segunda-feira, outubro 22, 2007

A ética dos robôs


De Aldo Nascimento

Depois da revolução industrial no século 18, conseqüência também de investimentos na educação, a cova secular entre Europa e países como Brasil só tem se tornado mais funda.

Aqui, país do samba e do futebol, o pentacampeão do mundo, a falta de ética na vida pública parece dar um show de bola no povão. Na Europa, Reino Unido, o debate sobre a ética dos robôs revela que nós, nação com os piores índices educacionais, perdemos o mouse da história.

Para os países desenvolvidos, enviamos mão-de-obra barata, nós não precisamos pensar no velho continente. Pois bem, daqui a alguns anos, a Europa não precisará de nós nem como garçons ou como lavadores de prato - os robôs humanóides nos substituirão.

"Bill Gates, cuja Microsoft acaba de desenvolver um sistema operacional padronizado para esse tipo de máquina, acredita que a indústria da robótica, como a dos computadores pessoais 30 anos atrás, está às portas de uma forte expansão", escreveram FRANÇOISE LAZARE e PHILIPPE MESMER no Le Monde.

Leia com atenção o que os dois registraram no jornal francês.

Podem votar?

Sob o título "sonhos utópicos ou máquinas melhores", os especialistas discutem aquilo que será preciso prover aos robôs à medida que sua inteligência artificial se desenvolva. Será que terão direito de voto? Serão forçados a pagar impostos, a prestar serviço militar?

De acordo com o estudo, caso os robôs participem da força de trabalho e, portanto, do crescimento da economia, será necessário fornecer a eles, por exemplo, uma cobertura de seguro social que garanta o bom funcionamento de seus equipamentos. Como aponta o texto, um computador, que legalmente não é considerado uma pessoa, não poderia ser responsabilizado judicialmente por qualquer delito. Seu fabricante, no entanto, poderia proteger seus direitos de propriedade intelectual.

No Japão, os avanços não se comparam aos europeus. Os robôs humanóides vêm sendo desenvolvidos pouco a pouco pelos laboratórios. O Wakamaru está à venda para trabalhar como recepcionista em empresas. A Alsok, uma fabricante de produtos de segurança, está oferecendo aos clientes os robôs de vigilância C4 e C5, para operar em centros comerciais.

A Coréia do Sul, país igualmente avançado em termos de robótica e grande rival do Japão nessa área, redigirá uma "carta ética dos robôs" ainda neste ano. O texto se inspira nos princípios propostos pelo escritor de ficção científica Isaac Asimov.

Para uma nação que fica entre as piores nas olimpíadas de matemática, não serviremos nem mais como garçons.

Oremos, irmãos!

Abandonada cidade cenográfica da minissérie

Ficou só na intenção a promessa de tornar a cidade cenográfica da minissérie Amazônia: de Galvez a Chico Mendes um ponto turístico permanente do Acre. A falta de manutenção transformou o local em um grande depósito de quinquilharias e várias estruturas já começaram a ficar inutilizadas.

A promessa de transformar a cidade cenográfica, localizada no Quixadá, em um ponto turístico, foi feita pelo governo do Estado antes da gravação da própria minissérie, durante a construção. Na época, alardeou-se que o objetivo era popularizar a história e as tradições acreanas.

No local, porém, tudo está se transformando em ruínas. A casa onde morou o coronel Firmino, personagem do ator José de Abreu, por exemplo, está começando a ser invadida por insetos. Não há qualquer indício de uma estrutura digna de ponto turístico.

Os espaços começaram a virar pontos de encontro de moradores da região, que se dizem donos da cidade cenográfica. Festinhas particulares são registradas com freqüência, de acordo com a vizinhança.

Pela promessa, o local teria um restaurante de comidas típicas, como galinha caipira, tacacá, tapioca, açaí e outros. Moradores do Quixadá chegaram a sugerir que o governo do Estado procurasse parceiros na iniciativa privada para restaurar o espaço, inclusive, mantendo outros elementos do cenário e não somente as casas.

