terça-feira, abril 15, 2014

Para os que ainda dormem como inocentes

De Aldo Tavares

A realidade efetiva das coisas destina-se a não ter mais como referência o ideal de uma ação na “polis”, mas agir politicamente conforme a necessidade da situação. 

Após séculos de a ética ser pensada na política, esta se separa daquela no século XVI, com “O Príncipe”. Nesta obra, Capítulo XV, escreve-se que a verdade deve ser procurada pelo efeito das coisas, e não pelo que se possa imaginar dessas mesmas coisas, havendo aqui, portanto, uma crítica ao idealismo de Platão e à ética política de Aristóteles, porque “vai tanta diferença entre o como se vive e o modo por que se deveria viver”. 

Na antiguidade grega, como se ignorou a realidade efetiva das coisas, colocaram no lugar dessa realidade repúblicas que nunca se viram reconhecidas como verdadeiras. Idealizaram a vida coletiva por meio da ética, mas a política, depois de Maquiavel, longe de partir de um ideal, fundamenta-se no chão fértil das contradições, no chão fecundo dos interesses segundo a necessidade da raposa e do leão. 

Aqui, o animal político não busca o ideal aristotélico de animal político, porque o homem ou o animal de Maquiavel transita em uma identidade ambígua. A instabilidade política não se motiva mais por falta de ética, de equilíbrio, mas por falta das duas faces do governante, devendo então a estabilidade tirar da ambiguidade as qualidades da raposa e as qualidades do leão. 

Depois de Maquiavel, a política perde sua essência aristotélica para contrair aquilo que o vulgo aprecia, qual seja, ela: a não essência, isto é, a aparência, essa superfície da experiência sensível. Estamos, por fim, no mundo tão recusado por Platão, mas que em Maquiavel ressurge com toda sua sedução: o mundo dos sofistas.


Para muito distante do vulgar

Há o engano de achar que o que se ouve em certas igrejas é canto a Deus. É, isso sim, ruídos do feio, do mau gosto, excrescência sonora de quem já perdeu o bom paladar.

A música ofertada a Deus deve ser Bela. 

Ouça o que certa audição religiosa desconhece.