quinta-feira, outubro 04, 2007

O Acre em chamas














Inpe localiza 43 focos de queimadas
em 24 horas no Acre

De Josafá Batista

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado aos Ministérios da Ciência e Tecnologia (MCT) e de Meio Ambiente (MMA), flagrou 43 focos de incêndio em 24 horas de monitoramento no Acre. O índice acreano é maior que os registrados em Alagoas (2), Amapá (25) e Distrito Federal (12) somados no mesmo período.

A medição foi feita entre a meia-noite de quarta e as 22h30 de quinta-feira desta semana. O campeão de queimadas é Mato Grosso, com 2.014 focos de incêndio, Tocantins, com 1.393 focos, e Pará, com 744. Vizinho do Acre, Rondônia ficou com 619 focos de incêndio no mesmo período. Por isso, para o Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac), os números não preocupam.

“Tivemos um período longo de poucos focos na nossa região devido às chuvas esparsas. Mas agora com esse começo de estiagem as pessoas aproveitam para usar o fogo. É um processo natural, porque a chuva dificulta as queimadas. Mesmo assim proibimos a queima em pastos e a norma continua valendo como forma de garantir que não haverá problemas”, explica Cleísa Cartaxo, presidente do Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac).

Se por um lado o número de queimadas no Acre está bem abaixo do total dos grandes poluidores, por outro a média semanal de queimadas aumentou bastante. O Imac também não estranha. De acordo com Cleísa Cartaxo, isso acontece devido às mudanças climáticas que trouxeram chuvas leves ao Acre, impedindo a queima nos primeiros meses de estiagem.

Na comparação de longo prazo o Acre aparece em situação favorável nas estatísticas do Inpe. Enquanto em 2005 houve um aumento de 455% no total de queimadas dentro do Estado, em 2006 houve queda de 86%. Nesse ano a redução chega a 54%, em comparação com o ano passado. (Josafá Batista)

Brasil queima mais que a Bolívia

Os incêndios florestais da Bolívia, que encheram várias regiões do leste e do sul do país de fumaça, e provocaram o fechamento de 30 aeroportos, estão bem abaixo do total de fumaça emitida pelo Brasil. De acordo com o Inpe, a Bolívia reduziu em 47% os focos de incêndio em relação ao ano passado.

Ontem, enquanto o território boliviano ardia com 1.830 focos de incêndio, no Brasil haviam 7.926 focos. A metodologia usada para medir os focos entre os países é a mesma que mede o desempenho dos Estados.

Ontem o comandante-em-chefe das Forças Armadas da Bolívia, general Wilfredo Vargas, disse que o Exército permanece em estado de alerta para ajudar a apagar os focos de incêndio, atualmente calculados em 12 mil em todo o país.

O diretor da Aeronáutica Civil boliviana, Javier García, confirmou que 30 dos 37 aeroportos do país estão fechados devido à densidade da fumaça. Segundo García, só estão operando atualmente os aeroportos das cidades de La Paz, Cochabamba, Santa Cruz, Potosí e Sucre, Yacuiba e San Joaquín.

No entanto, assinalou que a fumaça continua aumentado nas primeiras três cidades citadas, que também correm o risco de serem fechados. Além destes prejuízos, a imprensa alerta ainda para o perigo que os incêndios representam nas zonas atravessadas por gasodutos, como a região do Chaco boliviano, onde há mais de 7 mil hectares queimados.

O prefeito da cidade sulina de Villamontes, Rubén Vaca, disse que a companhia petrolífera estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) está preocupada, pois o fogo está prestes a chegar a vários poços de gás, dentre os quais citou os casos de campos controlados pela Petrobras e pela hispano-argentina Repsol YPF.

O presidente Evo Morales se reuniu com seu gabinete para analisar a situação e estudar as medidas de emergência que podem ser tomadas.

Justiça Federal processa governo do MT

O juiz federal Julier Sebastião da Silva, da 1ª Vara em Mato Grosso, determinou à Polícia Federal que abra inquérito para apurar as responsabilidades do governo federal e do Mato Grosso, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis da Amazônia (Ibama) e Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema).

A justiça quer saber de quem é a responsabilidade pela devastação e degradação ambiental no Estado, que resultaram nas queimadas criminosas e indiscriminadas. O governo é acusado de omissão criminosa. “Tanto o Ibama quanto a Sema, incluindo todo o governo estadual, estão omissos no exercício de seus deveres legais”, ponderou o magistrado federal.

Em curso na Justiça Federal de Mato Grosso estão vários processos referentes a exploração e comércio ilegal de madeira, bem como atos graves atentatórios ao meio ambiente, incluindo-se nestes queimadas criminosas “e devastação sem igual”.

Esses fatos, segundo o juiz, estão “repercutindo em todo o Estado” e “afetando a população de forma sem precedentes”. Ao pedir a investigação, Julier lembrou que Mato Grosso tem sido o Estado “campeão nacional de queimadas, criminosas ou autorizadas, o que é mais grave, diga-se de passagem”.