sábado, maio 31, 2008

Açeçôr di Inpremçá

1)
"Quatro horas mais tarde, a equipe dos Jogos Escolares 2008 partiu de Rodrigues Alves para ir direto à Mâncio Lima, onde a população comemorou, na tarde desta sexta-feira, 30, os 31 anos do município, ao mesmo tempo em que recepcionou o fogo olímpico, representante do espírito esportivo dos jogos. O local escolhido para o acendimento da pira olímpica foi o Centro Esportivo Totão."

Antes de "Mâncio Lima", não há artigo "a". Você não diz "a Mâncio Lima é linda". Nós dissemos, isso sim, "iremos a Mâncio Lima". Esse "a" é uma preposição que surgiu por causa do verbo "ir". Só há, portanto, preposição, não existe artigo. Sendo assim, não há fusão entre preposição "a" e artigo "a", ou seja, não se cola acento grave, indicador do fenômeno da crase, antes de Mâncio Lima.

2)
"A proposta do banco é levar à todas as regiões brasileiras shows com grandes nomes de várias expressões artísticas."

O caso de "à todas" é bem pior. Escreve-se "a todas".

sexta-feira, maio 30, 2008

quinta-feira, maio 29, 2008

Ruído escolar



Esses dois rapazes são responsáveis pelas "músicas" da escola Heloísa Mourão Marques. Eles acham que colocam "música", mas, na verdade, são ruídos, porque quem ouve "Créu" não ouve música.

"Nós colocamos Créu porque os alunos querem", justificam.

Não sei se foi brincadeira, mas ele não conhecem Titãs ou um forró verdadeiro, original.

Amanhã, levarei aos ouvidos deles Rapa.

A minha alma
Tá armada e apontada
Para cara do sossego
Sêgo! Sêgo! Sêgo! Sêgo!
Pois paz sem voz
Paz sem voz
Não é paz
é medo

Uma juventude sem letra, sem gosto musical. Na escola pública, deveria haver música, boa música. Que deixassem pelo menos Aldeia FM tocar.

quarta-feira, maio 28, 2008

Gênero feminino

Por que as garotas são melhores do que os garotos na escola?

De Martine Laronche

Por que as garotas são mais bem-sucedidas do que os garotos na escola? Quer isso aconteça na Europa ou, de modo mais abrangente, nos 30 países da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômicos), um número muito maior dentre elas consegue obter diplomas no ensino secundário e superior e, além de tudo, elas amargam muito menos fracassos escolares do que os rapazes.

A única ressalva que vem temperar este triunfo está no fato de elas obterem resultados um pouco inferiores aos dos rapazes no que diz respeito às notas de matemática, ao passo que elas se mostram nitidamente melhores do que eles no domínio e na compreensão da escrita. Isso também explica por que elas escolhem com menor freqüência seguirem carreiras científicas (matemática, ciências, e escolas de engenharia). Estas são algumas das conclusões da pesquisa internacional PISA (sigla em francês para Programa Internacional para o Acompanhamento da Assimilação dos Alunos).

Então, as garotas teriam mesmo predisposições inatas para o sucesso escolar? Ao ouvir esta pergunta, na certa, Paul Broca deve estar se revirando até agora dentro do seu túmulo. Em meados do século 19, este eminente cirurgião e antropólogo havia pressuposto que "o tamanho relativamente menor do cérebro da mulher (permitia explicar) ao mesmo tempo a sua inferioridade física e a sua inferioridade intelectual".

Desde então, gerações de neurologistas tentaram encontrar origens cerebrais para as diferenças entre os sexos. Catherine Vidal, uma neurobióloga e diretora de pesquisas no Instituto Pasteur de Paris, desmonta todas essas pesquisas num pequeno livro tão estimulante quanto divertido. Assim, a aptidão para a linguagem, que muitos apresentaram como sendo mais desenvolvida nas mulheres, havia sido atribuída, entre outros, a partir dos resultados de uma experiência realizada em 1995, ao fato de que elas mobilizavam os seus dois hemisférios cerebrais, enquanto os homens utilizavam apenas um deles. Contudo, outros estudos que foram realizados desde então infirmaram esta hipótese.

Outro exemplo: em 1982, alguns anatomistas haviam observado que o feixe das fibras que conectam entre si os dois hemisférios do cérebro era mais largo nas mulheres do que nos homens. Esta observação tampouco foi confirmada por estudos posteriores realizados em maior escala. "Os estudos evoluíram muito; hoje, os conhecimentos que nós temos em relação aos neurônios estão muito mais apurados e atualizados", explica a neurobióloga. "As capacidades biológicas cerebrais são idênticas para os dois sexos, e rapazes e garotas apresentam as mesmas aptidões. Para explicar as diferenças, é preciso referir-se aos estereótipos sócio-culturais e aos comportamentos que deles decorrem.

Análise dos estereótipos

Por ocasião do nascimento, apenas 10% dos neurônios estão conectados entre si, enquanto os 90% dos circuitos (sinapses) restantes irão se construírem posteriormente em função do meio-ambiente, social, cultural e familiar. "À medida que as suas capacidades mentais vão se desenvolvendo", prossegue Catherine Vidal, "a criança vai aprender a se identificar ao masculino e ao feminino.
"Christian Baudelot e Roger Establet, dois sociólogos especialistas em educação, analisaram esses estereótipos. Logo no ano de 1992, eles começaram a defender a tese segundo a qual as formas tradicionais de socialização das garotas estavam mais em conformidade com aquilo que a escola pode vir a exigir dos alunos. "A educação das garotas está fundamentada ainda atualmente na noção de docilidade, no sentido etimológico de capacidade de receptividade, de escuta", assegura Christian Baudelot. "Ocorre que na escola, o que se espera em primeiro lugar dos alunos é que eles interiorizem as regras".

Além do mais, as garotas, numa proporção muito maior, seriam alvos, por parte dos seus pais, de uma "solicitude preocupada", ao passo que os rapazes, que costumam ser mais raramente submetidos a esta vigilância, construiriam o seu desenvolvimento, com freqüência muito maior, fora da escola e em função de valores masculinos muito diferentes. "A cultura que é oferecida aos rapazes dá uma ênfase muito maior para o heroísmo, a violência e a demonstração de força. Ora, esses são valores que em todos os casos os dotam de um arsenal anti-escolar", consideram os dois sociólogos. No que vem a ser um outro fator importante, uma vez que os docentes, na grande maioria dos casos, são mulheres, a identificação revela ser mais fácil para as garotas.

Cerca de quinze anos mais tarde, Baudelot e Establet enriqueceram esta análise propondo uma visão mais dinâmica. Segundo eles, as garotas não são apenas mais bem formatadas para os estudos, como "elas também se envolvem de maneira mais positiva com as suas escolhas em sua orientação escolar". A escola é o lugar onde elas adquirem muito cedo a experiência de que elas podem ser as iguais, e até mesmo melhores do que os rapazes. Muito mais do que eles, elas se interessam e se divertem com as atividades culturais tradicionais. Segundo os dados divulgados pela OCDE, 51% das garotas de 15 anos lêem pelo menos um livro por mês, contra 37% dos rapazes. Além do mais, as suas mães as incentivam com maior afinco do que no passado a se tornarem independentes.

Uma socialização familiar

As garotas estão mais conscientes do fato de que os estudos constituem o principal vetor para a sua emancipação. E o seu sucesso escolar também representa uma conseqüência de uma dinâmica histórica e de uma evolução da sociedade", explica Catherine Marry, uma socióloga, diretora de pesquisas no CNRS (uma das principais entidades francesas dedicadas à pesquisa científica). "As expectativas dos pais são atualmente as mesmas em termos de nível de estudos para as crianças dos dois sexos, mas continuam sendo diferentes em termos de orientação".

No final, as garotas continuam até hoje sendo sub-representadas no que se refere às carreiras científicas. "Elas permanecem vítimas do imaginário social em relação às profissões", constata Catherine Marry, "e, com isso, elas tendem a se orientarem rumo a profissões que supostamente convêm melhor às qualidades das mulheres, tais como as que requerem uma maior atenção para com os outros".

Esta socióloga, que se dedicou a estudar mais especificamente os sucessos de mulheres em carreiras científicas, explica o percurso destas últimas como sendo o resultado de uma socialização familiar particular. "Essas garotas, em sua maioria, tinham mães mais voltadas para uma cultura científica, em muitos casos professoras de matemática", analisa Marry. "Elas também tinham sido objetos, em relação ao(s) seu(s) irmão(s), de uma transmissão de cultura igualitária, inclusive por parte do pai."

terça-feira, maio 27, 2008

Diretora ameaçada de morte

Para a imprensa, a escola só surge como tragédia, violência. Sem isso, não há educação pensada pela imprensa. Um carro bate no poste é notícia, mas a educação não é. Em Cruzeiro do Sul, uma diretora é ameaçada, por isso a reportagem existe para ela.
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Marcada para morrer, alunos ameaçam diretora
De Jairo Barbosa

Com mensagem pichada no muro da escola Prof. Flodoardo Cabral, em Cruzeiro do Sul, os alunos enviaram uma ameaça de morte explícita à diretora Ruth Bernardino da Costa. O texto, escrito à caneta, estava assim: “ O prazo de vida da diretora Ruth é até o dia 25/05. A Ruth vai levar facada.”

