segunda-feira, abril 30, 2007

Não existe greve na educação


Artigo publicado na TRIBUNA,
de Aldo Nascimento

No Estados Unidos, em 1955, a negra Rosa Parks recusou-se a ceder seu lugar para um branco. Achincalhada, ela foi obrigada a sair do ônibus.
Depois desse fato, Martin Luther King [1929-1968] observou que o negro, e não o branco, representava a maioria no transporte coletivo, isto é, os empresários obtinham muito lucro por causa da cor de Rosa Parks.

A partir disso, Martin Luther King inicia uma campanha contra os empresários: os negros passaram a andar a pé. O lucro das empresas diminuiu consideravelmente. Sem saída, os empresários negociaram e, desde então, a Suprema Corte Americana decidiu que não haveria segregação racial nos ônibus. Esse fato histórico recebeu o nome de boicote aos ônibus de Montgomery.

Em outro país, algo semelhante ocorreu. Um homem foi expulso de um compartimento de primeira classe de um trem por se recusar a ceder o seu lugar a um branco. Seu nome, Mahatma Gandhi [1869-1948].

O líder negro espelhou-se em Gandhi, e este, por sua vez, leu muito sobre as idéias anarquistas. Por causa dessa segregação em transportes coletivos, a greve, conceito anarquista, tinha o propósito de causar um “colapso na economia”. E causou.

Seguidores dos ideais anarquistas, Luther King e Gandhi promoviam a desobediência civil. A greve é uma conseqüência simbólica dessa desobediência. Ambos conheciam o pensamento de Pyotr Alexeyevich Kropotkin [1842-1921], o russo que aprimorou as ações políticas dos anarquistas.

E a greve dos professores? Diferente, por exemplo, dos negros que andaram a pé, a greve dos professores não causa colapso na economia, não incomoda os agentes econômicos. A cidade não pára. O que pára é a escola, somente ela.
Mas mesmo essa paralisação é mentirosa. A greve na educação não existe, porque, depois, lá na frente, os professores irão repor os dias parados. Como então posso chamar de greve dias de trabalho que serão repostos? Trata-se de uma incongruência.
Aqueles que desejam o poder sindical têm a obrigação de recriar o conceito de greve na educação. Eu não desejo poder, não desejo ser líder sindical, mas, como o sindicato sobrevive à custa de meu dinheiro de filiado, não posso me isentar de críticas.
Alunos não precisam ser críticos? Pois bem, sou um eterno aprendiz. Preciso ler mais sobre os anarquistas.

sexta-feira, abril 27, 2007

Os ombros suportam o mundo






Na escola Heloísa Mourão Marques, em uma reunião, os professores decidiram não haver os estilos de época da literatura. Para o aluno, somente análise de texto literário.


Com isso, prevalece o estudo de vocabulário e de conceitos, além de interpretação e de observações gramaticais relacionadas à produção redacional.

Uma poesia que ofertei aos olhos deles foi Os ombros suportam o mundo, de Carlos Drummond de Andrade. Estudamos esse texto para tecer um contraste entre ele e a poesia de Cruz e Sousa, de Vinícius de Moraes e de Camões.

Nesse eu-lírico, vigora a ausência do místico. No mundo hodierno, desejo que eles percebam no texto de Drummond o que representa a ausência do místico e a sua presença, por exemplo, na poesia de Cruz e Sousa.

Leio livros não para saber se é realista ou romântico, mas eu os leio para repensar o mundo em que estou com os outros.

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


Onde estão minhas luvas?


No terminal, uma trabalhadora limpa o espaço público sem luva. Errado.
Penso que isso se relaciona à saúde pública.
Que a administração do terminal urbano saiba agir.

Resposta a um bloguista

Um bloguista pergunta se eu não gostei dos alunos irem à rua. Penso que a manifestação deve ser muito mais organizada e sedutora. Ocupar as ruas exige uma forma sensível a fim de chamar a atenção das pessoas que andam pela cidade.
Os sindicalistas são péssimos com seus discursos, porque não há no movimento sindical a preocupação com o ato estético. Deveriam ler sobre isso para alterar suas ações empobrecidas. O capital há tempo vem usando a estética para seduzir e alienar.
No dia da passeata, os sindicalistas poderiam, por exemplo, colocar músicas dos Titãs, do Gabriel, do Renato Russo, mas eles se reduziram uma verborréia infecunda. É preciso ironizar, é preciso debochar, é preciso transformar a passeata em um ato estético para sensibilizar os que passam.
O mundo mudou e as passeatas devem mudar e, para tanto, a organização exige outros procedimentos. Os estudantes precisam ser criativos.

