sábado, junho 30, 2007

Ele só nada e nada


Em nota do jornal A TRIBUNA


"Mal assumiu o Sinteac, Manoel Lima já fala que é candidato a vereador. O presidente começa muito mal."

Na foto, Manoel Lima nada na maré baixa. Manoel só nada, nada, nada, nada nas águas turvas do Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Acre, o Sintec.


JustiÇa










Sei que não viverei para isso. O tempo respira contra mim. Um dia, no entanto, o povo cairá de boca na Justiça.

Vou Tomar Conta de Minhas Aulas

Leciono em uma escola pública há uns bons anos e, desde muito tempo, proponho a criação dos conselhos de disciplina.

Finalmente, foram criados, mas o que pensei tem me cansado por falta de objetividade.

Na foto, hoje, pela manhã, a área de Literatura e de Língua Portuguesa se reuniu sem objetivos. Fiquei indiferente, porque certas imposturas me cansam. Fiquei em meu canto e, pela primeira vez, calado.

Tanto para se fazer em uma escola pública e alguns colegas não sabem ou não desejam qualificar o ensino. Na condição de funcionários públicos, não seremos demitidos por incompetência ou por não haver bons resultados. Não somos exigidos para haver qualificação.

Na reunão de hoje, não havia coordenador de área e não havia ata para apresentar o que já fizemos e o que faremos. Falatório. Falatório. Falatório. Blablablá.

Pela primeira vez, saí antes do tempo e sairei toda vez que o Conselho de Literatura e de Língua Portuguesa não for organizado e não traçar metas. Estou cansado de reuniões infecundas. Se não houver comprometimento com o patrimônio público, no caso, a escola, darei uma sólida indiferença como resposta.

Vou tomar conta de minhas aulas, de meus alunos. Aproveitar o tempo para ler e reler mais.

sexta-feira, junho 29, 2007

Saudade


O Rio de Janeiro não se reduz a balas perdidas. Saquarema é um belo lugar para se alimentar e para se banhar.

Quando você for ao Rio de Janeiro, visite este município.

Na foto, a igreja no alto do morro, diante do mar. Saquarema fica 1 hora e meia de Niterói e 50 minutos de Maricá.

Ronda Gramatical

"ineficázeis"

1. Repórter escreveu "ineficázeis".

Ronda Gramatical







Todos os dias, transportamos usuários do TFD, além de atender o sul-cruzeirense que sofre com a falta de produtos, e, que, por isso, acaba levando várias mercadorias como bagagem”, detalhou."

1. Há dez anos, reviso texto de jornalistas e, até hoje, não encontrei um repórter que dominasse o uso correto da vírgula. Por favor, "produtos e que, por isso, acaba".

quinta-feira, junho 28, 2007

Um curso fora de curso


Foto de Alberto Nunes

Alunos de jornalismo da Ufac realizam protesto
De Tatyane Lima

Na manhã de ontem, os alunos do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Acre (Ufac) realizaram um protesto em frente à reitoria, pedindo melhores condições de ensino e providências com relação ao reconhecimento do curso pelo Ministério da Educação (MEC).

Vestidos com roupas pretas, usando nariz de palhaço e apitos, cerca de 30 estudantes discutiram a falta de equipamentos e laboratórios, a falta de professores, o reconhecimento do curso pelo MEC e a implantação do curso de Jornalismo em Cruzeiro do Sul.

Os alunos não concordam com a universidade investir em um novo curso, sendo que o da capital ainda precisa de muitas melhorias.

“Em recente entrevista, o reitor Jonas Filho disse que o curso de Jornalismo do Juruá seria no nível da UnB (Universidade de Brasília). Isso é uma afronta para nós que cursamos o curso aqui em Rio Branco e não temos sequer o reconhecimento do curso pelo MEC,” declarou o estudante do 8º período Jaílson de Macedo.

Em junho do ano passado, o Mec visitou as instalações do curso de Jornalismo da Ufac e fez uma série de exigências quanto à compra de novos equipamentos e reformas do bloco onde atualmente estudam quatro turmas.

Um ano após a visita, nada foi feito. O coordenador do curso, Maurício Bittencourt, explica que a universidade tem muitas dificuldades para conseguir trazer os recursos de Brasília para a Ufac.

“A verdade é que vivemos um momento em que o governo federal não está preocupado com as universidades públicas. E ainda temos de enfrentar uma série de problemas, como falta de recursos financeiros e as greves,” comentou.

Segundo ele, a reitoria liberou a compra dos novos equipamentos, mas as licitações não puderam ser abertas devido à greve dos servidores.

Os universitários prometem continuar as mobilizações caso a reitoria não apresente até o final da semana uma solução prática para os problemas.

A Matemática quer Brincar



Tem professor que só serve para entrar e sair de sala com aulinhas escritas na lousa e copiadas por alunos.

Outros... fazem os cálculos e desejam brincar para alegrar a escola. Esses outros são os professores de Matemática da escola Heloísa Mourão Marques.

Em julho, uma gincana cultural irá rolar na escola. Na foto, a explicação foi ótima para o bem de todos.

A área de Matemática merece os parabéns.

Enem Assim
















Foto de uma introdução dissertativa de um aluno de ensino médio. Sem a mínima noção de pontuação, esse texto tem sido a regra.

O presidente do Sinteac lutará por qualidade de ensino? Duvido.

Se lutar, deverá começar por Literatura, Língua Portuguesa e Matemática.

Há uma realidade entre quatro paredes que propagandas de governos não conseguem ocultar e que a incompetência sindical não alcança.

Li tarde demais

"Professor amanhã aqui na UFAC, mais especificamente na reitoria, os acadêmicos do Curso de Jornalismo irão fazem um manifesto contra a liberação de verba e implantação do referido curso no vale do Juruá. Será um ótimo momento para o JORNAL A TRIBUNA fazer a cobertura. Será amanhã pela manhã, das 9:00 da manhã ( 28/ 6/2007). Pedimos que A TRIBUNA envie um m reporter."

