quinta-feira, janeiro 29, 2015

Novo



O atual prefeito de Rio Branco, petista, chegou ao ar-condicionado de seu confortável gabinete por meio de uma campanha eleitoral que propagou o novo.

A sempre verdadeira presidente da República, doutora Dilma, aberta ao diálogo com o Estado Islâmico e com a oposição nacional, conseguiu o segundo mandato por causa também de Governo novo. Ideia nova.

Agora, no governo do estado Acre, a palavra da vez é novo. Falar sempre bem de si mesmo. Sempre. Para agora falar bem de si mesmo, a palavra é novo.

Antes do novo, existe um passado que não pode retornar: velhas práticas, sepultadas. Só identificamos a realidade por causa da palavra; entretanto, ela, a palavra, não é a realidade.

No Rio de Janeiro, favelas recebem nomes, por exemplo, Cidade de Deus e Esperança, onde a injustiça social é inferno e onde sub-habitações há anos estão à espera. A palavra nem sempre corresponde à realidade. Pior: ela é oca. No Acre, novo não passa de um som; o significado é que habita na realidade social.

Novo é vazio de sentido na escola pública acriana, onde há 40 alunos em sala de aula. Novo é vazio de sentido no salário do professor. Novo é vazio de sentido no ensino de língua portuguesa. Novo é vazio de sentido em um ensino que teima em ser ruim. Novo é vazio de sentido em escolas, onde não há hábito de leitura e nem de escrita.

Em nome do novo, a secretaria de educação do Acre, há muito tempo, retirou das escolas o estudo gramatical, porque os intelectuais petistas, profundos conhecedores que são, concluíram que não há relação entre gramática e leitura e que não há relação entre gramática e produção textual.

O novo nas escolas públicas do Acre, até hoje, não qualificou o ensino de língua portuguesa, e o já velho Enem apresenta todo ano essa desqualificação.

Há outros; porém, para melhor entender a importância histórica da gramática, apresento dois livros: O Gramático, de Santo Anselmo de Cantuária; A Filosofia na Idade Medieval, de Étienne Gilson; e A Aventura Semiológica, de Roland Barthes.

Para campanhas politiqueiras do novo, onde não há debates profundos sobre educação, muito menos sobre o ensino de língua portuguesa, esses livros talvez estejam velhos.