De Aldo Tavares
A realidade efetiva das coisas destina-se a não
ter mais como referência o ideal de uma ação na “polis”, mas agir politicamente
conforme a necessidade da situação.
Após séculos de a ética ser pensada na
política, esta se separa daquela no século XVI, com “O Príncipe”. Nesta obra, Capítulo
XV, escreve-se que a verdade deve ser procurada pelo efeito das coisas, e não pelo
que se possa imaginar dessas mesmas coisas, havendo aqui, portanto, uma crítica
ao idealismo de Platão e à ética política de Aristóteles, porque “vai tanta
diferença entre o como se vive e o modo por que se deveria viver”.
Na antiguidade
grega, como se ignorou a realidade efetiva das coisas, colocaram no lugar dessa
realidade repúblicas que nunca se viram reconhecidas como verdadeiras. Idealizaram
a vida coletiva por meio da ética, mas a política, depois de Maquiavel, longe
de partir de um ideal, fundamenta-se no chão fértil das contradições, no chão
fecundo dos interesses segundo a necessidade da raposa e do leão.
Aqui, o animal
político não busca o ideal aristotélico de animal político, porque o homem ou o
animal de Maquiavel transita em uma identidade ambígua. A instabilidade
política não se motiva mais por falta de ética, de equilíbrio, mas por falta das
duas faces do governante, devendo então a estabilidade tirar da ambiguidade as qualidades da raposa
e as qualidades do leão.
Depois de Maquiavel, a política perde sua essência
aristotélica para contrair aquilo que o vulgo aprecia, qual seja, ela: a não
essência, isto é, a aparência, essa superfície da experiência sensível.
Estamos, por fim, no mundo tão recusado por Platão, mas que em Maquiavel
ressurge com toda sua sedução: o mundo dos sofistas.