Fui de movimento estudantil no Rio de Janeiro, na década de 80 e, na UNE, no Catete, discutíamos isso naquela época. Em outras palavras, alguns defendiam o protesto como ato cultural e estético.

Protestei nas ruas com o companheiro Willam, ligado a Wladimir Palmeira. Mais tarde, esse petista seria secretário de Educação do Rio de Janeiro no governo de Benedita da Silva. Naquela época, ainda que muito jovens, pensávamos sobre o porquê dos sindicatos não seduzirem.

Como diz Fernando Pessoa: "viver não é preciso; criar é preciso."
Deveria haver uma campanha nesta cidade para as pessoas usarem em certos dias úteis somente a bicicleta como forma de protesto. Isso me recorda Martin Luther King. Os negros deixaram de usar os ônibus e andaram a pé como forma de protesto. Deu resultado.

Assim como Gandhi, Martin Luther King leu sobre os anarquistas.
Jovens, rebelem-se contra as injustiças, mas saibam que a revolta deve ter o sabor da criatividade.

quinta-feira, abril 26, 2007

Pensão de ex-governadores

Na época, este blog, pouco visitado, foi o único que publicou o aumento que o ex-governador Jorge Viana deu aos ex-governadores. Voto nele ainda, mas não fecho meus olhos para o que é injusto.

Hoje, uma boa notícia. Leia.
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Donald Fernandes quer acabar com aposentadoria para ex-governadores
Documento apresentado hoje à mesa-diretora da Aleac contém 12 assinaturas

O líder do PSDB na Assembléia Legislativa, Donald Fernandes, apresentou à mesa-diretora na sessão desta quinta-feira proposta de emenda ao artigo 77 da Constituição Estadual, que instituiu pensão vitalícia para os ex-governadores. Com a iniciativa, o parlamentar quer acabar com o privilégio. O documento contém 12 assinaturas de deputados, contando com a do proponente.

“Não é justo que num dos Estados mais pobres do país os ex-governadores recebam aposentadoria depois de quatro anos de serviço, quando a trabalhadora comum precisa de no mínimo 30 anos de contribuição e o trabalhador, 35 anos”, argumentou Donald.

A assessoria do deputado passou a manhã no centro de Rio Branco distribuindo panfletos e colhendo assinaturas dos acreanos que não concordam com o pagamento de pensão a ex-governadores. A meta é reunir o mínimo de dez mil assinaturas em todo o Acre.

Se aprovada, a proposta de emenda à Constituição Estadual revogaria o artigo 77, que trata do subsídio mensal e vitalício correspondente ao vencimento e à representação do cargo de governador.

Donald Fernandes argumentou após a sessão que aposentar governador é um acinte à Constituição Federal e às regras da Previdência Social. Segundo ele, nem mesmo o presidente da República recebe aposentadoria após deixar o cargo.

“São Paulo tem a maior economia do Brasil e os ex-governadores sequer cogitam receber pensão”, declarou.

Justiça pode ser acionada

O deputado tucano falou ainda na possibilidade de se recorrer à Justiça para revogação do artigo 77 da Constituição Estadual. Ele se baseia na informação de que o Supremo Tribunal Federal analisa uma ação direita de inconstitucionalidade (ADI) proposta pelo Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) à pensão vitalícia para ex-governadores de Mato Grosso do Sul.

Pedido de vista do ministro Eros Grau, do Supremo, adiou o julgamento da ADI, mas a ação já conta com três votos favoráveis à extinção de pensão vitalícia, segundo matéria publicada no site do STF (www.stf.gov.br).

Segundo o site, a OAB afirma que o benefício desrespeita diversos artigos da Constituição Federal. A entidade alega que, ao encerrar seus mandatos, os ex-governadores não exercem mais nenhum ato em nome do ente público e que conceder o subsídio seria “retribuição pecuniária a título gratuito, como se fosse uma espécie de aposentadoria de graça” a quem não presta mais serviços públicos.

“É inadmissível que em um Estado com índices de desemprego tão cruéis os ex-governadores tenham direito à pensão vitalícia”, desabafou Donald.

