar violão: ninguém diz que é um bom instrumentista sabendo só a teoria musical, é necessário ter a prática", explica o professor Eduardo Antonio Lopes, do cursinho Anglo, em São Paulo.

Unanimidade: treino é o caminho seguro para uma boa redação, dizem professores
professora Célia Passoni, do cursinho Etapa, em São Paulo, também ressalta a importância do treino para a escrita e diz que não há segredo ou milagre na hora da redação:

"Não dá para o estudante achar que vai 'baixar um santo' na hora de escrever. Redação é treino: é preciso exercitar com vontade".

Como estudar redação?
Os professores aconselham os estudantes a verificar os temas das redações dos vestibulares dos anos anteriores e as melhores redações dos aprovados:

"Os exemplos respondem nossas dúvidas. Eles nos mostram, por exemplo, que não há um padrão para colocar parágrafo, mas também que é impossível haver um texto sem divisões", salienta Lopes. Ele ressalta que a redação serve para avaliar se o candidato tem "maturidade a ponto de mostrar um texto autoral; e não um texto que foi feito 'por acaso'".

Lopes afirma que uma boa redação depende de três fatores: da leitura da proposta, do repertório linguístico e do repertório de conhecimentos do aluno. Antes de começar a escrever, é preciso primeiro ter clareza de qual é a discussão da proposta e de qual é a tese que o estudantes vai defender.

Só assim o texto terá progressão, conceito definido pelas seguintes condições: remissividade (o texto deve remeter a elementos anteriores, sem repeti-los), complementaridade (deve acrescentar informações relevantes) e direcionalidade (todos os elementos do texto devem se dirigir à conclusão).

Para saber como lidar com todos esses pré-requisitos, o vestibulando pode estudar as estratégias adotadas nas melhores redações, propor novas soluções e se expor a diferentes modelos de texto. Lopes acredita que o ideal seria o estudante fazer uma redação por semana e dá-las a um leitor critíco para avaliá-las:

"Deve ser alguém que consiga identificar se o texto está de acordo com a proposta, se tem coerência e coesão etc. Não precisa ser um professor, pode ser um colega".

O que é necessário?
Com o texto em mente, o estudante deve adequá-lo à forma da redação, que pede os seguintes requisitos:

Título: deve ser centralizado. Pular linha é opcional;
Tamanho: cerca de 30 linhas, que podem ser divididas em um parágrafo de introdução, dois ou três de desenvolvimento e um de conclusão;
Grafia: o texto deve ser legível;
Similaridade: o ideal é que os parágrafos inicial e final tenham o mesmo tamanho;
Coesão: as partes do texto devem sustentar a conclusão;
Coerência: as parte do texto deve estar ligadas.

Para a professora Célia, o estudo de todas as disciplinas também contribui bastante para uma boa redação:

"A redação é interdisciplinar. Candidatos que têm certa abrangência de conhecimentos conseguem, com mais facilidade, embasar seus argumentos com exemplos e citações, como podemos ver nos exemplos das melhores da Fuvest".

Onde está a LÍNGUA (da) Portuguesa?


Hoje, continua um curso da Secretaria de Educação do Estado para professores de LÍNGUA Portuguesa.

Das outras vezes, estive em algumas aulas... muito ruins. Doutores de outros estados recebem muito bem para lecionar aulas tão inexpressivas sobre a disciplina LÍNGUA portuguesa na rede pública de ensino.

Dinheiro público que não retornará em forma de qualidade nas salas de auka. Existe um problema na rede pública de ensino muito sério; entretanto, como a educação acriana passou por uma revolução, não há mais problema, não é verdade? Sinplac e Sinteac, por sua vez, são sindicatos que não sabem se organizar para propor e exigir qualidade de ensino de LÍNGUA portuguesa.

Mas, por mais que a educação acriana tenha melhorado, problemas permanecem, um deles: gestão. Inútil haver um curso para professores - e esse modelo de curso deve ser repensado - se o atual modelo de administração é um erro.

Pensei em marcar um suicídio para não comparecer a esse anencefálico curso. Revólver, corda ou veneno para rato? Acho que usarei um objeto direto preposicionado em meu coração.

segunda-feira, março 23, 2009

"Acreano", uma mentira morfológica


“Acreano” foi uma mentira morfológica
escrita tantas vezes que acabou virando verdade.

De Aldo Nascimento


Em 20 de março de 2009, em uma sala da Assembleia Legislativa do Acre, representantes da Academia Acreana de Letras, das Faculdades de Letras e de História da Universidade Federal do Acre, das Fundações Culturais Garibaldi Brasil e Elias Mansour, da Biblioteca Pública Estadual, do Sindicato dos Jornalistas, do governo do Estado, da Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa do Acre reuniram-se para formalizar uma contestação contra a supressão de “acreano” no Acordo de Ortografia Simplificada entre Brasil e Portugal para a Lusofonia.