1. Li a mensagem em 28 de junho, às 16h25min.

quarta-feira, junho 27, 2007

A escrita de meus alunos

Podem criar suas propagandas, mas, sem elas, eu vivo a realidade escolar há anos. Há anos. No que se refere a textos dos alunos, conheço bem o que a escola pública impossibilita.

Em 23 de março deste ano, meus alunos, de forma livre, escreveram suas introduções. Leia esta:

Introdução do aluno em 23 de março.

"As familias, estão se acabando com pai matando filho e vice-versa. Por isso enquanto não a ver compartilhamento entre pai e filho vai continua violência na sua casa frequentimente todos os dias".

Esse texto foi escrito por uma aluno do segundo ano do ensino médio, ou seja, dois anos antes de ingressar em uma universidade. O sistem não funciona, porque 100% dos alunos - eu disse 100% - não sabem usar as vírgulas.

Podem pedir que "açeçores de comunicassão" adulem o poder, mas o cotidiano escolar, da forma como se organiza, impede qualificar o ensino, por exemplo, de redação.

Com essa introdução acima, precisamos priorizar os erros. No meu caso, por questão de organização interna do texto, priorizo o uso da vírgulas. Passo aos alunos exercícios relacionados à Ordem Sintática Direta, uma prática que elimina mais de 80% dos erros.

Em aulas de gramática, duas por semana, massifico exercícios com vírgulas segundo a Ordem Sintática Direta. Em um texto bom de jornal ou de revista, realizamos leitura e eu mostro a eles o uso da vírgula.

Com duas aulas de redação na semana, reconstruímos as introduções. Aula, profundamente, cansativa, porque os alunos erram muito e repetem os mesmos erros.

Frequentimente - Quando há erro ortográfico, marco no texto e o aluno consulta o dicionário para escrever corretamente.

Repare como ficou a introdução do aluno após 11 reconstruções.
Introdução do aluno reconstruída em 15 de junho.

"Após dez reconstruções, a introdução ficou assim em 15 de junho de 2007. A destruição das famílias acontece porque, em alguns lugares do país, os filhos não ouvem os conselhos de seus pais. Com isso, eles trazem a violência para dentro de suas próprias residências. termina destruindo a suas famílias."

Ficou melhor, mas precisa melhorar mais ainda. Na sexta-feira, dia 29, apresentarei quatro introduções reconstruídas para que observem, mais uma vez, o que deve ser evitado.

terça-feira, junho 26, 2007

Eu Não a Vi Hoje (2)

Eu não a vi. Não vi. Ela, eu não a vi. Não vi. Não. Ela, eu não a vi. Não vi. Não a vi. Eu não a vi.

Eu-lírico (5)


Na foto, Max Horkheimer. Ele e Adorno escreveram um ótimo livro sobre a Razão, Conceito de iluminismo. Quando o professor bobinho de Literatura tagarela em sala sobre eu-lírico, não relaciona a voz poética como inquietação estética oposta à cultura de massa, ou seja, a Literatura desse professor ignora a linguagem poética no mundo hodierno.

Suas aulas são rotinas que reproduzem livros didáticos.

No caso de Conceito de iluminismo, quando o lemos, nós perdemos a inocência tola sobre a função política da razão científica ou instrumental, a mesma que gerou a sociedade industrial.

Os românticos e os simbolistas, por exemplo, opõem-se à mecanização da vida, porque "o industrialismo reificou as almas", isto é, coisificou-as.

Mas o que é "coisificar"? Horkheimer e Adorno respondem.

"Por meio das inúmeras agências de produção e de cultura de massa, os modos de comportamentos sujeitos a normas são inculcados no indivíduo como os únicos naturais, decentes e racionais. Ele só se determina ainda como coisa, como elemento estatístico, (...). Sua medida é a autoconservação, a adaptação à objetividade bem ou mal sucedida das suas funções, e o modo imposto para esta adaptação
."

Gostei de "a adaptação à objetividade bem ou mal sucedida das suas funções".

segunda-feira, junho 25, 2007

Manuel Lima & o Sinteac

















Escolheram Manuel Lima para representar o Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Acre.

Um vez por ano, o Sinteac, por meio do "imposto sindical", mete a mão em meu bolso para administrar mal o dinheiro.

Por isso, sou forçado tecer uma crítica a um sindicato que perdeu o mouse da história.

Não sei se ele tem filhos, mas Manuel pode ser um ótimo pai. Pode ser um ótimo filho, um ótimo esposo, um ótimo cristão, mas não acredito que ele seja um ótimo administrador.

Pelo que leio nos jornais, as falas de Manuel nunca salivaram o novo. Pelo que diz à imprensa, Manuel deixou de ser professor há muito tempo para se reduzir aos chichês sindicais. Em outras palavras, Manuel não inovará o Sinteac, porque duvido de sua inteligência para isso. Manuel é senso comum.

O sindicato dos professores só serviu até hoje para sustentar um corporativismo anacrônico com o dinheiro dos outros e, dessa forma, projetar nomes. Infelizmente, Manuel Lima representa o continuísmo de um partidarismo parasita de um dinheiro arrecadado à custa de uma estrutura sindical envelhecida.

