segunda-feira, janeiro 29, 2007

O ProFessOr está sempre ErradO


Quando...

É jovem, não tem experiência;
velho, está superado;

Não tem automóvel, é um coitado.
Tem automóvel, chora de "barriga cheia";

Fala em voz alta, vive gritando;
Fala em tom normal, ninguém escuta.

Brinca com a turma, é metido a engraçado;
Não brinca com a turma, é um chato;

Chama à atenção, é um grosso;
Não chama à atenção, não sabe se impor;

A prova é longa, não dá tempo;
A prova é curta, tira as chances do aluno.

Não falta ao colégio, é um "Caxias";
Precisa faltar, é um "Turista";

Conversa com os professores, está "malhando" os alunos;
Não conversa, é desligado;

Dá muita matéria, não tem dó dos alunos;
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.

Escreve muito, não explica;
Explica muito, o caderno não tem nada;

Fala corretamente, ninguém entende;
Fala a "língua" do aluno, não tem vocabulário;

Exige, é rude...
Elogia, é debochado.

O aluno é reprovado, é perseguição;
O aluno é aprovado, "deu mole";

É, o professor está sempre errado, mas...
Se você conseguiu ler até aqui, agradeça a ele ! (texto anônimo)

Crash & Filosofia do Tédio

Professor norueguês mescla cultura pop e filosofia para explicar o tédio e como lidar com ele

Elias Koteas e Deborah Kara Unger em "Crash", filme de David Cronenberg em que personagens preenchem seu tempo com fantasias automobilístico-sensuais

ERNANE GUIMARÃES NETO

Do caderno MAIS!
Se a filosofia nasce do ócio criativo, então um livro sobre o tédio escrito por um professor de filosofia deve ser uma contribuição à epistemologia contemporânea... ou pode ser um livro sobre cinema hollywoodiano e variedades.
O norueguês Lars Svendsen, professor da Universidade de Bergen, cuja "Filosofia do Tédio" tornou-se best-seller em seu país, é um dos autores que apresentam a filosofia ao grande público em estilo pop.
"Escrevi um ensaio, à maneira de Montaigne", define o autor, apartando sua obra de sucessos da auto-ajuda filosófica como "As Consolações da Filosofia", de Alain de Botton, ou "Mais Platão, Menos Prozac", de Lou Marinoff.
Para Svendsen o tédio é um fenômeno moderno, apesar da ligação com conceitos tradicionais da história da filosofia como a acídia (ou, simplesmente, "preguiça") e a melancolia. Autor de outros ensaios temáticos (sobre o amor, o mal e a moda), Svendsen argumenta que o tédio não é evitável, mas que sua compreensão pode ajudar o indivíduo moderno a lidar com esse estado. Leia a entrevista concedida à Folha:

