quinta-feira, março 11, 2010

A democracia é 10

Há mais de uma semana, um cartaz do Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Estado do Acre, o Sinteac, encontra-se colado na entrada da escola Heloísa Mourão Marques, ao lado externo da porta da sala dos professores.

No cartaz, o corpo docente é convocado a uma paralisação.

O sinal toca, e os alunos caminham às salas. Enquanto isso, os professores reúnem-se para aprovar em cima da hora uma paralisação. O cartaz estava colado há dias, há mais de uma semana.

Votos contados, dez professores aprovam a paralisação. Os alunos retornam às suas casas.

"Tudo bem que a maioria votou a favor, mas o cartaz está na escola há dias e só agora vocês se reúnem para não haver aulas quando os alunos já estão em sala, isso é uma desconsideração pelos alunos", disse a professora-diretora Osmarina.

Minha crítica

Vindo do grego krinein, "crítica" implica julgamento. Interessante observar que "julgar" tem a mesma origem de "judiciário". "Criticar" significa, segundo Houaiss, "avaliar", "ponderar".

Escrita, lanço minha crítica aos olhos de dez professores que votaram, conforme eles acreditam, em uma paralisação. É preciso considerar, no entanto, que a paralisação da educação não se assemelha à paralisação bancária. Esta não repõe os dias parados. Aquela adia o fim do ano letivo à medida que o professor não leciona.

Parece ser uma verdade absoluta: o professor para um dia e, depois, repõe a aula. Nesse sentido, que pressão a rede pública de ensino pode exercer sobre a secretaria se está garantida a reposição de aula? O ano letivo será atrasado, mas isso é problema dos professores.

Pois bem, pessoas que passaram por uma faculdade votaram em uma "reposição de aula" porque estão convictas de que, com essa "paralisação", o sindicato pressionará o governo. Serei eufêmico: pouco inteligente. Paralisação ou greve de escola pública não passa de um erro crasso contra o bom senso.

Democracia

Entre nós, o critério da democracia é o número, ou seja, a maioria, neste caso, 10 professores votaram a favor da paralisação. Mas será isso democracria? Será democracia o desejo de uma maioria?

Democracia não é a maioria se manifestar, mas a melhor ideia prevalecer muito acima do desejo de grupo. A ideia. O melhor. O justo. O bom senso. Repor aula é bom senso? Votar em uma paralisação que não pressiona o poder é a melhor ideia?

Em minha pura tolice, cheguei a pensar que, quando formado, quando passasse por uma faculdade, bons debates e inquietantes reflexões sedimentariam ideais na escola. Enganei-me: a escola não é lugar de ideais, por exemplo, democráticos.

Ela é o lugar onde a democracia, sem bons debates e sem inquietantes reflexões, não passa de uma maioria que impõe não apenas o seu corporativismo, mas a incapacidade de perceber que as velhas formas de luta do Sinteac caducaram no século 19.

Escrevo em vão. Na escola, democracia é maioria, é isto: número - tudo a ver com uma época que vive "A era do vazio", de Gilles Lipovetsky.

Prolongaram o calendário escolar.