domingo, fevereiro 12, 2012

Quem quer a Ufac?

Voltei à rotina. Compro os jornais de Rio Branco e leio severas críticas de deputados à reitora Olinda Batista Assmar. Não sabia que deputado acriano soubesse pensar qualidade de ensino público.

Então aí vai o meu primeiro texto do ano.

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Após a vitória eleitoral de Fernando Henrique em 1994, o então ministro da Educação, professor Paulo Renato, do PSDB, criou o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) para aferir qualidade de ensino no país do samba e do futebol. A primeira prova ocorreu em 1998. 

No final do século 20, o que ocorria com a educação pública acriana? O de sempre: nada. Até hoje, os sindicatos não lutam por qualidade de ensino. Até hoje, a Assembleia Legislativa do Acre desconhece como haver uma melhor gestão escolar. Até hoje, as câmaras dos vereadores não sabem propor uma escola pública melhor. Até hoje, o governo faz da educação popular discurso político.

Duvido de que possamos encontrar debates profundos registrados na assembléia ou na Câmara de Vereadores de Rio Branco. Duvido de que alguma inteligência tenha pensado qualidade de ensino. Duvido.  Deputados e vereadores nunca colocaram a educação pública em um debate constante porque, simplesmente, seus filhos estudam em escolas particulares. 

Educação deveria ser pauta semanal dos jornalistas; no entanto, quando a noticiam, os jornais limitam-se a informar que alunos retornaram às escolas. O jornal O Globo, do Rio de Janeiro, tem uma página dedicada, uma vez por semana, à escola. No Acre, os proprietários da informação não têm o menor interesse no assunto.

Como o tempo não pode esperar pela boa vontade desses homens públicos e desses sindicalistas, o Enem, ideia do PSDB, tem (des)coberto o quadro negro da nossa educação popular. Serei específico. Sempre no início do ano, peço aos alunos textos dissertativos. Em 2012, não foi diferente. Dei a eles a redação do Enem-2011 e, depois de terem lido a proposta, escreveram. Leia um dos textos.

                Viver em rede no século XXI

            Agora no século XXI ficou melhor pois nós apredemos aconviver com As pessoas  negras apredemos a respeitar o racismo no nosso mundo de hoje.
            Hoje em dia também as tecnológicas Estão muito a vançadas pois agora temos PC temos internet rápida temos Orkut, fecebok, também temos MSN!! etc...
            Hoje nós podemos olhar para o mundo e dizer que estamos muito bem com as tecnológicas que uns oferece tantas coisas boas para nós curtimus.
           Tempos atras não era bem assim as televisões era preto e branco não tinhar cor definida era totalmente tudo estranho. Agora nos assistimos em televisão colorida.                                                          
           olha como mudou pra melhor.
           Existe agora no século XXI progeto para a consiencia negra.                                                                 
          Existe paradas gay.


O texto acima pertence a uma aluna do 2º ano do ensino médio; porém, como revela o Enem, nossos alunos do ensino médio escrevem como alunos da 5ª série. Entre 28 textos da turma, nenhum aluno soube usar corretamente as vírgulas; 13 alunos usaram algum ponto contínuo, nem sempre correto; 16 alunos têm cacografia; 5 alunos têm letra ilegível; os 28 não entenderam a proposta do Enem; os conteúdos, além de previsíveis e superficiais, apresentam-se de forma confusa.  

O texto acima tem seu processo de paragrafação comprometido, e esse problema encontra-se em todos os 28 textos da turma. Além disso, todos estão em desacordo com a competência 1 do Enem: domínio da língua padrão. Alunos escrevem “faiz”; confundem “mas” com “mais”; ignoram o plural do verbo “ter” na terceira pessoa; aboliram os acentos ortográficos; ignoram concordâncias verbais mais simples (“existe casos”).

Até chegarem ao 2º ano do ensino médio, passaram-se nove anos de erros sobre erros. Meus alunos querem a Universidade Federal do Acre, mas os políticos e os sindicalistas acrianos nunca discursaram e nunca lutaram para qualificar a escola pública – seus filhos estudam em escola particular.

Vivo da escola pública, meu sustento sai do meu ato de lecionar. O político, sabemos, não vive da educação: o da situação se aproveita dela para dizer que a educação pública vai bem, e o da oposição não sabe o que diz. Estamos muito mal servidos.

O professor de Língua Portuguesa leciona para dez turmas (quatrocentos alunos). Como manter qualidade com essa quantidade? Não mantém. Como corrigir 400 redações? Não são corrigidas, por isso, quando o aluno chega ao ensino médio, ele escreve como quem estivesse na 5ª série.

Além da quantidade de aluno em sala e a quantidade de turma, há outras questões. Deputados e sindicalistas têm propostas para qualificar o ensino de Língua Portuguesa?