domingo, outubro 31, 2010

Dilma vota em Dilma

Aos 69 anos, minha mãe Dilma saiu de casa para votar em Dilma, do PT. "Sei que Lula melhorou a vida dos mais sofridos", disse para justificar sua escolha.

Se minha mãe é maioria em casa, Dilma Rousseff é maioria no Congresso. Não há mais desculpas com a tal "governabilidade". O PT tem agora a obrigação de realizar as reformas.

Reforma, por exemplo, política. Dilma, minha mãe, espera por tais reformas.

quinta-feira, outubro 28, 2010

Ele é o cara

Thales Antonio Pinheiro Scherer, da escola Heloísa Mourão Marques, foi premiado na etapa estadual da Olimpíada de Língua Portuguesa (edição de 2010) e está classificado para a fase regional, categoria de artigo de opinião.

Alunos da 3ª série do ensino médio, Thales foi o primeiro colocado no município de Rio de Branco e o segundo no estado, com o artigo "Luz para Todos", dissertando sobre os apagões na capital do Acre.

Lecionei para a inteligência de Thlales no 2º ano do ensino médio, ano passado. Sempre atento, ele sempre assistiu às minhas aulas de Redação com dedicação. Escrevia e reescrevia o texto o quanto fosse necessário.

Muitos colegas de profissão só sabem reclamar dos alunos, como se os alunos não tivessem algo a reclamar dos professores. "Não querem nada, eu faço a minha parte, se não quiserem, eu ganho do mesmo jeito", afirma aquele pseudoprofissional.

Thales é muito para esse tipinho de falso professor. Alunos iguais a esse quieto rapaz me dizem que meu trabalho nunca está bom, que preciso melhorar sempre. Se vacilar, somos nós, professores, que parecemos tolos diante desse modelo de juventude.

A ti, meu amigo, digo-lhe apenas que eu queria que a escola pública brasileira fosse outra, mas, como não é, espero que nosso breve encontro nesta vida tenha ofertado a teu destino um professor que expressou a paixão pelo ato inquieto de lecionar.

Sei que deixei falhas, mas sei também que não fui mais um em sala de aula. Tentei mostra a ti a importância da palavra pensada e da palavras bem organizada com outras palavras. As vírgulas, sabemos, são muito importantes para tamanha organização. Não se esqueça dos bons verbos. Amplie seu vocabulário como quem amplia as boas amizades.

Alimente-se de bons livros, Thales, porque esse alimento combate a pior de todas as doenças: a ignorância. E saiba: adquirimos conhecimento para que não sejamos humilhados. Que no futuro próximo tenha sua apaixonada profissão e, quando receber seu primeiro salário, meu amigo, compre um livro.

Mas saiba também que trabalhamos não para receber dinheiro; trabalhamos para melhorar a vida de nosso semelhante. O dinheiro é uma consequência.

Vida longa, Thales!

Minha origem

Hoje, 28.10.2010, meu pai finalmente submeteu-se a uma cirurgia de catarata. Chegamos à clínica às 7 horas da manhã e, por muito pouco, ainda não seria este dia o dia da operação porque, dias antes, tossia muito por causa de uma gripe.

Mas, como ficou melhor, a médica o liberou.

Em casa, ficará em absoluto repouso por 30 dias. Depois dessa, ele ficará em uma mesa de cirurgia no próximo ano para que sua vista esquerda seja operada.

Com sequelas de dois acidentes vasculares cerebrais - sua voz modificou-se e esquece com facilidade -, ele não quer se submeter ao cateterismo, por isso seu médico ignora a real lesão deixada pelo AVC.

Ele está bem, mas, olhando com ternura para ele, não consigo deixar de me comover com a vida. Em 2011, concluirei algumas coisas no Acre e, depois de concluídas, afastar-me-ei de minhas funções como professor do estado para ficar com meus pais e com meu irmão.

O tempo sempre exige de nós, é preciso estar muito bem preparado para sua imposição.

domingo, outubro 24, 2010

... e as leituras

Faltam quatro dias para a cirurgia de meu pai, quinta-feira, dia 28 de outubro. Aos 76 anos, cuido dele como quem cuida do tempo, que nunca retorna. Meu pai, segundo a natureza do tempo, está partindo bem devagar. Sem vigor físico, com memória que não guarda, a natureza humana me comove.

