sábado, março 31, 2012

Beijo


Em uma turma, um bom aluno encontra-se encantado por uma jovem bem educada. "Professor, ela não é qualquer uma".

Imagino o primeiro beijo entre eles: igual àquele conquistado por casais seculares: batimento cardíaco disparado, suor nas mãos, circulação sanguínea intensa, sem chão, silêncio trêmulo.

No exato instante do toque, nuvens, nuvens, nuvens, e eles, extasiados, contemplam o brilho intenso do sol ainda que seus olhos estejam selados pelo silêncio à margem da alegria dos que beijam escondidos.



"O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar
"





Beijo







Em sua insana consciência,






o Amante jamais pensa como beijará
o ser 
Amado,

porque a essência do beijo

é não pensar.
Inebriar-se!

Uma vez no Beijo, digo,
uma vez entre
lábios,

línguas,
salivas,

chega-se ao céu...

ao céu da boca

com os olhos divagando
na escuridão. 


Já não há mais
vontade de ver o mundo,
por isso fechamos os olhos
para sentir na boca 
a fartura da alegria mais profunda.      

Tudo no beijo é
sobra,
excesso,
largura.

Nada no beijo é
exato, 
preciso,calculado ou
nulo.

Quanto mais errado,
quanto mais desordem ele excita, 
a língua mais escapa, foge,

escorre.

Quanto (dê)mais a língua se movimenta
no precipício

a boca deseja mais ainda
perder,
na boca Amada, o juízo.

Mas quem disse que o beijo
são só os movimentos da carne?


Antes de eu ter minha boca de volta
ao normal,

antes de eu sair de ti,

deixei na tua não só o pecado molhado
da saliva,


mas meu sopro...
sinta! 

meu sopro de vida!
    

Ganhei 10 aulas em dois sábados

A esquerda acriana e os sindicatos da educação
foram às ruas de Rio Branco hoje para que
a memória do golpe de 64 não morra do mal de Alzheimer.
Adoro a cor rosa, acho tão feminina (Ui!)

Hoje, 31 de março, dia em que a esquerda e em que os sindicatos da educação do Acre saíram às ruas para que os 48 anos de golpe militar de 64 não sejam esquecidos,

eu confesso que tenho dado meu golpe na escola onde leciono.

Eu não presto, principalmente, nas gestões da professora Osmarina e, agora, na gestão do professor Waldir. Meus amiguinhos de micropoder.

Serei claro como a água do Saerb.

Meus alunos assistiram a um filme no sábado passado segundo meu interesse mesquinho de receber aula e mais aula extra, aulas extra ou aulas extras.

Sábado passado, recebi 5 aulas por uma projeção cinematográfica de 2h20min. Safado. Canalha.

Por causa disso, sábado sim e sábado não, meus alunos assistem a bons filmes, o próximo será "Anaconda"; no próximo sábado, "Homem-Aranha 1".

Se a coisa for assim, em outubro - ou até antes -, concluirei minhas aulas.

Mas tem coisa melhor do que isso: a gincana de conhecimento.

Com a finalidade de receber mais 5 aulas, meus alunos das turmas A e B disputaram, hoje, dia do golpe, os conhecimentos  

da obra "Álbum de família";

da   "Nova Ortografia";

dos textos "A força das palavras" (material da Secretaria de Educação), de Lya Luft, "Grande Amor", de Cruz e Sousa;

das escolas literárias "Naturalista",  "Realista" e "Simbolista"; e

dos filmes "Lavoura Arcaica" e "O carteiro e o poeta".


Como a secretaria exige que o professor seja criativo, porque todas as condições são ofertadas pelo Estado para isso, eu sei que o governo aumentará meu salário, deixando-o alto e forte como Anderson Silva, algo perto de um UFCDAS.


Também sei que, assim como o educador Iraílton, serei premiado e convidado para trabalhar no MEC, porque eu poderia ter dormido até meio-dia ou ter assistido ao  programa Teletubbies neste sábado, mas acordei cedo para alegrar meus alunos com uma gincana do conhecimento. Tudo em nome de 1 + 1 + 1 + 1 + 1 = 5 aulas.

E não é só.

Em minha alma à margem esplêndida, sinto em meu ovário que conseguirei um cargo importante ao lado do diretor Waldir (por exemplo, puxa-saco) para, em uma segunda situação de puro interesse, trabalhar na secretaria.