Uma reunião por causa de uma palavra. Em Antônio Houaiss e em Aurélio, habitam as palavras “acriano” e “acreano”. Se meu aluno quiser escrever “acriano” em sua redação, ele tem o apoio de dois dicionários embora “acreano” prevaleça nos jornais, nos documentos, na comunidade linguística local. Todos podem escrever “acreano”; porém, ao consultar Houaiss, Aurélio ou Celso Pedro Luft, meu aluno escreve “acriano”.

Se esses autores consagrados confirmam “acriano”, não importa se a maioria impõe a grafia “acreano”. Até 31 de dezembro de 2012, as duas grafias permanecerão; depois, somente “acriano”.

A professora-doutora Luísa Galvão Lessa, pessoa por quem tenho a mais sincera admiração, disse-me que, “em termos de linguagem, o uso consagra a forma”. Concordo, mas faço uma concessiva: embora o uso tenha consagrado a forma “acreano”, eu, diferente da comunidade linguística, posso escrever “acriano” por discordar da maioria.

Ora, a maioria não sabe o que Antônio Houaiss, Aurélio e Celso Pedro Luft sabem. Para mim, neste caso, não está em jogo “o uso que consagra a forma”, mas o saber de estudiosos renomados que não consagrou o uso “acriano”. Opto, portanto, não pelo uso que consagra a forma, mas opto pelo saber erudito de autores tão bem ignorado pela maioria.

Por que se registra arque-ano e não arqui-ano ? Bem, a palavra derivante é “Arqueu” e, por haver nela um ditongo tônico com base -e- (-eu), o -e- permanece no radical: “arque + ano”. Isso ocorre também quando a silaba tônica do derivante é -e, por exemplo, “Daomé”, por isso registramos “daome-ano”. Coreano ou coriano? Porque a lei morfológica que rege “Arqueu” e “Daomé” também reina em “Coreia”, escreve-se “coreano”.

Quem nasce em “Cabo Verde” é “cabo-verdeano” ou “cabo-verdiano”? Nesse caso, como o derivante “Cabo Verde” tem a sílaba tônica “ver-”, o -e- não permanece no radical da palavra derivada, havendo em seu lugar uma vogal de ligação: “cabo-verdiano”. Esse mesmo fenômeno ocorre com a palavra “Acre”. A sílaba tônica é “A-cre” e, dessa forma, por ser átono o -e- de “Acre”, ele não permanece no radical da palavra derivada, havendo a vogal de ligação -i- para acomodar o radical “Acr-” ao sufixo “-ano”: “acriano”.

O fenômeno morfológico que há em “acriano” é o mesmo que ocorre em “comtiano” (Comte), em “açoriano” (Açores), em “ciceroniano” (cicerone). No hino do Estado, entretanto, registrou-se “acreano”, o que para mim representa um erro, porque, por ser hino oficial, deveria prevalecer a forma clássica, erudita, ou seja, o uso vernáculo. Por se tratar de um texto poético que representa o ideal do Estado, a palavra tem o dever cívico de ser lapidada pelo saber erudito.

Divergindo de Francisco Mangabeira, autor da letra do Hino Acriano, o Acordo de Ortografia Simplificada, em sua Base V - Das vogais átonas -, levou em consideração “o sufixo misto de formação vernácula -iano”, ou seja, prevaleceu a etimologia (etimon: o verdadeiro). “Acreano” foi uma mentira morfológica escrita tantas vezes que acabou virando verdade. O uso [errado] consagrou a forma [errada].

Tantas instituições reunidas por causa de uma mentira morfológica, tantos preocupados com uma só palavra. Muito mais do que uma palavra isolada, essas instituições deveriam se reunir contra palavras erradas em redações escolares, contra um sistema público de língua portuguesa que permite o aluno de ensino médio escrever como se estivesse no início do ensino fundamental.

Mais: a Assembleia Legislativa deveria se pronunciar contra deputados que escrevem errado em seus blogues (sim, aportuguesei). O Sindicato dos Jornalistas deveria se colocar contra faculdades que formam alunos sem conhecimento elementar de um bom texto. O governo do Estado deveria corrigir assessores que publicam vergonhas gramaticais.

Lutar contra uma palavra é mais fácil.

sexta-feira, março 20, 2009

Tensão ou tenção?

Minha escrita não representa a "pureza" gramatical, longe disso, mas procuro sempre deixar neste pouco lido blog um texto que não envergonhe a LÍNGUA portuguesa. Procuro expor meu pensamento sem erro gramatical; porém, ainda sim, eles escapam por entre meus dedos.

Sou imperfeito e gosto quando apontam minhas imperfeições gramaticais.

Soube que o deputado estadual Edvaldo Magalhães, do PC do B, insiste na ideia de que "tencionamento" é uma palavra correta em seu blog.

Em seu texto, conforme o significado do parágrafo, não cabe a palavra "tenção" (intenção, devoção, tema, assunto ou briga) mas "tensão" (pressão, difícil, preocupante).