Após a operação, ficará sob cuidados durante 30 dias. Ficará quase imobilizado.

Enquanto isso, além de ajudar minha mãe - faço compras, compro remédio, pago as contas -, tenho lido jornais, revistas e livros. Depois de "Calendário do poder", de frei Betto, meus olhos se encontraram com "O choque do real - estética, mídia e cultura", de Beatriz Jaguaribe; e "Quem ama literatura não estuda literatura - ensaios indisciplinados", de Joel Rufino dos Santos.

O Mal

Em Maricá, por causa de um ótimo livreiro, comprei uma obra por que eu procurava há anos. Proibida no Brasil até 2014 por causa de uma ação judicial de judeus, "Mein Kampf", de Adolfo Hitler, tem recebido a visita de minha leitura.

Leio aos poucos Hitler. Por meio dele, quero assimilar as palavras do Mal [político]. Paralelo a isso, leio outro Mal: "Os infortúnios da virtude", de Marquês de Sade. Essas leituras estão lentas porque outras tornaram-se mais urgentes.

Entre rabinos e gays

Eis as urgências: meu texto para a revista "Visões Amazônicas" e preparar aulas de literatura infantil para a faculdade.

Para a revista, "O falo de Deus", do rabino Howard Eilberg-Schwartz; "Reflexões sobre a questão gay", de Didier Eribon; e "O livro negro do cristianismo - dois mil anos de crimes em nome de Deus", de Jacopo Fo, Sérgio Tomat e Laura Malucelli.

Para a literatura infantil, leio com anotações no computador "Crítica, teoria e literatura infantil", de Peter Hunt. Com 291 páginas, minhas anotações estão na página 95.

"Afinal, O que querem as mulheres?"

Em novembro, Luiz Fernando Carvalho, 50 anos, ressurge na Rede Globo com uma nova série, "Afinal, O que querem as mulheres?".

Os estúpidos não assistem aos trabalhos de Fernando Carvalho por causarem estranhamento, o que acaba sendo indecifrável por mentes domesticadas pelo comum, pelo normal. Por R$ 50, comprei "Capitu", da minissérie de Luiz Fernando Carvalho. Essa bela encadernação, eu lerei depois, há ótimos autores que escreveram ótimos ensaios.

Enquanto cuido de meu pai, não me descuido das leituras.

sexta-feira, outubro 22, 2010

"Visões Amazônicas"

Como está difícil encontrar alguém que escreva para a revista "Visões Amazônicas". Consegui um bom texto de uma professora do Rio Grande do Sul. Do Acre, um significativo de Cláudio Ezequiel e da professora-gestora Osmarina. Outro texto foi escrito pelo professor Guilherme.

Por causa dessa pouca presença, surgiram duas ideias:

1) jornalista pode ocupar espaços na revista com textos que fogem ao senso comum e enfadonho; e

2) universitário pode publicar sua monografia.

Carlos Alberto, diretor da Faculdade Euclides da Cunha, concordou. Se publicar boas ideias [críticas] depende de independência financeira, a revista Visões Amazônicas" possui tamanha independência.

O problema, no entanto, é pensar.

sábado, outubro 16, 2010

Dia do professor

Há neste país, segundo o movimento Todos Pela Educação, 1.977.978 professores, números do Censo Escolar de 2007, sendo que a maior parte leciona no ensino fundamental, 1.504.000.

Do total de professores, 81,5% são mulheres e 58% delas têm até 40 anos.

O piso salarial do docente no Brasil limita-se a R$ 1.024,67 segundo o Ministério da Educação (MEC).

Nesta Pátria tão cristã, terra abençoada por Deus de oligarquias que sempre governaram este chão, 8,9% da população é analfabeta e 25,7% de brasileiros carregam a bandeira do analfabetismo funcional.

No Acre, acima de 15 anos, 15,4% de brasileiros sofrem com a cegueira do analfabetismo, sendo que a população acriana em 2007 era de 655.385.

A escolaridade em média não passa de 7,2 anos de nossos brasileiros cinco vezes campeões do mundo. Só 53,8% dos alunos chegam ao ensino médio. Apenas 30,5% de jovens pisam o chão de um ensino superior.

Cinco vezes campeões de futebol

Conforme o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa de 2006), entre 57 países, o nosso "berço esplêndido" ficou na 53ª posição em ciências, na 54ª em matemática e na 50ª posição em leitura.