1. Manuel, como outros, falará para a categoria com clichês sindicais. Manuel não falará para a sociedade;

2. Manuel não promoverá um congresso para debater sobre um novo sindicato. Não trará intelectuais de outros estados para problematizar a questão;

3. Manuel manterá uma luta limitada a interesses econômicos. Ele não possibilitará um sindicato que fale muito bem sobre qualidade de ensino;

4. Manuel não fará auditoria no final de sua gestão;

5. Manuel não modernizará o Sinteac, pois o sindicato ainda servirá aos interesses de grupos partidários;

6. Manuel não criará uma imprensa autônoma no Sinteac que pense, por exemplo, sobre educação;

7. Manuel não possibilitará uma nova estrutura sindical;

8. Manuel não colocará em seu discurso a importância da cultura.

Três Livros

Palavras sem sentido

De linhagens distintas, três novas obras reiteram
a inquietação quanto à legitimidade da poesia na atualidade

MARCOS SISCAR
ESPECIAL PARA A FOLHA
CADERNO MAIS!

Apesar de distintas visões sobre a natureza de seu ofício, três novos livros de poesia reiteram uma mesma inquietação quanto à legitimidade da prática poética: para que poesia? A pergunta, em aparência contraditória, é um dos eixos do discurso poético moderno e se tornou mais aguda depois do "fim das vanguardas", adormecido o etos transformador que a atenuou ao longo de quase todo o século 20.

O desconforto aparece na justificativa editorial da poesia reunida (incluindo vários inéditos) de Alberto Pucheu, no destaque dado à existência de um "projeto", reforçado pela presença de entrevistas do autor, como se a poesia devesse ininterruptamente explicar a que veio.

A obra permite acompanhar as transformações -não apenas o programa- de uma escrita que busca a "fronteira desguarnecida" entre poesia e filosofia, passando das elipses metonímicas a uma expansão reflexiva.

A profusão textual ("falatório"), organizada pelo princípio da montagem ("arranjo"), é seu modo de acolher o "silêncio", no "espanto" do acontecimento.

Abandonando a trava poundiana da síntese carregada de significados, o poeta encontra no parentesco com o pensamento um modo de merecer a vida ("Passo a vida imerecidamente"), mas também de atribuir sentido à manifestação poética. É significativo que essa transformação tenha início na comoção pelos livros esquecidos nas bibliotecas, o que legitima o poético como espaço de transgressão ("O mais novo interdito: não há lugar para o livro./ Transgressão em exercício: o livro como lugar").

O novo livro de Paulo Henriques Britto dá continuidade a uma voz poética mais conhecida dos leitores de poesia. Seu gesto demolidor contraria o de Pucheu, dirigindo-se contra o pensamento abstrato e contra a experiência sentimental.Em Pucheu, a vida "espreita a cada esquina"; em Britto, ela se limita ao mínimo suspiro.

Há certa violência crítica em Britto contra a profundidade do assunto, a favor da superfície, ou seja, da comunicação que se aproxima do simples contato ("e se a linguagem for apenas fática?"). Nota-se a proximidade dessa poética não apenas com a lucidez mas também com a obsessão da forma típica de João Cabral, acolhedora e claustrofóbica. Seu espaço é estreito, sem saída ("beco"), como a medida fixa, tendo em vista a tênue razão de não ser "pior do que outro qualquer".

Dissimetria

Apesar disso, um breve suspiro de vida se manifesta: pragmático, ácido, sem concessões. É o lado talvez drummondiano da poesia de Britto que, à bem cabralina "inapetência para os sentimentos", acrescenta o patos da recusa da "piedade".

É nesses momentos de dissimetria, entre a aridez de superfície e o envolvimento subjetivo com algo que tem que "seguir em frente", que a poesia de Britto respira mais livre, para além da reconhecida coerência de sua poética.

Com "Andaimes", Milton Torres, que é também historiador e diplomata, prossegue um projeto recente (outro livro de poemas saiu pela Ateliê, em 2005), mas de fôlego amplo, que o prefaciador define como busca dos "fundamentos intelectuais da cultura eurocêntrica". O leitor não deve deixar-se enganar pela modéstia do título: Torres se apresenta como um cosmopolita erudito, com manuseio maduro da tradição poética.

Pelo domínio de referências culturais heterogêneas, de modo fragmentário e citacional, seus poemas evocam uma espécie de "pós-modernismo crítico" no qual, entretanto, a questão cultural dificilmente ganha corpo, em sua abrangência, uma vez que tende a diluir-se na exuberante profusão de línguas (basicamente português e inglês, com incursões freqüentes pelo espanhol, francês e italiano), de citações, de exercícios de estilo. Embora organizado tematicamente, o ecletismo do livro é algo desconcertante.

Se, para Britto, o real é um "excremento de palavras" e a razão de escrever oscila entre o desencanto individual e uma exigente visão da vida literária, para Torres é a poesia que está na "lixeira" do real, pois, à falta de "mercado", vive de "propina".

A conclusão, neste caso, sugere que o poeta supostamente corrompido está ausente do poema realizado: o impasse se resolve pela presunção de inocência -ingênua ou cínica- que apenas reforça os motivos da suspeita.

A despeito disso, o cuidado em oferecer uma justificação pública ou pessoal para a prática poética encontra sintonia com os "faits divers" da poesia. O modo inquieto, sistemático e contraditório com que essa justificação tem sido feita mostra que alguma coisa respira na poesia contemporânea, ainda que renovando as razões de sua perplexidade.

MARCOS SISCAR é professor de literatura na Universidade Estadual Paulista.
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A FRONTEIRA DESGUARNECIDA
Autor: Alberto Pucheu
Editora: Azougue (tel. 0/xx/21/ 2240-8812)
Quanto: R$ 32 (288 págs.)

TARDE
Autor: Paulo Henriques Britto
Editora: Companhia das Letras (tel. 0/xx/11/ 3707-3500)
Quanto: R$ 33 (96 págs.)

ANDAIMES
Autor: Milton Torres
Editora: Ateliê (tel. 0/xx/11/ 4612-9666)
Quanto: R$ 45 (200 págs.)

sábado, junho 23, 2007

Eu-lírico (4)






Theodor Wiesengrud-Adorno (1903-1969) publicou Lírica e sociedade, uma interessante contribuição da sociologia para a literatura.