Bem, depois que eu disse todas essas verdades, hoje, 31 de março, sairei com o PT, com o PC do B, com o P-SoL, com o PSB e com o PPS pelas ruas de Rio Branco para dizer ao Luan Santana e ao seu povo que eu não me esqueci do golpe militar de 1964.

   

Mas não é hoje que tem a reprise dos teletubies na tevê?



Poderia ter ficado em casa com meus amiguinhos








 

Duas ideias à equipe técnica da SEE

Em pleno período de velocidade de arquivo pela internete - sim, com "e" no final, existe registro de gramático -, eu proponho a invenção da roda.

A equipe de Língua Portuguesa e (de Literatura)  da Secretaria de Educação do Acre possui bons materiais sobre as disciplinas.

Na última reunião, por exemplo, a professora queria passar arquivos para o seu "pendraive" - aportuguesamento é questão ideológica -, mas, como estava com pressa, não pôde.

Eu sugeri que a equipe colocasse seus arquivos no sítio - aportuguesamento é ideológico - da Secretaria da Educação.

Com isso, um professor de Mâncio Lima ou de Cruzeiro do Sul poderiam acessar a página da secretaria para realizar a transferência para seu computador.

Outra:

a secretaria poderia deixar um espaço chamativo para os professores da rede pública estadual publicarem seus textos, suas opiniões e suas críticas propositivas inerentes às suas disciplinas.

Espaços virtuais para para os professores interessados pensarem a Língua Portuguesa na escola ou até deixarem propostas de atividades em sala de aula.

Mais: como o governo petista faz propaganda de estrada, ele também poderia realizar boas propagandas para divulgar esse tipo de comunicação virtual a favor da educação.

Como o PT é um partido revolucionário no campo das ideias educacionais, eu gostaria de deixar, no sítio da Secretaria de Educação do Acre, um convincente artigo de opinião sobre Literatura e sobre Língua Portuguesa.      

Veio da Secretaria de Educação

Faz uns anos.


Ouvi de um professor (ou terá sido de uma professora?) da equipe de Língua Portuguesa da Secretaria de Educação do Acre que gramática só tem sentido se for no texto.

Quando parte de uma equipe da secretaria afirma isso, dissemina um grande equívoco nas escolas públicas. Melhor: um imenso erro.

Na escola Heloísa Mourão Marques, por exemplo, o estudo gramatical está deixando de existir, porque esse estudo realiza-se somente no texto - se é que se realiza.

Mais do que estudar substantivo ou orações adverbiais, o pensamento gramatical -  Protágoras, Platão, Aristóteles - é uma forma de organizar, por exemplo, as relações entre professor e aluno e até de administrar uma escola.

Não irei, no entanto, tão longe.

Pergunto:

em quantos textos os alunos registram o fenômeno da crase?

Nesses meus dez anos de Heloísa Mourão Marques, não me lembro de ter visto o acento agudo, indicador do fenômeno da crase.

Ora, formas variadas de escrever implicam formas variadas de expressar o pensamento. Minhas ideias ou meus conteúdos precisam de formas ou de significantes para haver variações, deslocamentos, expansões do meu raciocínio.

Quem leu bem "Estética da Criação Verbal", de Mikhail Bakhtin, sabe que significantes permitem a distensão do raciocínio.  

"Se me sirvo da língua" - e não "se uso a língua", como poeticamente escreve o sedutor  Merleau-Ponty -, falar ou escrever "à" não só expõe um conhecimento, mas esse significante (
"à") acolhe e amplia a ideia, o conteúdo, o raciocínio.

"Sim, então dê ao aluno textos para ele saber usar crase", diz o representante da secretaria.  

Muita abstração. Aplique a sugestão do representante na realidade.

Aplicou?

O professor deverá procurar durante um bom tempo textos e mais textos para o aluno entender, nos textos, as muitas variações do fenômeno da crase.

Possível?            

Oposto ao técnico da secretaria.

O professor, servindo-se do pensamento gramática, deverá retirar as partes do todo, ou seja, ele dará ao aluno uma relação de exercícios descontextualizada de como se servir do fenômeno da crase.

Ora, não é isso que Celso Pedro Luft registra em seu livro "Decifrando a crase", da editora Globo? Ele não explica crase nos textos. Ele explica por meio de frases-oracionais isoladas; Celso, contudo - aí é muito interessante -, constrói textos para explicar.  

