sexta-feira, maio 14, 2010

Alvorada do Amor

Homem que é homem recita poesia à mulher amada. Na cama, diante de sua bela nudez, li os desobedientes versos de Olavo Bilac.

Aprisionaram Bilac como poeta parnasiano, mas o que não importa é classificar poesia.

Ninguém lê poesia para a mulher amada para depois classificar versos. "Meu amor, essa poesia é romântica porque", que coisa horrível. Poesia se sente, não se classifica. E foi pensando assim que abracei com minha língua os versos de Alvorada do Amor.

Na poesia, o Amor, esse signo profano, rebela-se contra Deus, mito inventado pelos homens ocidentais, para edificar um novo sagrado, um outro gesto divino que se ergue entre a carne e a alma.

Delicie-se!

Um horror grande e mudo, um silêncio profundo
No dia do Pecado amortalhava o mundo.
E Adão, vendo fechar-se a porta do Éden, vendo
Que Eva olhava o deserto e hesitava tremendo,
Disse:

"Chega-te a mim! entra no meu amor,
E à minha carne entrega a tua carne em flor!
Preme contra o meu peito o teu seio agitado,
E aprende a amar o Amor, renovando o pecado!
Abençôo o teu crime, acolho o teu desgosto,
Bebo-te, de uma em uma, as lágrimas do rosto!

Vê! tudo nos repele! a toda a criação
Sacode o mesmo horror e a mesma indignação...
A cólera de Deus torce as árvores, cresta
Como um tufão de fogo o seio da floresta,
Abre a terra em vulcões, encrespa a água dos rios;
As estrelas estão cheias de calefrios;
Ruge soturno o mar; turva-se hediondo o céu...

Vamos! que importa Deus? Desata, como um véu,
Sobre a tua nudez a cabeleira! Vamos!
Arda em chamas o chão; rasguem-te a pele os ramos;
Morda-te o corpo o sol; injuriem-te os ninhos;
Surjam feras a uivar de todos os caminhos;
E, vendo-te a sangrar das urzes através,
Se emaranhem no chão as serpes aos teus pés...
Que importa? o Amor, botão apenas entreaberto,
Ilumina o degredo e perfuma o deserto!
Amo-te! sou feliz! porque, do Éden perdido,
Levo tudo, levando o teu corpo querido!

Pode, em redor de ti, tudo se aniquilar:
- Tudo renascerá cantando ao teu olhar,
Tudo, mares e céus, árvores e montanhas,
Porque a Vida perpétua arde em tuas entranhas!
Rosas te brotarão da boca, se cantares!
Rios te correrão dos olhos, se chorares!
E se, em torno ao teu corpo encantador e nu,
Tudo morrer, que importa? A Natureza és tu,
Agora que és mulher, agora que pecaste!

Ah! bendito o momento em que me revelaste
O amor com o teu pecado, e a vida com o teu crime!
Porque, livre de Deus, redimido e sublime,
Homem fico, na terra, à luz dos olhos teus,
- Terra, melhor que o céu! homem, maior que Deus!".

Cara malvado

Quando deixei as férias de 2009-2010 atrás de meu destino, fotografei meu pai com o temor de nunca mais revê-lo.

"Olha só para a minha cara de malvado", disse seu Aldo.

Quando acabou de dizer isso, lembrei-me de nós em um passado sem afeto, sem diálogo, sem compreensão.

Se o Brasil era marcado pela intolerância da ditadura militar, eu, em minha própria casa, conhecia a opressão na figura "malvada" de meu pai.


Se tanques de guerra, fuzis, soldados e generais ocupavam as ruas desta Pátria, eu, por duas horas, permanecia de joelhos no canto da parede depois de receber dez palmatórias em cada mão. Lá fora, os militares; em minha casa, armas da incompreensão.

Minha mãe e minha avó mostraram a meu corpo o que a masculinidade de meu pai se recusou a questionar, no caso, que o macho domina, fere, centraliza, submete o outro a. Com Dilma e Esther, aprendi feminilizar minha carne e minha alma. Sem elas, eu teria morrido por dentro.

Mas o tempo é absoluto. Ele ensinou a meu pai brincar, por isso ele disse "cara de malvado". O tempo me ensinou a amá-lo por causa de sua condição humana, que é também a minha. Com quase 80 anos, sua idade me comove porque seu corpo revela a mais profunda despedida em forma de rugas.

Eu o amo por sua condição humana e, por causa dessa condição, olho para o passado como aprendizado. Meu pai teve outro derrame. Sua fala não é mais a mesma. Penso em voltar para casa para abraçá-lo, conversar sobre o que a incompreensão não permitiu.

Se for possível, se tenho de ir, darei a esse "cara malvado" o meu mais tenro Amor de filho, sua vida está muito acima do que houve no passado.

Quando amamos, compreendemos a hora de uma separação e a hora de recomeçar o que ainda existe para ser recomeçado.

A paralisação parou

Na segunda-feira, dia 17, os professores estaduais do Acre retornarão às salas de aula com mais 10% no salário após um mês de paralisação. No lugar do autoritarismo, o governo não se cansou de buscar o diálogo ou, como disse Carioca, "a força da argumentação".

Mais: a proposta partiu do governo. Sem comprometer a Lei de Responsabilidade Fiscal, os professores mudarão de letra para receber o aumento. Em época de eleições, o governo da Frente Popular se saiu muito bem. Muito bem.

O sindicato, por sua vez, reforça a ideia de que o atual modelo sindical pressiona o poder, ou seja, o sindicato permanece o mesmo, quem sabe, até a eternidade.

Ironia
Com 10% no bolso, o professor retornará à sala motivado para qualificar o ensino público. Seremos agora melhores no Enem do que as escolas particulares.

Nossas reuniões serão sempre a favor da qualidade de ensino. Não nos reuniremos para prolongar feriados, mas para apresentar propostas pedagógicas que exigem do aluno o melhor.