Em sala de aula, por causa de péssimos professores de Literatura, a poesia não se relaciona à política, a um eu-lírico que não surge como linguagem que se opõe à cultura de massa.

"A sensibilidade do eu-lírico faz questão de que continue sendo assim, de que a expressão lírica, desvencilhada do peso da objetividade, conjure a imagem de uma vida que seja livre da coerção da prática dominante, da utilidade, da pressão da autoconservação obtusa."



sexta-feira, junho 22, 2007

Eu-lírico (3)



Para quem encara a disciplina Literatura como quem nega sua infantilização em sala de aula por meio de livros didáticos, tem o dever de ler e de reler Maurice Merleau-Ponty.

Em seu livro Signos, "a palavra não é um meio a serviço de um fim exterior, tem em si mesma sua regra de emprego, sua moral, sua visão de mundo". Para ele, a Literatura é linguagem conquistadora.

Açeçor de Comunicassão

"O deputado, o debate como um dos grandes passos que promovem caminhos para maior desenvolvimento da educação."

1. "O deputado, ", mas o açeçor de comunicassão do deputado federal Henrique Afonso (PT-AC) não viu uma vírgula entre sujeito e predicado. Para um deputado que luta por uma educação melhor no Estado, seu açeçor deveria errar menor, porque ganha muito bem para comprar uns bons livros de gramática em Brasília.

Não Gosto de Louros

Amigo,

Maravilhosa é a sua coragem em criticar, isso enche de esperanças alguns, de raiva outros e pior, despertam naqueles que deveriam recebê-la como incentivo a melhora, antipatia. Continue, porém lembre-se, os louros da vitória nunca são daqueles que laboram , mas dos omissos que fazem parte da turma do amém. Tentei dizer-lhe isso no blog, mas não consegui...abraços

"Evoluir é o nosso destino"

Amiga bloguista,

Fernando Pessoa, em um de seus versos, diz que "viver é não conseguir". Não espero louros. Espero, isso sim, a forma ética e inteligente de travar batalhas por meio de palavras que, para mim, são posturas diante da vida.

Se alguns na escola lêem este blog com raiva, deveriam agir na escola de outra forma para o bem dos alunos.

Coloco a escola neste blog para que, em um futuro próximo, quem sabe, outros professores criem blogs a fim de que eles exponham a escola pública para muito além das propagandas de governo e para muito além dos gestores.

Eu vivo o cotidiano escolar, conheço bem os problemas de uma escola pública e também sei dar propostas. Sou apaixonado pelo ato inquieto de lecionar e, neste blog, jamais lancei palavras para deformar o nome de alguém. Agora, críticas, sim, eu as crio, porque tenho fome de qualidade de ensino na escola onde leciono.

quinta-feira, junho 21, 2007

Eu-lírico (2)



Em José, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), um dos livros pedidos pelo vestibular da Universidade Federal do Acre, a linguagem poética revela um nome bíblico dessacralizado pela sua condição social de boi no campo-cidade (segunda poesia).

Oposto ao sagrado, o eu na poesia Boi não se encontra em comunhão com os outros. Os bois são incomunicáveis. No campo-cidade, não há transcedência, porque nem uma tempestade de amor cai (terceira estrofe, quarto verso).

quarta-feira, junho 20, 2007

Não sou gay, mamãe!



Sempre simpático, alegre, o professor Márcio se diverte com a seriedade de alguns, a minha, por exemplo.

Recente no magistério, espero que a geração de meu colega de trabalho lute por uma escola pública melhor "sem perder a ternura jamais" e o riso.

Sim, ele é homem.

Indigestão



Ontem, com muita fome, fui ao encontro de um sanduba. Abri, vamos dizer assim, o menu.

De cara, um erro ortográfico causou-me indigestão: "sanduiches diverços".

Sentei-me. Não quis mais o sanduíche.

Fui para casa com fome de justiça ortográfica.

Proibido blogar


Hoje, chamado a uma reunião na escola Heloísa Mourão Marques, disseram-me que é contra a lei fotograr a realidade de uma escola pública.

Hoje, um fato ocorreu no corredor escolar, mas não publicarei a foto neste blog, porque dei minha palavra.

No entanto, por favor, publicarei imagens da escola e continuarei a criticar e a propor soluções.

Na foto de hoje, incomoda-me uma parede de escola pública suja. O governo reformou a unidade escolar, mas o ex-gestor e a atual gestora não inibiram o processo de favelização na escola.

Essa parede encontra-se imunda há meses. Tenho orado e rezado para que um milagre aconteça, mas isso independe de Deus. Isso depende do compromisso cívico com o erário, com o dinheiro público.

Quem sujou?

Quem permitiu?

Quem limpará?

Quando limpará?

É contra a lei publicar essa imagem em um blog? Que seja.

Essa imagem não estaria aqui se outras leis fossem cumpridas, por exemplo, zelar pelo patrimônio público.

O ÓbviO

"O deputado cearense ainda comprometeu-se em visitar todo o interior acreano numa próxima vinda ao Acre."

1. Claro, não seria numa próxima vinda a Marte ou a Saturno.

terça-feira, junho 19, 2007

Deixei passar

"Lutar pela insalubridade para professores e funcionários de apoio"

1. Como sabemos, "insalubre" significa algo "sujo". A luta, portanto, é por salubridade, mas o errou foi publicado, porque o repórter que escreveu sempre tem razão embora não consulte os livros.

Lei 1.513

Escola não sai em jornais acreanos. Carro bate em poste quando o cachorrinho fazia xixi é matéria publicada em jornal.