A um parvo!


Anônimo disse...
Eu acho vc um tremendo babaca...., ver se cresce seu babaca, vc não tem mais 18 anos, tem é quase 50, sebe o que homens como costumam pegar é uma peruca de touro, bem no meio da testa....KKKK, espera só, o que tua namoradinha vai te dar...KKK
____________


Você deveria saber escrever e deveria tomar conta de tua vida. Tua vulgaridade é típica de um tolo.
Se você me acha ou não me acha babaca, tua opinião mal escrita não tem a menor importância para a minha vida, seu apedeuta.
Fico sensibilizado quando você, meu querido pacóvio, preocupa-se com minha "peruca de touro", gesto de alguém traumatizado por causa da esposa ou da tua mãe.

Por favor, seja homem e assuma teu nome diante de meus olhos. Não se esconda em teu vulgar e atoleimado anonimato.

Agora, contemple o meu rostinho de ofendido e de babaca na foto, mané inculto!!!


quarta-feira, abril 25, 2007

Movimento Parado 5



Pela manhã, os professores da escola Heloísa Mourão Marques, a maioria, votou para não haver aula e assim todos participaram da passeata contra a emenda 3 e o aumento da passagem de ônibus.

Todos? Não. Alguns votaram a favor da paralisação, mas foram para casa mais cedo. Sacanagem. Eu votei contra. Queria lecionar e fiquei até o final da passeata.


Teve professor que disse que a passeata seria uma aula diferente. Pai, perdoai, porque eles não sabem o que dizem.

Nessa foto, perto ainda da escola, alunos do Heloísa caminham para o centro. Foi o maior número. Alunos do Rodrigues Leite permaneceram em sala. O Cerb não foi à rua. Não vi o Acreano.


Movimento Parado 4



A cidade não parou. O que parou há muito tempo foi a inteligência de sindicalistas para (re)criar uma estrutura sindical autêntica.

As mulheres no sindicato reproduzem o que homens sindicais já faziam.

Preparem-se para a reforma trabalhista, porque, quando vier, os sindicalistas perderão a noção do novo, se é que tiveram algum dia.

Movimento Parado 3



A CUT contou somente com alunos da escola Heloísa Mourão Marques. Eu andei da escola até o centro com meus alunos e assisti a tudo... a tudo que foi muito pouco.

Josafá, nesta foto, mais uma vez, não há três mil pessoas. Jornalismo não pode ser advinhação.

Menos, por favor, muito menos. Para quem delira muito, indico um repouso no hospital Santa Juliana. Fiquei uma semana, e você nem telefonou para saber como eu estava. Tô puto!!!

Movimento Parado 2



Eu saí do hospital há pouco tempo, mas Sinteac e a ex-APL continuam doentes. O discurso de sincalistas encontra-se enfermo.

Três mil pessoas, Josafá? A matemática é ciência nobre.

Se aqui tem três mil pessoas, Lula tem cinco dedos.

O Movimento Parado 1


Josafá Batista, o movimento sindial acreano há anos precisa ser criticado pelo que ele apresenta enquanto realidade.
O Sinteac e o Sindicato dos Professores Licenciados há anos perderam o mouse da história.
Não é só governo que merece críticas éticas e inteligentes, mas o movimento falido sindical também.

A foto revela o vazio.

Josafá Batista, menos, por favor, menos!!!

Josafá, eu estive no manifesto e ele foi um fiasco. Por que você escreveu o que não existiu? As fotos não negam.
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Rio-branquense vai às ruas contra aumento da passagem de ônibus,
de Josafá Batista

O centro de Rio Branco foi pequeno na manhã de ontem para uma multidão que percorreu as principais ruas depois de se concentrar na Praça da Revolução.
Que multidão!? Eu estive lá e a grande maioria foi de alunos da manhã da escola Heloísa Mourão Marques. Tenho as fotos.

Estudantes, sindicalistas, aposentados e muitos curiosos se aglomeraram em um protesto contra o aumento da passagem de ônibus, a violência e um projeto de lei que extingue vários direitos trabalhistas.

A manifestação mostrou a força do cidadão acreano, revoltado com a tentativa do Congresso de reduzir direitos conquistados há mais de 40 anos. A pressão fez efeito ainda ontem: deputados estaduais e sindicalistas farão uma comissão para obter da bancada federal o compromisso de votar contra a flexibilização das leis trabalhistas.
Força do cidadão acreano!? Só havia acreano? Generalidades não podem caber em uma matéria de jornal.