Posso estar errado? Ele escreveu:
________________________
"A vantagem do não tencionamento eleitoral é contrabalançada com o rigor da cobrança por parte dos que terão muita energia a gastar apenas com a vigilância oposicionista."
______________________________
No texto, está clara a ideia de "pressão", ou seja, de "tensão". Além disso, esse "tencionamento" foi mal usado como advérbio.


quinta-feira, março 19, 2009

"Pai, já estou no México"


Segundo GABRIELA GUERREIRO, da Folha Online, em Brasília, "Viana restituiu ontem o Senado pelo gasto feito por sua filha com um celular da Casa na viagem que ela fez ao México, nas primeiras duas semanas de janeiro deste ano. O parlamentar se recusou a informar o valor da conta".

Em outros tempos, nunca pensaríamos que parlamentares do PT abusariam do erário, porque uma marca do Partido dos Trabalhadores sempre foi a diferença. Foi. O senador sabe que errou e assumiu. No PT, desde que chegaram ao poder, muitos erraram quando usaram dinheiro público.

O senador oculta o que deveria ser público. O poder seduz. Como homem público, o senador deveria informar à democracia que o elegeu o valor da conta de telefone.

Copa de 2014 em Rio Branco

No sítio da Fifa











O governo do Estado do Acre torce para que jogos da Copa do Mundo ocorram em Rio Branco. Segundo o mapa da Fifa, haverá jogos em Rio Branco sim, mas só que não será no Acre, você entendeu?

Novelas da Globo empacam no ibope

De Ricardo Feltrin
Colunista do UOL

Outra grande aposta da Globo que até agora não impressiona no ibope é "Caminho das Índias", de Gloria Perez. Seus últimos capítulos têm registrado no máximo 36 pontos. Ontem chegou a cair para 34. Claro que são obras longas, que podem disparar de uma hora para outra, dependendo da criatividade de seus autores. Mas criatividade não é o que se tem visto nas obras desses dois novelistas. Um voltou ao tempo de "Pantanal"; a outra, só faz repetir a fórmula de "O Clone".

segunda-feira, março 16, 2009

A poesia é inútil

De Aldo Nascimento

Com a revolução industrial, ocorrida em meados do século 18, a máquina submete a vida ao desencanto. Nas fábricas, operários suportam nas costas uma carga acima de 14 horas diárias de trabalho alienado. Com o surgimento da indústria, a engrenagem mecaniza destinos; inicia-se a coisificação da vida.

Contra esse capital industrial, emerge o sentimento intenso de poetas. Hölderlin [1770-1843], um deles, coloca seus versos “românticos” contra uma realidade social infiel à espiritualização dos homens. Contra as fábricas, a beleza de sentidos – poesia.

Chateaubriand [1768-1848], outro romântico, afirma que a existência é pobre, seca e desencantada. “Habitamos um mundo vazio com um coração cheio e, sem termos utilizado nada, somos desiludidos de tudo.”

Esse romantismo, emerso no final do século 18, acometeu-se contra um cotidiano que impôs ao homem o cansaço de si mesmo, que, acovardado diante das pressões sociais, acaba preferindo vegetar na banalidade, vivendo por meio de ideias acomodadas e inalteráveis. Esse sentido original da escola romântica, entretanto, foi deformado.

Embora o romantismo tenha expressado uma luta estética contra a despoetização da vida, ele a expressou em vão, porque a brutalidade normal das coisas grudou-se à linguagem, aos gestos, ao comportamento, ao gosto das pessoas. Nunca fomos tão vulgares.

Em vários bairros de Rio Branco, por exemplo, encontra-se embrenhada a ausência da beleza, do sensível. Objetos, mercadorias, são eles que predominam na paisagem; eles que intermedeiam as relações humanas.

Pela TV, com seus discursos previsíveis, governo e empresários associam desenvolvimento ao consumo, às mercadorias, à renda, às necessidades básicas, como se teatro, imaginário ou poesia não fossem vitais à existência. Em verdade, sepultaram a beleza há anos, por isso somos tão violentos – pais engravidam filhas, homens eretos espancam mais mulheres, população carcerária avoluma-se, drogas entorpecem o sentido da vida.

Ora, não somos mais humanos porque saciamos necessidades básicas ou porque consumimos objetos na Expo-Acre; não somos mais humanos porque associamos o desenvolvimento à circulação de mercadoria ou a ruas asfaltadas; porém, por ser irreal tal como o amor, a honra, o sonho, a poesia nos torna melhores. Humaniza-nos.

Os versos de Vinícius de Moraes lutam contra a coisificação do sexo. As estrofes de Drummond assaltam a alienação social. A poesia de Baudelaire não se sujeita à miséria humana. Mas quem os lê? Quem os ouve recitados em praça pública? Quem os vê como teatro de rua? A poesia, senhores, é inútil – vou ver Faustão ou Sílvio Santos.

sábado, março 14, 2009

O vigor estético de um poeta

Neste domingo, 15 de março, é o Dia da Poesia. Entre tantos poetas, reverencio Paulo Leminski [1944-1989].

















já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo

morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma

morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma.

quinta-feira, março 12, 2009

Ronda Gramatical










De Edvaldo Solto

Meu amigo e minha amiga, a bruxa da tua mãe tá solta e a fada madrinha tá presa no presídio de segurança máxima. Coisa tá feia em Rio Branco, só não tá mais feia do que eu e aquele diagramador da TRIBUNA. Olha só, muita atenção para esta notícia. A repórter Lênilda Lê tem as informações. Imagem.