Na escola, os funcionários evitam falar sobre o assunto. Uma minoria de alunos ainda comenta o caso e atribuem às normas rígidas implantadas na escola pela diretora, o motivo da ameaça. Mas os casos de violência no Flodoardo Cabral vêm sendo registrado desde o ano passado.

Um aluno que pediu para não ter o nome publicado contou à TRIBUNA que, no turno da noite, o consumo de bebida alcoólica e de droga na parte interna da escola é quase uma rotina. Na frente do estabelecimento de ensino, então, disse o aluno, o consumo é liberado.

No mês passado, dois alunos, uma garota e um garoto foram flagrados na sala de aula com facas. No início desta semana, uma outra garota tentou contra a vida de uma colega ao descobrir que ela havia saído com seu namorado.

Apesar da onda de violência e da ameaça de morte, a diretora não registrou queixa na polícia. Em uma entrevista concedida ao repórter Francisco Rocha, da Rádio Verdes Florestas, ela culpou os pais pelo problema que a comunidade escolar vem enfrentando.

“Infelizmente , não tivemos a colaboração dos pais dos alunos da noite. Eles se acham de maior e os pais nunca comparecem à escola, por mais que eu peça ajuda, diferente dos outros turnos, onde tivemos um apoio muito grande. Fizemos várias reuniões envolvendo pais, alunos, promotor, defensor público e o Conselho Tutelar”, disse ela.

Ruth admite que os casos mais graves que envolvem até ameaças de mortes entre os alunos acontecem no período da noite. Por causa disso, muitos funcionários da escola pediram transferência para outros grupos escolares, o que reduziu o número de servidores e facilitou a ação dos rebeldes.

Ao redor da escola, existe um muro de aproximadamente dois metros de altura e um uma quadra coberta, por onde, segundo os funcionários da escola, entra a bebida e droga consumida lá dentro.

A escola Flodoardo Cabral atende mais de 1,2 mil alunos e funciona em três turnos.

segunda-feira, maio 26, 2008

Anfré Petry e Marina Silva

Na Veja, o colunista André Petry, de forma bem sutil, chamou a ex-ministra do Meio Ambiente de míope. Ele conclui seu artigo desta forma:

"Marina Silva sempre foi festejada como símbolo da defesa da Amazônia. Em cinco anos no ministério, não reduziu um grau que fosse a miopia ambiental do governo. Era só símbolo. Agora, com Carlos Minc, sob esse aspecto, não muda nada. Só não teremos nem símbolo mais."

Sintaxe de Jornalista

"Estão disponíveis 571 vagas, no qual, estão sendo divididas da seguinte forma:"

Não percebe que é mais simples escrever "estão disponíveis 571 vagas, divididas da seguinte forma:".

sábado, maio 24, 2008

Gramática de blog 2

Deputado Edvaldo, além-mar tem hífen.

Gramática de blog 1

"Assembléias Legislativas debaterão infra-estrutura dos rios da região"

No blog de Leonildo Rosas, o verbo debater não saiu bem na foto. Quando significa discutir ou questionar, ele deve vir com a preposição sobre. No plural, fica "assembléias legislativas".

Assembléias legislativas debaterão sobre infra-estrutura dos rios da região.

Os índios de Gleilson Miranda

Belas fotos de Gleilson Miranda. Ele revelou os nativos que permaneciam ocultos para os brancos.

Eu soube que Gleilson não cedeu as fotos e muito menos as vendeu para o portal Terra. Quem passou as imagens dos nativos para o portal?

Os índios apareceram, mas, se alguém da equipe vendeu ao portal Terra, a grana ficou invisível para Gleilson Miranda.

Veja a Marina

A revista Veja, de 21 de maio, diminuiu a senadora Marina Silva. "No cargo de ministra, porém, mostrou pouca intimidade com a burocracia, a começar pela montagem da equipe."

Para Leonardo Coutinho e Otávio Cabral, autores da matéria, a acreana não passou de um ícone. "Marina Silva nunca passou de um ícone, uma peça de marketing exibida pelo governo Lula para mostrar uma suposta vocação ambientalista."

Para tanto, apresentou números.

Taxa anual de desmatamento

Governo anterior (1998-2002) - 18.454 quilômetros quadrados
Gestão de Marina (20032007) - 19.336 quilômetros quadrados

Número de multas ambientais

Governo anterior - 28 mil autos de infração
Gestão de Marina - 23.614 autos de infração

Animais silvestres apreendidos

Governo anterior - 17 mil
Gestão de Marina - 35 mil

Segundo a revista, "muitas reservas, pouca proteção". Há um fiscal para cada 2,8 mil quilômetros quadrados. 70% das reservas na Amazônia não foram implementadas ou sequer têm uma sede.

Criada em 1990, a Reserva Extrativista Chico Mendes, em uma foto grande, convive hoje com queimadas e criação de gado.

A revista sujou a imagem.

sexta-feira, maio 23, 2008

Teatro Giramundo



De Aldo Nascimento

As Relações Naturais”, de Qorpo Santo

Li e reli o belíssimo texto da professora-doutora Maria do P. Socorro Calixto Marques, publicado no jornal A TRIBUNA, em 18 de maio. Profundo e muito bem-escrito, a professora faz jus ao seu título de doutora, dominando com habilidade os signos lingüísticos que compõem o texto ficcional As Relações Naturais. Como intelectual do Departamento de Letras da Universidade Federal do Acre, Socorro Calixto cumpre sua missão de refletir sobre o que se manifesta na sociedade, nesse caso, uma peça de teatro.

Por causa dessa publicação, motivei-me a assistir à peça As Relações Naturais, escrita por José Joaquim de Campos Leão (auto-apelidado de Qorpo Santo, de 1829 a 1883), representada pelo grupo de teatro Giramundo. Não me atrevo ser profundo como a doutora, mas, nessa breve coluna, escrevinharei em parte sobre o que assisti, repito, em parte, porque, em poucas linhas, algo fugirá entre meus dedos.

Autor-personagem
À mesa, ao lado esquerdo do palco, de frente para a platéia, surge um boneco, é Qorpo Santo. Do que falou, ouço ainda o tempo em que ele se situa, 14 de maio de 1866; tempo situado em Porto Alegre, capital da Província de São Pedro do Sul. Para muitos, Império do Brasil. “É isto uma verdadeira comédia”, ri o homem que no final do século 19 viveu parte de sua vida no hospício. Qorpo Santo encontra-se em seu próprio texto ficcional

Após seu riso, ele mesmo deixará de ser sério, colocando no rosto uma máscara de truão. José Joaquim de Campos Leão se entregará à comédia absurda, ao exagero, à devassidão. Ele, um fanfarrão. "Vou, portanto, vestir-me e sair para depois rir-me e concluir este meu útil trabalho.” Pouco depois, a luz se apaga nele para iluminar sua imaginação em uma casa de marionetes.

O escritor, nesse momento, também é marionete, personagem que troca palavras com Consoladora. Ela sabe que ele deseja mulheres fogosas e deixa-o ir embora. Logo depois, uma adolescente de 16 anos, com vestido branco, entra em cena para se opor aos desejos carnais do autor-personagem.

Sempre entendo que a mulher como o homem é um ente que ser por todos respeitado, como a segunda primorosa obra do Criador; e que, assim, não sendo, só milhares de males e transtornos se observarão na marcha geral da humanidade!”, repreende a garota.

Ela sai de cena e logo retorna com asas para voar como anjo. E parte. Nesse momento, evidencia-se no texto ficcional que o sagrado se ausentará das relações naturais.

Ordem e desordem
Sem anjo, a casa pertence a uma família: três filhas, três filhos, pai e mãe. Há também um criado, o Inesperto. No terceiro ato, cena primeira, ele surge para dizer que limpa a casa, mas a família a suja. A casa, portanto, é ambígua, porque, em suas relações naturais, ordem (limpeza) e desordem (sujeira) confundem-se, misturam-se. A mãe abençoa os três filhos, vai à igreja com as três filhas; contudo, elas se prostituem, e uma delas é travesti. Esposa do judeu Malherbe, a mãe usa um vestido vermelho, semelhante a uma cafetina. Mildona, uma das filhas, mantém relações sexuais com o pai. “O Sr. Não reparou bem, eu não sou a sua encantadora filha; mas a jovem a quem o Sr., em vez de amizade, sempre há confessado tributar amor!”, diz ao seu genitor.

Ora, sem anjo, sem o sagrado - sugiro a leitura de O sagrado e o profano, de Mircea Eliade, da Martins Fontes -, a casa só poderia cair no inferno, por isso pega fogo, por isso sua destruição segundo disse a garota de forma angelical antes de partir: “E que, assim, não sendo, só milhares de males e transtornos se observarão na marcha geral da humanidade!".

