segunda-feira, junho 25, 2007

Manuel Lima & o Sinteac

















Escolheram Manuel Lima para representar o Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Acre.

Um vez por ano, o Sinteac, por meio do "imposto sindical", mete a mão em meu bolso para administrar mal o dinheiro.

Por isso, sou forçado tecer uma crítica a um sindicato que perdeu o mouse da história.

Não sei se ele tem filhos, mas Manuel pode ser um ótimo pai. Pode ser um ótimo filho, um ótimo esposo, um ótimo cristão, mas não acredito que ele seja um ótimo administrador.

Pelo que leio nos jornais, as falas de Manuel nunca salivaram o novo. Pelo que diz à imprensa, Manuel deixou de ser professor há muito tempo para se reduzir aos chichês sindicais. Em outras palavras, Manuel não inovará o Sinteac, porque duvido de sua inteligência para isso. Manuel é senso comum.

O sindicato dos professores só serviu até hoje para sustentar um corporativismo anacrônico com o dinheiro dos outros e, dessa forma, projetar nomes. Infelizmente, Manuel Lima representa o continuísmo de um partidarismo parasita de um dinheiro arrecadado à custa de uma estrutura sindical envelhecida.

1. Manuel, como outros, falará para a categoria com clichês sindicais. Manuel não falará para a sociedade;

2. Manuel não promoverá um congresso para debater sobre um novo sindicato. Não trará intelectuais de outros estados para problematizar a questão;

3. Manuel manterá uma luta limitada a interesses econômicos. Ele não possibilitará um sindicato que fale muito bem sobre qualidade de ensino;

4. Manuel não fará auditoria no final de sua gestão;

5. Manuel não modernizará o Sinteac, pois o sindicato ainda servirá aos interesses de grupos partidários;

6. Manuel não criará uma imprensa autônoma no Sinteac que pense, por exemplo, sobre educação;

7. Manuel não possibilitará uma nova estrutura sindical;

8. Manuel não colocará em seu discurso a importância da cultura.

Três Livros

Palavras sem sentido

De linhagens distintas, três novas obras reiteram
a inquietação quanto à legitimidade da poesia na atualidade

MARCOS SISCAR
ESPECIAL PARA A FOLHA
CADERNO MAIS!

Apesar de distintas visões sobre a natureza de seu ofício, três novos livros de poesia reiteram uma mesma inquietação quanto à legitimidade da prática poética: para que poesia? A pergunta, em aparência contraditória, é um dos eixos do discurso poético moderno e se tornou mais aguda depois do "fim das vanguardas", adormecido o etos transformador que a atenuou ao longo de quase todo o século 20.

O desconforto aparece na justificativa editorial da poesia reunida (incluindo vários inéditos) de Alberto Pucheu, no destaque dado à existência de um "projeto", reforçado pela presença de entrevistas do autor, como se a poesia devesse ininterruptamente explicar a que veio.

A obra permite acompanhar as transformações -não apenas o programa- de uma escrita que busca a "fronteira desguarnecida" entre poesia e filosofia, passando das elipses metonímicas a uma expansão reflexiva.

A profusão textual ("falatório"), organizada pelo princípio da montagem ("arranjo"), é seu modo de acolher o "silêncio", no "espanto" do acontecimento.

Abandonando a trava poundiana da síntese carregada de significados, o poeta encontra no parentesco com o pensamento um modo de merecer a vida ("Passo a vida imerecidamente"), mas também de atribuir sentido à manifestação poética. É significativo que essa transformação tenha início na comoção pelos livros esquecidos nas bibliotecas, o que legitima o poético como espaço de transgressão ("O mais novo interdito: não há lugar para o livro./ Transgressão em exercício: o livro como lugar").

O novo livro de Paulo Henriques Britto dá continuidade a uma voz poética mais conhecida dos leitores de poesia. Seu gesto demolidor contraria o de Pucheu, dirigindo-se contra o pensamento abstrato e contra a experiência sentimental.Em Pucheu, a vida "espreita a cada esquina"; em Britto, ela se limita ao mínimo suspiro.

Há certa violência crítica em Britto contra a profundidade do assunto, a favor da superfície, ou seja, da comunicação que se aproxima do simples contato ("e se a linguagem for apenas fática?"). Nota-se a proximidade dessa poética não apenas com a lucidez mas também com a obsessão da forma típica de João Cabral, acolhedora e claustrofóbica. Seu espaço é estreito, sem saída ("beco"), como a medida fixa, tendo em vista a tênue razão de não ser "pior do que outro qualquer".

Dissimetria

Apesar disso, um breve suspiro de vida se manifesta: pragmático, ácido, sem concessões. É o lado talvez drummondiano da poesia de Britto que, à bem cabralina "inapetência para os sentimentos", acrescenta o patos da recusa da "piedade".

É nesses momentos de dissimetria, entre a aridez de superfície e o envolvimento subjetivo com algo que tem que "seguir em frente", que a poesia de Britto respira mais livre, para além da reconhecida coerência de sua poética.

Com "Andaimes", Milton Torres, que é também historiador e diplomata, prossegue um projeto recente (outro livro de poemas saiu pela Ateliê, em 2005), mas de fôlego amplo, que o prefaciador define como busca dos "fundamentos intelectuais da cultura eurocêntrica". O leitor não deve deixar-se enganar pela modéstia do título: Torres se apresenta como um cosmopolita erudito, com manuseio maduro da tradição poética.

Pelo domínio de referências culturais heterogêneas, de modo fragmentário e citacional, seus poemas evocam uma espécie de "pós-modernismo crítico" no qual, entretanto, a questão cultural dificilmente ganha corpo, em sua abrangência, uma vez que tende a diluir-se na exuberante profusão de línguas (basicamente português e inglês, com incursões freqüentes pelo espanhol, francês e italiano), de citações, de exercícios de estilo. Embora organizado tematicamente, o ecletismo do livro é algo desconcertante.

Se, para Britto, o real é um "excremento de palavras" e a razão de escrever oscila entre o desencanto individual e uma exigente visão da vida literária, para Torres é a poesia que está na "lixeira" do real, pois, à falta de "mercado", vive de "propina".

A conclusão, neste caso, sugere que o poeta supostamente corrompido está ausente do poema realizado: o impasse se resolve pela presunção de inocência -ingênua ou cínica- que apenas reforça os motivos da suspeita.

A despeito disso, o cuidado em oferecer uma justificação pública ou pessoal para a prática poética encontra sintonia com os "faits divers" da poesia. O modo inquieto, sistemático e contraditório com que essa justificação tem sido feita mostra que alguma coisa respira na poesia contemporânea, ainda que renovando as razões de sua perplexidade.

MARCOS SISCAR é professor de literatura na Universidade Estadual Paulista.
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A FRONTEIRA DESGUARNECIDA
Autor: Alberto Pucheu
Editora: Azougue (tel. 0/xx/21/ 2240-8812)
Quanto: R$ 32 (288 págs.)

TARDE
Autor: Paulo Henriques Britto
Editora: Companhia das Letras (tel. 0/xx/11/ 3707-3500)
Quanto: R$ 33 (96 págs.)

ANDAIMES
Autor: Milton Torres
Editora: Ateliê (tel. 0/xx/11/ 4612-9666)
Quanto: R$ 45 (200 págs.)