segunda-feira, novembro 26, 2012

Um rabino, uma atriz e a palavra sagrada


Ausência de Deus

Este livro, sabedoria e beleza. 
Aqui, Deus se faz presente 


O governo do Acre deveria colocar no circuito acriano belas peças de teatro



Mas o governo do Tião Viana desenvolvimento se reduz a estradas
Antes de deixar o Acre por uns longos anos, fui me despedir de pessoas por quem possuo alegre admiração.

Sem dizer nome, um deles, hoje, é pastor e prega a palavra em uma igreja do Sobral. Pequena e localizada em uma rua triste, sem vida, eu o reencontrei.

Era noite, fazia muito calor, mas lá ele estava com paletó em um espaço "sagrado". Não havia ventilador, muito menos ar-condicionado.

Se havia algum deus ali, havia conforme os limites sociais e pessoais de um grupo. Antes de algum deus, havia também a condição social de pessoas.

Deus fala por meio dos homens, mas ouvir Deus na Candelária do Rio de Janeiro ou na Catedral de Rio Branco não é o mesmo deus na igreja do meu amigo.

No seu espaço "sagrado", tudo é desarmonia, ou seja, tudo agride meus olhos e meus ouvidos.

Um Deus ouve "Jesus, alegria dos homens", de Bach, na Candelária; outro deus suporta ruídos de baterias e de guitarras.

Nesse lugar sem vida, onde se acredita que deus tem um péssimo gosto por causa de um grupo social, a palavra é tormento, gritaria, feiura, clichês. Para mim, onde não há arte, Deus está morto.

A presença de Deus
Reencontrei-me com Deus em outro modelo de templo sagrado. No lugar de um homem com terno falando em profunda desarmonia com a estética de Deus, ouvi, 
por meio da voz de Clarice Niskier, expressada por um corpo nu em harmonia com um véu negro, o texto do rabino Nilton Bonder sobre as Escrituras Sagradas.

Igrejas e mais igrejas feias e intolerantes espalham-se como se fossem pragas do Egito. Não são belas palavras em cultos de pseudopastores, mas pestilência de línguas incultas que infectam o ar de fanatismo.

Essas igrejas me causam náuseas. "Estou só, em meio a essas vozes alegres e sensatas. Todos esses sujeitos passam seu tempo se explicando, reconhecendo com satisfação que têm as mesmas opiniões. Deus meu, que importância eles dão ao fato de pensarem todos as mesmas coisas!", diz-me o narrador de A Náusea, de Jean-Paul Sarte.       

Depois das palavras do rabino Bonder por meio da sacerdotisa Niskier, comprei, no dia seguinte, o livro A Alma Imoral.

Quando saí do templo sagrado, teatro Ziembinski, na Tijuca, ficou mais difícil eu entrar em igreja qualquer ou em igreja de rebanho, porque a palavra, em A Alma Imoral, escrita por um rabino e expressada por um corpo feminino entre a nudez e o véu, ofertou a meus sentidos sabedoria e beleza que nunca vi e que jamais verei em uma igreja de esquina. A intolerância nunca é bela.

Creio em um Deus que suaviza, que exige de minha alma sabedoria, desobediência, arte, cultura, bom gosto. O meu Deus é barroco, impressionista.


Rabino Nilton Bonder