“Os deputados nos apoiaram na oposição ao projeto que já foi vetado pelo presidente Lula. O problema é que o Congresso está coletando assinaturas para derrubar o veto, o que é possível desde que hajam assinaturas suficientes. É por isso que estamos nos mobilizando. Se o veto cair, o projeto vai vigorar mesmo com a oposição do presidente”, explica o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Manoel Lima.

O protesto reuniu cerca de três mil trabalhadores, estudantes e sindicalistas e ocorreu ao mesmo tempo em vários pontos do centro da cidade. Pela manhã, um grupo de estudantes fechou o terminal urbano. Agentes do Batalhão de Choque da Polícia Militar foram requisitados e em seguida dispensados pela própria direção da PM, o que deixou os manifestantes livres para cruzar os corredores.
Josafá, você sabe contar!? Três mil pessoas!? Vários pontos da cidade? Ocorreu, isso sim, em vários pontos de sua imaginação.

Uniformizados, os alunos aproveitaram para chamar a população a resistir ao aumento da passagem de ônibus para R$ 2,06. Dezenas de transeuntes aproveitaram o incidente para embarcar de graça nos coletivos que tiveram que paralisar a circulação em toda a cidade durante parte da manhã.
Em toda a cidade!? Parece que você escreveu a matéria em um centro espírita. Uma entidade espiritual muito mal informada passou as informações para você.

Cartazes mostrarão traidores

A manifestação contra a derrubada do veto presidencial à Emenda 3 não foi exclusiva de Rio Branco. Os protestos aconteceram nas principais capitais brasileiras e devem se estender até o dia 1º, quando se comemora o Dia do Trabalhador e até depois caso o Congresso utilize a tática de aguardar o fim das comemorações alusivas à data para fazer as mudanças.

Por causa disso, os sindicatos devem fazer uma nova manifestação e também acompanhar de perto o desempenho de cada deputado federal e senador em Brasília (DF).

No Acre, a CUT deve aproveitar a votação para elaborar faixas e cartazes contendo os nomes, as fotografias e o partido de cada parlamentar que apoiar a derrubada do veto.

“O projeto dos cartazes já está pronto, o que falta é a votação sobre a emenda. Independentemente de conseguirmos ou não, os nomes dos responsáveis por essa verdadeira arapuca para o trabalhador serão conhecidos. Os cartazes serão distribuídos nas principais cidades do Acre, farta e abertamente”, garante Lima.

Ainda segundo o presidente estadual da CUT, os documentos terão os seguintes dizeres: “Procura-se um deputado (ou senador) traidor do trabalhador”.

Educação não comparece

Apesar da presença maciça dos principais sindicatos de trabalhadores urbanos e rurais, além de estudantes e aposentados na manifestação de ontem, poucos servidores da educação estadual compareceram. O ato constrangeu os estudantes, que tiveram que aprender a se mobilizar sem os seus mestres.
Isso é uma verdade. Poucos professores estiveram presentes. Os trabalhadores se ausentaram.

A ausência de servidores da educação foi atribuída pelos próprios manifestantes à pendenga aberta no Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Acre (Sinteac), hoje às voltas com a sucessão da atual presidente, Alcilene Gurgel. A vice, Almerinda Cunha, decidiu apoiar outro candidato à presidência da instituição.

Mesmo com a ausência da maior categoria de servidores públicos do Acre, o ato mostrou a força do movimento sindical e deu um recado claro aos representantes do povo acreano no Congresso Nacional: quem votar contra o povo vai ficar sem eleitor.
Força do movimento sindical!? Tenho as fotos.

Passagem em negociação

A pendenga sobre a passagem de ônibus também deve ganhar um novo rumo a partir do protesto. É que os organizadores do evento se mostraram dispostos a negociar em prol da melhoria da qualidade do transporte público no Acre. Com isso, questões como o excesso de gratuidades no transporte público, por exemplo, devem entrar no debate.

Com a redução do número de gratuidades, que hoje compõe cerca de um terço do preço da passagem de ônibus em Rio Branco, abre-se a possibilidade de manutenção da tarifa nos atuais R$ 1,75.