Repórter
- Edvaldo Solto, eu estou no blog do deputado João Edvaldo Amazonas Magalhães neste momento para mostrar que ele revolucionou a língua portuguesa. Do meu lado, está o capitão Celso Cunha, foi ele quem prendeu o deputado com a droga do erro na mão esquerda.

Policial
- Positivo e operante. Desde a Revolução Russa, a Polícia Ortográfica Brasileira monitora comunistas no Acre e, após anos, encontramos uma ação subversiva em um blog da foi-se o martelo. O deputado cometeu um crime contra a LÍNGUA-PÁTRIA quando escrevinhou... (a repórter interrompe)

Repórter
- Telespectador, eu interrompi o capitão para pedir que os alfabetizados se retirem da sala, a cena é forte, as crianças que não frequentam escola podem ficar.

Policial
- Pois bem, ele escrevinhou que “a vantagem do não tencionamento eleitoral é contrabalançada com o rigor da cobrança por parte dos que terão muita energia a gastar apenas com a vigilância oposicionista”. Quando encontramos a droga “tencionamento” em seu blog, ordenei que a Polícia Gramatical o prendesse, porque essa palavra não existe, sua intenção é disseminar desacordos ortográficos.

Repórter
- Direto do blog, Lênilda Lê, com imagens de João Glaucomatoso. Edvaldo Solto, agora é com você.

Meu amigo e minha amiga, se você está preso no Francisco D’Oliveira Conde e deseja fugir porque a tua pena passou do prazo de validade, passe pela concessionária Recol e fuja com um carro zero-quilômetro. Aproveite nossas condições, confira as ofertas antes de pular o muro do presídio.

A coluna chegou ao fim da picada. Na próxima terça-feira, se o Arquiteto permitir – e ele há de querer -, reformarei minha casa e estarei de volta. Fiquem com Deus e com nossos patrocinadores.

Cocô na "florestania"

Não sou simpático ao programa Gazeta Alerta por ser uma cópia de programas paulistas e cariocas, e estes já são ruins. Prefiro transmissões originais. Entretanto, em certos momentos, a equipe acerta.

Hoje, não publicaram imagens de presos no Francisco D'Oliveira Conde, mas a violência que essa unidade prisional comete contra a natureza. Desta vez - que ironia!!! -, o presídio é o criminoso.

Segundo a ótima matéria do repórter Adaílson Oliveira, o Francisco D'Oliveira Conde, mantido com o dinheiro público, despeja fezes de presos, merda de policiais, cocô de oficiais e bosta de seus diretores no igarapé São Francisco. A matéria revelou que o Estado joga muita merda na natureza.

Pensei: será que é para adubar a terra?

Conversando com Itaan Arruda, ex-assessor de comunicação do governo, ele disse-me que o governador Binho Marques jamais censurou a imprensa acriana. Acreditei, a matéria de Adaílson Oliveira, a prova.

Se este governo não põe sua mão reguladora na Redação de jornal, sobrou para os jornalistas publicarem boas matérias; no entanto, para isso, é preciso haver repórteres bons - e Adaílson Oliveira mostrou por meio dessa matéria que é um deles.

terça-feira, março 10, 2009

CQC voltou! & TV Aldeia


















Ontem, FINALMENTE, o CQC retornou, único programa INTELIGENTE da TV brasileira, mais os programas da TV Cultura, é claro.

Que prazer eu sinto quando O RISO diminui a importância de certos políticos. Rir deles, rir e rir. Ontem, eu ri muito de um Congresso que gasta por minuto mais de R$ 11 mil, o mais caro do mundo.

E a TV Aldeia? Com o retorno do Campeonato Acriano, não assisto mais ao programa Café Filosófico
. TV Aldeia, com isso, deixou de ser CULTURA para ser TV Esporte. O culpado disso: Jorge Henrique, Anibal e Itaan Arruda.

Por favor, deixem que eu assista ao Café Filosófico. Quem quiser assistir ao jogo vai ao estádio.

segunda-feira, março 09, 2009

É fantástico não haver chuchu no Jordão


Não poderia deixar de escrevinhar sobre a falta de chuchu no Jordão. Hoje, A TRIBUNA publica este artigo.

De Aldo Nascimento

Uma pessoa tem um sonho. “Quando crescer, serei jornalista.” A pessoa cresce. Estuda. Estuda. Estuda. Entra na faculdade de jornalismo. Estuda. Estuda. Estuda. Conclui a faculdade. Estuda. Estuda. Estuda. Pós-graduação. Finalmente, depois de tantos anos, consegue trabalhar na Globo. Vai para o interior do Acre e, aqui, depois de estudar tanto na faculdade, sua audiência divulga no Brasil que Jordão não conhece chuchu. A isso dão um nome: fantástico.

