terça-feira, dezembro 08, 2009

Até quando eu retornar


A partir de hoje - a não ser em caso extraordinário -, não atualizarei este blogue até 30 de janeiro de 2010. As férias só permitem descanso, curtição, deixar rolar, preguiça, mãe, pai, amigos, primos, primas, mar, montanha. Mony.

Assim sendo, nesta última atualização deste ano, dedico meu texto a meus alunos, a esse pessoal que me suportou, que não teve preguiça em sala de aula, que teve preguiça, que se dedicou até o último momento, que não se dedicou ao último instante.

Estudar, sabemos, é árduo, porém também transformamos os estudos em uma brincadeira de gincana do conhecimento.

Muitos aceitaram o desafio de eu ser um (risível) obstáculo. Esses não desistem. Quanto mais dificuldades, mais se superaram. Outros, acarinhados pela preguiça, pelo desinteresse, pela falta de vontade, entregaram-se ao descaso, à derrota, esperando de minha parte o relaxamento, a facilitação ou um tipo de corrupção silenciosa que permitisse a aprovação de todos.

Enganaram-se. Há 20 anos, eu leciono e, até hoje, sou um tarado pela sala de aula. Podem falar tudo de mim, tudo, menos que eu não tenho a paixão indomável de lecionar. Já disse: leciono para não morrer. A sala, você viram, foi o espaço onde eu encenei a ordem e a desordem, a lucidez e a loucura, o sério e o cômico; foi o lugar onde sou mais humano, onde rio de mim, de ti, de nós. Mais tarde, após anos lecionando, eu descobri: a sala é o lugar sagrado e profano onde sou quem aprende primeiro.

Assistimos a "Jeca Tatu" para depois anotar três cenas e interpretá-las. Apreciamos "Tapete Vermelho". Refizemos textos. Lemos, mais e mais, interpretamos "O Navio Negreiro". Debruçamos nossos olhos sobre os versos de Cruz e Sousa. Entendemos a letra do Rappa e, no segundo momento, nós relacionamos à poesia de Castro Alves. A gramática só surgiu por causa da produção textual. Lemos "Auto da Compadecida".

Antes, lemos "Auto de São Sebastião" e, entendida a peça de José Anchieta, soubemos que no século 16 o poder da Igreja deformaca a cultura indígena. Lemos poesias. Aprendemos o poder da metáfora por meio do sensível filme "O carteiro e o poeta".

Busquei mostrar a vocês a beleza da cultura popular por meio do caipira, nossa identidade nacional. Lemos sobre o riso em um fragmento de texto do romance "O Nome da Rosa".

Faltei pouco. Falei muito. Repeti mais ainda: anote, anote, anote.

E quantos ótimos alunos o destino apresentou a meus olhos. Jovens humildes, problemas em suas casas, discriminados, mas com um espírito à altura da superação. Diante deles, preciso melhorar sempre. Sempre. São nomes que desejam mais saber. Alunos que sabem contestar. Inquietos.

Se eu pudesse ofertar a cada um de vocês um livro, ofertaria "Fernão Capelo Gaivota", de Richard Bach. Que o voo seja alto para que, quando você mergulhar, busque o peixe no fundo do mar, o melhor. Não se limite a comer o peixe que o pescador lança à superfície das águas. Não comam o que o bando come, porque a beleza da vida não está na superfície e muito menos no que os vulgares fazem. O melhor alimento habita no fundo, lugar onde poucos tocam.

Mas saiba que voar mais alto para chegar ao fundo exige esforço, erros, tentativas, porém é isso que nos eleva à condição de humanos. Supere-se! Seja melhor que seus pais e permita que seus filhos sejam melhores que você.

Navegamos melhores em mares revoltos. Em lagos, onde a água é calma, nada é exigido de nós, a não ser acomodação. Leia narradores que inquietam teus olhos, que perturbem a tua estabilidade. Proust. Lispector. Virgínia. Leminski. Raduan Nassar.

Leia bons livros. Releia-os. Assista a ótimos filmes. Ame as boas amizades, as que exigem de você o melhor de ti. Deixem a TV também no canal Cultura. Namorem para que possam ser melhores do que são. Amem!!! Aprendam que a Paixão não é algo passageiro - há 20 anos, sou apaixonado pelo ato inquietante de lecionar.