Hoje, no Acre, por causa da banalização das palavras "produção textual" e "leitura", não se estuda gramática fora do texto, exemplo, repito: Celso Pedro Luft usa frase isoladas e, por causa delas, constrói texto para explicá-las.

O pensamento gramatical retira do todo (o texto) a parte para ser estuda em si mesma. Lecionada essa prática, deve-se, evidente, em outro momento, alterar construções sintáticas dos alunos para eles se servirem do fenômeno da crase.

"Aqui, nesta parte, você pode retirar este verbo e, no lugar dele, colocar outro - pesquise no dicionário - que possibilite com sua regência a preposição 'a'. Repare, após o verbo com a preposição 
'a', existe um substantivo feminino, existe o artigo 'a'. Neste caso, se você encontrar o verbo adequado, realizar-se-á a crase, ou seja, a contração entre preposição e artigo", explica o professor ao aluno na aula de reconstrução textual.

Como se trata de um exemplo importante para todos, o professor escreve na lousa.



Assim, o aluno poderá escrever uma frase-oracional mais elaborada porque, na aula de gramática pela gramática, o aluno aprendeu por meio de exercícios separados do texto.

Na escola Heloísa Mourão Marques, o aluno não estuda gramática à parte do texto.

Tudo bem, tudo bem, nos próximos anos, o governo federal apresentará um currículo nacional, onde o aluno deverá estudar gramática.

Como alguns colegas de profissão são incapazes do milagre da antecipação, em um futuro bem próximo, eles farão o que o "tio mandar", no caso, o Ministério da Educação.

Só para concluir: assim como existe o cálculo  matemático ou a continha à parte de uma equação de 2º grau a ser resolvida (o todo), assim também existe a gramática à parte do texto. Um não anula o outro.

Os dois métodos completam-se: gramática à parte e gramática no texto.   
  

sexta-feira, março 30, 2012

Este texto, aos meus alunos

Marcas de Batom no Banheiro...
 
Numa escola pública estava ocorrendo uma situação inusitada:
meninas de 12 anos que usavam batom,
todos os dias beijavam o espelho para remover o excesso de batom.

O diretor andava bastante aborrecido,
 porque o zelador tinha um trabalho enorme para limpar o espelho ao final do dia.
Mas, como sempre, na tarde seguinte, lá estavam as mesmas marcas de batom...

Um dia o diretor juntou o bando de meninas no banheiro
 e explicou pacientemente que era muito complicado limpar o espelho
com todas aquelas marcas que elas faziam.
Fez uma palestra de uma hora.

No dia seguinte as marcas de batom no banheiro reapareceram...

No outro dia, o diretor juntou o bando de meninas
e o zelador no banheiro,
e pediu ao zelador para demonstrar a dificuldade do trabalho.
O zelador imediatamente pegou um pano,
molhou no vaso sanitário
e passou no espelho.
Nunca mais apareceram marcas no espelho! 

Moral da história: Há professores e há educadores...
 
Comunicar é sempre um desafio!
Às vezes, precisamos usar métodos diferentes
 para alcançar certos resultados.

Por quê?

•Porque a bondade que nunca repreende não é bondade:
é passividade.

•Porque a paciência que nunca se esgota não é paciência:
é subserviência.

•Porque a serenidade que nunca se desmancha não é serenidade:
 é indiferença.

•Porque a tolerância que nunca replica não é tolerância:
 é imbecilidade.
 Fonte: professora Osmarina.

Mais fácil fazer estradas. Difícil é a Língua Portuguesa

Os governadores petistas, ao longo de 12 anos, construíram estradas, asfaltaram ramais e ruas, ergueram pontes.

E olha que construir uma estrada entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul é muito trabalhoso. Leva anos.

Os governadores petistas só não conseguiram qualificar o ensino de Língua Portuguesa e de Literatura.

Talvez pelo fato de a distância entre a ignorância e o saber ser bem maior do que as estradas.

Responder aos apedrejamentos contra a Língua Portuguesa nas escolas públicas acrianas é muito mais do que manejar tratores ou cálculos de engenheiros.

Hoje, participei na Secretaria de Educação do Acre de uma reunião de Língua Portuguesa.  Segundo eu ouvi, o atual secretário de Educação quer que a Olimpíada de Língua Portuguesa execute saltos ornamentais no currículo. Um porém: não existe nem currículo de redação nas escolas públicas acrianas.