Assim, onde pulsa a obsessão da carne, da devassidão; onde o desejo carnal não encontra limites e expulsa o sagrado, mãe e filhas sentenciam: “Enforquemos tudo quanto é autoridade que nos quer estorvar de gozar, como se estivéssemos em um paraíso terreal.” Após o enforcamento, o pai é esquartejado pelo criado.

A Gazeta

Em de maio deste ano, o jornal A Gazeta publicou a seguinte legenda na capa:

"Carlos Franco, professora Margarida, professor Pascoal e Olinda concorrem à vaga na reitoria da Universidade."

A questão é essa “vaga” e esse "na". Este não determina qual vaga, podendo concorrer à vaga de secretário, por exemplo. Aquele é termo inadequado para a função. Melhor teria sido “concorrem ao cargo de reitor”.

Esse "na" é semelhante a Sindicato dos Trabalhadores na Educação. O "na" não determina que esses trabalhadores são da educação.

quarta-feira, maio 21, 2008

Para ver e ouvir



O professor Luís Carlos, de Literatura e de Língua Portuguesa, criou um vídeo simples e sensível para mostrar que desejamos mudar o mundo a partir da escola. Não se trata de uma propaganda de uma gestão, mas de uma verdade de um grupo de funcionários que comprou briga sem troco.

Certa vez, quando levei meus alunos para assistirem a um filme na filmoteca do centro de Rio Branco, observei que muitos não usavam o uniforme. Foi quando uma aluna me disse que os alunos tinham vergonha de usar a camisa da Escola Heloísa Mourão Marques.

Eles tinham seus motivos. Gestores ausentes. Gestores que não colocaram limites. Gestores que não trocaram idéias com professores. Gestores que falaram uma coisa e fizeram outra. Gestores que deixaram a escola inadimplente. Gestores que deixaram a escola suja. Gestores indiferentes a transformações. Gestores que receberam muito bem no final de mês para ser incompetentes.

Para a professora Osmarina ser gestora, acredite, foi uma longa caminhada. Perseguições, injustiças, mas é preciso sonhar para ser um pesadelo na vida de gestores arbitrários. Contra isso, elegemos, com muita engenharia, a professora Osmarina, queríamos ordem, disciplina, procedimentos justos, cobranças éticas. Queremos mudar o mundo (de alunos) a partir de uma escola que saiba cobrar e que saiba ser cobrada.

Falta muito ainda. Realizamos pouco. Só não pode faltar esse desejo de melhorar a vida de jovens por meio do saber para que eles não tenham, por exemplo, vergonha do uniforme de sua própria escola.

Luz & Sombra












Há momentos em que o fotógrafo é feliz quando registra o instante. Nessa foto de Selmo Melo, o contraste entre Luz & Sombra.

No pronto-socorro de Rio Branco, Acre, em um banco de madeira, uma pessoa doente (?) recebe a luz do céu enquanto no corredor predomina a sombra.

Ex-aluno

Olívio Botelho disse...
Belo gesto de como fazer uma boa gestão escolar. Uma pena que coisas como essas não existiam quando lá estudei. Talvez se os educadores tivessem feito isso em minha época, teríamos tido muito mais alunos empolgados, com gana para ascender intelectualmente. Hoje, conto pouquíssimos colegas de HMM que hoje são acadêmicos da UFAC ou mesmo de outra Instituição, o mais lamentável é que via ali uma gama de alunos que tinha tudo para brilhar e, de repente, estagnou. Não sei se por culpa deles ou do Estado, que não insistiu incentivando-os. Só sei que hoje vi pessoas que poderiam estar tranquilamente dividindo sala comigo na UFAC tendo que contentar-se com as migalhas que o destino lhes oferece. Parabenizo à escola pelo feito, contudo, lamento por não ter visto atitudes como essa. Pelo jeito, finalmente existe uma diretoria lá agora. Mais uma vez, parabéns!

sábado, maio 17, 2008

Mérito



A escola pública precisa reconhecer alunos que se esforçam para transformar suas vidas. Na foto, um mural na escola Heloísa Mourão Marques para expor alunos com boas notas. Um gesto simples de uma gestão e muito significativo. Nunca vi isso na escola.

Depois, aos poucos, poderemos melhorar essa idéia, por exemplo, no lugar de flores, imagens de grandes pensadores, de poetas e seus nomes.

Heloísa & as Mães

Após 5 anos de escola Heloísa Mourão Marques, um reunião com os pais bonita, sensível e organizada. Que gratificante sentarmos na sala para ouvir pais e falar a eles sobre seus filhos. A maioria, muito humilde. Mães que, sozinhas, educam seus filhos e esperam da escola pública dedicação, ordem, disciplina, cuidado, zelo. Paixão.

"Trabalho à tarde e meu filho fica com os irmãos", dissse uma delas. A todas, disse para ver como estão os cadernos de seus filhos. Além disso, fazer com que estudem uma ou duas horas por dias. "Mãe, faça com que seu filho assista ao programa do professor Pasquale, Nossa Língua, da TV Cultura, canal 2."

Como sou chato, precisamos melhorar mais, porque devemos exigir de nós sempre o melhor, sempre.

A diretora Osmarina e sua coordenadora Otacília estão de parabéns. Izanilde e Ozélia, também da equipe, contribuindo para sermos melhores. Professor Gleidson, também da equipe, sempre presente para melhorar a escola. As minhas meninas da secretaria escolar e as minhas outras meninas, as inspetoras, com ânimo para atender mães e pais.

Um dia, acreditei que poderia mudar o mundo. Não posso. Quero mudar minha escola, porque o mundo também começa por ela.

sexta-feira, maio 16, 2008

O tempo parou (2)



O homem já foi ao espaço. O homem já clona animais. O homem já consegue espermatozóides do corpo feminino. Tantas transformações, mas a escola permanece a mesma, desconfortável.

Sem ar-condicionado, sem ser um ambiente agradável, eu até compreendo de "professor" desejar ser político ou sindicalista.

As salas permanecem assim por causa de políticos. Depois das estradas, dos ramais, depois de tudo asfaltado, as salas... um dia... as salas...

Até lá, muitos passarão pela faculdade não para lecionar em salas envelhecidas, mas para eles serem obreiros de sindicato ou para eles conseguirem uma cadeira no Poder Legislativo.

O tempo parou (1)


Sobre a mesa de uma escola pública estadual, o tempo mantém velha rotina. Papéis registram notas, porque, como não há computadores em rede, o professor em casa não pode enviar suas notas pela internete.

Outras instituições do Estado foram modernizadas por meio da tecnologia, menos a escola.

Visitei nesses dias o sítio da Assembléia Legislativa do Acre e meus olhos não leram um documento que registrasse um debate profundo, e nem raso, sobre educação pública.

No Poder Legislativo, secretárias não trabalham como as funcionárias de uma escola.

quarta-feira, maio 14, 2008

O governo não merecia Marina

Marina sofreu bombardeio desde o 1º mandato de Lula

Ministra fez várias concessões e teve de aceitar derrotas seguidas em 5 anos e 5 meses de governo, mas sai no instante em que desmatamento volta a aumentar

MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA

AO FINAL do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, já estava claro para quem quisesse ver que seu governo não merecia Marina Silva. A voz ao mesmo tempo frágil e firme da ex-doméstica que chegou a senadora permanecia solitária na Esplanada. Era a única a defender que o desenvolvimento econômico não pode ser obtido a qualquer preço, porque não seria de fato desenvolvimento.

Lula repetiu a estratégia Fernando Collor com José Lutzenberger. Pôs Marina Silva na vitrine do MMA (Ministério do Meio Ambiente) para neutralizar pressões internacionais contra o país pela destruição da Amazônia. Funcionou por algum tempo. Tempo demais.

Era fácil deixar a ministra falando sozinha sobre "transversalidade". Soava como (e era de fato) uma abstração insistir na necessidade de injetar a questão ambiental em todas as esferas de decisão e planejamento do governo. O desenvolvimentismo lulista seguiu em frente.

Foram muitas as batalhas perdidas. Primeiro, perante o Ministério da Ciência e Tecnologia, a dos transgênicos. Depois de anos de omissão do governo FHC quanto ao plantio de soja geneticamente modificada contrabandeada da Argentina, Lula capitulou diante do agronegócio e do lobby dos biotecnólogos, permitindo a comercialização do grão ilegal.

Em seguida vieram várias concessões, fracassos e derrotas do MMA: explosão do desmatamento (que chegou a 27 mil km2 em 2004, segunda maior marca de todos os tempos); licenciamento ambiental da transposição do São Francisco e das grandes hidrelétricas na Amazônia; a decisão de construir Angra 3 e outras quatro usinas nucleares...

