Quando o filósofo pesa a palavra
Se
me encontro no mesmo nível em que o outro se encontra em um espaço plano, o
mundo externo ergue-se igual perante nossos olhos. Por ser vista de um nível
comum, por ser vista da superfície, a realidade é a mesma para mim e para o
outro. E se o outro for Henrique C. de Lima Vaz? Ora, por se tratar de um filósofo, Lima Vaz (1921-2002) pensaria o lugar em que ele está – e,
por pensá-lo, isso construiria toda diferença em relação a mim.
Em
latim, a palavra que originou pensar é
a mesma que originou peso, ou seja, quando
pensamos, a palavra é pesada. No
livro “Escritos de Filosofia IV”, o
filósofo Henrique C. de Lima Vaz pensa a palavra ética, colocando nela o devido
peso e, assim, ao pesá-la, o filósofo aprofunda-a. A força exercida do seu
pensamento na palavra altera a linha reta da superfície, atraindo para o fundo o
significado de ética. Se não houvesse o peso colocado na palavra pelo pensar do
filósofo, a superfície não seria aprofundada. É preciso pressionar a linha que nivela
por cima a fim de alterar sua continuidade superficial. “Ver a fundo” é ver o
que o não-pesar não vê, que é a raiz das coisas, o que está no fundo, o que é
profundo. Ler “Escritos de Filosofia IV” é sentir o peso da palavra ética.