Alguns colegas dirão que o "Aldo só fala merda", mas esses colegas falam assim porque adoram receber "estrelinhas da tia", no caso, da secretaria.  

Falar sem conflito, sem polêmica, sem crítica; não apontar problemas, soluções; não tecer críticas abertas para preservar a boa imagem.

Isso significa, no mínimo, não ser incomodado, e, dessa maneira, "o politicamente correto" mantém sua aparência: o jeito incólume de falar, o timbre franciscano de bom-moço, as concordâncias nominais sem as devidas divergências verbais. Um árcade.

Boa aparência é tudo. Ninguém exige de você, fica-se na paz, mantém a indicação para trabalhar, quem sabe, no futuro, em gabinetes.

Comte deixou em "Catecismo Positivista" que a única liberdade possível é a adequação. Sou inadequado.

Quando a secretaria afirma que exigirá Olimpíada de Língua Portuguesa no currículo, ela revela que ignora os reais problemas desse ensino na sala de aula. Pior: está muito longe de resolvê-los.

O início da qualidade de ensino passa, primeiro, pela administração ou pela gestão escolar.

É preciso haver lei que regulamente os conselhos de disciplina, os conselhos de turma, a escolha dos coordenadores de ensino. Além disso, o atual modelo de democracia escolar precisa ser revisto. Tudo isso para ontem.

Não se ergue uma casa sem uma firme estrutura. Não se educa o filho sem saber organizar bem as palavras.

Sem isso, a qualidade de ensino de Língua Portuguesa não passa de uma enfadonha repetição discursiva.

Acho que vou trabalhar no Deracre. Lá, as coisas acontecem, por exemplo, estradas.

terça-feira, março 27, 2012

A sociologia da poesia


No início do ano letivo, deparei-me com uma surpresa: o prof. Hildo Montezuma na escola Heloísa Mourão Marques. 


Antes, diretor do ensino médio; hoje, sala de aula. Hildo saiu do gabinete para retornar à escola, fazendo o percurso contrário ao dos militantes políticos. Hildo é membro do PC do B.

Não demorei muito para conversar com ele. Sempre bom ouvir suas críticas por serem ponderadas e agudas. Hildo é o tipo de professor que não tem medo de pensar.

Hildo, um adolescente com seus 40 anos

Ele leciona sociologia para 15 turmas. Isso mesmo, 15 turmas ou seiscentos alunos. Eu chamo isso de "qualidade de ensino do primeiro mundo".


Ainda sim, esse professor de sociologia e militante do PC do B propôs que professores e alunos recitassem poesias na hora do lanche.

No primeiro dia, Hildo declamou versos de Maiakóvski, poeta "assassinado" pelo Partido Comunista da União Soviética.

No segundo dia,  minha vez. Hildo me chamou. Peguei o microfone, subi à cadeira, abri o livro de Ferreira Gullar e, diante de muito alunos, recitei "Dois e dois = Quatro".

A primeira estrofe:

Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena.


Pessoas como Hildo possibilitam isto: bons encontros ou sinceros encontros. Bom dividir uma escola pública com um ser humano que não se contenta com a rotina escolar. A sociologia deseja poetizar.

Para alguns, pode ser insignificante subir a uma cadeira para recitar grande nomes da literatura, mas é, para nós, outra forma de se relacionar com os alunos, com os jovens.

Expomos a adolescentes nossos 30, 40, 50 ou 60 anos de idade que apreciam a boa palavra, a sedutora poesia.

Concluída a estrofe, fala-se aos comensais "devolvam o prato à cantina".

Para quem se interessar, a Escola de Frankfurt, na pessoa de Adorno, publicou um ótimo livro sobre a linguagem lírica ou linguagem poética, chama-se "Lírica e  Sociedade", um expressivo trabalho de sociologia.

Leia este breve trecho:

O eu que ganha a voz na lírica é um eu que se determina e se exprime como oposto ao coletivo, à objetividade.


Vladimir Maiakóvski [1893-1930]

Leia com doçura a poesia recitada
por Hildo Montezuma


Fiz ranger as folhas de jornal

abrindo-lhes as pálpebras piscantes.

E logo

de cada fronteira distante

subiu um cheiro de pólvora

perseguindo-me até em casa.

Nestes últimos vinte anos

nada de novo há

no rugir das tempestades.



Não estamos alegres,

é certo,

mas também por que razão

haveríamos de ficar tristes?

O mar da história

é agitado.