Depois, eu me perguntei: qual a relação entre não conhecer um chuchu e o Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH? Outra dúvida: se o cálculo do IDH leva em consideração a expectativa de vida, o nível de educação e a renda da população, o que a falta de chuchu em Jordão estava fazendo em uma matéria sobre IDH? Última pergunta: qualidade de vida tem a ver com o consumo de chuchu?

Ficou a impressão de que quem não conhece chuchu é atrasado ou motivo de chacota. Mas ficou também a impressão de que o jornalista global não conhece o seu próprio país, passando pelo Jordão como turista. Assim, na condição de repórter-turista, sua matéria só poderia ter transmitido isto: superficialidade sobre nós.

Esperar de uma TV comercial e de um repórter-turista o registro de nossa identidade, convenhamos, seria anormal. O normal tem sido - que ironia! - os jornais acrianos ignorarem o interior deste Estado; tem sido desconhecerem o homem rural que nunca viu um chuchu.

Para uma Redação de Rio Branco, tão condicionada a ser aquário, Jordão não passa de um mapa. Se leitores daqui não encontram em nossos jornais o que é o Acre em Feijó, em Mâncio Lima ou em Assis Brasil, outros publicam o que não encontram no Jordão, neste caso, um chuchu. Se nossos jornalistas publicam matérias que ocultam o interior deste Estado, outros descobrem a falta de chuchu e riem de nós.

Após uma semana de o Fantástico rir do Acre, não houve um jornal da capital que tenha tomado a iniciativa de retirar do Jordão “a chacota do chuchu". O repórter-turista plantou nesta terra uma matéria para colher chuchu, e as redações acrianas só cultivam um jornalismo que desconhece Rodrigues Alves, Capixaba, Plácido de Castro. Do Rio de Janeiro, a Globo nos conhece “melhor”. Plim-plim!!!

A Bahia é aqui

Folga no TJ 1
No Mato Grosso do Sul, o novo presidente do Tribunal de Justiça instituiu, por portaria, folga para o servidor no dia do aniversário. A decisão é inédita no Brasil.

Folga no TJ 2
Se o servidor tiver o azar de fazer aniversário em um fim de semana ou em um dia que já é feriado, não tem problema: ele terá direito à folga no primeiro dia útil seguinte.

Folga no TJ 3
O presidente do TJ-MS, Elpídio Helvécio, faz aniversário em 11 de julho, que neste ano cai num sábado. Logo, ele terá direito à folga na segunda, dia 13.
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É preciso comentar?

sábado, março 07, 2009

"Aliança espúria"

Nesta semana, o Congresso Nacional, por meio do PMDB, deu um exemplo de que cargo no poder é o limite. Graças às articulações de Renan Calheiros (PMDB-AL), Fernando Collor de Melo presidirá (PTB-AL) a Comissão de Serviços e de Infraestrutura do Senado. Assista

No passado, Renan não só apoiou como também esteve no (des)governo de Fernando Collor.

Após a eleição do "caçador de marajás", o senador Aluísio Mercadantes declarou que houve uma "aliança espúria" entra PMDB e PTB. Será que o Partido dos Trabalhadores tem moral política para afirmar isso? Pergunto porque Lula formou uma aliança com o PMDB. Não será aliança espúria o PT formar um governo com o PMDB de José Sarney?

Ora, se não há mais o "purismo petista", ser espúrio é detalhe. De passagem: "espúrio" significa "ilegítimo". Os ideais do PT há um bom tempo deixaram de ser legítimos.

sexta-feira, março 06, 2009

Intolerância Evangélica












O MPF-SP (Ministério Público Federal em São Paulo) ajuizou uma ação civil pública contra a Rede Record e a TV Gazeta pedindo indenização no valor de, respectivamente , R$ 13.600.000,00 e R$ 2.424.300,00, pela suposta discriminação das religiões de origem afrobrasileira na programação das emissoras.

De acordo com a Procuradoria, programas religiosos exibidos nas redes de TV utilizam há anos expressões que discriminam religiões como umbanda e candomblé, tais como “encosto”, demônios, “espíritos imundos”, “feitiçaria”, além da famigerada “macumba”.

Para a procuradora regional dos Direitos do Cidadão Adriana da Silva Fernandes, autora da ação, as emissoras não estão imunes de responsabilidade sobre programas feitos por produtoras independentes.

“A Record e a Gazeta são responsáveis pelas ofensas às religiões de matriz africana desferidas reiteradamente pelos programas religiosos veiculados em sua grade de programação”, ressaltou Adriana Fernandes.

Em liminar, o MPF pede que as emissoras interrompam a exibição de programas que façam esse tipo de referência aos cultos de origem afro, e sugere multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento da possível decisão da Justiça.

