quinta-feira, novembro 11, 2010

Meu colega de profissão Gleyson Moura (2),

não deixe que teus olhos leiam minhas palavras com (anti)patia, porque ideias devem estar muito acima de nomes. Recortarei teu texto e, uma vez assim, colocarei minhas apreciações.

"Na verdade, Toinho Alves não afirmou que Carlos Drummond de Andrade é romântico. Se assim pareceu, isso se deve a uma falha de redação do jornalista que publicou a matéria. Mesmo que tivesse afirmado isso, seria uma interpretação pessoal, subjetiva (o que também interessa ao projeto)."

Se eu admitir teu pensamento, um aluno poderá afirmar que Castro Alves é realista porque prevalece a interpretação pessoal. Ora, para interpretar, para criar um discurso, o falante deve dominar categorias analíticas ou conceitos. Se afirmo que Castro Alves é romântico, eu tenho de dominar os conceitos que habitam sua poesia.

Quero dizer com isso que não existe "interpretação pessoal", mas busca, por exemplo, por conceitos. Evidente que Drummond não é romântico; ele pode ser também romântico em uma poesia. Na escola, professores e livros didáticos afirmam que Olavo Bilac é poeta parnasiano. No entanto, já li poesia de Bilac com toda densidade romântica.

Gleyson, a interpretação precisa de base teórica. Existem estudos antes de minha opinião vazia sobre Carlos Drummond de Andrade.

Sobre o conceito "subjetivo", não pense que essa categoria significa o falante estar separado do conceito "universal". Oposta ao parnasianismo, a escola romântica é subjetiva, mas sua subjetividade cria uma ponte para o universal.

"Para alguém que defende o espírito livre e a subjetividade, você parece muito preso aos cânones da 'Grande Literatura'."

Espírito livre não quer dizer a afirmação do meu eu como se eu fosse um ser desagregado. Sou livre e subjetivo para buscar conceitos universais. Sim, defendo os clássicos na escola pública. Entre a escritora Clarice Lispector e o alfabetizado Alan Rick, meu aluno, para o bem de sua alma, deve ler Clarice Lispector. Entre o alfabetizado Toinho Alves e o escritor Raduan Nassar, meu aluno deve ler "Lavoura Arcaica".

Não sou simpático à ideia de que tudo se nivela, de que tudo é literário. Não é. Raduan Nassar é consagrado pelos críticos nacionais e internacionais. Até o relativismo tem seu limite. Literatura não é vale-tudo.

"Penso que a literatura é algo de todos, do cotidiano, de todos os lugares, a cada instante; deste lado da vida 'que amávamos com uma paixão insaciável que o senhor não se atreveu nem sequer a imaginar, com medo de saber o que nós estávamos fartos de saber que era árdua e efémera, mas que não havia outra, senhor general, porque nós sabíamos quem éramos'. (Gabriel García Márquez, O Outono do Patriarca). Agora, uma pergunta: Qual a sua concepção de literatura, professor?"

Eu tenho leituras ao logo de minha vida. E saiba: não li o suficiente. Meu limite me envergonha. Minha concepção parte de autores consagrados, eles me ensinam - Deleuze, um deles; outro, Blanchot; mais, Barthes.

O livro "Proust e os signos", de Gilles Deleuze, defende uma concepção de literatura que me seduz por sua fina inteligência. Minha concepção de literatura encontra-se em Virgínia Woff, Oscar Wide, Clarice Lispector, Raduan Nassar, Rimbaud, Mallarmé, Cruz e Sousa, Ariano Suassuna.

Não o li ainda, mas Proust é outro.

Publicar [com dinheiro público] um ou dois, ou três, ou quatro, cinco livros no Acre não justifica eu dizer que sou escritor ou poeta. A arte exige mérito, e não amigos do poder.