As ameaças

e as guerras

havemos de atravessá-las,

rompê-las ao meio,

cortando-as

como uma quilha corta

as ondas.









   

























































Obrigado, comunista, por este momento poético e por outros que virão!!! 

domingo, março 25, 2012

Escola e Cultura

Se educação fosse a prioridade das prioridades para a Frente Popular, a escola seria também um belíssimo espaço cultural.

Mas nada de novo na educação acriana, somente o óbvio se mantém. O trivial.


Deveria haver ótimas salas de cinema em nossas escolas públicas com ótimos acervos de filmes nacionais e internacionais.

Mas cultura nunca foi o forte da Frente Popular. No ano passado, por exemplo, não houve a bienal do livro e muito menos a vinda de grupos teatrais de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Minhas Gerais. Para que serve mesmo a Usina de Arte João Donato no governo do Tião?

Estrada e pontes nos darão identidade cultural, não é mesmo, governador? Quando um babaca de São Paulo afirmar na rede social que o Acre não existe, que aqui só mora gente inferior, diremos a ele como defesa que aqui tem ponte, viaduto e sinal de trânsito cronometrado como as cidades grandes, por isso somos desenvolvidos, não é mesmo, prefeitos?

(KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK)

Lugar de identidade regional chama-se   filmoteca, localizada na igual charmosa Biblioteca do Estado.

Raro neste país aluno de escola pública ter acesso a um espaço tão elegante e simples para a formação de jovens. O ambiente também nos educa.

Só lamento haver um só ambiente desse para nossos alunos. Filmotecas deveriam ser edificadas nas escolas.

De forma muito educada, muitos jovens assistiram a uma obra-prima do século 21 segundo Bernardo Bertolucci, um dos maiores cineastas do mundo.

Complexo, chato para alguns estudantes, "Lavoura Arcaica", de Luís Fernando Carvalho, provoca a inteligência por causa de seu estranhamento estético, por causa de ser um filme autoral. Ele faz pensar, muito diferente dos nossos políticos e dos sindicalistas da educação.    


Saída. Uma juventude levanta-se às 7h30 para assistir a um filme  

Sábado, ontem, 24 de março, às 7h45min, saí de casa para eu me encontrar com mais de 120 alunos.

Muitos não estão  nas fotos porque eu não esperei todos saírem da charmosa filmoteca. 


Na saída, uma parte dos 120 alunos. Destaco a educação deles

Há um bom tempo, não passava essa película de Luís Fernando.

Com essa obra, desejo que eles percebam conceitos


importantíssimo para a vida, por exemplo, ordem, prazer, obediência, paixão, lei, desobediência, família, sexo.

No filme, bem diferente do dicionário, a palavra é relação entre indivíduos; é vida na verossimilhança cinematográfica.

No filme, a palavra é exemplo em ação. Em 1990, eu já lecionava com bons filmes. Hoje, após 22 anos, não consigo imaginar aulas de literatura, de história, de filosofia, por exemplo, sem a presença mágica da 7ª Arte.

Sala quase cheia. Oito horas. Minutos depois, poltronas,
todas, ocupadas. Alguns ficaram de pé; outros, sentados
no corredor.   







Bem vestidos, comportaram-se bem. Não houve confusão. 



Alguns acharam o filme "chato", porque,

como as palavras predominam mais que as imagens, estas
passam lentamente. Entender um filme como esse é crucial 
entender as palavras e a relação entre elas.



O filme "
Lavoura Arcaica" é chato, porque não é
Tela Quente.






A escola deve priorizar filmes autorais, os que exigem de

alunos a interpretação, a mensagem implícita, aquela que
o adolescente precisa (des)cobrir.







A próxima película terá conteúdo contrário ao de Luís

Fernando Carvalho. Vinculada aos valores do naturalismo,
eles assistirão a "Amarelo Manga", em 26 de maio,


     


na charmosa filmoteca.



Se Deus permitir, a gente se encontra lá.



No Rio de Janeiro, em locais com sala de cinema, há também livrarias.


Compra-se o livro e páginas são vistas em forma de filme.


Depois, professores de literatura e de filosofia, por exemplo, debatem com os cinéfilos sobre o que foi visto.


Em abril, na escola, o  mesmo filme será analisado por mim.


Algumas cenas serão congeladas para o aluno perceber as palavras que compõem as imagens.

Que coisa feia!

