domingo, setembro 27, 2009

Os comunistas











Soldados chineses formam o desenho da foice e do martelo

Aos domingos, quando há um ótimo texto no caderno Mais!, do jornal a Folha de São Paulo, eu publico neste blogue. Achei pertinente esta publicação porque ontem o Partido Comunista do Brasil, o PC do B acriano, realizou um encontro estadual.

Boa leitura!

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Dos nove homens mais poderosos da China, membros do Politburo do Partido Comunista, oito são engenheiros. Apenas um é advogado. O debate político parece mínimo, mas a execução das obras e o planejamento estão em todo lugar na transformação da China dos últimos anos.

Os dois membros mais jovens do Politburo têm doutorado -eles devem se tornar os próximos presidente e primeiro-ministro. Um deles, o atual vice-presidente, Xi Jinping, 56, deve ser o próximo presidente, ainda que não seja o preferido de quem hoje ocupa o cargo, Hu Jintao, prova da tímida democracia interna que começou a crescer na última década.

"Antes de morrer, Deng Xiaoping escolheu Jiang Zemin e Hu Jintao como seus sucessores e ninguém ousou desrespeitar seus planos, mesmo quando já estava no túmulo", diz o cientista político Victor Shih, chinês de Hong Kong, que fez doutorado em Harvard sobre política chinesa.

"Não há mais Mao Tse-tung ou Deng Xiaoping, que decidiam tudo. Cada geração tem menos poder que a anterior, e as diferentes facções se monitoram entre si", afirma Shih.

Ainda não se fala em democracia ou em múltiplos partidos, mas o Partido Comunista chinês passa por uma discreta transformação. Dos 371 membros do Comitê Central, 92% têm diploma universitário.

A partir de 1978, depois de três décadas de revolucionários que souberam derrotar japoneses e nacionalistas, mas que afundaram a economia chinesa, o partido só quis saber de crescimento econômico e "estabilidade" social.

Hoje, quem promove maiores altas no PIB em suas cidades e Províncias e reprime ou previne protestos sobe mais rapidamente na hierarquia.

Jiang Zemin é considerado responsável pela transformação econômica de Xangai e esteve entre os responsáveis pela repressão aos estudantes na praça da Paz Celestial. Hu Jintao era secretário-geral do partido no Tibete em 1989 e, diz-se, reprimiu protestos de monges budistas de "forma exemplar". De ditadores poderosos, o PCC passou a uma liderança coletiva com prazo de validade. A aposentadoria é compulsória para quem chega aos 65 anos no Comitê Central e 70 anos no Politburo.

Principezinhos
Meritocracia e bons contatos às vezes se misturam ou competem na ascensão no partido, que tem 76 milhões de afiliados. Um dos grupos em alta no PCC é o dos "principezinhos", filhos de lideranças partidárias que subiram rapidamente na hierarquia pelos contatos herdados. Xi Jinping é um principezinho.

Outro é Bo Xilai, 60, secretário-geral do partido para a região metropolitana mais populosa da China, Chongqing. Bo foi prefeito de Dalian, porto importante do norte do país. Transformou a cidade em modelo ambiental, com programas de transporte público, despoluição e reciclagem de lixo elogiados e um crescimento econômico recorde. De lá, virou ministro do Comércio.

"Parece prêmio ao mérito, mas, por ser filho de pai influente, ele conseguiu atrair investimentos de Pequim, mais créditos nos bancos estatais, investimentos estrangeiros foram dirigidos para lá, então o "quem indica" precedeu o mérito", diz o professor Shih.

Dali foi enviado para chefiar o partido em Chongqing, 31 milhões de habitantes e barril de pólvora político -8 milhões de pessoas desalojadas para a construção da hidrelétrica de Três Gargantas foram para lá. Chongqing vive periódicos protestos sociais e inúmeros casos de corrupção.

No mês passado, Bo colocou na prisão 1.500 pessoas acusadas de participar de tríades, a máfia chinesa. O feito, divulgado amplamente pela mídia estatal, já colocou Bo como outro candidato a suceder Hu -e como adversário de Xi Jinping.

As punições no partido obedecem à mesma dualidade entre performance e padrinhos. Casos de corrupção podem ser punidos com prisão perpétua ou até pena de morte por servirem de "exemplo" a outros milhares de corruptos que estejam fazendo o mesmo -ou como revanche de alguma facção que quer exibir seu poder.

Mudança limitada
A corrupção se espalha de empreiteiras e venda de terras até a educação, a saúde e o interior do partido. Nas Províncias, há esquemas de propina para promoções, cargos bem remunerados ou para aqueles em que é mais fácil fazer dinheiro -como administração de terras ou estatais.

Na reunião anual do Comitê Central do PCC, ocorrida há dez dias, uma das prioridades divulgadas pela imprensa estatal foi o combate à corrupção.

"Um burocrata provincial pode ganhar 5.000 yuans por mês (R$ 1.300), enquanto um diretor de banco estatal pode ganhar 20 vezes isso", diz Shih.

Centenas de casos de corrupção nas Províncias e suas punições, que servem de advertência aos demais, são divulgados diariamente pela imprensa oficial. Não é o que acontece quando os escândalos chegam ao topo da hierarquia comunista.

O "New York Times" noticiou um esquema de propinas na África da empresa chinesa Nuctech, que produz scanners e outros equipamentos de inspeção. Hu Haifeng, filho do presidente Hu Jintao, dirigia a empresa, que até participou de concorrência internacional da Receita Federal no Brasil.

O filho do presidente virou secretário-geral do Partido na holding das empresas criadas pela Universidade Tsinghua, onde pai e filho estudaram. Todas as reportagens sobre a Nuctech são bloqueadas na internet chinesa e o assunto é ignorado pela mídia estatal.

"As políticas anticorrupção não estão funcionando e o próprio governo reconhece", diz Shih. "Apesar da modernização do partido, a inexistência de imprensa livre e de Judiciário autônomo limita a mudança."