Outra proposta é reduzir o valor da passagem, com base em planilhas feitas por técnicos independentes a pedido do Ministério Público Estadual (MPE). Para os empresários do setor, no entanto, essa última proposta é inviável.

terça-feira, abril 24, 2007

IMPlanTE denTÁRio 11









As primeiras pisadas deixaram marcas em Tarauacá, no seringal Corcovado, colocação Fogoso, em 1930.







Inconformados com a injustiça, os pés partiram para Rio Branco após quase 30 anos de seringal.

Rodaram o mundo. Pararam em Manaus. Esses pés, tamanho de Sebastião, sustentam um dos homens mais honrados que conheci em minha vida.

O Acre, o autêntico, pulsa na sola desta carne.

IMPLANTE DENTÁRIO 10



Enquanto a morte não sussurra, a enfermeira Elzuíte cuida de Sebastião, de 76 anos.

Entre tantas, suas mãos delicadas amenizavam a dor. Gentil, educada, o corpo enfermo sentia-se bem com sua presença.

Que Deus ilumine ainda mais a sua profissão.

ImplantE DentáriO 9



À noite, a morte cruza o corredor. Seu Raimundo, um senhor com quase 80 anos, jamais será lembrado por muitos. Ele ficará na lembrança da família, nada mais.

Na angústia de querer o ar, sua boca aberta marcou a expressão de sua morte. Um dia, eu sei, o fim quebrará nossos espelhos.

IMplante DEntário 8



De madrugada, às 4 horas, o medicamento intravenal me acordava e alguns deixavam na carne da mão o gosto incômodo da ardência.

Nesse momento, minha Amada acariciava meus pés para enganar a dor.

Uma poesia se ancora em minhas lembranças.






Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Drummond

implantE dentáriO 7

À minha direita, dorme uma eterna amiga, sim, uma amiga, porque o amor, para muito além da carne, granula no íntimo da alma dos que cultivam a amizade.

Em todas as noites, seu caráter não me deixou só. Que ser humano nobre é minha Amada. Faltou às aulas do pré-vestibular para que nas madrugadas suas mãos suaves conduzissem minhas dores ao banheiro.

Simone Brasil de Oliveira, a Mony, terá de mim a eterna gratidão e o meu eterno amor.

Implante Dentário 6



Imobilizado, restaram os olhos para acompanhar o movimento de pessoas no quarto. Minha amada congela o momento no banheiro.

Santa Juliana, elas, as santas, são sagradas, limpas, mas a única santa humana que vi foi santa Fátima, uma funcionária que limpava a privada para eu repousar a minha bunda. O quanto precisamos das pessoas.

Você pode pagar um plano particular de saúde, pode ser desembargador que sai em coluna social, mas chegará o dia em que o "rabo da corte" precisará, mais ainda, de seu semelhante em um hospital para que a merda não suje a toga.

Espero que um juiz injusto fique sem a santa Fátima, porque os serventes, em meus sonhos, farão grave contra as leis que privilegiam magistrados.

Fátima, quanto você recebe por mês? Fátima, onde você mora? Fátima, qual seu grau de instrução? Fátima, que sonhos suas mãos limpas de dignidade têm para seus filhos?

Santa Fátima, obrigado por deixar o banheiro sempre limpo. O quanto preciso do outro...

segunda-feira, abril 23, 2007

ImpLantE DentÁrio 5



No quarto, com quatro leitos, à tarde, umas 14 horas, o ventilador - o único - tentou amenizar o calor. Luta vã.

Simone Brasil de Oliveira, a minha amada, abanou-me e, com um lenço de papel, retirava de minha carne o suor salgado de um "implante".

A dor nos educa. O hospital, por excelência, é lugar em que o corpo se disciplina. Tudo regrado. O almoço, regrado. O café, regrado. A janta, regrada. A sobremesa, regrada. Perdi 6 quilos.

impLanTe denTáRiO 4



É preciso muita calma nessa hora. Com um abscesso tomando o lado direito do rosto, a dor nos educa.

Implante Dentário 3

Essa, a placa não de uma rua, mas de um corredor hospitalar. Pela primeira vez em minha vida, dividi um quarto com mais três homens: Marcos, Clodomir e Sebastião. Meu leito, o 116 (1+1+6=8).

O 8 representa o infinito. Os dias e as noites seriam longos. E foram.

ImplanTe DenTário 2



Depois da santa, o aquário. Meu espaço se reduziu à dor e a um quarto. Senti inveja dos peixes.

