quinta-feira, junho 10, 2010

A bola rola e nos enrola

Grite gol!!!
Quando os deuses da futilidade derem o pontapé inicial entre Brasil e Coreia do Norte, os problemas sociais dos brasileiros serão jogados para escanteio. Somos cinco vezes campões do mundo; Estados Unidos, Finlândia, Espanha não são.

Até hoje, eu não sei para que cinco títulos de futebol servem, eu não sei. Recentemente, para marcar uma consulta em um hospital público, eu disse "sou cinco vezes campeão do mundo".

Na mão direita, eu segurava uma bandeirinha do Brasil e usava a camisa 10, o mesmo número com que Rivaldo se consagrou na Copa do Mundo de 2002.

Mas, mesmo assim, mesmo cantando "eu sou brasileiro/com muito orgulho/com muito amor", a servidora pública, sem adereço patriótico, falou que não havia cardiologista para me atender, e isso já faz três meses. Com meus cinco títulos, saí derrotado da saúde pública mais uma vez. Tantas vezes torcedor, tive de sair do hospital torcido pela injustiça.

Agora, na Copa do Mundo da África do Sul, após oito anos, o Brasil enfrentará a Coreia do Norte no dia 15 de junho. De lá para cá, tive cinco derrames. Nesse tempo, os homens públicos, que jogam um "bolão", me driblaram muitas vezes para deixar a Pátria sempre em impedimento.

Vejo carro com bandeiras do Brasil. Ruas enfeitadas. Um novo circo repetido nos alegra. Um patriotismo fútil nos envolve com uma bola que rola e nos enrola. Nesta festa, como todas as festas, a realidade social permanece suspensa, é hora de se esquecer do Brasil.

Estamos felizes com o pouco que temos, um gol. Gritemos!!! porque nossas bocas nunca souberam protestar contra a nossa miséria. Estamos felizes com o pouco que temos, o gol. Gritemos!!! porque, calados, engolimos sapos.

O que farei com seis títulos de campeão do mundo?