quinta-feira, fevereiro 18, 2010

As pérolas e a ostra













1. Poriço. 2. Achão. 3. Intender. 4. Insina. 5. Piquenos. 6. Dependençia. 7. Salvalos. 8. Ajudalos. 9. Paçam fome. 10. Começão. 11. Mizeria. 12. Imdependente. 13. Isnobis. 14. Eses. 15. Enfrente. 16. Condinções. 17. Precissam. 18. Intrar. 19. Encinar. 20. Precosseito. 21. Entrão. 22. Trájico. 23. Porisso. 24. Conserteza.

No Carnaval, diante de meus olhos, 96 redações de alunos do segundo ano do ensino médio. Erros e mais erros, limitei 24. Batizaram-nos (de) "pérolas". No Programa do Jô, o apresentador os exibe e ri deles.

Não vejo graça. Não são motivos de riso.

Quando um corpo estranho penetra na ostra, esta libera uma substância chamada madrepérola. A função dessa substância é cristalizar o corpo estranho, impedindo sua reprodução. Após três anos, esse corpo transforma-se em pérola.

Vindo de escolas públicas, alunos, se escrevem assim, é porque uma ostra os cristalizou, impedindo o crescimento deles. Cristalizar, isto é, paralisar, estacionar. Muitos jamais refizeram dissertações em sala de aula. Jamais.

Desde a antiga quinta série, a ostra nunca pediu para que procurassem no dicionário a palavra "ensino" e, depois, corrigissem o erro. Cristalizar.

Aos meus alunos, entreguei o calendário escolar de Escrita (redação e gramática) e de Leitura (filmes, poesias, ensaios, charges). Com isso, eles sabem antecipadamente que estudarão dissertação na próxima semana, partindo do enunciado do Enem de 2000, um dos mais difíceis.

Antes, porém, corrigirão seus erros ortográficos após o dicionário ser consultado. Só reorganizarão suas ideias depois de cada um corrigir seu erro - "encino", "precosseito", "poriço", "começão".

Se as ostras são as únicas responsáveis por isso, por que rimos das pérolas?