Apesar disso, Marina Silva continuava como um conveniente bode expiatório. A certa altura, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) parecia ser o maior entrave ao desenvolvimento nacional. Pior que a taxa de juros mais alta do planeta, a julgar pelo bombardeio dos jornalistas de negócios e dos ministérios interessados em camuflar a própria inoperância.

Mãe do PAC, mãe do PASO

MME (Ministério de Minas e Energia), onde começou a ser gestada a mãe do PAC e também o embrião de um apagão, capitaneava o canhoneio. Entre um mandato e outro, a artilharia quase derrubou Marina Silva. Havia até candidato preferido do MME, segundo se especulava na época: Jerson Kelman, diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). A proverbial raposa no galinheiro.

Marina Silva resistiu e ficou para um segundo mandato. Disse na época que o fez a pedido do próprio Lula. Afinal, o desmatamento na Amazônia vinha caindo, tendência que se confirmou ao longo do primeiro ano do segundo mandato. As cifras traumatizantes despencaram quase 60% em três anos. A ministra continuava bem na fita, pelo roteiro de Lula.

Aí começaram a surgir os primeiros sinais de que o desmatamento na Amazônia voltava a crescer. Era inevitável, diante da alta retomada no preço de commodities agrícolas, como soja, carne bovina e algodão. Enquanto isso, o frenesi dos biocombustíveis tomava conta do Palácio do Planalto.

Só os incautos acreditam que a expansão da produção será obtida apenas com aumento da produtividade e ocupação de áreas degradadas de pastagem. O empreendedor rural se dirige para onde encontrar a melhor combinação de terra e mão-de-obra baratas, solos férteis, topografia favorável e infra-estrutura logística. Soja e cana não desmatam a Amazônia, mas a pecuária, sim -e como.

Diante do trator pilotado pelo Ministério da Agricultura e teleguiado da Casa Civil, o espaço de manobra de Marina Silva se restringiu ainda mais. Nem ela fala mais em transversalidade, embora não deixe de apontar os riscos do excessos de entusiasmo com a expansão do agronegócio.

Os sensores de satélites, capazes de discernir florestas de verdade das áreas em processo de degradação, não se enganam a respeito. O desmatamento está em alta. É indiferente para eles que Lula, Dilma Rousseff e Marina Silva tenham lançado há poucos dias o enésimo programa desenvolvimentista, mais uma compilação de ações anteriormente providenciadas, e o batizem como PAS (Plano Amazônia Sustentável).

Lula tentou fazer blague na cerimônia, afagando a "mãe do PAS". Ao mesmo tempo, designou o ministro Roberto Mangabeira Unger (aquele do aqueduto ligando a Amazônia ao Nordeste) para coordená-lo.

O presidente ainda jactou-se de estar "criando uma nova China aqui". A infeliz frase presidencial -mais uma, apenas- não deve ter sido a causa do pedido de demissão da ministra. Mas nunca esteve nos planos de Marina Silva ajudar a armar a segunda maior bomba-relógio ambiental do planeta.

terça-feira, maio 13, 2008

Cada uma

Foto de Selmo Melo.











No bairro Tancredo Neves, Rio Branco, o nome dos dois estabelecimentos chama atenção.

Após ficar drogada, a pessoa sente muita fome, é a famosa larica.

É só ir ao mercantil ou ir ao Larica Lanches.

segunda-feira, maio 12, 2008

Uma entrevista à moda Umberto Eco

O professor aloprado

Autor do best-seller "O Nome da Rosa", Umberto Eco ataca o papa Bento 16 e Silvio Berlusconi e alerta que o excesso de informações está matando a memória.

"Alguém que é feliz a vida toda é um cretino; por isso, antes de ser feliz, prefiro ser inquieto."




O crítico, lingüista e romancista italiano Umberto Eco, que se aposentou da Universidade de Bolonha no ano passado

JUAN CRUZ
Umberto Eco é um homem quase feliz. Um professor que desfruta a companhia de seus alunos e que agora, aos 76 anos, aposentado de suas múltiplas ocupações acadêmicas [desde 2007, na Universidade de Bolonha], continua a trabalhar "ainda mais do que antes", dando aulas doutorais, escrevendo livros ("nem meia palavra sobre o livro que estou escrevendo agora!", exclamou, colocando o dedo sobre os lábios), participando de congressos, lendo histórias em quadrinhos ("hoje são intelectuais demais") e rindo como um garoto.

Quando o fotógrafo lhe pediu que posasse com um "borsalino", o tipo de chapéu que tornou mundialmente conhecida sua cidade natal, Alexandria, Eco se divertiu como se tivesse voltado ao quintal da casa de sua família, ao lugar que está cada vez mais próximo de sua memória, como se a idade o fizesse recuperar os sabores perdidos da adolescência.

Vive numa casa belíssima, repleta de livros e exemplares antigos, muitos dos quais consegue numa livraria perto dali, na via Rovello, em Milão. Todas as tardes, quando está na cidade e não viajando, esse homem, que já se queixa de que tiram o sal de sua comida e afugenta os doces como se fossem uma tentação maldita, vai até essa livraria e sebo para vasculhar catálogos e procedências, antes de ir tomar seu aperitivo num café onde é conhecido como "il professore".

Perto da livraria fica a barbearia de Antonio, que colocou um retrato de Eco com seu borsalino na porta de vidro; assim, Eco se vê retratado enquanto Antonio lhe faz a barba. Barba que já tem os fios brancos de um homem que se diz velho, mas que conserva o ritmo de vida que o tornou legendário entre os acadêmicos de todo o mundo, por sua atividade e a diversidade de gostos. Umberto Eco continua sendo esse homem feliz ("quase feliz -quem se diz totalmente feliz é um cretino!") que canta, recita, conhece citações inteiras de memória, que se interessou antes dos outros pelas novas tecnologias, que as utilizou em seus trabalhos - o mais recente é "Quase a Mesma Coisa", sobre tradução-, embora mantenha o celular quase sempre desligado. No entanto usa o e-mail obsessivamente, como se fosse um prolongamento natural das conversas. Quando bate papo, ainda é aquele homem tímido que teme cometer alguma gafe -"se falo demais, é para preencher os momentos de silêncio"-, mas, quando surge um assunto que o diverte, sua gargalhada enche o cenário.

Escreveu "O Nome da Rosa", sucesso mundial absoluto, e abriu as portas da fama como ensaísta com "Apocalípticos e Integrados", mas continua a acreditar que a comunicação só é digerida se aquele que a emite é capaz de colocar-se na altura daquele que o ouve.

Por isso, tanto ao conversar quanto em seus livros sempre entremeia suas reflexões ou apologias com piadas. Eco continua a estudar; quando o deixamos, ele ia para sua casa, talvez para ocupar-se de Carlos Magno ("Diga Carlos Magno, assim vão pensar que escreverei sobre ele em meu próximo livro, e começará o boca-a-boca"). Sempre divertido e sempre quase feliz.

FOLHA - Há uma cena em sua vida, quando toca trompete para os "partigiani" [movimento antifascista], aos 13 anos, na praça de Alexandria, que transmite felicidade... O sr. sempre parece estar tão feliz!
UMBERTO ECO - Aqui há duas coisas: aquele garoto e a felicidade. São diferentes, não podem coincidir. Não acredito na felicidade -estou lhe dizendo a verdade. Acredito apenas na inquietude. Ou seja, nunca estou feliz por completo -sempre preciso fazer outra coisa. Mas admito que na vida existem felicidades que duram dez segundos ou meia hora, como quando nasceu meu primeiro filho -naquele instante, eu estava feliz. Mas são momentos muito breves. Alguém que é feliz a vida toda é um cretino. Por isso, antes de ser feliz, prefiro ser inquieto. Aquele menino é o que irá aparecer em "O Pêndulo de Foucault", e aquele foi um momento feliz, sem dúvida, mas não estou certo se o foi realmente naquele momento ou no momento em que o estava narrando. Existem momentos de felicidade quando você consegue expressar alguma coisa que o deixa contente. Além disso, enquanto contava sobre aquele menino, eu estava feliz porque -sei bem que é uma afirmação muito reacionária- acredito que a vida serve apenas para recordar nossa própria infância.

PERGUNTA - Aí entra a literatura.
ECO - É o que dizem. Cada momento em que consigo me recordar bem de um instante de minha infância é um momento de felicidade, mas isso não quer dizer que os momentos de minha infância tenham sido momentos de felicidade. A infância e a adolescência são períodos muito tristes. As crianças são seres muito infelizes. Talvez eu, enquanto tocava trompete, com medo de que fosse a última vez em que tocaria aquele instrumento, tenha sido um menino infeliz. Sinto-me feliz agora, ao lembrar disso, e talvez seja essa a razão pela qual escrevo, para encontrar esses momentos muito breves de felicidade que consistem em relembrar momentos da própria infância. Sim, é por isso que escrevo.