Em uma das reuniões, ficou acertado que professores indicariam dois ou três nomes para que a gestora da escola Heloísa Mourão Marques escolhesse um nome para ser coordenador de ensino.

Até onde eu sei, não como cocô e não rasgo dinheiro, ainda. Bem, como não sou maluco, lembro-me dessa reunião, sem ata.

Antes de ficar internado, não havia um coordenador. Quando retornei à escola, final de abril, havia uma coordenadora de ensino, mas ela não tinha saído do acordo verbal entre professores e gestora. A palavra tinha sido quebrada.

Em seu Capítulo VI, Do Coordenador de Ensino, artigo 40, está escrito:

O Coordenador de Ensino será nomeado pelo Diretor da unidade de ensino, dentre os funcionários da escola que atendam aos requisitos dispostos no art. 39 desta Lei.

Lei desobedecida.

Língua não é droga

Os responsáveis pela semana nacional antidrogas publicaram um texto drogado de erros. Instituições tem a obrigação cívica de obedecer às regras da língua portuguesa. Um errinho aqui, outro errinho ali, tudo bem. O problema é quando o erro é vício.

IX Semana Nacional Antidrogas - Desde quando "IX" representa "9ª"? Número romano não é número ordinal. Já pensou se fosse a 39ª Semana Nacional de Antidrogas? As instituições escreveriam XXXIX. Instituições devem dar bons exemplos, também, de... língua portuguesa.

O Esporte e o Lazer na Prevenção - Ao meu ver, o uso do "na" (em + a) está errado, porque o esporte não se encontra dentro da prevenção. Trata-se, isso sim, de esporte e lazer para algo, no caso, para a prevenção.

Há outros erros no texto publicado pelas instituições? Muitos. Tudo bem que combatam as drogas, mas, por favor, imploro, não façam da língua portuguesa uma droga. Respeitem-na!!!

Não Vi a Diretora - 1 falta

A partir de hoje, restou a mim publicar neste blog a ausência da diretora. Todo dia, de segunda a sábado, colocarei falta. Eu devo satisfações quando falto, o mesmo deveria ocorrer com um diretor de escola pública.

Cobram de mim. Mas quem cobra de um diretor?


segunda-feira, junho 18, 2007

Eu-lírico (1)

No início de Dom Quixote, o narrador nos conta que "encheu-se-lhe a fantasia de tudo que achava nos livros, assim de encantamento (...); e assentou-se-lhe de tal modo na imaginação ser verdade toda aquela máquina de sonhadas invenções que lia (...)."

Quem leu a obra de Cervantes sabe que seu personagem interpreta e decide não acreditar no que vê. Dom Quixote nos ensina a suspeitar do que vemos.

Por causa disso, ela, a fantasia, Dom Quixote encheu-se dela. Na raiz da palavra, "fantasia" significa "visão das sombras".

Assim, pela fantasia, a visão de Dom Quixote inverte o que vê, focaliza "o outro lado". Há nesse protagonista a linguagem do eu-lírico, porque sua visão deseja o "outro lado", isto é, "o verso".

A linguagem poética é essa expressão inconformada com o que vê, por isso o verso, o outro lado da página... da vida.

Em José, obra poética de Carlos Drummond de Andrade, páginas obrigatórias para o vestibular da Universidade Federal do Acre, o eu-lírico expõe uma inadequação entre o eu e o mundo logo na primeira poesia, A bruxa.

Amo este homem e a sua família


Minas Gerais, nos últimos 15 anos, chegou a mim em forma de um homem que abre a porta de sua casa como quem abre sua alma para a amizade.

Se Minas é Estado, é estado de alegria encarnado em Matheus, pessoa que prepara um churrasco delicioso e que oferta a suculenta carne à boca de amigos.

Soube que esse Amigo morreria por causa de um problema cardíaco. Aos poucos, Matheus estava partindo. Quando eu soube do grave problema, ele encontrava-se em São Paulo para se submeter a uma cirurgia.

Chorei. Senti dor.

Minas permanece de pé. Minas ainda viverá por muitos anos. A cirurgia possibilitou a esse jovem sua continuidade no tempo.

Tempo, alimento que sustenta quem sabe degustá-lo com a saliva que umedece o amor que tenho por ti, por tua esposa Lucinéa, por teus filhos João Rodolfo e Matheusa.

Que a mesa de tua CASA seja farta de compreensão. Que a fartura do diálogo empanzine tua carne de entendimento sobre você e sobre teu semelhante.

Vida longa, meu amigo!!!

Palavras a Marcos Afonso

Li tua carta, Marcos, com toda lentidão de um senhor de idade. Calma. Muita calma. O que dizer a teu olhos?

Antes de mais nada, sinto-me na humana responsabilidade de escrever com muito esmero neste blog, porque minhas palavras são captadas por pessoas exigentes, você.

Depois, digo-lhe que sou muito grato por tuas palavras. "Gosto das suas palavras. Seu blog é leve, tem boa diagramação, as fontes são elegantes, as fotografias bem definidas, os sites que você sugere, importantes."

Queria ter um tempo largo para exigir mais de mim. Às vezes ou quase sempre, atualizo este espaço a mando da rapidez. Queria humanizar este blog com a fala de gente comum, ter tempo para ouvi-las e misturá-las a poesias.

Gostei de tuas observações sobre a escola, sobre a minha profissão de fé. Leciono, Marcos, para não morrer.

Obrigado, querido!!!, que a vida o recompense com os gestos mais simples e com a certeza de que ir ao encontro do Outro confessa a nossa alegre fragilidade.

Tua carta, eu a guardarei.

quinta-feira, junho 14, 2007

Deu na Folha de São Paulo


NOTA da coluna BOM-DIA!, do jornal A TRIBUNA

Deu na Folha
Know-how. Ao saber que Sibá Machado (PT-AC) já foi coveiro, um senador ficou todo animado. Segundo ele, o presidente do Conselho de Ética poderá utilizar sua experiência para enterrar a investigação contra Renan. Sibá nada respondeu. Fez de conta que não era com ele, ou seja, se fez de morto.

