sábado, maio 05, 2012

A morte





Não compreendo a vida 
senão pela intensidade do gesto.





A intensidade do gesto da amizade.
A intensidade do gesto do amor de mãe.
A intensidade do gesto de exercer a profissão.
A intensidade do gesto das paixões.

Sem intensidade, o peito não se estufa.
Sem intensidade, a alma não se expande.
Sem intensidade, a palavra não se agiganta.
Sem intensidade, o corpo se retrai. Se cala.


Mas há pessoas que não são intensas. Jamais estão à vontade. Até o choro é retido. Medido. Os que não são intensos estão sozinhos, escondidos.

Desejo o que é intenso para tocar na maior de todas as intensidades: a morte. A tua. A minha. A nossa.
 

Alunos, obrigado!

A vocês, eu sempre disse "assistam a bons filmes, a filmes que deem bons exemplos para nossas vidas".

"O Sorriso de Mona Lisa", "Ao Mestre com Carinho" e "Sociedade dos Poetas Mortos" são alguns que mostram a relação entre professor, aluno e escola. Boas películas. 

Mas por que são boas? Porque, entre outros valores, elas expressam a importância vital e elegante da desobediência.

Esses filmes projetam a ideia de que não devemos nos conformar. A desobediência, meus jovens, é virtude contra a arbitrariedade, contra o falso, contra a opressão, contra o cínico, contra o indiferente, contra o parcial,

contra uma funcionária da Secretaria de Educação do Acre que pressiona a direção da Heloísa Mourão Marques para eu ser retirado da escola.

Bendita sonoridade que sai
da boca dos inquietos

dos que não são domesticados
pelo afago de um deus

sonso
cínico
e lerdo.

Bendita sonoridade que sai
da boca dos injustiçados

dos que não são apascentados
nos campos dos obedientes ruminantes,

que comem sapos
que mastigam cadáveres de esperança
que ingerem a constância do fim
que degustam, sem tempero,

a abundância do manso capim.

Bendita sonoridade
chamada Desobediência,

palavra sem repouso
que também tem os 
seus direitos

perante os que falam como franciscanos
aos que passam, quase todo dia,

fome (de feijão com arroz bem feitos)
sede (de água pura e cristalina).

aos que passam
fome e sede

de justiça
.

Uma funcionária da Secretaria de Educação e o abaixo-assinado dos alunos

De forma arbitrária, uma funcionária pressiona a escola para que um professor seja retirado da escola, que ele seja advertido.

Sem apurar os fatos ocorridos em uma sala, sem ouvir alunos que presenciaram o ocorrido, o pré-juízo de uma funcionária determina uma acusação parcial, determina uma acusação unilateral: ele é culpado.

No entanto, de forma espontânea, alunos da turma onde aconteceu o problema manifestaram-se a favor do professor por meio de um abaixo-assinado, com a clara intenção de dizer que "o professor não tem esse tipo de postura agressiva ou de constrangimento em sala de aula".

Mais do que isso: alunos de outras turmas assinaram o documento. Muitos, tantos, vários, a grande maioria, enfim, segurou firme canetas para assinar nomes e nomes, e nomes, e mais nomes, e tantos, e vários nomes em nome de um professor.

Funcionária, o abaixo-assinado será entregue à senhora. Agora, por favor, tenha coragem e diga aos olhos deles: jovens, vocês estão errados, porque esse professor já foi processado e ele só arranja confusão.

   



  
 

Uma funcionária da Secretaria de Educação do Acre

Uma aluna diz à sua mãe que o professor a destratou em sala de aula. A mãe e a irmã da aluna vão à Secretaria de Educação.

Uma funcionária diz à mãe e à irmã que o professor tem muitos processos contra ele e que se trata de um indivíduo que só apronta confusão.

Depois, instrui para que a família da aluna vá ao Ministério Público para processá-lo.

Achando pouco, essa funcionária pressiona a escola para que o professor seja retirado da unidade de ensino e que leve ainda uma advertência.

Uma instituição não pode agir dessa forma. Isso é abuso de poder. Abuso. A funcionária confunde antipatia por uma pessoa com o cargo que ocupa em uma secretaria. Impressões pessoais não coadunam com a ética e com a imparcialidade de uma instituição de ensino.

Antes de qualquer condenação prévia ou unilateral, a sala de aula em que o fato ocorreu deve ser ouvida. Alunos simpáticos ou antipáticos ao professor devem ser ouvidos.

Eles presenciaram tudo. Eles ouviram tudo. Não é funcionária que assiste às aulas do professor mas eles, somente eles: os alunos.

Só quem pode falar de um professor com justeza(sua postura, suas brincadeiras, sua responsabilidade, sua irresponsabilidade, suas humilhações, seus constrangimentos, sua alegria, sua agressão, sua gentileza, se ele bom, se ele é ruim) é o aluno.

Os alunos, entretanto, não foram ouvidos. Uma acusação em si mesma determinou o que o professor é, sendo ainda essa acusação parcial, instruída ainda por uma funcionária parcial.

Isso não é justo.