PERGUNTA - E é para isso que se envelhece...
ECO - Algo de muito bonito que ocorre ao envelhecermos é que nos recordamos de uma multidão de coisas da infância que tinham sido esquecidas.Noutro dia me veio à mente o nome de meu dentista de quando eu tinha oito ou nove anos. Não apenas me lembrei do dentista, mas também do técnico que o ajudava. Eram o doutor Correggia e o senhor Romagnoli. Não sei, mas estava contentíssimo em voltar a pensar em meu dentista, de quem tinha me esquecido completamente. Por isso, vou ao encontro de minha velhice com muito otimismo, porque, quanto mais envelheço, mais recordações tenho de minha infância.
Foi minha avó materna que me iniciou na literatura; era uma mulher sem cultura, mas tinha paixão pela leitura

PERGUNTA - E a cada dia o sr. chega mais perto de Alexandria, daquela sua família?
ECO - Meu pai era o mais velho de 13 irmãos. Era uma família enorme. Houve um primo que morreu aos 20 anos e que não conheci. Faça o cálculo: se cada irmão teve dois filhos, eram 26 primos, de modo que era difícil ter uma relação com todos. Minha relação mais estreita foi com minha avó materna, que foi quem me iniciou na literatura. Era uma mulher sem cultura nenhuma -acho que fez apenas os cinco anos da escola primária-, mas tinha paixão pela leitura. Ela era cadastrada numa biblioteca, de modo que trazia um montão de livros para casa. Lia de forma desordenada. Um dia podia ler Balzac e, logo depois, um romance de quatro vinténs, e gostava dos dois. E assim fez comigo: ela me dava, aos 12 anos de idade, um romance de Balzac e uma história de amor de qualidade ínfima. Mas me transmitiu o gosto pela leitura.

PERGUNTA - Além de sua avó, quem foram seus outros mestres?
ECO - O professor da escola primária aparece em meu romance "A Misteriosa Chama da Rainha Loana". Era um fascista que batia em seus alunos mais pobres. E, embora sempre tenha se comportado bem comigo, não era uma boa pessoa. Em contrapartida, tive uma educadora fabulosa, embora por apenas um ano. Era a senhorita Bellini, que ainda vive. Tem 91 anos, e, cada vez que sai um livro meu, envio um exemplar a ela. Era uma grande educadora, nos estimulava a escrever, a contar, a sermos espontâneos, e foi uma das pessoas que mais exerceram influência sobre minha vida.

PERGUNTA - Raramente se fala do sr. como professor. O que aprendeu para ensinar?
ECO - Antes de mais nada, continuo a aprender. O primeiro curso que dei como professor foi sobre a poética de James Joyce, que aparece em "Obra Aberta". Eu conhecia o argumento, mas, ao começar a dar aula, me dei conta de que não sabia nada sobre o tema. Aprendi e continuo aprendendo. Quando se escreve um livro, pode-se dar a impressão de saber muito, mas em sala de aula é diferente. O que fiz desde aquela primeira experiência foi falar a partir dos livros que iria escrever, não dos que já havia escrito. Quero dizer que minha relação com os alunos sempre foi uma relação de aprendizagem, porque, ensinando, eu também aprendia.

PERGUNTA - Uma relação de ida e volta.
ECO - Uma relação erótica, porque a relação de um professor com um aluno é como a relação de um ator com seu público: quando você aparece em cena, é como se o estivesse fazendo pela primeira vez, e você tem a sensação de que, se não tiver conquistado o público nos primeiros cinco minutos, o terá perdido. É isso o que eu chamo de uma relação erótica, no sentido platônico do termo. Além disso, há uma relação canibal: você come as carnes jovens deles, e eles comem sua experiência. Há pessoas infelizes que passam os primeiros anos de sua vida com pessoas mais jovens, para poder dominá-las, e, quando envelhecem, estão com pessoas mais velhas. Comigo aconteceu o contrário: quando eu era jovem, estava com pessoas mais velhas que eu, para aprender, e agora, tendo alunos, estou com jovens, o que é uma maneira de manter-se jovem. É uma relação de canibalismo; comemos um ao outro. Por isso não deixei de ter relação com a universidade, apesar de ter me aposentado.

PERGUNTA - E o sr. mordeu quem?
ECO - A pessoa que orientou minha tese, Luigi Paris, também Norberto Bobbio... Tenho uma boa lembrança de meus professores. Meu professor de filosofia no instituto era um daqueles que podiam interromper a aula para fazer você ouvir Wagner ou, se você perguntava sobre Freud, deixava de falar de Platão e lhe falava de Freud. Era realmente um grande professor. Tudo isso está em meus romances, onde sempre há uma relação entre um jovem e um mestre mais velho.

PERGUNTA - Tantos alunos... Quem sabe, ao recordá-los, o sr. encontre uma história da evolução da juventude no último meio século.
ECO - Não se pode dar uma resposta porque o diálogo com os estudantes muda ao longo dos anos. A diferença ideal de idade entre professor e alunos é de 15 anos. Você tem trinta e poucos anos, e o aluno, 20. Foi precisamente nesse período que tive uma relação mais intensa com meus alunos. Porque, se os alunos são mais jovens que isso, não existe relação, e, se a diferença for maior, já não poderemos ser amigos. Com os alunos dos anos 1960, saíamos para jantar, dançar. Com os de agora, isso não seria possível. Sentiriam vergonha de sair com você. Em 1968 foi interessante: eu não podia ser como eles, mas não me viam como inimigo. Por isso, havia uma relação às vezes polêmica, às vezes amistosa e contínua.

PERGUNTA - Como está a Itália?
ECO - Está vivendo um dos piores momentos de sua história, com uma classe política velha e que não se renova. Houve um equilíbrio estranho entre a Democracia Cristã e os partidos de esquerda, que durou 50 anos. Agora ele se quebrou. Cinqüenta por cento dos italianos votam em Silvio Berlusconi [líder da coalizão que venceu as eleições parlamentares do mês passado], o que é indicativo de uma profunda imaturidade política. É um momento extremamente triste, em que os elementos de esperança e entusiasmo são muito poucos. Cada vez mais vem à tona a maldição eterna dos italianos.

PERGUNTA - Qual é essa maldição?
ECO - Uma vez eu estava num táxi em Nova York, e o chofer, que era paquistanês ou indiano, me perguntou de onde eu era. Respondi que era da Itália, e ele quis saber onde ficava esse país. Eu me dei conta de que ele tinha idéias muito vagas, como se eu estivesse falando de Suriname a um italiano, e continuou a perguntar: "Que idioma o sr. fala?" "O italiano", eu disse, e ele me perguntou: "E qual é seu inimigo?". Perguntei o que queria dizer, e ele me respondeu que cada país tem um inimigo contra o qual luta há séculos. Respondi que não tínhamos. E ele me olhou com cara feia, porque um povo sem inimigo é pouco viril. Mas, então, refleti: nosso inimigo é interno. Ao longo de toda nossa história, nos massacramos uns aos outros, e é também essa a nossa maneira de entender a política. Nossa fragmentação é em 200 mil partidos diferentes, o governo de Romano Prodi [que, sem o apoio do Senado, entregou o cargo de primeiro-ministro em janeiro] caiu pela mão de seus próprios aliados, não pela ação da oposição. Nunca a Itália caiu tanto em sua inimizade interna quanto hoje.

PERGUNTA - E de onde vem isso?
ECO - A Itália se tornou um Estado unitário há 150 anos -antes, não o era. Já a Espanha o é pelo menos desde 1300 -desde El Cid Campeador!-, e França e Inglaterra têm sido unitárias. A Itália, antes da chegada dos romanos, era uma pluralidade de tribos que falavam línguas diferentes. A Espanha tem os bascos, os catalães e os galegos, mas nós éramos 400. A cada cinco quilômetros havia uma diferença como a que existe entre a Catalunha e a Galícia. O Império Romano unificou, mas não o suficiente. Além disso, se não tivesse existido a igreja, talvez as cidades italianos tivessem encontrado uma forma de Estado unitário pela qual se regerem. O único Estado que restou foi a igreja, e o resto foi uma fragmentação de cidades, o que fez com que a Itália não existisse, no sentido de um Estado. Por isso existe a corrupção: porque as pessoas não pagam impostos, porque não existe o sentido de Estado.

PERGUNTA - E por que Berlusconi ganhou?
ECO - Porque ele diz que não será preciso pagar impostos! Ele fomenta a falta de sentido de Estado, porque ele próprio não o possui.

PERGUNTA - O sr. falou de um taxista. Menciono outro, o que me trouxe do aeroporto. Ele disse: "Como se pode eleger para presidente um homem que tem tantos processos pendentes contra ele?".
ECO - Ele dá por efeito aquilo que é a causa. Berlusconi conseguiu instaurar um tipo de poder fundamentado na desconfiança da magistratura e da Justiça, razão pela qual pode governar, apesar de ter processos pendentes. Berlusconi não é o efeito nesse caso, e sim a causa. Criou algumas leis precisamente para permitir que pessoas que tenham pendências com a Justiça possam chegar ao Parlamento e ataca a magistratura continuamente. Berlusconi conseguiu chegar ao governo atacando as forças da ordem, estimulando os instintos mais baixos do italiano médio.
A relação de um professor com os alunos é canibal: você come as carnes jovens deles, e eles comem sua experiência

PERGUNTA - Quer dizer que o futuro italiano...
ECO - Vai depender de que morram algumas dezenas de pessoas que já são muito velhas. É um dado biológico. E, então, teria que surgir uma nova classe política. Somos o país cuja classe política é a mais velha do mundo.

