O que há de mais verdadeiro nos
jornais acrianos são as datas. Fora esse tempo contado, os erros de português
são precisos como os relógios suíços. Aqui, o leitor desaprende.
Hoje, por R$ 2, comprei A Gazeta.
Comparado a O Globo, do Rio de
Janeiro, R$ 4 aos domingos, embora receba subsídios do governo, o jornal
acriano é muito caro por faltar nele o que mais enobrece a espécie humana: a
inteligência.
Publicam-se jornais no Acre não
para (e)levar a informação e a cultura à população, mas com a finalidade de fazer
circular a imagem do governo com o português bem... bem embaçado.
Português 1. Paguei R$ 2 para ler isto: “os partidos da oposição tem uma semana
decisiva”.
Anos atrás, o professor de Português diria que não se fala “tem aula”, mas que “há
aula”. Ao pé da letra, ninguém “tem aula”, assim como ninguém “tem uma semana”.
Tem-se um livro, mas não se tem uma semana. Melhor teria sido escrever “semana decisiva para os partidos de
oposição”.
Português 2. Paguei R$ 2 para ler isto: “os partidos de oposição tem uma semana
decisiva”.
O repórter fez a concordância verbal entre “oposição” e “tem”, porém a
concordância é com “os partidos”, ou seja, deveria ter escrito “têm”, com acento.
Português 3. Paguei R$
2 para ler isto: “Senado prestará
homenagem aos 50 anos do Acre Estado”.
Entre Acre e estado deveria haver
um hífen: Acre-estado. Nos bons manuais do jornalismo, só se coloca estado em
caixa-alta quando o seu sentido for o de Nação, que não é o caso.
Português 4. Paguei R$ 2 para ler isto:
“o revendedor de jóias, Isaías Peres da
Silva, 39 anos, teve sua residência, no bairro Sobral, invadida pela segunda
vez neste ano.”
Por ser uma paroxítona com ditongo decrescente
(oi), não se acentua, assim como “jiboia”, é a nova ortografia.
Quem disse que há vírgula depois de
“joia”? Colocam-se vírgulas quando escrevemos “a presidenta da República, Dilma
Rousseff, esteve no Acre”, mas nós não as colocamos quando escrevemos “o
ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso governou bem”.
Motivo: a primeira é oração subordinada adjetiva explicativa; e a segunda, restritiva.
O correto é escrever “o revendedor de joias Isaías Peres da Silva, 39 anos,
(...)”, por ser uma oração subordinada adjetiva restritiva.
Ronda
Gramática
No último sábado, dia 16, final de
tarde, a sede do jornal A Gazeta foi
invadida pela Polícia Ortográfica. Porque os jornalistas resistiram à prisão, houve
um forte tiroteio, deixando a Acentuação morta e a Concordância Verbal ferida.
O comandante Evanildo Bechara, da Operação
Mãos Sujas de Erros de Português, afirmou que a tropa de elite da Polícia
Ortográfica cansou-se de ver tanto erro nas páginas de A Gazeta. “Não podemos tolerar mais essa desobediência, esse
descaso com a língua-padrão”, disse o militar.
Armado com um 38, o repórter Rutemberg
Crispim atirou contra a língua, a portuguesa, ferindo Concordância Verbal com
um tiro de raspão em “os partidos tem”. Quando se preparava para matar outra
regra gramatical, o soldado Celso Cunha jogou na cara de Rutemberg o Manual da
Folha de São Paulo, deixando-o desacordado.
Cúmplice de Rutemberg, Lenilda
Cavalcante também resistiu à prisão gramatical, sendo baleada na 5ª série vertebral
da coluna. Foi ela-ele quem matou pelas costas Jóia com “requintes de crueldade”
e com outros clichês.
Em seu depoimento, Lenilda soltou o
verbo com a regência errada.
“Técnicos da Língua Portuguesa da
Secretaria de Educação do Acre me disseram que não é preciso estudar mais
gramática, que nas escolas públicas alunos só estudam gêneros textuais, não
obedecem regras, por isso eu atiro para qualquer canto da acentuação e da
vírgula”.
Os meliantes foram conduzidos ao
presídio Celso Pedro Luft, onde estudarão noções básicas de bom comportamento
gramatical.