A reportagem de Última Instância procurou a Rede Record e a TV Gazeta, mas até o momento não houve resposta. DireitosA procuradora destaca que os referidos programas ferem direitos fundamentais, como a liberdade de crença e o “respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família”.

“O abuso praticado pelas rés contraria a dignidade da pessoa humana,(...) bem como os próprios objetivos de construção de uma sociedade livre, justa e solidária, com a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”, ressalta Adriana da Silva.

Segundo o MPF, em abril de 2008, o Ministério das Comunicações aplicou multa de R$ 1.012,32 às duas emissoras por ofensas às religiões afro, mas na visão da procuradora, a sanção não foi suficiente para acabar com as discriminações praticadas. Por isso pediu indenização equivalente a 1% do faturamento das empresas, que poderá ser revertido para o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos.

Moto & Bicicleta

Até hoje, a Câmara de Vereadores de Rio Bracno não elaborou e muito menos aprovou uma lei para regulamentar o uso da bicicleta em via pública. Sem retrovisores, sem lanternas, o ciclista pensa que no trânsito pode tudo.

Neste vídeo, no bairro Floresta, vi quando a moto bateu na bicicleta, jogando o ciclista longe. O carona da moto quase bateu com a cabeça no Uno parado.

O ciclista estava errado, ele deveria pagar o prejuízo.


quinta-feira, março 05, 2009

Suave e Inocente Loucura
















Um personagem no urbano. A ficção encarnada. A loucura que nos constrange. A liberdade que nos inibe. Teatro. Este homem assemelha-se ao deus Pan.

Escola pública na Ufac

Desde que cheguei à escola Heloísa Mourão Marques, sempre falei para que essa escola pública saísse do descaso em que se encontrava. Nada mais do que minha obrigação. Durantes seis anos, alguns professores elevaram a voz contra o sucateamento moral dessa escola que empilhava a desordem, a arbitrariedade, a preguiça, o descaso, a empáfia, a indiferença, o privilégio para uns e de alguns.

Muitos me viam com olhos antipáticos. O tempo, entretanto, não dilapida o que é sincero. Com outros colegas, professores dedicados à causa de educar, servidores comprometidos com o serviço público, NÓS transformamos a escola Heloísa Mourão Marques, colocando em sua direção a professora-gestora Osmarina.

Falta ainda. Sempre falta. O melhor, nós desejamos cada vez mais. O início foi fecundado, e os frutos brotarão mais e mais. Ainda que Cigliane não seja dessa gestão, os professores contribuíram.

Com 150 pontos, a ex-aluna da escola estadual Heloisa Mourão Marques, Cigliane Feitosa dos Santos, 21, obteve o primeiro lugar geral na Ufac para o curso de Direito. A jovem que concluiu todo o ensino básico na rede estadual comenta que, mesmo ainda existindo falhas, o ensino público tem avançado muito no Acre e que sua aprovação deve servir de estímulo e de motivação para outros jovens.

Na escola Heloísa, precisamos, primeiro, para o próximo ano, saber com exatidão o número de alunos que passarão para a Ufac e, em um segundo momento, propagar o nome desses alunos. Devemos saber criar nossa própria divulgação.

A Secretaria de Educação do Estado, por meio de Josenir Calixto, pessoa que dirige o ensino médio, precisa expor a escola pública por meio de propagandas intensas e muito bem elaboradas. Essas alunas de que passaram para medicina e direito deveriam aparecer na televisão, em propagandas do Estado.

quarta-feira, março 04, 2009

Ausência da ficção















Viver no Acre é ficar privado de bons cinemas e de boas casas de teatro. A inquietude irreverente do imaginário ausentou-se entre nós. Quando uma peça de fora surge, procuro sempre ir.

Se a realidade fosse clara, isto é, evidente, não haveria arte. Ouço com os olhos estas palavras de Gilles Deleuze: "A arte é o mais alto poder do falso, ela magnifica 'o mundo enquanto erros', santifica a mentira, faz da vontade de enganar um ideal superior."

Mais cargo

Na matéria de Nayanne Santana, a Frente Popular cria mais cargos. A oposição não gostou, tudo em vão: o projeto foi aprovado.
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Aleac aprova três projetos
De Nayanne Santana


Os deputados estaduais votaram na sessão de quarta-feira, dia 4, três projetos enviados pelo Executivo. O consenso prevaleceu na aprovação de dois projetos, e eles foram aprovados por unanimidade. Apenas o projeto que reestrutura a Secretaria de Planejamento (Seplands) gerou controvérsias entre situação e oposição. Os oposicionistas questionavam a criação de novos cargos na secretaria; mas, no final, o projeto de lei foi aprovado.

“Esse projeto cria cargos na Secretaria de Planejamento para reforçar o trabalho do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), dos empréstimos do Bird e do BNDES”, detalhou Moisés Diniz (PC do B), líder do governo na Casa.