Podemos até ganhar a Copa do Mundo de Futebol em 2014, mas, segundo o MEC, somente em 2021 nossas escolas públicas atingirão média 6, número igual a países europeus.

Serra, Dilma e... Marina

Quem visita os sítios dos candidatos constata que educação não passa de propaganda política.

Serra, como não poderia deixar de ser, é genérico: "garantir às universidades federais condições adequadas de funcionamento."

Dilma também tomou remédio genérico para a educação: "valorização adequada do professor."

No sítio do PV, Marina é profundamente superficial. E não é só. Enquanto fala de 7% do PIB para a educação, o movimento Todos Pela Educação exige 10%.

Os três limitam-se a repetir obviedades.

Marina, por exemplo deveria responder às seguintes questões:

1) como garantir uma educação pública com qualidade?

2) como melhorar a gestão escolar?

3) como transformar a profissão de professor em "objeto de desejo"?

4) o que proporcionar na educação integral?

5) como relacionar educação e cultura no currículo?

6) como diminuir a evasão?

7) na escola, deve prevalecer o mérito? Se deve, quais mecanismos devem ser criados?

8) a escola deve depender só de recursos públicos?

9) pagar melhor salário depende também do mérito do professor mais dedicado e que obtém melhor resultado?

10) como haver no cotidiano escolar o valor do simbólico?

11) a escola deve ser administrada por profissional formado em administração pública?

Quando se trata de falar da educação pública acriana, Marina Silva é silêncio. Sem respostas.

sábado, outubro 09, 2010

Entre dois Rios

Um Rio, na floresta; outro, à beira mar. Um é bem mais violento e desumano do que outro.

Rio Branco e Rio de Janeiro. Na Cidade Maravilhosa, a educação é muito pior.

Deputado estadual pelo Partido Popular Socialista (PPS), Comte Bittncourt escreveu neste sábado, 9 de outubro, um texto curto no jornal O Globo -"Escravos de Jó".

Segundo ele, em 35 anos, o atual secretário de Educação é o 26
º. O Rio de Janeiro tem em média um secretário a cada 17 meses.

Em 2010, o Rio de Janeiro perdeu aproximadamente 70 professores por mês com exonerações. No final do mês, o estado paga ao professor R$ 765. No final da carreira, o chamado nível 9, o professor do Rio de Janeiro recebe R$ 1.511,27. O Cristo Redentor está lá, mas o planejamento consolidado para o educador não está.

Mais de 50% das escolas não têm bibliotecas e 70% não têm espaço físico para o esporte e o lazer.

Em outro Rio, o Branco, o professor recém-concursado recebe do estado - vamos arredondar - R$ 1.5 mil, ou seja, comparado a quem leciona no Rio de Janeiro, mais R$ 735. Entretanto, o poder de compra de Rio Branco é bem menor do que na cidade do Cristo Redentor.

Rio Branco é cidade mais cara. Alguns exemplos. Uma caixinha de morango custa na capital acriana R$ 5; no Rio de Janeiro, R$ 2. Uma caixa de 1 litro da Kibon vale no caro Araújo R$ 20; no Rio de Janeiro, R$ 10. O azeite Galo extra-virgem chega ao consumidor de Rio Branco por R$ 18; no Rio de Janeiro, entre R$ 8 e R$ 14.

Arroz, feijão, macarrão. A comparação não para entre esses dois Rios.

Quando o governo da Frente Popular fala do salário do professor acriano, ele exclui o poder de compra, o custo de vida. R$ 100 no Acre valem menos do que no Rio de Janeiro.




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sábado, outubro 02, 2010

Não votarei

Como estou no Rio de Janeiro e meu título de eleitor é do Acre, não votarei, mas isso não faz diferença, não faz falta em uma democracia com palanques acrianos sem boas ideias educacionais.

Por falar em educação, estou na expectativa de ouvir Marina Silva depois das eleições.

Que identidade política a candidata verde terá no Acre quando o assunto for educação? Quais críticas ela fará à educação pública acriana? Quais soluções ela apontará?

Nas eleições, Marina disse muito ao Brasil, falta-lhe agora dizer, após as urnas, ao Acre, tarefa que para mim não será cumprida. As amizades no Acre abafam qualquer crítica.