quarta-feira, maio 04, 2011

Todo mês tem leitura

4 de maio, 2011. Uma manhã muito agradável para ler fora da sala de aula. Ficamos atrás do auditório, um local silencioso para a leitura ser ouvida por todos. Aqui, não havia ruídos de outras salas. Não se trata de um espaço perfeito, mas, mesmo assim, bem melhor do que salas quentes.

Ler nas escolas públicas acrianas é desconforto. Conforto mesmo só na Assembleia Legislativa do Acre ou nas escolas particulares dos filhos de deputados.















Estamos lendo "O Deserto dos Tártaros", de Dino Buzzati. Sinto na faces de alguns alunos que ler é "um saco": significado de palavras, compreender o que está escrito, interpretar, vírgula, pronome oblíquo, aposto. Entretanto, embora contrariados, a leitura segue seu destino.

Por que esse livro? No segundo ano do ensino médio, os professores decidiram que o texto estudado nesse período deve ser descritivo, por isso "O Deserto dos Tártaros". Essa bela obra literária é senhora de um narrador que, ao ver a aparência da realidade, oferece a essa mesma realidade profundidade.

Seu narrador compõe o profundo por meio da superfície.














Fora a superfície, o narrador apresenta Drogo, um personagem que viverá no forte Bastiani. Nesse local, lugar marcado pela solidão, pela rotina, ele ainda espera por algo; mas, enquanto algo não chega, é preciso dar à vida isto: sentido.

Depois, em outro momento da leitura, quando estivermos mais adiante, leremos trechos deste livro de Albert Camus: "O Mito de Sísifo". Se Drogo vive o absurdo, saberemos que, mesmo no absurdo da vida, é preciso encontrar um sentido.

Na igreja mais simples, o pastor lê a Bíblia para seus fiéis, porque na igreja mais simples quatro palavras existem: o conforto do silêncio.

Na escola pública acriana, lugar nocivo às páginas de uma obra literária, predomina o incômodo das salas de aula - elas permanecem as mesmas como há 50, 100 anos.