terça-feira, janeiro 08, 2013

A função social de Marcos, não sua pessoa


Marcos Afonso esteve no Programa da Jô para falar de leitura. Fique bem claro que não tenho nada contra a pessoa de Marcos, ser humano íntegro, manso, gente boa.

Mas a questão não é a sua pessoa, e sim sua função dentro da sociedade acriana. Marcos é diretor de uma biblioteca. Por causa de sua função social, ele pode merecer críticas, porque políticas públicas dependem dele e de seu grupo político.

Devemos saber separar a pessoa de sua função social.

Nesse sentido, ou seja, como diretor, Marcos vai a um programa para exaltar a leitura enquanto em escolas públicas não há nem salas de leitura. 

Marcos deveria saber mobilizar a sociedade (Ufac, Academia Acriana de Letras, escolas) para que metas de leitura fossem cumpridas pelos governantes.

No entanto, Marcos, para se manter em sua função, faz o trivial, o cômodo, o óbvio, o normal, o televisivo. 

O poder imobiliza a desobediência.

Folha de São Paulo

Vladimir Safatle

 08/01/2013 - 03h30


O fim do mensalão

O retorno de José Genoino à Câmara dos Deputados é sintoma de uma bizarra compulsão de seu partido em relação ao chamado mensalão.

É compreensível levantar discussões sobre a extensão e a profundidade das penas, assim como sobre a necessidade de punir com o mesmo rigor a vertente tucana do escândalo. Não é aceitável, porém, agir como se nada tivesse ocorrido, como se o julgamento fosse simplesmente um complô urdido contra a esquerda brasileira.

Ao afirmar que os condenados no mensalão não seriam desligados do partido, ao aceitar organizar uma contribuição para auxiliar tais condenados a pagarem as multas aplicadas pelo STF e, agora, ao achar normal que alguém condenado em última instância assuma uma vaga no Congresso, o PT age como um avestruz que coloca a cabeça na terra e erra de maneira imperdoável.

O mínimo a ser feito depois do julgamento era apresentar uma autocrítica severa para a opinião pública. Tal autocrítica não deveria ser apenas moral, embora ela fosse absolutamente necessária.

Ela deveria ser também política, pois se trata de compreender como o maior partido de esquerda do Brasil aceitou, em prol do flerte com as práticas mais arcaicas de "construção da governabilidade", esvaziar completamente as pautas de transformação política do Estado e de aprofundamento de mecanismos de democracia direta.


Desde que subiu ao poder federal, planos interessantes, como o orçamento participativo, sumiram até mesmo da esfera municipal do PT, o que dirá a discussão a respeito da superação dos impasses da democracia parlamentar.


No seu lugar, setores do partido acharam que poderiam administrar a política brasileira com os mesmos expedientes de sempre e, ainda assim, saírem ilesos. Agora, mostram-se surpresos com o STF.


Para que todos não paguem por isso diante da opinião pública, há de se dizer claramente que não é a esquerda brasileira que foi julgada no mensalão, mas um setor que acreditou, com uma ingenuidade impressionante, poder abandonar a construção de novas práticas políticas sem, com isso, se transformar paulatinamente na imagem invertida daquilo que sempre criticaram.


Se uma autocrítica fosse feita, o Brasil poderia esperar que certos atores políticos começassem, enfim, uma reflexão sobre a necessidade do aprofundamento da participação popular como arma contra a corrupção do poder.

Ao que parece, no entanto, precisaremos de muito mais escândalos para que tal pauta seja, um dia, colocada em cena.

VLADIMIR SAFATLE
 escreve às terças-feiras nesta coluna.
Vladimir Safatle
Vladimir Safatle é professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP (Universidade de São Paulo). Escreve às terças na Página A2 da versão impressa.

  1. Rivaldo Riveiras (741)
    (11h25) há 2 horas
    Finalmente uma coluna sensata.....
    Agora, o que é importante dizer é que essa lambança toda é causada pelo conceito de "infalibilidade das esquerdas" ou então "o que é de esquerda é bonito".
    PÊTÊ, militantes, intelectuais, filósofos, etc sempre assinam embaixo e apóiam qualquer coisa que esse pessoal apronta em nome do tal progressismo vermelho.
    Do asqueroso mollusko, passando pelo Marco Antonio Garcia e chegando ao Genoíno, tudo vale porque é PÊTE...
    O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem
  2. NELSON GOMES AFFONSECA JUNIOR (388)
    (08h45) há 4 horas
    Opinião serena de um articulista com pendores simpatizantes à esquerda que, no entanto, tem pruridos morais, para ao contrário de Jânio de Freitas que em artigo recente, de forma desavergonhada dava conta de que os problemas do partido do mensalão são de natureza de assessoria de imprensa, hoje ruim e que de forma diferente daria outra imagem. Propunha Goebbels, enfim. Vladimir sabe que a questão moral ainda não foi tocada e o mea culpa público é mais que necessário, essencial.
    O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem
  3. M.V Valvemark (457)
    (11h35) há 2 horas
    Caro Vladimir, Parabéns!!
    É bem por aí mesmo, políticos mal intencionados devem ser punidos, independentemente do partido a qual pertençam, inclusive os do P/S/D/B, partido do qual eu me simpatizo!!
    Somos cidadãos e não torcedores de facções politicas e partidárias!!
    O comentário não representa a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem

http://folha.com/no1211246

O velho de novo

Passar a imagem de pessoa comum por estar ele, o prefeito Marcus Alexandre, de Rio Branco, sendo servido e por se sentar em um local onde todos podem estar.

A foto política registra o momento em que a distância entre governante municipal e  contribuinte anula-se, passando a ideia de homem simples, humilde.  

Marcus Alexandre não me convence, porque tudo no homem que exerce o poder tem a intenção de tirar alguma vantagem.



Tudo em um homem público tem interesse político

Repare na posição do fotógrafo (ele recebe pela prefeitura para isso?): seu ângulo busca a expressão facial da autoridade, não se importando com o rosto de quem serve.

Além de anônima, quem serve permanece, sob a lente do fotógrafo, irreconhecível, ou seja, ela só importa como aquela que realiza o gesto de servir não só ao prefeito, mas à cena política, qual seja, Marcus Alexandre é igual a você.

Mas isso é ser popular? 

O que há de novo nisso? 

Um jovem prefeito expondo-se a uma prática política tão velha.

Foi para isso que você veio?

Quero vê-lo, como representante do PT, partido que lutou pelas causas democráticas, expondo o orçamento da prefeitura aos cidadãos em uma assembleia popular a fim de o contribuinte destinar dinheiro público mais para educação, saúde, saneamento e muito menos para a propaganda.

Mas você não veio para isso.