Embora tenha sido beneficiado pela lei, sua condição de senador é ilegítima, porque não recebeu um voto sequer da população. O cidadão comum não o legitimou.


Seu mandato, portanto, é um tiro à queima-roupa contra a democracia. Que coisa feia! 


Proponha, senador, uma lei que não admitirá suplentes como o senhor e outra que não aceitará pensão para ex-governadores.


Entretanto, Aníbal propõe o mesmo plebiscito. O cara gosta de gastar dinheiro público e gosta de perder pela segunda vez.


Aproveite as mordomias do poder, senador, porque a população jamais votará em papagaio de eleição.

Não digo como petista, mas, como evangélico, o senhor deveria levantar a voz da justiça -pensão para ex-governador não é justo.

Será que isso é justo aos olhos de Deus, senador?


sexta-feira, março 23, 2012

Os gênios nunca se ausentam


Quando uma individualidade como Chico Anysio despede-se da vida para sempre, a inteligência tomba como órfã.

A cultura deste país ficou mais pobre. O Riso entristeceu-se.

segunda-feira, março 19, 2012

MetáFORAS


Carnaval e Parada Militar. Se pedirmos aos alunos escreverem sobre a festa de Momo e sobre a festa militar, eles colocarão ideias ajustadas ao desfile dos soldados.

Em relação aos verdadeiros princípios do reino de Momo, ideias ficarão desajustadas.

Não só os alunos, mas instituições que representam a cultura do estado não sabem pensar o sentido verdadeiro do Carnaval.

Sobre Momo, pulsa no significante a deformação  do que é fantasia, máscara, o bobo.

Neste final de semana, assisti ao belíssimo e significativo filme "Doutores da alegria". Trata-se de uma aula sobre a história e a importância da metáfora, da fantasia, da máscara, da alegria, do prazer. Do palhaço. Do bobo.

      

 

domingo, março 18, 2012

Quando Deus é o Mal

Quem é Deus na língua de certos evangélicos? Serpente, Mal com aparência de Bem. Segundo a revista Veja, o pastor Marcos Pereira, 55 anos, extrapolou as fronteiras de sua igreja, a pentecostal Assembleia de Deus dos Últimos Dias, com sede no Rio de Janeiro e com filiais no Paraná e no Maranhão.
 O número do processo não é o da besta, 666; porém, mesmo assim, o conteúdo do processo 902-00048/2012 possui a monstruosidade do Mal.

O pastor é acusado de encenações de cura pela fé, estupro, tortura de criança e relações criminosas com os marginais aos quais esbravejava promessas de “salvação do demônio”.
Pela palavra de Deus (?), o pentecostal Marcos cobrava 20 mil reis para pregar na favela. Judas recebeu bem menos para trair Jesus.


Um dos nomes que o acusa é José Junior, 43 anos, coordenador da ONG AfroRegae. “Trata-se de um psicopata”. O pastor tinha um plano para matá-lo.
Matar, ele pode, mas seus fiéis são proibidos de beber refrigerante, de ouvir rádio, de ver televisão e de tomar remédio, porque a igreja encarrega da cura, desde que o fiel pague uma taxa extra via boleto bancário, distribuído durante a pregação.
Como escreveu certa vez Nietzsche, “Deus também tem seu próprio inferno, que é amar aos homens”.
Marcos, no entanto, não está só. A Igreja do Evangelho Quadrangular tem 3 milhões de membros e são cerca de 15 mil igrejas espalhadas por este “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”.
O seu pastor arrecada por ano meio bilhão de reais. O nome dele, Mário de Oliveira, acusado de encomendar assassinar, “em nome de Deus”, sua cunhada por causa de R$ 800 mil reais.
O Mal é aparência, e aparência é a verdade, bastando somente isto: em nome do Senhor, seduzir.

segunda-feira, março 12, 2012

Leitura em sala de Cruz e Sousa



Nesta semana, iniciei análise da poesia "Grande amor", de Cruz e Sousa. Poderia ter ofertado outros versos desse  poeta negro, mas permaneci com esses versos.

"Grande amor", tratando-se de leitura, é um texto dificílimo. Hoje, começamos com os dois primeiros versos da primeira estrofe.

Grande amor, grande amor, grande mistério
Que as nossas almas trêmulas enlaça...

Para compreender, é preciso colocar na ordem sintática direta (sujeito + verbo + complemento) porque, além de compreender a leitura, o aluno saberá que a sintaxe dele na redação precisa de organização.

