terça-feira, maio 12, 2009

Uma breve poesia

A Flor e a Náusea

Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse.














Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Drummond________________________

Uma matéria e um breve comentário

Conselho Universitário decide que Ufac
realizará vestibular mas a discussão não acabou

Matéria de Freud Antunes

O Conselho Universitário da Universidade Federal do Acre (Ufac) decidiu na tarde de ontem que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não substituirá os vestibulares deste ano. O posicionamento não extinguiu a discussão que será retomada em uma próxima reunião.

Segundo a assessoria de imprensa da instituição, uma comissão será formada para debater a substituição do processo seletivo, o que deverá ter a participação da sociedade.

Mesmo com incertezas para o futuro, neste ano, a Ufac lançará um vestibular em julho e outro no final do ano para selecionar novos alunos para 2010.

A assessoria de imprensa informou que a única alteração será na forma de seleção dos estudantes para as mais de cem vagas remanescentes, que serão completadas por meio do Enem.

Fontes ligadas ao Conselho Universitário informaram que a decisão final poderá mudar a forma de seleção apenas em 2011, porque a reitoria não conseguirá organizar em tempo hábil uma comissão e os debates antes do vencimento do prazo de adesão estipulado pelo Ministério da Educação (MEC) que termina no dia 30.

Mesmo com a organização de uma análise mais aprofundada, muitos professores se mostram contra o Enem, porque a seleção de alunos poderá privilegiar os candidatos de outros Estados, tomando as vagas dos acrianos.

No Enem de 2008, os estudantes das Regiões Sul e Sudeste conseguiram os melhores resultados do Brasil.
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Comentário: privilegiar candidatos de outros Estados!? Professores que se mostram contra o Enem precisam, primeiro, perder o medo da concorrência e, para tanto, a Ufac deverá manter outra relação com o ensino público, por exemplo, o estágio na rede pública.

Se transformações não ocorrerem na Ufac, o senhor Tempo dirá.

(E)nem Ufac

Como sabemos, o Ministério da Educação prorrogou para o dia 20 de maio a decisão das federais optarem pelo novo vestibular. Segundo me informaram, a Universidade Federal do Acre (Ufac) não ficará com o Ministério da Educação. A federal acriana manterá seu modelo de vestibular.

Mas qual o modelo da Ufac?

Nos últimos anos, o modelo da Ufac tem sido copiar prova de vestibular na internete. Ainda: passa uma lista com dez livros; uma questão dessa lista, porém, não cai na prova. Evidente que alguns professores universitários, quando "elaboram" provas, comprometem a instituição. Alguns. O que aconteceu com eles?

No campo da literatura, provas ainda exalam o cheiro espesso de mofo do historicismo literário. Uma professora-doutora que sempre resguardou esse historicismo foi Laélia Alcântara, aposentada hoje.

Em Letras, na condição de intelectual que formou professores, ela colocou na rede pública de ensino profissionais que reproduzem até hoje a linha reta Quinhetismo-Barroco-Arcadismo-Romantismo-Parnasianismo-Pré-Modernismo-Modernismo.

Para o novo vestibular, essa história da literatura - e não a Literatura - não tem sentido. Há um bom tempo, estuda-se em sala o texto literário.

Penso que a atual reitora, professora-doutora de Literatura Olinda Batista Assmar, terá a missão de promover uma outra literatura no vestibular e, por tabela, outra literatura na rede pública de ensino.

Entretanto, caso a Ufac não opte pelo novo vestibular, a Universidade, mesmo assim, será forçada a repensar sua relação com o ensino público e com a formação de professores no curso de letras, por exemplo.

Se não houver essa transformação, alunos da rede pública não conseguirão concorrer por meio do novo vestibular com alunos de outros estados. Se não houver transformação, nosso ensino público permanecrá isolado do Brasil.

Como diz o velho e bom Cazuza, "o tempo não para". Alguns ficaram parados. Alguns perderam o mouse da história.