domingo, agosto 23, 2015

Para TRÊS aulas de FILOSOFIA

“(...) são forçados a reconhecer que a lei e a verdade dos números escapam ao domínio dos sentidos corporais, e que essas leis são invariáveis e puras, oferecendo-se universalmente aos olhos de todos aqueles que são capazes de raciocínio”
                                                                               (O Livre-Arbitrário, de Agostinho)






I. Patrística Apostólica ou Padres Apostólicos (século I d.C) 

a.
Clemente Romano ou papa São Clemente I, nascido em Roma, seria discípulo de São Pedro e morto no ano 100, lançado ao mar com uma pedra ao pescoço; e  


b. Sem preocupação pela filosofia e interesse moral.



II. Patrística Apologista ou Padres Apologistas (séculos II e III)                                                       

1. Roma : a. Essa patrística recorreu também a argumentos filosóficos: Justino Mártir (110/114 d.C  - 162/168 d.C) é o mais destacado e é o primeiro platônico cristão. Nasceu na palestina e retoma a palavra logos de Fílon de Alexandria ou o judeu Fílon (23 a.C - 41 d.C), considerado por alguns o  primeiro padre. Ele pensou uniu filosofia grega (Razão) e judaísmo (Fé), retomando uma das palavras gregas dos estoicos: logo;

2.
Escola de Alexandria: a. Patrística Helênica: Clemente de Alexandria (150-215) e Orígenes (185-253). O pensador cristão Clemente de Alexandria busca uma harmonia entre Razão e Fé, colocando o logos como o centro de seu pensamento. Se a ideia de logos, que se origina dos estoicos, parte da ordenação da natureza, isto é, da phisis, Orígenes afirma que Deus não pode ser entendido como corpo, matéria, natureza, por isso Ele, o Senhor, é incorpóreo. Diz Orígenes: “Deus é incompreensível e inescrutável”, porque transcende as capacidades da mente humana. Orígenes foi aluno de Clemente e aluno de Amônio Sacas (175-242), mestre de Plotino (204-270).

II. Patrística Apologista Latina ou Padres Apologistas Latinos                                                          

1. África: 

a. Patrística Latina: Tertuliano (160-240), Cartago (Tunísia); e Agostinho (354-430), Tagasta (Argélia). Enquanto este tem a fé com a filosofia, aquele afirma que crê porque é absurdo. Para Tertuliano, Jerusalém  (óleo) e Atenas (águas) não se misturam. Sem o pensamento metafísico dos gregos, o cartaginês prega o rigorismo moral por meio de fé, porque, como a filosofia destrói, só a fé constrói. Muito próprio da cultura latina, a patrística tertuliana é objetiva, pragmática.                                                                                           .

1.1. Igreja Estatal do Império Romano do Ocidente (380 d.C - 476 d.C): Fé e Razão de Agostinho 


a. Βάρβαρος (não gregos): em 410, visigodos de Alarico devastam Roma; e, em 476, o bárbaro Odoacro, chefe da guarda da pretoriana, depunha Rômulo Augústulo;                                                                           .

b.
São bárbaros cristanizados pelas ideias de Ário (256-336), que defendia não ser Jesus Deus, ou seja, não defendia a consubstancialidade, além de Deus, segundo Ário, ser um grande eterno mistério, oculto em si mesmo, e que nenhuma criatura conseguiria revelá-lo. Em 325, o Concílio de Niceia condena esse pensamento, e povos bárbaros se convertem ao cristianismo niceano;                                                            
.   

c.
Agostinho ajusta o platonismo no mundo ocidental por meio de Plotino, trazido por Ambrósio (340-397);

1.2
O livre-arbítrio (388-391), de Agostinho                                                                                               
.
d. O que é liberdade? Do latim lībĕr, liberdade significa “desregrado, licencioso; não sujeito a paixões; espaçoso, extenso; e do latim lībĕrālĭs, liberdade significa “distinto; bem educado; belo; bom; abundante”;


d.1 In(stru)ção: struō significa “levantar, sustentar; retirar; confortar; juntar, ligar, preparar, compor, tecer, relacionar, tramar, formar, causar, cobrir; tem também o sentido de autor, isto é, o que produz, o que causa”; e


d.2 O que é vício? Do latim vĭtĭŭm, significa “falha, falta; má qualidade; defeito”.





Estou bem




Domingo, inverno carioca é brisa fria pela janela e sol sem castigo. Não há nuvens. Acordei por volta das 9 horas e, como sempre, leio o que me interessa nos jornais O Globo e Folha de São Paulo.

Depois, abro um livro, dois. Meu trabalho é ler. Meu trabalho, entender as palavras neste dia tão calmo para retirar do belo livro "Experiência do Nada como Princípio do Mundo", de Guy Van de Beuque, professor da UFRJ, esta frase-oracional: "O pássaro é vermelho".

Diz o autor: "Nossa atenção se atém ao 'pássaro' e ao 'vermelho' de sua plumagem. O 'é', de tão pequeno, não atrai nosso olhar. É um mero conectivo, apenas uma palavra de ligação. O 'ser', então, nem se fala, parece uma mera abstração retirada do 'é'. Por sua presença constante, o ser nos passa despercebido, e mal conseguimos reparar nessa força que se impõe como a ligação de tudo que é."

O senso comum usa todo dia é, mas usa como praxis jamais pensada. Usa-se porque é comum. No entanto, existe uma profundidade do "ser", do "é", uma profundidade que nos lança à vertigem, por exemplo, na obra "Ser e Tempo", de Martin Heidegger.



No Brasil, há duas traduções, gosto das duas, mas a tradução de Fausto Castilho, que levou mais de 60 anos, é menos obscura do que a tradução de Márcia de Sá Cavalcante. A de Fausto flui mais.

Se filosofia "é recomeço", como pensa Heidegger, esse recomeço se chama por meio dos conceitos, por meio das categorias, por meio das palavras. Heidegger pensa a palavra.

A fim de saber o que é o ser, o pensador alemão pergunta o que (é) perguntar. E ele responde: "Jedes Fragen ein Suche" ou "todo perguntar é uma busca".

Ele inventou a relação entre "pergunta" e "busca"? Ele reproduziu isso? Não, jamais. Para afirmar isso, ele foi à palavra PERGUNTA segundo os gregos, não conforme os romanos.



E aí permita-me este texto meu:
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Em grego, “perguntar” é εрωτώ; e “pergunta”, εрώτηση. O sentido profundo da palavra “pergunta”, acolhido pelo significante grego εрώτηση, morreu no exato momento em que se transliterou esse significante para o latim vulgar como praecunto e para o latim clássico como percontāre.

Com efeito, se em latim “pergunta” implica “o todo inteiro”, em grego o sentido da palavra “pergunta” (εрώτηση) acessa a ideia mítica do deus Eros (Éрως), e, assim sendo, habita, na própria palavra “pergunta”, a ação de cortejar ou de enamorar o que é, visto que, por ser impulso que nos aproxima em direção ao que é, “perguntar” (εрωτώ) nos movimenta ao encontro amoroso, ao íntimo.

Se a filosofia, ao ver, pergunta, é porque o que é visto atrai; mas o atrair, sabemos, que namora o que é, já mora na pergunta. Uma vez atraída, a filosofia, que vê, pergunta sabendo que perguntar já é atração.
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Há na palavra "pergunta" um princípio, princípio que não tem nada a ver com a minha OPINIÃO.

Manhã de domingo, tenho andado tão bem com a vida.