Mais terras

No pacote de projetos aprovados por todos os parlamentares presentes, a sessão realizada na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) também constava que autoriza o Estado a receber doações de terras feitas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Entre as terras que o Estado aguarda receber, estão áreas localizadas em Porto Acre, Senador Guiomard, Plácido de Castro e em Acrelândia.

“Um dos imóveis é destinado à construção de uma escola de ensino fundamental em Porto Acre”, informa o documento enviado pelo Executivo.

Conselho popular

No pacote dos três projetos de lei encaminhados à Aleac, aprovada na quarta-feira, estava o que trata das mudanças na Companhia Habitação do Acre. O projeto tem como objetivo adequar o conselho estadual à lei federal.

“Esse projeto abre espaço para o Movimento de Moradia Popular no Conselho Estadual de Habitação”, afirmou Diniz.

De acordo com informações, a mesma lei federal cria o Fundo Nacional de Habitação (FNHIS) e o Conselho Gestor do FNHIS.

A lei determina que os recursos do Fundo de Habitação sejam aplicados de forma descentralizada, tendo como intermediário o Estado, que deve constituir um conselho que conte com a participação de entidades públicas, privadas e de outras pessoas da sociedade ligadas à área de habitação. A lei assegura que um quarto das vagas do conselho devem ser preenchidas por representantes dos movimentos populares.

Todos os projetos foram aprovados, sendo que apenas um deles, que trata de contratações de servidores para a Secretaria de Planejamento, não obteve consenso. Por unanimidade, os deputados aprovaram a lei que autoriza o Estado a receber doação de terras do Incra e que amplia o número de representantes do movimento social no Conselho Estadual de Habitação.

O secretário em exercício de Habitação de Interesse Social (Sehab), Sebastião Carlos Menegazzo, explica que, com adequação do conselho estadual ao federal, a população terá mais participação. Menegazzo informa que agora serão destinadas mais três vagas para o movimento social. O secretário acredita que isso facilitará a captação e assegura o repasse e aplicação dos recursos destinados a esses programas de habitação.

terça-feira, março 03, 2009

PT, e o Jarbas?















Desde o dia em que a revista Veja publicou as palavras do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), não li um comentário de um deputado petista. Quem diria!

Leia este breve pedaço de discurso do senador.

"Estou nesta Casa há dois anos e um mês, e nada do que afirmei ao repórter Otávio Cabral, da revista 'Veja', difere muito do que eu disse a alguns dos senhores e das senhoras. Nesta mesma tribuna, já critiquei a degradação pública à qual está submetido à qual está submetido o sistema político brasileiro, alertando para a desqualificação moral dos partidos políticos.

A verdade é sempre inconveniente para quem vive da mentira, da farsa e é beneficiário dessa realidade perversa. Eu constatei, senhor presidente, é preciso que se diga isso com clareza desta tribuna, eu constatei o óbvio. Apenas isso. Essa realidade exige ações corretivas correção de rumos e de práticas
."

Será que o PT não luta mais contra a corrupção? Não acredito.

Moisés Diniz tem razão, em parte















Estas fotos não pertencem à realidade do Jordão; pertencem ao Complexo do Alemão. Nelas, eu vejo o que não existe no Jordão: selvageria. Prefiro a selva dos acrianos.










O deputado comunista Moisés Diniz discursou na Assembleia Legislativa do Acre contra a matéria do Fantástico. Sobre Jordão, localizado no Acre, Diniz incomodou-se e comparou: Jordão ou Complexo do Alemão? Favela da Rocinha ou Jordão?

No Complexo do Alemão - rede de favelas localizada perto da Ilha do Governador -, acredito que todos tomem banho sob um chuveiro, mas não creio que tenham a paz, ainda que monótona, que Jordão emite. Eu não gostaria de morar no Complexo do Alemão. Embora não tenha chuveiro nas casas, se eu fosse escolher, passaria meus dias e minhas noites entre os rios, a mata e a preguiça do Jordão.

Por outro lado, o deputado perde quando o ponto é educação. Segundo a matéria da Globo, há um índice alto de crianças fora da escola. Sobre isso, houve o silêncio de um deputado que é líder do governo da Frente Popular.

Leia a matéria da jornalista Nayanne Santana, da TRIBUNA.
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Moisés Diniz diz que matéria sobre o Jordão foi preconceituosa
De Nayanne Santana

O deputado estadual Moisés Diniz (PC do B), líder do governo na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), criticou a matéria do programa Fantástico, apresentada no último domingo, dia 1°, pela Rede Globo.

A reportagem, que mostrou os quatro municípios brasileiros com os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), apontou Jordão, no Acre, como um dos que tem o pior desempenho no IDH.

“Acho que o Jordão ainda está muito distante de ser o melhor lugar para se viver, mas eu tenho certeza, porque convivo e vivo no Jordão e passo às vezes semanas no Jordão, e o Jordão é muito melhor de se viver do que EM uma favela do Complexo do Alemão ou na Favela da Rocinha”, declarou o parlamentar.