ImpLantE DenTáriO 1



... e eu só queria que o dentista fizesse um implante dentário. "Isso dói mais que canal?", perguntei. "Fique tranqüilo, nem se compara".
Dias depois, lá estava eu no hospital Santa Juliana. Jamais passou por minha cabeça grande que ir ao dentista fosse me deixar uma semana no hospital.
Antes de repousar minhas dores no leito, olhei para santa e pedi paciência para não extrair os dentes de meu dentista com um soco.

MariAnA

Mariana, uma bloguista, pediu a mim para eu atualizar o blog. Menina, eu não tenho atualizado o blog porque fiquei uma semana no hospital. Estive muito ruim. Muito. No leito, fotografei bastante e publicarei neste blog.
Antes disso, publico os dez livros para o vestibular:
1 – ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas.
2 – FERRANTE, Miguel. Seringal.
3 – ANDRADE, Mário de. Macunaíma – o herói sem nenhum caráter.
4 – RAMOS, Graciliano. Vidas Secas.
5 – ESTEVES, Florentina. O Empate.
6 – LISPECTOR, Clarice. Laços de Família.
7 – RODRIGUES, Nelson. Álbum de Família.
8 – ANDRADE, Carlos Drummond de. José.
9 – MELO NETO, João Cabral. Morte e Vida Severina.
10- DOURADO, Autran. Melhores Contos.
Ainda hoje, à noite, colocarei fotos e textos sobre minha vivência no hospital Santa Juliana.

terça-feira, abril 10, 2007

Isso aconteceu

Maria não cortou o “pau” do marido
10 de abril de 2007

Tribunal de Justiça (Brasília) recebeu o seguinte requerimento:

Esmeraldas, 05 de Março de 2002.

Eu, Maria José Pau gostaria de saber da possibilidade de se abolir o sobrenome Pau do meu nome, já que a presença do Pau tem me deixado embaraçada em varias situações. Desde já, antecipo agradecimento e peço deferimento.

Maria José Pau

Em resposta, o Tribunal lhe enviou a seguinte mensagem:

Cara Senhora Pau,

Sobre sua solicitação de remoção do Pau, gostaríamos de lhe dizer que a nova legislação permite a retirada do seu Pau, mas o processo é complicado. Se o Pau tiver sido adquirido após o casamento a retirada é mais fácil, pois, afinal de contas ninguém é obrigado a usar o Pau do marido se não quiser. Se o Pau for de seu pai, se tornaria mais difícil, pois o Pau a quem nos referimos é de família, e vem sendo usado por várias gerações. Se a senhora tiver irmãos ou irmãs, a retirada do Pau a tornaria indiferente pro resto da família. Cortar o Pau do seu pai, pode ser algo que vai chateá-lo. Outro problema, porém, está no fato do seu nome conter apenas nomes próprios e poderá ficar esquisito caso não haja nada para ficar no lugar do Pau. Isso sem falar que, caso tenha sido adquirido com o casamento as demais pessoas estranharão muito ao saber que senhora não possui mais o Pau do seu marido. Uma opção viável seria a troca da ordem dos nomes. Se a senhora colocar o Pau atrás da Maria e na frente do José, o Pau pode ser escondido, porque a senhora poderia assinar o nome como Maria P. José. Nossa opinião é a de que esse preconceito, contra este nome já acabou há muito tempo e que se a senhora já usou o Pau do seu marido por tanto tempo não custa nada usá-lo um pouco mais. Eu mesmo possuo o pinto, sempre o usei, e muito poucas vezes o pinto me causou embaraços.

Atenciosamente,
Geraldo Pinto Soares
Desembargador do TJ de Brasília - DF

Vírgula

1. O aluno, todavia, nada respondeu.

Nesse caso, interrompe-se a ordem direta entre "o aluno" e "nada respondeu".

2. O professor repetiu a explicação, todavia os alunos continuaram com dúvidas.

Não há vírgula depois de "todavia", porque o sujeito "os alunos" inicia a ordem sintática direta, a saber: sujeito + verbo + complemento.

3. O professor repetiu a explicação; todavia, os alunos continuaram com dúvidas.

Essa construção, raríssima entre alunos, pode ser usada.

Nas redações dos alunos, usa-se muito o "mas", que é uma forma fixa na frase-oracional. Usar o "todavia", por exemplo, permite que esse conectivo fique em várias posições na estrutura sintática.