Ronda Gramatical - "Oportunizar"

"Eu quero elogiar a iniciativa da Assembléia Legislativa de oportunizar às lideranças do Alto Acre, desde o prefeito ao líder dos produtores rurais, a chance de dizermos o que queremos, o que é melhor para quem vive no interior. Esse exemplo deve ser seguido e posto em prática por outros setores da administração pública. O povo não quer muito, quer apenas ser ouvido e falar, dizer dos seus problemas e sonhos." (Joais Santos, prefeito de Capixaba)

1. Oportunizar - Não há esse verbo no dicionário Houaiss. Não há esse verbo no dicionário Aurélio. Não há esse verbo no livro Regência Verbal, de Celso Pedro Luft. Como estamos na floresta, existem fadas, gnomos e oportunizar.


Ontem, depois de sair do jornal, cheguei ao meu descanso às 22h45min. Abri a porta. Do outro lado da rua, um homem, à porta de sua bela casa, falava alto para outro homem.

O outro homem procurava em seu lixo. "Não mexa em meu lixo, saia daí". "Eu arrumo, quando eu acabar de catar em seu lixo, eu deixo tudo arrumado." "Não, deixe isso aí".

A porta aberta. Não entrei. "Deixe o homem, é um miserável, não está fazendo mal a ninguém", eu disse.

O lixo foi arrumado. O homem da bela casa entrou. Fechei a porta e fui ao encontro do homem que mexeu e arrumou o lixo.
Qual seu nome?
José Alves.

Sua idade.
26 anos.

Ele não concluiu a 4a série. Muito falador, esse rapaz fedia muito e catava comida no lixo de alguém que não queria que ele mexesse no lixo. Na foto, à direita dele, restos.

Eu poderia ter ignorado sua vida, porque ele não pode dar nada em troca. Pior: ele não existe. José não tem vida.

Por que o senhor está falando comigo?, perguntou o rapaz
Porque você me incomodou. Seu resto de comida, catada no lixo, me incomodou.

Em final de mês, a comida é menor. Na geladeira, pouco. Peguei uma caixa de leite, duas laranjas e pão de forma.

Tome.
Obrigado, que Deus lhe dê sempre mais.

"Deus está morto". Os homens O mataram com suas palavras no Poder Legislativo, nas igrejas. A miséria desses homens é maior que a sua.

Não posso sempre lhe dar comida, mas, quando a necessidade apertar, não vá à Assembléia Legislativa do Acre, porque o povo é uma idéia abstrata, genérica lá. O Cristo na cruz só ornamenta o espaço.

Pode ir a meu quitinete. Eu, tendo, darei um pouco de alimento a ti. Não poderei dar sempre.

Como é fácil ignorar o semelhante. Semelhante!?!?!? Deputados, por exemplo, não se assemelham a José Alves. Igrejas, idem.

Por que não ignorei José? Foram duas laranjas, um pacote de leite, pão de forma. Por que não o ignorei? A indiferença é tão elegante, soberba, inflexível. Deveria ter tomado conta de minha vida.

Blog não sensibiliza.

Respondendo a dois bloguistas

Michelle Stephane

Estou afim de escrever um texto sobre a ruim minissérie Amazônia: de Galvez a Chico Mendes e a ótima minissérie Pedra do Reino.



Marcos Afonso

Grande pessoa humana, meu correio eletrônico é lingua.portuguesa@uol.com.br Mande sua carta. Um abraço em teu destino.

quarta-feira, junho 13, 2007

Ronda Escolar

Escrevi em outro momento que escola não interessa aos jornais acreanos, a não ser quando houver morte, tráfico, estupro.

Neste blog, quando eu for informado, publicarei algo sobre o que ocorre em escolas públicas e privadas. É a Ronda Escolar.

"Carro bate contra o poste" sai em jornal. Neste blog, escola importa mais que carro contra o poste.

Na escola Heloísa Mourão Marques, o professor Gleidson leciona Matemática. Pessoa séria, ética, até hoje não existe algo que o coloque em descrédito.

Em sala de aula, uma aluna, a Jéssica, segundo ano E, manhã, disse-lhe "vai tomar no..., seu filho da...". O que fazer?

O fato ocorreu em 30 de maio e, desde então, ela não entra em sala até que os responsáveis compareçam à escola. O professor não permitiu que ela fizesse prova, porque os pais não compareceram.

Bem, a professora-gestora Lúcia autorizou que ela entrasse em sala para prestar exame. O professor não permitiu.

Quem tem razão?




Drummond


As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

terça-feira, junho 12, 2007

Esta é antiga

Essas regras foram publicadas há muito tempo, mas alguns alunos nunca leram. Em uma escola, ele disse:

Regra 1 - A vida não é fácil. Acostume-se com isso;

Regra 2 - O mundo não está preocupado com sua auto-estima. O mundo espera que você faça alguma coisa útil por ele antes de sentir-se bem com você mesmo;

Regra 3- Você não ganhará R$ 20 mil por mês assim que sair da escola. Você não será vice-presidente de uma empresa com carro e com telefone à disposição, antes que você tenha conseguido comprar seu próprio carro e telefone;

Regra 4 - Se você acha seu professor rude, espere até ter um chefe. Ele não terá pena de você;

Regra 5 - Vender jornal velho ou trabalhar durante as férias não está abaixo da sua posição social. Seus avós têm uma palavra diferente para isso: eles chamam de oportunidade;

Regra 6 - Se você fracassar, não é culpa de seus pais. Então não lamente seus erros, aprenda com eles.
Regra 7 - Antes de você nascer, seus pais não eram tão críticos como agora. Eles só ficaram assim por pagar as suas contas, lavar suas roupas e ouvir você dizer que eles são “ridículos”. Então, antes de salvar o planeta para a próxima geração querendo consertar os erros da geração dos seus pais, tente limpar seu próprio.