Leia Fernando Pessoa. Drummond. Mário Sá-Carneiro. Seja um leitor assíduo da vida. Afaste-se das palavras doentes das ruas. Leia o que eu não li. Obedeçam na hora certa. Desobedeçam na hora incerta. "A desobediência também tem seus direitos", grita André, protagonista de "Lavoura Arcaica".

Um beijo em seus destinos. Um abraço fraterno em suas vidas.

Sou apaixonado por vocês!!!

Os referenciais da Secretaria de Educação

No dia 7, participei do encontro entre professores de Literatura (Língua Portuguesa) e não assinei o documento que aprova os referenciais porque eles não foram dicutidos no encontro. Há uma questão sobre historicismo, apresentada pelos professores da escola Glória Perez, que não entrou em questão.

Em uma próxima reunião, se houver esse debate, se houver certas considerações, o documento poderá ser assinado.

Semestralidade

No Acre, alguns jornalistas e o senso comum acreditam que o poder concentra-se em assmbleias legislativas ou em câmaras de vereadores, ou seja, acredita-se que o poder é físico, é matéria; manifesta-se em prédios ou encarna-se em deputados ou em vereadores.

Ainda pensamos o poder como se fosse a imagem visível de O Príncipe, de Maquiavel, pensamento de 1513. Longe dessa concepção de poder, a escola surge em Vigiar e Punir, de Michel Foucault, pensador que nos fala de outro poder que nos modela.

Hoje, conversando colegas de profissão, afirmei que a escola pública se põe acima de interesses corporativistas. Opondo-se à minha fala, uma professora afirmou com tom irônico que busco tanto o melhor para o aluno que defendi a semestralidade. Não entendi a relação; porém, ainda assim, esforçar-me-ei para explicar.

Semestralidade
Hoje, leciono em duas turmas na escola Heloísa Mourão Marques. Em uma, há 33 alunos; na outra, 30. No diário, há, entretanto, 50 nomes. Ao todo, corrijo 63 redações em sala por meio da refacção ou da reconstrução textual. Caso opte por duplas, são 31 redações.

Como eu reconstruo os textos de meus alunos (com eles) em sala de aula, melhor essa cansativa refacção com 31 redações. No entanto, sem semestralidade, seriam quatro turmas, isto é, 126 redações.

Sem semestralidade ou com semestralidade, a carga de Literatura (Língua Portuguesa) limita-se a 160 horas-aulas e, desde que saibamos colocá-la na semestralidade, a quantidade de aula é a mesma se fosse anual, se não houvesse semestralidade.

Defender a semestralidade é, portanto, qualificar o ensino-aprendizagem de produção textual para quem reconstrói texto em sala de aula com os alunos. Em 2010, com o fim da semestralidade, lecionarei para 126 alunos, não mais para 63. Uma solução, talvez, seja criar duplas para que produzam e reconstruam seus textos.

Sinceramente, professora, não entendi a sua colocação de tentar, talvez, me constranger diante de colegas de profissão. Penso que o caminho para melhorar o ensino público não seja jogar palavras inconsequentes e direcionadas a uma pessoa em momento inadequado.

Defenda ideias, professora, com raiva, com choro, com gestos intensos, gritando, socando a mesa, não importa a aparência, a forma, a maneira de defendê-las, mas defenda ideias. Defenda-as!!! para qualificarmos o ensino público e não para prolongarmos o feriado.

Tenho defendido ideias, eis algumas:

1. Conselho de disciplina;
2. Conselho de turma;
3. Atividades lúdicas na escola (gincana do conhecimento);
4. Alunos exemplares avaliarem os professores;
5. Coordenador assistir às aulas de professor;
6. Não é o professor que deve escolher a turma para lecionar, mas o aluno é quem deve escolher o professor com quem deseja estudar;
7. Se o professor lecionou para o primeiro ano do ensino médio, ele deve acompanhar essa turma até o terceiro ano;
8. Por mérito profissional reconhecido, as coordenações deveriam ter um professor de Língua Portuguesa e um de Matemática.

De forma clara, em uma reunião de professores, diante de todos, defenda ideias.

Professora, o que a senhora defende?