Diniz disse que está aberto para debater com qualquer defensor desse IDH, que, segundo ele, só avalia os critérios urbanos e esquece os “critérios de sustentabilidade, de um jeito diferente de se viver, que é a forma de viver na Amazônia”, afirmou o deputado.

Moisés Diniz sugeriu que o jornal que veiculou a reportagem falando da situação de Jordão e de Tarauacá deveria fazer uma matéria banhando-se no rio Tiete, mostrando que o rio está poluído ou que os repórteres fossem às favelas cariocas entrevistar a população.

“Não vão porque têm medo de levar um tiro de bala perdida, aí vem para o interior da Amazônia, vê um problema de dificuldade de abastecimento e fazem esse Carnaval. É uma matéria mentirosa, preconceituosa, anti-indígena, antiamazônica e antiflorestal”, concluiu Diniz.

segunda-feira, março 02, 2009

O jornalismo dócil das mulheres

Defensora do jornalismo literário, Lillan Ross,
como jornalista, não é dócil.

Texto de Aldo Nascimento

Com miríade de hipertextos disseminados por feixes de luz, prolifera todo tipo de informação em blogs e em sítios - não escrevo site, esta palavra estranha, porque na minha LÍNGUA há outra que substitui o estrangeiro.

No Acre, entretanto, poucos proliferam boa crítica e boa escrita. O blog, sabemos, oferta, por exemplo, a liberdade de escrever, porém a liberdade não implica escrever o que quiser e como quiser, porque, se for assim, não haverá encontro entre leitor e o que é lido. Somos livres, isso sim, para edificar o melhor para olhos que nos leem.

Diante dessa proliferação, fique a melhor escrita. Com tantos blogs, com tantos sítios, permaneça a melhor crítica. No Acre, raríssimos blogs e sítios são bem escritos. Suja-se a língua portuguesa com erros; emporcalham-na com superficialidades profundas, regidas por clichês, por bordões.

Escrever bem. Entre páginas, a escrita de Albert Camus [1913-1960 ] encanta-me por sua elegância, requinte. Jean Daniel, um de seus melhores amigos, conta que Camus encontrava-se exultante quando entrou certa vez em uma boate com seus colegas do jornal Combat, um periódico que resistia à ocupação nazista.

Naquele dia, a edição tinha sido ótima. Ao entrar no bar, o franco-argelino exclamou: "Vale a pena lutar por uma profissão como esta!". Antes de ser um dos maiores pensadores do século 20 e de receber o prêmio Nobel de Literatura em 1957, Albert Camus foi jornalista.

Qual a diferença entre nossas jornalistas e o jornalista Camus? Para mim, uma: só “vale a pena lutar por uma profissão com esta” quando pulsa o vigor incansável de um ideal.

Qual ideal de nossas jornalistas? Sabemos que um homem com poder é um homem que esconde alguma coisa; porém nossas jornalistas, quando moídas e modeladas pela máquina redacional, não desejam des-cobrir o discurso do poder sobre educação, sobre saúde pública ou sobre manejo sustentável. Escrevem para agradar, porque o ideal, se existe um, é se manter no emprego, é se dar bem com todos para, quem sabe, assegurar algo melhor depois. São escravas dóceis sem exigências.

As jornalistas são as mais despossuídas de senso crítico em suas matérias. Indiferentes a des-cobrir algo por que valha a pena lutar, seus textos agradam a todos, principalmente, ao poder. Há mais de dez anos nas Redações acrianas, eu não conheci uma jornalista - e muito menos uma escrita feminina - que exalasse o aroma da contestação ou o charme elegante da crítica.

Na Redação de um jornal, elas são mais domésticas do que na cozinha. Não agradam aos maridos, mas satisfazem as exigências do poder com uma escrita que ainda reproduz o gênero masculino, ou seja, distante, objetiva, dependente do objeto tratado. A escrita de nossas jornalistas, portanto, assemelha-se ao narrador do realismo-naturalista do século 19.

Mulheres que escrevem, mas não conforme o gênero feminino. Buscar esse caminho, o do gênero feminino, no entanto, não passa pelo jornalismo. Explico. Assim como a escrita da História se refez por meio da Literatura, a escrita do Jornalismo também se recriou por meio dessa mesma Literatura. Entre 1930 e 1960, surge o jornalismo literário. Mentira. Bem antes, em 1700, há registros de elementos literários no jornalismo. É verdade que, em fevereiro de 1972, a New York Magazine publicou o artigo O nascimento do new journalism, escrito por Tom Wolfe, mas esse americano não foi quem iniciou o amalgamamento entre jornalismo e literatura. As jornalistas precisam recorrer à literatura para que seus textos não reproduzam o gênero masculino.

Neste espaço de jornal, como não tenho mais linhas para estender minha palavra vã, deixo para teus olhos esta publicação da Rocco: Ficar ou não ficar, de Tom Wolfe, obra em que o jornalismo se comunica com a literatura, leitura obrigatória para as nossas jornalistas que escrevem como homens - às vezes, melhor pôr a mesa para a família, permanecer em casa, colocar as sandálias nos pés cansados do bom marido.