Para colocar na ordem, ele deve encontrar o verbo, no caso, "enlaça". Quais termos recebem ação do verbo? Grande mistério.

Alunos disseram que o sujeito é "as nossas almas". Expliquei então que o verbo está no singular, ou seja, não concorda com "as nossas almas", plural.

Dito isso, a ordem ficou "grande mistério enlaça as nossas almas trêmulas". Esse exercício de colocar na ordem sintática direta é uma forma de o aluno perceber a relação interna entre os termos sintáticos.

Colocado o verso na ordem, é preciso refletir sobre a palavra. Mais: sobre conceito. Qual o sentido do "mistério"? O aluno pode ir ao dicionário, mas o dicionário não basta, é preciso situar a palavra na vida, na realidade social. Onde "mistério" surge mais na sociedade?

Qual o sentido do verbo "enlaça"? Qual o sentido de "alma"? Qual a relação de "trêmulas" com outros termos em outros versos?  Qual o sentido de 
"trêmulas"?

domingo, março 11, 2012

Prova diagnóstica

Todo ano, a Secretaria de Educação do Acre exige que as escolas submetam seus alunos a uma prova diagnóstica para que o professor saiba a real situação do corpo discente em cada disciplina.

A ideia é boa.

Neste ano, a minha prova diagnóstica seguiu o caminho dos "descritores". Confesso que exige muito mais tempo para o professor corrigir e lançar os dados, mas a ideia dos descritores deve ser mantida.

De minas quatro turmas do 2º ano do ensino médio, todas, sem exceção, apresentaram menor porcentagem de acerto no "descritor 15".

Turma A (37 alunos): 3% de acerto;
Turma B (33 alunos): 6% de acerto;
Turma C (37 alunos): 8% de acerto; e
Turma D (25 alunos) 12% de acerto.

O descritor 15 indica que nossos alunos ignoram
 COERÊNCIA E COESÃO NO PROCESSAMENTO DO TEXTO, ou seja, eles não sabem estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios etc.

Um jeito de melhorar a habilidade ligada a esse descritor é propor exercícios de articulação das orações no período. Nessa situação, muitas vezes, é possível estabelecer relações lógico-discursivas unindo as mesmas orações com conjunções de diferentes significados. Assim, há a reflexão sobre a relação entre as orações e os sentidos que podem ser construídos com cada conectivo.

Identificar o descritor sem propor solução é o mesmo que identificar a doença sem propor um remédio.

Esse problema do descritor 15 é predominante porque na escola acriana não há leitura de narrativas complexas, não há refacção textual em sala de aula e não há o estudo gramatical.

As construções sintáticas de nossos alunos do ensino médio são péssimas, assemelhando-se a uma 5ª série. Eles, por exemplo, saem do ensino médio sem dominar estruturas sintáticas das subordinadas adverbiais, ignorando, com efeito, a relação entre causa e efeito, entre oração principal e oração concessiva.

Haver prova diagnóstica sem propor solução é ineficaz.
    

quinta-feira, março 08, 2012

Uma mulher esquecida


Hoje, 8 de março, um nome foi esquecido. No dia da mulher, ela jamais esteve na memória dessa data.

Jamais.

Preterida pelo feminismo de caráter marxista, suas ideias nunca estiveram nas palavras das feministas acrianas.

Nunca.

Essa mulher esquecida afirmou em 1905 que o verdadeiro trabalho é o trabalho doméstico, porque essa trabalho cria valores.

Um desses valores, ser mãe.

Alemã, ela discordava do feminismo que defendia o trabalho das mulheres nas fábricas.

Hoje, por causa dela, países desenvolvidos pagam a mulheres cujo trabalho é doméstico, para que elas eduquem seus filhos, para que deem afeto a eles.

O pensamento de Käte Schirmacher[1865-1930] fascina por estar além de seu tempo, trancafiado pelo feminismo marxista.

"História das Mulheres - O Século XX", de Georges Duby e de Michelle Perrot. As feministas acrianas deveriam lê-lo. Mais: as mulheres deveriam compreender essa mulher.

Ela está em minha memória. Não está esquecida.

    

quarta-feira, março 07, 2012

Leitura em sala de aula


Amanhã, concluirei com os alunos a leitura de "A força das palavras", da escritora e articulista Lya Luft. 

Esse texto encontra-se em um material da Secretaria de Educação do Acre.    

