quarta-feira, julho 25, 2007

Quero uma escola pública melhor




Hoje, à sombra de minha individualidade, reli meus textos que tecem críticas à direção da escola Heloísa Mourão Marques e, se eu não for um estúpido alegre, não há nada que ofenda a moral de alguém ou achincalhe aquele nome.

Escrevo o que escrevo e como escrevo, porque não divido a minha vida com meio termo e com a indiferença. O mundo me incomoda com seus sorrisos fáceis e com suas imposturas em uma escola pública.

Já disse, leciono para viver mais e para continuar a viver, porque a sala é tempo sagrado em que a palavra deve motivar meu aluno a vencer com as dificuldades justas que crio e recrio para ele. Já disse, repito, ouça-me: leciono para não morrer de mediocridade.

Sinto asco quando alguns equivocados fofocam mal sobre alunos, porque, se escolhemos o ato inquieto de lecionar, de educar, nós o escolhemos para arrebatar a alma de Heleninha, de Hélio, de Maronílson, de José - alunos por quem tenho admiração, além de tantos outros.

A escola Heloísa tem problemas, e eu os evidencio aqui, expondo minhas palavras a um professor-leitor que se incomoda com que elaboro. Bingo! Quero incomodar, porque não gosto de coisas quietas, seguras de si e sentadas no conforto de seus egos. Para mim, eu mesmo estou mal feito. Herrado.

Quero ser criticado por uma inteligência que me ensina. Reeduca-me. Gosto de amigos que me apresentam livros, porque eu ainda não sei. Gosto que entrem em minha sala e sintam o peso suave de minhas palavras quando leciono para eu aprender.

Jornal A GAZETA


Li e reli a lucidez escrita no jornal A Gazeta sobre o fato que envolveu um guarda de trânsito e um juiz federal.

Simples e sereno, o editorial do jornal acreano violou o silêncio, a omissão e a adulação de alguns jornalistas, porque, aqui, em alguns veículos de comunicação de massa, é mais cômodo emitir verborréias contra a violência dos pobres.

Quando autoridades comportam-se à margem do equilíbrio, jornalistas calam-se. A Gazeta não se calou.

Guarda e juiz zelam pelo que deve ser justo. Na mitologia grega, Athena personifica a Sabedoria e a Justiça.

Fruto de Tétis (a astúcia, a inteligência) com o poderoso Zeus, ordenador do Cosmos, ela foi gerada na cabeça deste e, por isso, está associada ao lógos, à Razão, isto é, ao equilíbrio.

Texto de Luciene Félix

Professora de Filosofia
e Mitologia Greco-Romana da ESDC

mitologia@esdc.com.br

Findado o período de gestação, o supremo deus começou a sentir terríveis dores de cabeça, pois enquanto a Justiça não nasce, elas são inevitáveis.

Desesperado e no limite, Zeus ordena ao ferreiro divino Hefestos (Vulcano) que lhe abra a cabeça. Mesmo a contragosto, com técnica e precisão, desferra-lhe o machado de ouro certeiro e todos se surpreendem ao verem surgir, imponente e armada, pronta para a guerra, a deusa Palas Athena.

Palas significa "a donzela", pois a poderosa filha pede ao pai para manter-se sempre virgem e, desta forma, impor-se com a autoridade de quem não se deixa seduzir ou corromper.

Sua principal característica física é o porte altivo e não soberbo. Invocando a proteção de Athena sobre todo e qualquer embate, tem-se a vitória como certa, uma vez que Palas Athena é sempre acompanhada por Niké (a vitória).

O guarda e o juiz, como representantes da ordem pública, pederam-(se).

Editorial

Mau exemplo

O que se pode dizer desse episódio envolvendo alguns soldados da Polícia Militar e um juiz federal?

Mesmo que uma parte e a outra argumentem e tentem provar que, legalmente, estão certas, à luz da ética e do próprio bom senso, ambas erraram feio e deram um mau exemplo à sociedade.

Quando a sociedade clama por mais serenidade, paz, bom senso nas relações interpessoais, é lamentável que autoridades fardadas ou investidas de autoridade cheguem a esses extremos de sacar armas, dispararem no meio da noite e até se ameaçarem, indo parar numa delegacia de polícia.

Pelo que foi apurado, em nenhum momento ou sob qualquer pretexto se justifica, primeiro, a atitude do policial em, depois de abordar o magistrado, disparar seu revólver, mesmo que para o chão, diante de crianças e outras pessoas à sua volta.

Até se admite que ele não tinha obrigação de reconhecer o juiz e, mesmo que este tivesse errado em não cumprir suas ordens, com um mínimo de discernimento, notaria que não se tratava de um pessoa perigosa a ponto de disparar o revólver.

De outra parte, se o magistrado tinha alguma razão em contestar as ordens recebidas, perdeu-a ao ir até em casa, pegar sua arma e voltar para o local da confusão. E se perdeu completamente ao também empunhar o revólver para tentar se impor e dar ordem de prisão ao policial.

Com a autoridade com a qual está investido, poderia dirigir-se tranqüilamente para o comando da Polícia Militar, apresentar queixa e aí sim exigir que o soldado fosse preso por infringir o estatuto do desarmamento ou qualquer outra norma.