O problema não é específico da cidade cenográfica do Quixadá. Em Porto Acre, de acordo com uma denúncia, funcionários de um órgão do governo do Estado já começaram a demolição de quase tudo o que foi construído nas gravações. Ao contrário do prometido, nenhum investimento foi feito.

Desmatamento em alta

Do caderno Mais!,
da Folha de São Paulo

De Marcelo Leite

Permanece limitada a capacidade do governo de inibir
a ação de grileiros, madeireiros e seus sócios

Em agosto, duas colunas neste espaço ofereceram informações contraditórias sobre desmatamento na Amazônia brasileira. A primeira, no dia 5 daquele mês, previa aumento no corte de florestas com a subida dos preços de commodities como soja e carne bovina.

A segunda, duas semanas depois, apontava erro no primeiro texto, diante de dados de satélite que indicavam queda no desmate pelo terceiro ano consecutivo.Ambas as colunas estavam certas, e também erradas. O desflorestamento de fato vinha caindo, pelo menos até junho ou julho. Mas começou a subir de novo, forte, em agosto.

Apesar disso, ainda está distante da cifra escandalosa de 2003/ 2004, a segunda maior área devastada de todos os tempos (27.429 km2). Eis o dado do Sistema Deter, acompanhamento em "tempo real" (poucas semanas de defasagem entre coleta de imagens por satélites e processamento dos dados) operado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para o Ministério do Meio Ambiente (MMA) orientar a fiscalização: de junho a setembro, foram derrubados 4.570 km km2 de mata amazônica, contra 4.250 km2 no mesmo período do ano anterior.

Isso dá um aumento de 8%, como noticiou a Folha na quinta-feira. O MMA ainda se contorcia para dizer que não estava ocorrendo um aumento substantivo, só uma desaceleração da queda. O ano de 2007 terminaria ainda com uma redução na taxa de desmatamento, argumentava.

A série histórica de estatísticas oficiais iniciada em 1988 leva em conta o período de agosto a julho. Como até três meses atrás a taxa vinha caindo, tendo registrado -33% de variação em junho e oscilação de 4% em julho (no confronto com os mesmos meses de 2006), o ano-desmate 2006/2007 terminará, sim, com redução.

Marina Silva terá, portanto, mais um relatório positivo sobre desmatamento anual para apresentar. Mas já não será um retrato fiel da situação quando se iniciar a reunião das Nações Unidas sobre mudança climática de Bali, Indonésia, em dezembro. Ali o Brasil e outros países emergentes serão pressionados a adotar metas de redução de emissões de gases do efeito estufa, como já fizeram vários países desenvolvidos no quadro do Protocolo de Kyoto. Três quartos das emissões brasileiras vêm do desmatamento.

Em agosto deste ano, ele aumentou 53% sobre agosto de 2006 (passou de 474 km km2 a 723 km km2). Em setembro, mais 107% (de 687 km km2 a 1.424 km km2). Como de hábito, a aceleração é mais acentuada nos Estados que compõem o chamado Arco do Desmatamento. Rondônia, aquela Unidade da Federação em que Lula vai erguer os monumentos hidrelétrico-desenvolvimentistas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, teve aumento de 602%.

Em Mato Grosso, terra de Blairo Maggi e portanto de soja, foram 84%. No Pará de tantas unidades de conservação criadas na gestão Marina Silva, 59% (e maior área total, 655 km km2). É bom repetir: 4.570 km km2 de desmate nos melhores meses (mais secos) para derrubar e queimar floresta não chega a ser um desastre (ainda que a área represente três vezes a do município de São Paulo).

A aceleração inegável, no entanto, vem sugerir que permanece limitada a capacidade do governo federal de inibir a ação predatória de grileiros, madeireiros e seus sócios no avanço da frente agropecuária, sobretudo quando capitalizados pelo aumento nos preços de commodities.
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MARCELO LEITE é autor de "Promessas do Genoma" (Editora da Unesp, 2007) e de "Clones Demais" e "O Resgate das Cobaias", da série de ficção infanto-juvenil Ciência em Dia (Editora Ática, 2007). Blog: Ciência em Dia (www.cienciaemdia.zip.net). E-mail: cienciaemdia@uol.com.br