PERGUNTA - E Veltroni [Walter Veltroni, 52, líder de centro-esquerda]?
ECO - Sim, Veltroni é jovem. Tem 50 anos, mas os demais são muito velhos. Berlusconi tem mais de 70 anos. Na Itália, mesmo que alguém perca as eleições, volta a se candidatar. É como se Al Gore voltasse a ser candidato [à Presidência dos EUA] ou se Lionel Jospin se candidatasse novamente à Presidência da França. Na Itália, contudo, sempre volta aquele de antes. É o sintoma de uma classe política que não quer renunciar ao poder. Talvez isso contribua para que as pessoas sempre critiquem a política, para que os jovens a vejam como algo que lhes é alheio. Os jovens de todas as épocas e de todos os países sempre se entusiasmaram com as grandes idéias de transformação, eram revolucionários, mas se mantinham dentro do famoso esquema "todos nascemos incendiários e morremos bombeiros". Agora, com a globalização e o fim das ideologias, já não se apresentam tantas possibilidades de transformação, pois esta é planetária, e é preciso esperar as grandes tragédias ecológicas, a morte da Terra. O grande erro das Brigadas Vermelhas [grupo terrorista de extrema esquerda, que assassinou Aldo Moro, então ex-premiê italiano] foi terem a idéia justa -embora muitos pensassem que fosse delirante- de atacar as multinacionais de todo o mundo. Outra idéia equivocada foi a de que era preciso fazer terrorismo para criar uma revolução na Itália. Se existe o governo das multinacionais, você não vai mudar isso fazendo a revolução na Itália. O projeto comunista estava condenado ao fracasso. Já havia globalização naquela época, embora não tão intensa quanto hoje. Agora já não existe possibilidade de transformação planejável, a não ser que ocorra como na época da queda do Império Romano, com o nascimento das ordens monásticas: você se encerrava na montanha, num convento, e tentava salvar o pouco de espiritualidade e de conhecimento enquanto o mundo desmoronava. Hoje, pode haver jovens que vão ao deserto colocar em prática uma vida ecológica. É o máximo que se pode fazer: não mudar o mundo, mas retirar-se do mundo. Por isso ocorre o desinteresse pela política.

PERGUNTA - O terrorismo acabou na Itália, na Alemanha e na Irlanda, mas permanece na Espanha, além de surgirem outros. Qual é sua opinião sobre os terrorismos que surgiram nos anos 1990?
ECO - O desejo de "revolução", entre aspas, permanece sempre. Inclusive ali onde não se pode fazê-la, tenta-se... Em países onde existem grupos étnicos e há território suficiente para que se produzam insurreições. Na Itália, esses enfrentamentos se converteram em embates futebolísticos. E em outros territórios acontecem violência, fanatismo, superstição. Quando isso é levado ao terreno da política, já se sabe como vai terminar.

PERGUNTA - O terrorismo da Al Qaeda é a celebração do mal?
ECO - É preciso diferenciar os terrorismos. O fato de que se utilizem métodos semelhantes não os torna iguais. Os terrorismos internos não empregam formas suicidas.O terrorismo da Al Qaeda é um fenômeno bélico. Trata-se de um grupo fundamentalista que se sente em guerra contra o mundo ocidental e que, por não poder usar os instrumentos da guerra tradicional -não haveria exércitos suficientes-, emprega o terrorismo suicida.Isso não quer dizer que haja um enfrentamento entre o mundo ocidental e o mundo islâmico, mas existe sem dúvida uma parte do mundo islâmico que se sente em situação de inferioridade e está em guerra.
A memória é nossa identidade, nossa alma; se você perde a memória hoje, já não existe alma; você é um animal

PERGUNTA - O 11 de Setembro mudou o estado de ânimo do mundo. Somos menos felizes hoje.
ECO - O 11 de Setembro criou um estado de medo, mas antes já houve atentados, entraram e saíram assassinos, tivemos guerras civis. No caso dos EUA, porém, foi a primeira vez que o país sentiu um ataque assim em sua própria carne. Os americanos não digeriram o que aconteceu e por isso vêm tendo reações irracionais, como a Guerra do Iraque, que gerou mais terrorismo do que havia. É exatamente a reação de alguém que não estava acostumado à guerra em seu próprio território.

PERGUNTA - Existe alguma saída para esse mal-estar universal?
ECO - No momento, não. E, se eu tivesse a receita, a venderia ao presidente dos EUA por alguns bilhões de dólares!

PERGUNTA - Com certeza. E quem será ele?
ECO - E que sei eu? Os escritores não somos Nostradamus.

PERGUNTA - O que é certo é que alguns anos atrás o sr. disse que viveríamos de modo rapidíssimo, e agora vivemos em velocidades supersônicas.
ECO - E tudo o que existe agora será obsoleto dentro de pouco tempo. Até o e-mail será obsoleto, porque tudo será feito com o celular. Talvez as novas gerações se acostumem a isso, mas existe uma velocidade do processo que é de tal calibre que a psicologia humana talvez não consiga adaptar-se. Estamos em velocidade tão grande que não existe nenhuma bibliografia científica americana que cite livros de mais de cinco anos atrás. O que foi escrito antes já não conta, e isso é uma perda também quanto à relação com o passado.

PERGUNTA - A fé cega na internet, por outro lado, cria monstros.
ECO - Sim, parece que tudo é certo, que você dispõe de toda a informação, mas não sabe qual é confiável e qual é equivocada. Essa velocidade vai provocar a perda de memória. E isso já acontece com as gerações jovens, que já não recordam nem quem foram Franco ou Mussolini! A abundância de informações sobre o presente não lhe permite refletir sobre o passado. Quando eu era criança, chegavam à livraria talvez três livros novos por mês; hoje chegam mil. E você já não sabe que livro importante foi publicado há seis meses. Isso também é uma perda de memória. A abundância de informações sobre o presente é uma perda, e não um ganho.

PERGUNTA - A memória é o esquecimento, como diria [o escritor uruguaio] Mario Benedetti.
ECO - É a história de "Funes, o Memorioso", de Borges: aquele que tem toda a memória é um estúpido.

PERGUNTA - Tanta informação faz com que os jornais pareçam irrelevantes.
ECO - Esse é um de nossos problemas contemporâneos. A abundância de informação irrelevante, a dificuldade em selecioná-la e a perda de memória do passado -e não digo nem sequer da memória histórica. A memória é nossa identidade, nossa alma. Se você perde a memória hoje, já não existe alma; você é um animal. Se você bate a cabeça em algum lugar e perde a memória, converte-se num vegetal. Se a memória é a alma, diminuir muito a memória é diminuir muito a alma.

PERGUNTA - Qual seria hoje o papel da informação?
ECO - Creio que perdemos muito tempo nos formulando essas perguntas, enquanto as gerações mais jovens simplesmente deixaram de ler jornais e se comunicam por meio de mensagens de texto. Eu não posso me desligar dos jornais. Para mim, sua leitura é a oração matinal do homem moderno. Não posso tomar o café da manhã se não tiver pelo menos dois jornais para ler. Mas talvez sejamos os resquícios de uma civilização, porque os jornais têm muitas páginas, mas não muita informação. Sobre o mesmo tema há quatro artigos que talvez digam a mesma coisa... Existe abundância de informação, mas também abundância da mesma informação. Não sei se você se lembra de minha teoria sobre o "Fiji Journal". Eu estava em Fiji coletando informações sobre os corais para meu livro "A Ilha do Dia Anterior" [ed. Record], e em meu hotel chegava todas as manhãs o "Fiji Journal", que tinha oito páginas -seis de anúncios, uma de notícias locais e outra de notícias internacionais. No mês que passei ali, a primeira Guerra do Golfo estava prestes a estourar, e, na Itália, o primeiro governo de Berlusconi tinha caído. Inteirei-me de tudo porque em uma única página de notícias internacionais, em três ou quatro linhas, davam-me as notícias mais importantes.

PERGUNTA - Como a internet.
ECO - Vamos à internet para tomar conhecimento das notícias mais importantes. A informação dos jornais será cada vez mais irrelevante, mais diversão que informação. Já não nos dizem o que decidiu o governo francês, mas nos dão quatro páginas de fofocas sobre Carla Bruni e Sarkozy [atual presidente da França]. Os jornais se parecem cada vez mais com as revistas que havia para ler na barbearia ou na sala de espera do dentista.