Regra 8 - Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim. Em algumas escolas, você não repete mais de ano e tem quantas chances precisar até acertar. Isto não se parece com absolutamente NADA na vida real. Se pisar na bola, está despedido… RUA!!! Faça certo da primeira vez!

Regra 9 - A vida não é dividida em semestres. Você não terá sempre os verões livres e é pouco provável que outros empregados o ajudem a cumprir suas tarefas no fim de cada período.

Regra 10 - Televisão NÃO é vida real. Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou a boate e ir trabalhar.

Regra 11 - Seja legal com os CDFs (aqueles estudantes que os demais julgam que são uns babacas). Existe uma grande probabilidade de você vir a trabalhar PARA um deles.



O óbvio

"A proposta de criação da força-tarefa foi aprovada de forma unânime por todos os deputados."

1. Parte de um texto jornalístico. Além disso, repórteres escrevinham "no mês de julho", "no ano de 2007", "no dia 27 de março", "às 17 horas da tarde".

Reunião em Escola Pública

















Mais uma reunião na escola Heloísa Mourão Marques. A liberdade na escola pública nos aprisiona em reuniões que não melhoram o índice da escola no Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. Quais são as metas para a qualidade de ensino?

Nessa reunião, falamos sobre o que falamos há meses, há anos. Na pauta, "o professor deverá estar atento à troca de horário para minimizar passeios dos alunos nos corredores." Mais uma reunião sobre isso. Mais uma.

A pergunta é: por que a professora-gestora Lúcia, até o momento, não solucionou esse problema? Não entendo o porquê de em sua gestão não ter resolvido problema de alunos no corredor e o problema de horário. A atual gestora encontra-se na escola há mais de dois anos.

Mais uma reunião para se falar sobre horário. Mais uma.

No limite

Nessa reunião, coloquei que a atual gestão precisa estabelecer metas e cumpri-las. O que faremos, por exemplo, sobre a Redação para o Enem e para o vestibular? Quais são as metas da gestão da professora Lúcia?

Diretor não cumpre metas? A Secretaria de Educação não exige metas?

Em todas as reuniões, baterei na mesma tecla: RedaçãoRedaçãoRedaçãoRedaçãoRedação. A escola precisa ter um Projeto Político Pedagógico, também, para a Redação. Quais são as metas?







segunda-feira, junho 11, 2007

Acesso à pornografia


Na escola pública, alguns defendem a distribuição de camisinha para que adolescentes das classes mais simples se protejam.

Como na escola a palavra encontra-se enferma, restou a ela o objeto, porque, uma vez doente a palavra, a camisinha cumpre sua função orgânica. Segundo essa função, sexo não pertence à alma, mas tão-somente à carne.

A Literatura na escola poderia ser outra. Ela poderia refletir sobre o Amor com outras disciplinas, porque o Amor precisa ser protegido contra o câncer da vulgaridade. A Literatura - e não a camisinha - cumpriria seu destino ético e estético contra esse mal.

Na escola Helóisa Mourão Marques, distribuí a 55 alunos um questionário sobre pornografia. O resultado me espantou. Repare.

35 meninas de 15 a 17 anos

19 têm acesso à pornografia: 17 assistem a filmes pornôs por meio de DVD.

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20 meninos de 14 a 17 anos

17 têm acesso à pornografia: 16 assistem a filmes pornôs por meio de DVD.

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55 alunos ao todo

36 têm acesso à pornografia.


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A escola pública não realiza pesquisa. Se realizasse, conteúdos de disciplinas poderiam ser destinados a essa demanda. Um exemplo.

O professor de Literatura do ensino médio ainda concebe o Realismo e o Naturalismo segundo esqueminhas de livros didáticos. No entanto, em uma pequena amostragem com 55 alunos, 36 assistem a filmes pornográficos e, por meio deles, deformam as relações humanas.

Enquanto isso, na escola, a Literatura permanece indiferente a uma concepção de corpo segundo o Naturalismo. Não há crítica por meio de conceitos muito bem fundamentados.

Como saída, ou melhor, como não há saída, a camisinha reforça o ideal naturalista na escola. Os professores precisam perder sua inocência sobre a Literatura. Encará-la como texto que se opõe à cultura de massa torna-se essencial.

A Pedra do Reino

Obra clássica de Ariano Suassuna,
"A Pedra do Reino" ganha versão para a TV, que estréia na terça-feira

ESTHER HAMBURGER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A minissérie "A Pedra do Reino", adaptada do romance homônimo de Ariano Suassuna, com direção de Luiz Fernando Carvalho, que estréia na terça, é um épico que se desdobra em vários níveis.

Com traços autobiográficos, o texto conta a história de d. Pedro Dinis Quaderna, protagonista e narrador tragicômico da história de um reino mítico, alegoria de um certo Brasil, com sede no grandioso sertão do Cariri.

O narrador é obcecado pela retomada da coroa de seus ancestrais, disputada em lutas de sangue. Mas almeja também a glória da academia, capaz de elevar um autor genial à condição imortal.

A árdua tarefa de condensar o romance colossal, pleno de referências à história do Brasil mas também ao universo mítico das narrativas medievais, ganhou vida por meio de uma produção, filmada com uma câmera só, em super 16 mm, que reúne a Globo e a independente Academia de Cinema.

O espírito épico do romance foi transposto para a própria produção, feita em locação no sertão da Paraíba. Cerca de cem pessoas, entre atores, artistas e artesãos nordestinos e uma reduzida equipe de profissionais do Rio de Janeiro e de São Paulo, conviveram durante três meses na pacata Taperoá.