O que a sociedade espera e exige é que não se repitam esses episódios lamentáveis, deprimentes mesmo, constituindo um péssimo exemplo. E que as autoridades superiores ajam com discernimento e procurem, o quanto antes, apaziguar os espíritos a fim de que seja um fato isolado.

Vôo 3054


Apesar de se tratar de uma questão particular, gostaria muito que você repassasse aos seus amigos a mensagem anexa, um depoimento vindo do fundo do coração de uma mãe desesperada coma perda do seu único filho no fatídico acidente aéreo de Congonhas, o nosso saudoso Luiz Fernando. É a verdade nua e crua sobre a incompetência e despudor daqueles que nos governam, e que lamentavelmente tem o apoio de muitos cegos pela sua ideologia que atéo momento nada nos trouxe de concreto a não ser propagandas para o exterior.

Muito obrigado !

CARTA DE UMA MÃE

Aos governantes e à família brasileira,

Perdi o meu único filho.

Ninguém, a não ser outra mãe que tenha passado por semelhante tragédia, pode ter experimentado dor maior.

Mesmo sem ter sido dada qualquer publicidade à missa que ontem oferecemos à alma de meu filho, Luís Fernando Soares Zacchini, mais de cem pessoas compareceram. Em todos os olhos havia lágrimas. Lágrimas sinceras de dor, de saudade, de empatia. Meus olhos refletiam todos os prantos derramados por ele, por mim, por seu filhinho, por sua esposa, por todos parentes e amigos. Por todos os sacrificados na catástrofe do Aeroporto de Congonhas.

Há muito eu sabia que desastres aéreos iriam acontecer. Sabia que os vôos neste país não oferecem segurança no céu e na terra. Que no Brasil a voracidade de vender bilhetes aéreos superou o respeito à vida humana.

A culpa é lançada sobre um número insuficiente de mal remunerados operadores aéreos ou sobre as condições das turbinas dos aviões. Um Governo alheio a vaias é responsável pelo desmonte de uma das mais respeitáveis e confiáveis empresas aéreas do mundo, a VARIG, em benefício da TAM, desde então, a principal provedora de bilhetes pagos pelo Governo.

Que a opinião pública é desviada para supostos erros de bodes expiatórios, permitindo aos ambíguos incompetentes que nos governam continuarem sua ação impune. Que nossos aeroportos não têm condições de atender à crescente demanda de vôos cujo preço é o mais caro do mundo.

Quando os usuários aguardam uma explicação, à falta de respeito ao cidadão juntam-se o escárnio e a cruel vulgaridade de uma ministra recomendando aos viajantes prejudicados que relaxem e gozem.

Assuntos de alcova não condizentes com a reta postura moral e respeito exigidos no exercício de cargos públicos. Assessores do presidente deste país eximem-se da responsabilidade e do compromisso com a segurança de nosso povo exibindo gestos pornográficos.

Gestos mais apropriados a bordéis do que a gabinetes presidenciais. Ao invés de se arrependerem de uma conduta chula, incompatível com a dignidade de um povo doce e amável como o brasileiro, ainda alardeiam indignação, único sentimento ao alcance dos indignos. Aqueles que deveriam comandar a responsabilidade pelo tráfego aéreo no Brasil nada fazem exceto conchavos.

Aceitam as vantagens de um cargo sem sequer diferenciarem caixa preta de sucata. Tanto que oneraram e humilharam o país ao levar o material errado para ser examinado em Washington. Essas são as mesmas autoridades agraciadas com louvor e condecorações do Governo em nome do povo brasileiro, enquanto toda a nação, no auge de sofrimento, chorava a perda de seus filhos.

Tudo isto eu sabia. A mim, bastava-me minha dor, bastava meu pranto, bastava o sofrimento dos que me amam, dos que amaram meu filho. Nenhum choro ou lamento iria aumentar ou minorar tanta tristeza. Dores iguais ou maiores que a minha, de outras mães, dos pais, filhos e amigos dos mortos necessitam de consolo. A solidariedade e amor ao próximo obrigam-nos a esquecer a própria dor.

Não pensei, contudo, que teria de passar por mais um insulto: ouvir a falsidade de um presidente, sob a forma de ensaiadas e demagógicas palavras de conforto. Um texto certamente encomendado a um hábil redator, dirigido mais à opinião pública do que a nossos corações, ao nosso luto, às nossas vítimas.

Palavras que soaram tão falsas quanto a forçada e patética tentativa que demonstrou ao simular uma lágrima. Não, francamente eu não merecia ter de me submeter a mais essa provação nem necessitava presenciar a estúpida cena: ver o chefe da nação sofismar um sofrimento que não compartilhava conosco.

Senhores governantes: há dias vejo o mundo através de lágrimas amargas mas verdadeiras. Confundem-se com as lágrimas sinceras e puras de todos os corações amigos. Há dias, da forma mais dolorosa possível, aprendi o que é o verdadeiro amor. O amor humano, o Amor Divino. O amor é inefável, o amor é um sentimento despojado de interesse, não recorre a histriônicas atitudes políticas.

Não jorra das bocas, flui do coração!
E que Deus nos abençoe!

Adi Maria Vasconcellos Soares
Porto Alegre, 21 de julho de 2007.