FOLHA - A abordagem pop é responsável pelo sucesso do livro?
LARS SVENDSEN - É grande parte desse sucesso. O livro é de certo modo uma análise da cultura contemporânea, portanto faz sentido usar fontes da cultura contemporânea. Usar esse tipo de material pareceu mais relevante do que me prender à bibliografia acadêmica. Mas não usei essas fontes com intenção de obter sucesso. É que, durante meu doutoramento, me sentia vestindo uma camisa-de-força, pouco podia trazer dos meus interesses à pesquisa. Quis fazer o oposto da tese acadêmica neste livro.
FOLHA - Portanto o sr. já deve estar acostumado a comparações com Alain de Botton ou Lou Marinoff. Como compara sua obra à deles?
SVENDSEN - Meu livro é muito mais acadêmico que os deles, por exemplo toda a parte do livro sobre a fenomenologia do tédio. Uma coisa comum entre eles é a intenção de abordar o público geral. Quando escrevi o livro, não pensei muito nisso. Escrevi um ensaio, à maneira de Montaigne em seus "Ensaios" -escrever de um ponto de vista mais subjetivo, usando muitas fontes diferentes, criando um tipo de "colagem".
FOLHA - Por que se demorou tanto em "Crash" [filme de David Cronenberg baseado em livro de J.G. Ballard] e Heidegger no ensaio?
SVENDSEN - Heidegger é simplesmente o filósofo que escreveu a mais detalhada análise do fenômeno do tédio. Acabo por dispensar sua análise como não-funcional. Acho que ele procura por algo no tédio que na verdade não se encontrará. Quanto a "Crash", é o ponto de partida do livro. Vi o filme e ele me tocou profundamente. Quis saber por que esse filme me atingiu, um filme que tanta gente acha tedioso ou desagradável. Escrevi primeiro uma análise de "Crash". Depois veio a análise de "Psicopata Americano" [filme baseado no romance de Bret Easton Ellis].
FOLHA - Seus pontos de partida são representações de comportamento anormal. Sua intenção era afastar as pessoas de comportamentos anormais advindos do tédio?
SVENDSEN - Uma coisa sobre o tédio é que é influente em levar pessoas a fazer coisas que realmente não deveriam fazer. É uma das razões por que os velhos padres, como São Tomás de Aquino, viam a acídia, o tédio pré-moderno, como o pior dos pecados capitais. Eu uso esses exemplos como versões extremas de nós, para descobrir por que pensamos como pensamos. Grande parte da cultura contemporânea tem um fascínio pela violência. Já que você é brasileiro, posso falar: o jiu-jitsu brasileiro, o vale-tudo são um dos meus interesses mais "não-filosóficos".
FOLHA - Não quis tratar das respostas "zen" ao problema do tédio?
SVENDSEN - Ou sentar e ouvir uma peça de John Cage? Não estou certo de que essa opção esteja disponível para todo mundo. Falei também da estética como resposta. A felicidade estética é como as drogas: pode ser ótima, mas não dura. A modernidade tem sido isto: romper com velhas tradições. Isso tem lados bons e ruins. Um lado ruim é ter criado o "problema do sentido". Levou a um individualismo tão forte que fica difícil pensar em algo mais comum que o individualismo. Como na "Vida de Brian" [filme do grupo cômico britânico Monty Python]. Brian não quer ser profeta: "Vocês são todos indivíduos". "Somos todos indivíduos", respondem em coro. O indivíduo é aquele sujeito posto no mundo para realizar a si mesmo, esse é o grande projeto do sentido da vida para eles. E muitos de nós falhamos miseravelmente. O tédio pode ser visto como uma voz da consciência, que diz que sua vida não é nada, que sua carência de sentido precisa ser suprida. A conclusão é que o tédio pode ser uma fonte de autoconhecimento.
FOLHA - É por isso que não traz uma resposta pronta.
SVENDSEN - Isso é relacionado ao meu conceito de filosofia. No fim das contas, trata-se de auto-exame, de reflexão. Ler filosofia deve ser algo trabalhoso. É provavelmente mais uma diferença entre meu livro e outros, como o de De Botton: ele não deixa espaço para o leitor trabalhar por si.
FOLHA - Seu texto atinge alguma conclusão ética ou moral?
SVENDSEN - Acho que há uma conclusão moral -em sentido existencial. Acabo dizendo: "Não gaste sua vida tentando escapar do tédio. Apenas o aceite como parte da vida". Ao aceitar-se o tédio, ele deixa de ser aquele fenômeno grande e assustador do qual precisamos fugir. Aceitar o tédio faz com que ele se torne menor. O problema de Heidegger é que ele acha que, se você pensar profundamente o bastante sobre o tédio, então o sentido da vida vai se desvelar para você. Acho isso simplesmente errado, pois não acredito que exista algo como o grande sentido da vida. Há muitos sentidos na vida, muitas fontes de sentido: família, trabalho, hobbies... podem ser suficientes. O problema com a busca do grande sentido é tender a desprezar todas essas fontes de significado. Fernando Pessoa, que tanto cito, fala do tédio das grandes cargas de tarefas. O problema do tédio é o de encontrar um sentido pessoal nas coisas.
FOLHA - E por que diferencia tédio de melancolia, nesse caso?
SVENDSEN - É difícil fazer uma distinção. Como filósofo, o tédio é mais tentador. "Melancolia" já foi roubado pela estética; "depressão", pela psiquiatria. "Tédio" estava disponível.Mas é interessante: quando alguém pergunta às pessoas, muito mais homens que mulheres reclamam de tédio. E muito mais mulheres do que homens reclamam de depressão. Será que um gênero chama de "tédio" o que o outro chama de "depressão"?