Ensino médio

No teatro da escola, alunos e professor lêem um romance. Após dois encontros, mostrei a eles marcações relacionadas ao uso do pronome oblíquo.
Essa questão gramatical mereceu destaque por causa da produção textual dos alunos, ou seja, eles não usam pronomes oblíquos quando dissertam e tais pronomes são importantes para a organização interna, para a harmonia do texto. A gramática sempre relacionada à construção textual.
Pois bem, hoje, apliquei um teste e, mesmo usando o livro para consulta, repito, usando o romance, muitos erram.
Pedi para escrever o substantivo no lugar do pronome em "desfraldando-o", na página 31. Para isso, precisava ler o texto ou, simplesmente, copiar o que eu já havia marcado nas aulas anterios.
Entre 28 alunos, três acertaram na turma B, mas dois escreveram Pedro com letra minúscula. O resultado, portanto, muito ruim.
Na aula de Redação, quando chegarmos ao desenvolvimento, cobrarei o uso de quatro pronomes oblíquos nos dois desenvolvimentos.
O fato é que retornarei aos pronomes quando lermos o romance Lavoura arcaica. Se a maioria errou, não posso lecionar outro conteúdo gramatical conforme a produção textual. O processo, eu sei, é lento.

segunda-feira, abril 09, 2007

Ex-governadores poderão perder pensão vitalícia

Sindicatos e pessoas da esquerda acreana, como a deputada estadual Naluh, calaram-se sobre pensão vitalícia de ex-governadores. Em outros tempos, esse dinheiro público causava vergonha, mas, quando a esquerda de alguns chega ao poder, o silêncio ignora o passado e permanece indiferente à história da própria esquerda.
Não ser seduzido pelo poder é um dever ético da esquerda, mas o poder, quando oferta o espelho, olhamos só para nós. Receber pensão vitalícia em um país tão pobre para muitos agride a memória dos que deram a vida por uma pátria justa.
A matéria a seguir leva esperança.
Ex-governadores poderão perder pensão vitalícia
No caso específico do Acre, nenhuma ação chegou ainda ao STF. Aqui, todos os ex-governadores ou viúvas de ex-governadores recebem o benefício garantido pela Constituição do Estado. Está no artigo 77 o seguinte teor:
"Cassada a investidura no cargo de governador, quem o tiver exercido, em caráter permanente, fará jus a uma subsídio mensal e vitalício correspondente aos vencimentos e representação do cargo."
Em relação ao Amazonas, na ação, o procurador-geral afirma que a Constituição Federal não autoriza a instituição do benefício e aponta, no caso, ofensa ao princípio da moralidade administrativa. Diz, ainda, que o subsídio aos ex-governadores contraria o artigo 37, 13, da Constituição Federal, que proíbe a equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público.
STF JÁ DECIDIU
No final do ano passado, a Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso do Sul aprovou lei, concedendo pensão a ex-governadores.
Recentemente, o procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, enviou ao Supremo Tribunal Federal parecer favorável ao pedido de declaração de inconstitucionalidade, formulado pelo Partido Democrático Trabalhista de dispositivo da Constituição do Estado do Ceará, que confere a ex-governadores e a ex-vice-governadores que tenham exercido cargo de governador em caráter permanente e por período igual ou superior há seis meses, subsídio mensal e vitalício, a título de representação, igual ao percebido pelo governador do Estado.

Desmatamento no Acre

Senhores, um sucolento documento, publicado pelo site www.imazon.org.br, revela números negativos plantados em nossa floresta tropical. Acesse também http://veja.abril.com.br/110407/p_070.shtml
O ex-governador Jorge Viana precisa mostrar que a revista e o documento estão equivocados e, para isso, a Veja precisa publicar outra matéria conforme a análise de seu governo. É preciso agir rápido para apagar o fogo.

Ronda Gramatical

na FOLHAONLINE

"Lula agradece controladores por tranqüilidade em aeroportos".
A regência do verbo "agradecer", segundo a gramática tradicional, é "Lula agradece aos controladores a tranqüilidade em aeroportos". Celso Pedro Luft, no entanto, admite "por".
No jornal, prefiro "agradece (aos) (a)".

quarta-feira, abril 04, 2007

SemaNa SanTa, mAriA
























Nesta semana, no centro de Rio Branco, Maria, de 42 anos, pediu-me dinheiro para comprar arroz.
Não tinha ido ainda ao banco e, na carteira magra como Maria, havia um real.
Mas, antes de dar a ela um Deu seja louvado na cédula, entrevistei-a na praça José de Melo.
________
A senhora conhece o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC?
Não.
A senhora tem o que comer hoje?
Na panela de casa, tem feijão.
Por que pede dinheiro?
Para comprar arroz.
Não vai comer peixe na Semana Santa?
É muito caro, moço.