PERGUNTA - Voltemos ao princípio, professor. O que o faz feliz?
ECO - Não sei. Eu já disse que não acredito nisso, mas, enfim, fico feliz quando encontro um livro que estava procurando havia muito tempo. Quando o compro e o tenho, olho para ele e me sinto feliz. Mas a sensação acaba ali. Enquanto a infelicidade é o que me provoca o fato de não ter este ou aquele livro. A verdadeira felicidade é a inquietude. É sair à caça, não matar o pássaro.

PERGUNTA - É raro: um espanhol e um italiano, uma hora e meia de conversa, e a palavra "igreja" só foi pronunciada três vezes.
ECO - Está ocorrendo um retrocesso ao século 19, quando havia um confronto entre o Estado liberal e a igreja. De quem é a responsabilidade por isso? Não é por acaso que esse confronto tenha se acirrado com a chegada de Ratzinger [o papa Bento 16]; portanto, talvez se deva à política clerical do novo pontífice. Sua luta contra a cultura moderna, o chamado relativismo, voltou aos grandes temas da igreja do século 19, que falava contra a revolução e contra a ciência moderna. Hoje, emergem muitas posições anticlericais, e muitas pessoas se declaram atéias. Ninguém estava pensando nisso antes. Subiu ao trono um papa que pensa como um papa do século 19.

PERGUNTA - O sr. escreveu que Napoleão viveu apenas a Revolução Francesa...
ECO - ... E eu vivi a Segunda Guerra Mundial, a queda do fascismo, a guerra "partigiana", a bomba em Hiroshima, a queda da União Soviética e a Guerra Civil Espanhola. Há uma maldição chinesa que diz: "Espero que vivas numa época interessante". Há gerações jovens que viveram apenas épocas tranqüilas, como a da Guerra Fria. O que eu disse sobre Napoleão com certeza está errado, porque ele não apenas viveu a Revolução Francesa como também a história de Napoleão. Rarará!
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A íntegra desta entrevista saiu no "El País". Tradução de Clara Allain .

sábado, maio 10, 2008

Feministas já foram Mães

No dia das mães, as feministas acreanas, mais uma vez, se calam. Ignoram que na Europa uma modelo de movimento feminista se organizou para que o Estado remunerasse o mais digno de todos os trabalhos - o de ser mãe.

Quando o dia 8 de março chegar, elas ocuparão espaços para exaltar as mulheres no mercado de trabalho, repetindo um discurso ultrapassado. Hoje, as feministas estão repensando o lar, a família, menos elas.

Por causa disso, escrevi um texto que critica essas feministas acreanas. Além de outros livros, consultei História das Mulheres, século 20, de Georges Duby e Michelle Perrot. Espero que goste.

__________________De Aldo Nascimento

Com os anos 60, século passado, os ventos trouxeram o festival de rock de Monterey (1967), quando surgiram Jimmy Hendrix e Janis Joplin; o de Woodstock (1969); o de Altamont (1969); e finamente o da Ilha de Wight.

Jovens dessa época questionavam o status quo; manifestavam-se contra a cultura oficial. A imprensa norte-americana denominou esse período de “contracultura”.

Nessa época, o movimento feminista, com suas formas definitivas, desorganiza a família patriarcal. A mulher mistificada, livro de Betty Friedan, inaugura um novo ciclo nos anos 60, concebendo o lar como tédio, espaço sem identidade.

Rasgaram Inocência
Mesmo com as críticas que esse livro possa propelir contra o patriarcalismo, admitamos que esse patriarcalismo de alguma forma protegia o feminino e exigia do masculino honra. Podemos ler essa mulher e esse homem na literatura, por exemplo, em Inocência, de Visconde de Taunay. Nessa narrativa romântica, Inocência e Cirino, casal apaixonado, lutam contra a lei patriarcal, mas saibamos que tal luta só existe porque essa lei impunha obstáculos.

Oposto a esse romantismo, Álbum de família, de Nelson Rodrigues, e Desengano, de Carlos Nascimento Silva, evidenciam a mulher desprotegida, incapaz de ser feliz com o outro. Assim, sem lar, ela não constitui laços afetivos, e o homem, sem encontrar resistência, obstáculo, impõe seu jogo, sua violência.

Pois bem, um modelo de feminismo, por exemplo, o acreano, rasgou Inocência para ter sua “liberdade” no mercado de trabalho e, para tanto, saiu de casa a fim de ser subjugado pelo capital e pelo patrão. Se não obedece mais ao marido, se não cuida dos filhos, da casa, ela agora acata as ordens do patrão e zela pela empresa.

Mulher-Salário
Fora de casa, a mulher de classe média paga a uma mulher da classe D, a empregada doméstica, para cuidar dos seus próprios filhos, sem pai. Trabalhadoras são mães? Os filhos só sentem seus carinhos após o expediente – nos grandes centros, elas saem de casa às 7 horas e retornam às 20 horas.

A casa deixou de ser um lar para ser dormitório. Com seus filhos agora são “educados” por domésticas, as feministas calam-se no dia das mães. Admiram a motorista de ônibus, classes C e D, porque ela transpira igual a homem, e permanecem indiferentes ao aroma dócil de quem tem tempo, classe A e B, para educar e para velar por seus filhos no lar.

Essas feministas herdaram das norte-americanas o discurso que exalta a mulher-capital, a mulher-empresa, a mulher-salário.

Bem diferente desse radicalismo agressivo norte-americano, o modelo europeu rearranja a tradição entre homem e mulher, reabilitando um diálogo entre passado (a tradição) e presente. As formas antigas entre homens e mulheres são recicladas, por exemplo, na França.

Feminismo Maternal
Quando as francesas buscam combinar a tradição e o presente, isso faz lembrar o feminismo maternal na Europa, ocorrido entre o final do século 19 e o início do século 20, história tão bem ignorada pelas feministas acreanas.

Na Grã-Bretanha, a feminista Alys Russel exigia uma remuneração maternal desde 1896. Em 1905, outra feminista, a Käte Schirmacher, critica suas colegas na Liga das Associações Femininas Progressistas por ignorarem a função social da mãe.

Não existe trabalho mais produtivo do que o da mãe, que, sozinha, cria o valor de todos os valores, que se chama ser humano”, ela proferiu na liga.

Somente em 1915, as americanas conheceram essas idéias por meio de Katherine Anthony. As feministas acreanas, classe média, até hoje desconhecem a importância da mãe e da família na sociedade, por isso, no segundo domingo de maio, calam-se. Ignoram a história das mulheres.

sexta-feira, maio 09, 2008

Matéria do poder público

Não comentarei sobre vacilos textuais e gramaticais, mas sobre tal proposta. Para isso, retirarei de cada parágrafo a idéia principal para depois comentar.
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Educação quer promover mudanças na prática pedagógica

O objetivo é elevar o desempenho escolar dos estudantes

As aulas de Português e Matemática dos alunos de 5ª a 8ª série do ensino fundamental, da rede estadual, vão ficar mais atraentes e dinâmicas. A iniciativa é da Secretaria de Estado de Educação (SEE), que vai capacitar professores de 18 municípios acreanos, através do Programa Gestão da Aprendizagem Escolar - Gestar.

O primeiro passo para consolidar a ação foi dado na última quarta-feira, 7, com a entrega dos materiais pedagógicos, cadernos de teoria e prática, aos docentes de Rio Branco. Nos outros municípios já houve a distribuição.

Durante um ano, período do curso, os docentes terão seis encontros presenciais para receberem orientação pedagógica e vivenciarem com os tutores, as experiências da sala de aula. O primeiro encontro presencial acontecerá no mês de junho.

Nas oficinas presenciais, coordenadas por um formador da SEE, os professores vão trabalhar interativamente o conteúdo dos cadernos. Os encontros envolvem dinâmicas, que motivam os participantes a relacionar os aspectos teóricos às suas praticas cotidianas em sala de aula, além de avaliações por meio de atividades didático-práticas entre outros exercícios. No final do programa, os estudantes envolvidos realizarão provas diagnósticas, as quais proporcionarão uma visão da mudança da prática pedagógica do professor.

Na disciplina de Matemática, serão trabalhados os seguintes temas: Matemática na alimentação; nos esportes e seguros; nas formas geométricas e na ecologia, enquanto que em Português, as oficinas se concentram em temas sobre Linguagem e cultura; Análise lingüística e tipos textuais.

O Gestar é um programa orientado para a formação continuada de professores do ensino fundamental. Envolvem avaliação diagnóstica, reforço nas dificuldades específicas dos estudantes e mudanças na prática docente, que reflitam a superação da idéia do professor centrado na mera transmissão de conteúdos, informações e técnicas.

As ações visam elevar o desempenho escolar desta modalidade, assim como ocorreu nas séries iniciais do ensino básico, onde a ação contribuiu com a qualidade e melhoria do ensino, comprovado no exame Prova Brasil, em que o Acre obteve resultados significativos. O programa é baseado nos Parâmetros Curriculares Nacionais e acontece com momentos presenciais voltados para o acompanhamento da prática e o apoio à aprendizagem dos professores cursistas .

