sexta-feira, maio 26, 2006

A COE nos educará

Publiquei este artigo na TRIBUNA hoje

Como ficou incômodo questionar nos jornais acreanos. É arriscado. O tempo tem sido para adular ou para ofender. Creio, no entanto, que podemos melhorar o Céu por meio de uma crítica ética para o bem não de anjos, mas para o bem dos cidadãos. Do grego krinein, crítica significa julgar, isto é, ponderar. Sabemos - criticar é um bem democrático.
Aqui, não tenho muito tempo: poucos, os parágrafos; poucas, as linhas. Mero artigo. O conteúdo, eu sei. Mas qual a forma? Serei irônico? Devo ser sério? Que tal perder o juízo? Sintaxes barrocas ou mais estáveis?
Em 25 de maio deste ano, o clima estava ameno, com Sol, só ficou ruim na escola estadual Heloísa Mourão Marques. Ruim é exagero. O tempo fechou por causa da alta temperatura da Companhia de Operações Especiais, a COE. Quatro viaturas e homens armados entraram na escola para impor ordem. Alunos foram algemados e presos.
Tumulto, meu irmão, muita desordem dominou a escola. A COE foi chamada para (re)educar o que não tem limites no espaço escolar, porque, se educar não pune mais, se os alunos mandam em uma instituição, armas e algemas disciplinam. A COE nos educará.
Essa violência emerge, porque excessos anteriores se ramificam no cotidiano, corroem gradativamente a instituição. São licenças, permissividades, impunidades, libertinagens e vulgaridades que modelam comportamentos de alunos, inibem inspetoras idosas e frágeis, acuam professores e riem da autoridade escolar.
Os excessos. A céu aberto e profano, podemos assistir a uma adolescente ser beijada no biquinho do peito. Mata-se aula para sentir prazer. No intervalo, alunos, convocados para o espetáculo, ouvem os ruídos do pseudoforró do grupo Saia Rodada, cuja letra estimula aquele a meter o dedo no “cuelhinho” do outro diante de todos no pátio da escola. O riso, nesse momento, eleva-se acima da instituição.
Há dias, concluí a leitura de A era do vazio, ensaios sobre o individualismo contemporâneo, de Gilles Lipovetsky. Finalizo este insignificante artigo com as palavras desse francês - Apenas uma ação política determinada a restringir os desejos ilimitados, a equilibrar o domínio privado e o domínio público, a reintroduzir repressões legais, tais como a proibição da obscenidade, da pornografia, das perversões, é capaz de restaurar a legitimidade das instituições democráticas.