Ao todo, foram oito aulas. Consegui chegar à metade do texto, porque a ideia de leitura em sala de aula não significa encontrar as características do "gênero textual"; mas, segundo bons professores e bons autores de livros, desconstrução.

Em maio de 2011, a Secretaria de Educação do Acre distribuiu o "Caderno 4", um bom material para o curso de capacitação, onde está escrito na página 5:

"A informação detalhada sobre as características específicas dos gêneros é imprescindível somente para o professor. Esse tipo de conhecimento não deve se converter em aulas específicas porque não é dele que depende a possibilidade de ler e de escrever bem."

Ler na sala de aula, portanto, não é falar de gênero mas de desconstrução, sabendo que essa desconstrução relaciona-se a problemas redacionais dos alunos.

Não é a leitura em si, mas sua relação com problemas redacionais.   

Desconstrução"A Força das Palavras", de Lya Luft 

1º parágrafo
Palavras assustam mais do que fatos: às vezes é assim.

1. A aula inicia-se com essa frase-oracional. Nela, o aluno precisa retirar as palavras principais. Alguns não sabem. Eles, entretanto, devem saber que as palavras em uma frase-oracional não estão isoladas, havendo, pois, relação entre elas, ou seja, uma relação entre sujeito e predicado. Qual termo recebe informação do predicado? Quais os termos principais do predicado? Tais perguntam implicam "desmontar" a estrutura sintática. A leitura em sala é, também, gramática;
       
2. Depois da sintaxe, saber o porquê de "palavras" assustarem mais do que fatos. Para isso, esta pergunta: o que significa "fatos"? O aluno irá ao dicionário; porém, em minhas aulas, o dicionário não basta, porque é preciso criar uma imagem para a palavra, uma cena, uma relação com a vida. Dada as respostas para "fatos", o significado oposto de "palavras". E assustar?;

3. Após isso, explico o uso de dois pontos.   

2º parágrafo
Descobri isso quando as pessoas discutiam e lançavam palavras como dardos sobre a mesa de jantar. Nessa época, meus olhos mal alcançavam o tampo da mesa e o mundo dos adultos me parecia fascinante. O meu era demais limitado por horários que tinham de ser obedecidos (por que criança tinha de dormir tão cedo?), regras chatas (por que não correr descalça na chuva, por que não botar os pés em cima do sofá, por quê, por quê, por quê...?), e a escola era um fardo (seria tão mais divertido ficar lendo debaixo das árvores no jardim de casa...).

1. Parágrafo longo, mas só compreendo o todo por meio das partes, quais sejam, os pontos contínuos. Ponto contínuo por ponto contínuo; 

2. Nesse parágrafo, uma constância em minhas aulas: a retomada de ideias. Para tanto, o uso de "isso" indica a retomada de que ideia? Os alunos devem responder. Caso não haja resposta, eu explico;

3. Outra vez, descobrir o significado dos termos, nesse caso, discutir e lançar. Depois, entender o porquê de colocar na sequência "discutiam" e "lançavam";

4. Por que a escritora escreveu "mesa de jantar" e não "de almoço". O que a "mesa de jantar" representa? É um objeto? No ambiente da casa, ela é simbólica? Mas o que é o simbólico? Professor, onde nós nos alimentamos é "sagrado". Mas qual o sentido de sagrado? Dê-me um exemplo de a palavra ocorrendo na vida.     

4. Palavras são dardos. O que são "dardos"? Sim, mas qual o sentido de "dardos" no texto? Dadas as respostas, tarefa para casa: assistam ao filme "O carteiro e o poeta" para que me expliquem o que é linguagem figurada. Por que o filme? Porque a palavra não está em estado de dicionário; a palavra está criando ações, imagens, vida. Qual a importância da figura de linguagem na vida humana?   


Isso é desmontar o texto. Ler em sala é significado da palavra no dicionário; é o sentido da palavra na imagem, na vida; é estrutura sintática; é a relação entre as partes; é encontrar as especificações, é retomar as ideias. Isso demora.

Por causa disso, não concluí a leitura em oito aulas, e nem deveria, porque o aluno precisa realizar a sua leitura sozinho para depois submeter-se a uma prova.

O professor, primeiro, deve ser o exemplo de leitor, e o aluno deve perceber como o professor lê.

Após essa desmontagem, o aluno saberá sobre "gênero textual", no caso, "a força das palavras". Para quem escreve? Qual a característica desse gênero?