Para a professora da escola Maria Chalub Leite, Fátima Santos, o curso possibilita aos docentes conhecerem novas práticas de ensino.

"A educação está diferente e a maneira de ensinar continua a mesma. O Gestar serve para situar o professor na realidade atual do aluno", comentou Fátima.

Partilhando da mesma opinião, Rejane Maia, da escola Paulo Freire, ressaltou que, além do programa trabalhar os conteúdos e as metodologias, também revê a relação aluno-professor. "O importante é mudar nossos hábitos. E quando a gente faz isso, há melhorias nas avaliações", concluiu a professora.

A técnica da SEE, Iracema Alvarez, espera que, por meio da capacitação dos profissionais, os alunos consigam desenvolver competências como ler, escrever e ter um raciocínio lógico, e isto só ocorre, de acordo com a técnica, quando se muda a prática pedagógica por meio de novas estratégias. "O Gestar não se preocupa com o conteúdo, pois este item o professor já domina, mas com a prática pedagógica", concluiu a técnica.
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Comentário

Há tempo, escrevo neste blog sobre Língua Portuguesa. Nessa matéria, o texto governamental, mais uma vez, reduz a qualidade de ensino a uma nova prática do professor, como se qualidade se centralizasse no corpo docente. A matéria tem o peso da superficialidade.

Depois que a Frente Popular chegou ao poder, ocorreu uma transformação importantíssima na escola pública, a semestralidade. Essa transformação, estrutural. Antes, um professor lecionava para 9 ou 10 turmas. Hoje, com um contrato, leciona para duas ou para três turmas.

Eu, por exemplo, em 1998, lecionei para 11 turmas no Cerb. Isso significa mais de 300 alunos. Atualmente, na escola Heloísa Mourão Marques, leciono para duas turmas, menos de 80 alunos. Isso é significativo, porque, quando se altera a estrutura, as relações humanas, segundo Bourdieu, transformam-se.

Depois disso, dessa semestralidade, a Frente Popular não promoveu uma reorganização do espaço escolar. Precisamos redefinir, por exemplo, o papel pedagógico das coordenações de ensino. Precisamos criar nas escolas os conselhos de disciplina e de turma.

Sem isso, ainda leremos matérias superficiais sobre educação neste Estado.

quinta-feira, maio 08, 2008

Ronda Gramatical

De Dílson Catarino

"Algumas fotografias não foram inseridas..."

Algumas fotografias de candidatos a prefeito não foram inseridas na urna eletrônica.

Mais uma inadequação gramatical retirada de um grande jornal brasileiro. É muito fácil realizar esta coluna no UOL Vestibular, caro internauta. Basta-me ler alguns jornais semanalmente que tenho assunto para o mês todo. Vamos ao assunto de hoje: qual a inadequação cometida pelo jornalista? É o uso da palavra "inseridas".

Ocorre que existem alguns verbos na Língua Portuguesa denominados de abundantes. São verbos que possuem dois particípios: um, mais longo, terminado em -ado ou em -ido, chamado de particípio regular, que somente deverá ser usado na voz ativa, ou seja, quando o sujeito praticar a ação verbal; outro, mais curto, com várias terminações, chamado de particípio irregular, que somente deverá ser usado na voz passiva ou como adjetivo.

Um exemplo fácil de verbo abundante é o verbo "entregar", já estudado por nós em uma coluna anterior. Na voz passiva, deveremos usar "entregue", e na voz ativa "entregado". Diremos, então, "ele tem entregado as encomendas" e "as encomendas são entregues por ele".

Outros verbos abundantes importantes são quitar, anexar e incluir, que terão como particípios para a voz ativa "quitado, anexado e incluído", e para a voz passiva, "quite, anexo e incluso". Teremos, portanto, frases assim: "Ele tem quitado suas dívidas" e "as dívidas foram quites por ele"; "Ele tem anexado as fotografias ao processo" e "as fotografias foram anexas ao processo"; "Ele tem incluído os nomes dos amigos" e "os nomes dos amigos foram inclusos por ele".

Mais exemplos? Então veja: imprimir: imprimido e impresso. "Ele tem imprimido muitos cartões"; "os cartões foram impressos por ele". Eleger: elegido e eleito. "Nós temos elegido muitos corruptos"; "os corruptos foram eleitos por nós".

O verbo da frase inicial - inserir - é abundante, portanto possui dois particípios: inserido e inserto: "Ele tem inserido os nomes dos amigos"; "os nomes dos amigos foram insertos por ele". A frase apresentada deve, então, ser assim reescrita:

Algumas fotografias de candidatos a prefeito não foram insertas na urna eletrônica.

quarta-feira, maio 07, 2008

Gramática de blog

"Nunca na história deste país um presidente da República adquiriu o direito de falar as besteiras que quizer e de seus auxiliares cometerem os desatinos que quiserem, até os de ordem ética e moral e nada, negativamente, voltar-se contra si, quanto o presidente Lula."

Retirado do blog de Altino Machado, o intelectual Narciso Mendes escreve às quartas-feiras nesse blog. O texto acima pertence a ele.

Antes de criticar as besteiras do presidente Lula, Narciso deveria olhar para suas besteiras gramaticais. Erra demais, por exemplo, "quizer".

Além disso, não tem a menor noção de vírgula. Quando acerta, acredite, é obra do acaso.

terça-feira, maio 06, 2008

Redação escolar













"Atualmente a TV faz parte de uma família. Aprendemos muito com ela, as vezes coisas boas e coisas ruins. Ela exibe vários programas basta você se adequar a um deles, tem jornais, desenhos animados, novelas, jogos de futebol."

Não iniciamos na escola pública acreana uma sistematização do ensino de Língua Portuguesa, no caso, Redação. Trabalha-se segundo a vontade de Deus. Quando não se acredita muito no Senhor, o professor nem leciona Redação em sala.

A introdução acima foi escrita por um aluno do primeiro ano do ensino médio. Pela manhã, o professor aborda de uma maneira. À tarde, leciona-se de outra forma. Se o aluno pedir transferência, ele perceberá que manhã e tarde não se combinam.

O que fazer com o texto do aluno? Como encontrar uma unidade de trabalho na escola pública?Quando havia só a gramática, os professores lecionavam de forma unitária: o conteúdo da tarde era igual ao conteúdo da manhã.

E agora? Há quase 12 anos no poder, a política educacional da Frente Popular não encontra uma resposta para esse cotidiano escolar, uma resposta a questões bem específicas de Língua Portuguesa para a qualidade de ensino.

Na sala desse aluno do ensino médio, entre 22 estudantes, 17 nunca estudaram Redação nas séries anteriores.

segunda-feira, maio 05, 2008

TV Aldeia



A TV deve dar exemplo quando escreve.

Acento grave, indicador do fenômeno da crase, antes de "serviço", é desserviço.

sexta-feira, maio 02, 2008

Assim morrem os pobres

Foto de Selmo Melo

Matéria de Gilberto Lobo






O fato ocorreu no bairro Plácido de Castro, final do bairro Sobral, capital. O pobre faleceu às 8 horas e, ao meio-dia, o corpo permanecia no barraco à espera da boa vontade do poder público.

Sugeri ao repórter saber como e quanto será o sepultamento desse corpo pobre. A família gastará quanto?

Família acusa Samu de negligência

Francisco Chaga da Silva, de 49 anos, morador no bairro Plácido de Castro, faleceu na manhã de ontem, dia 2, porque, segundo familiares, a equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi negligente.

Segundo Carlos César, vizinho que atendeu o paciente, Francisco Chagas começou a gritar no final da noite com fortes dores, mas não conseguia falar para explicar onde doía. “Teve uma hora que ele não conseguia nem gritar, a voz não saía”, acrescentou.

Por volta de uma hora da manhã, o atendimento do Samu foi solicitado. Conforme explicação de César, os médicos fizeram os exames no paciente sem removê-lo do local e disseram que ele apenas estava com frio devido à brusca queda de temperatura. Colocaram um cobertor sobre ele e saíram. Às 8 horas, Chagas faleceu.

“Ele não tinha nenhuma doença, era saudável, apenas gostava de beber muito e nunca tinha tido problema de saúde, essa foi a primeira vez, e o pessoal do Samu nem ligou, disseram que era só frio”, detalhou, Carlos.

Até às 11h30, o corpo permanecia sobre o sofá da sala à espera dos funcionários do Instituto Médico Legal (IML) para tomar as devidas precauções.

A coordenadora interina do Samu, enfermeira Necila Fernandes, informou que o Samu recebeu o pedido por volta de uma hora da manhã. Os familiares informaram que o paciente estava embriagado e que talvez o problema fosse esse.

No local, a equipe realizou os procedimentos padrões e constataram que o paciente estava bem, a pressão arterial estava nos padrões normais e o próprio Francisco havia dito que não sentia dor. “Estou bem”, disse, contrariando as explicações de Carlos César. Por causa disso, Francisco não foi levado ao hospital.
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Uma dúvida: como Francisco falou que estava bem se ele sentia muitas dores?