domingo, março 07, 2010

Um Livro e uma Matéria de jornal

Na matéria do jornal Folha de São Paulo, mais mulheres têm carreiras "masculinas". E não falta este enfadonho clichê feminista: "as mulheres estão conquistando seu espaço". Ocupar espaço na cidade, convenhamos, Platão, há 300 anos antes de Cristo, escrevera isso em A República.

Elas ocupam o espaço físico de uma profissão; porém, quando se trata de linguagem simbólica, quem domina é o masculino. Melhor ouvir uma feminista acriana ou ler A Dominação Masculina, de Pierre Bourdieu?

A ordem masculina permanece inabalada. Elas podem ocupar espaços masculinos, entretanto a dominação perpetua-se masculinazada por ser essa dominação simbólica. Toda feminista é tola, menos Käthe Schirmacher, Marguerite Durand, Katti Anker, Ellen Key, por exemplo.

Pierre Bourdieu (1930-2002)










Autor de A Dominação Masculina

Rafael Andrade/Foto Imagem









Maria Neusa Machad, 33, e Maria Aparecida Lemoa, 40, entre as poucas motoristas de ônibus de São Paulo

Nos últimos 30 anos, cresceu a presença de mulheres em funções consideradas masculinas, mas o inverso não ocorreu.

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Nos últimos 30 anos, as mulheres aumentaram sua presença em ocupações tradicionalmente masculinas. O inverso, no entanto, não ocorreu, e profissões que sempre foram consideradas femininas permanecem com baixos percentuais de homens atuando.

A constatação é da pesquisadora Regina Madalozzo, do Insper, que comparou na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE) o percentual de mulheres em 21 ocupações entre 1978 e 2008.

No final da década de 70, menos de um quinto dos advogados e médicos eram mulheres. Hoje, elas são quase metade dos profissionais dessas áreas.

Algumas carreiras seguem altamente masculinas, mas, mesmo nelas, é possível identificar aumento da participação feminina. Entre engenheiros, por exemplo, a proporção foi de 5% para 11%. Entre policiais e detetives, de 2% para 13%.

Se elas demonstram vontade e capacidade de atuar em ocupações onde eram minoria, o mesmo não se pode dizer dos homens em relação a áreas majoritariamente femininas.

Em 30 anos, houve pouca ou nenhuma alteração nos percentuais masculinos de enfermeiros, professores, profissionais de creche ou costureiros.

"Embora ganhando menos que os homens nas mesmas ocupações, as mulheres estão entrando em áreas tradicionalmente masculinas. Eles, no entanto, não aceitam, ou não são bem aceitos, em profissões dadas como femininas", afirma Regina Madalozzo.

Ela explica que o perfil mais feminino de algumas ocupações é explicado pela similaridade dessas funções com o trabalho doméstico. "As mulheres entraram no mercado em profissões relacionadas ao cuidado. Isso era entendido como extensão do que faziam em casa."

Salários
A desigualdade entre salários de homens e mulheres diminuiu no Brasil nos últimos 30 anos, mas o diferencial é, quase sempre, a favor dos homens.

Dados tabulados pela Folha a partir da Pnad de 2008 mostram que, de um total de 61 ocupações analisadas, em apenas seis o rendimento das mulheres por hora de trabalho superava o de homens.

Mesmo em profissões em que a participação masculina é inferior a 20%, o rendimento delas é, em média, menor.

Secretários do sexo feminino, por exemplo, representam apenas 7% do total, mas recebem por hora 32% a mais que mulheres na mesma profissão.

Nas poucas áreas em que as mulheres têm rendimentos maiores, Regina Madalozzo explica que, frequentemente, isso ocorre porque o nível de escolaridade delas é superior ao dos homens na mesma profissão.

Um exemplo disso pode ser constatado entre guardas e vigias, ocupação em que as mulheres são apenas 5% do total.

O rendimento médio por hora de trabalho delas é 10% superior ao de homens. Mais da metade (53%) dessas profissionais têm ao menos nível médio completo. Entre homens, esta proporção não passa de 31%.