Dinheiro faz falta, não é?
Faz.
Por falar em dinheiro, a senhora sabia que salário de ex-governadores do Acre, assim como Deus, é eterno?
Não.
A senhora carrega no rosto os traços do povo. Dona Maria, a senhora sabia que o povo acreano fez uma revolução?
Não.

Por que existe pobreza no mundo?
Porque Deus quer assim.

Deus é justo?
Não sei, moço.

Dei-lhe o dinheiro, e, na Semana Santa, Maria partiu.

Do professor Gleidson

Interatividade... pra quê?

Globalização. Tecnologia. Às vezes, a modernidade serve para nos lembrar o quanto estamos “involuindo”. Assistindo à televisão, certo canal interativo local que reserva parte de sua tela para uma janela de bate-papo, ponderei: o uso dos avanços da era da informação está facilitando alguns aspectos de nossas vidas, porém dificultando outros. Como? Vou citar um exemplo: Dando aulas particulares, uma aluna comentou que havia perdido pontos em uma redação por escrever como em chats: “não” grafara como “naum”, e “que” apareceu apenas abreviadamente, “q”.
Não estou propondo aqui um movimento pela escrita correta. A forma rápida como se dá a comunicação em salas de bate-papo exige um léxico próprio. A questão é que nossos pobres alunos implementam tais vocábulos no cotidiano como no exemplo citado, sem se dar conta. E esta problemática puxa outra: a forma como se ensina a língua portuguesa.
Lemos e escrevemos todo o tempo. Deveria então ser comum o enfoque na redação por parte dos profissionais que lecionam a língua pátria. Vários desses, porém, pré-julgam a criatividade de seus alunos como precária, e não a estimulam para serem producentes. Estes, por conseqüência, acreditam que em sua carreira de escolha não terão que se preocupar com essa deficiência. Por isso, não raro encontramos acadêmicos já quase concludentes, mas com um vocabulário tão rico quanto o de alunos de 7ª série.
Outro ponto fundamental é o da interpretação. Cegueira é, no mínimo, o termo a ser utilizado para caracterizar a condição da maioria dos alunos quando têm de obter o sentido de um texto. Precisamos “traduzi-lo” tal qual alguém que sabe ler o faz para um completo analfabeto.
Minha parte nisso? Bem, acredito que qualquer área depende do bom uso do português. Em matemática, o problema maior é justamente a transição do texto de uma questão para o modelo matemático, pois a partir daí fica claro como água. Como conselho, digo aos meus aluno que leiam, leiam, leiam, mesmo que seja uma bula de remédio ou uma revista em quadrinhos (que, aliás, leio desde os quatro anos e não me arrependo, foi fundamental para a compreensão que tenho hoje). Algo que os faça tentar entender o contexto. Isso ajudaria, sobretudo, no avanço do conteúdo, que poderia prosseguir sem o entrave da má interpretação.
Sugiro que se faça um esforço em prol de valorizar a leitura, interpretação e criação de textos, visto serem fundamentais para boa formação do discente não só no português, mas em outras disciplinas e no seu futuro profissional. Do contrário, este será apenas um: o de professor da linguagem de salas de bate-papo, a comunicação dominante no processo “involutivo”.

segunda-feira, abril 02, 2007

Arte Moderna



Essa bela escultura ludibria a lei. Se a arte, nesse caso, copiasse a realidade, causaria aversão e seria proibida.
Mas, em plena praça pública, o ato amoroso entre um homem e uma mulher eleva-se como sexo (implícito) entre os amantes.
Aqui, percebemos que a arte, a autêntica, nega a descrição para que a imaginação emerja em cada "eu" que se sinta incomodado.
E o círculo? Ele indica que o universal e a igualdade atravessam o feminino e o masculino.

Cuidado, escrita à vista




Ronda Gramatical

Existe mulher "pão-dura"? Na verdade, só existe mulher "pão-duro".