O resultado dessa intensa vivência é um híbrido, em tom operístico, composto de cinema, televisão, circo e teatro.Interlocução múltiplaA textura do trabalho resulta da troca de repertórios entre artistas e artesãos locais e profissionais da cidade grande.

Essa interlocução múltipla, sob o calor ardente do sertão nordestino, transpira e dá força ao produto final.A complexa interação provocou uma profusão de emoções fortes que se transferem à tela.

O paraense Cacá Carvalho faz um magnífico juiz corregedor, que domina a cena a partir do terceiro capítulo. Luís Carlos Vasconcelos encarna um terrível Arésio, o revoltado filho do padrinho de Quaderna. Ambos montaram seus espetáculos teatrais em Taperoá durante a preparação das filmagens.

Irandhir Santos, em sua estréia, brilha na pele do protagonista desengonçado, misto de doido e palhaço, como velho errante contador de histórias e como jovem cativo em busca de um reino encantado.Adornos hiperbólicos enfeitaram as fachadas, as roupas, os cenários.

A interpretação carregada dos atores ajuda a adensar ambientes já sobrecarregados de detalhes, produzindo atmosferas plásticas saturadas de significado.Sem didatismoOs figurinos vestem os personagens com detalhes de artesanato personalizado.

Os cavalos-bonecos se inspiram em cada personagem (o do herói Sinésio é branco). A narrativa não-linear flui com graça e ironia por meio das aventuras de nossos sertanejos em uma caçada na direção da monumental Pedra do Reino.

A paisagem seca do sertão recebe bem bichos de lata. Não há concessões ao didatismo ou ao melodrama. Por vezes temos dificuldades de identificar os personagens. Nem sempre as sutilezas são perceptíveis em uma primeira olhada.

A trilha sonora de Marco Antônio Guimarães, compositor do grupo Uakti, ajuda a conferir um tom cigano e mambembe que combina com o mistério enevoado da série."A Pedra do Reino" é o primeiro trabalho do projeto "Quadrante", que pretende viajar pelo Brasil a realizar adaptações literárias ambientadas em diferentes paisagens, sempre com a participação de artistas locais.

O projeto, a um só tempo de formação e de criação, como o circo-teatro que o inspira, busca agitar as regiões por onde passa. Promete ainda empolgar profissionais cansados da rotina pouco estimulante das produções ordinárias.

Suassuna criou um novo final para a minissérie, que valoriza o teor reflexivo das artimanhas de nosso personagem. PontodeFuga

O colunista Jorge Coli está em férias

sábado, junho 09, 2007

Conforto














Em Rio Branco, onde nós temos uma das melhores frotas de ônibus do Brasil, os empresários, preocupados com o conforto dos passageiros, do trocador e do motorista, colocará na capital do Acre o ônibus-corno.

Haverá ar-condicionado e os bancos serão reclináveis. A passagem será mais barata: R$ 1,1.

Outra novidade, a campainha. Quando o passageiro puxar a corda, ouvirá o mugido de um boi.

Ronda Gramatical

"Papôco morre silenciosamente"
1. Papôco - O Página 20 publicou "Papôco". Paroxítona terminda em "o" não é acentuada. O repórter deveria saber que 1 + 1= 2.

Ronda Gramatical

"Meu comentário: talvez Jorge Viana não seja capaz de tamanha trairagem em aceitar o convite, embora tanto ele quanto Lula discordem da conduta de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente."

1. trairagem - Esse termo inexiste nos dicionários Houaiss e Aurélio.

2. , embora - Quando a oração subordinada encontra-se na ordem sintática direta, ou seja, surge após a oração principal, não há vírgula. Nesse casso, segundo a organização sintática, não há vírgula antes de embora.

sexta-feira, junho 08, 2007

Ronda Gramatical

"O setor público de saúde do Acre ganhou ontem uma das mais importantes unidades que um sistema pode contar."

1. Pode contar (com)

"O setor público de saúde do Acre ganhou ontem uma das mais importantes unidades com que um sistema pode contar."

Domínio público

O governo federal está com um ótimo site. Chama-se www.dominiopublico.gov.br. Acesse!!!

Mario Quintana (1906-1994)











Podem falar da violência de minha cidade - e há muita -, mas o Rio não se reduz a isso. Cultura. O Rio de Janeiro transborda cultura, por exemplo, na rua, ela: poesia.

Até o final de julho, os meios de transporte de Santa Teresa vão circular com um adereço especial: a poesia de Mário Quintana.

"Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia."

Cerca de 40 textos do escritor gaúcho foram selecionados para o projeto Leitura em Trânsito. Os ônibus, os táxis do bairro e os tradicionais bondinhos vão ganhar 700 cartões impressos com a obra do poeta.
A idéia do projeto é valorizar ainda mais o passeio pelas ruas bucólicas do bairro, oferecendo aos moradores e visitantes acesso à literatura brasileira.

A escolha de Mário Quintana para abertura do Leitura em Trânsito é uma homenagem ao centenário do escritor, comemorado no ano passado.
A cada três meses, os cartões serão substituídos por outros com textos de autores diferentes.

O evento está sendo organizado pelo Centro Educacional Anísio Teixeira, o CEAT, instituição instalada em Santa Teresa há mais de trinta anos.

quarta-feira, junho 06, 2007

O SagradO & O ProfanO


Na igreja, orações; no clube, gemidos.

Aviso ao senador Geraldinho (PMDB-AC)


O senhor trocou seu amigos políticos. Eu até compreendo. Eu só não compreendo o porquê de o senhor não trocar seu "açeçor de comunicassão", porque, minha nossa!!!, seus textos não estão à altura de um Nabor Junior.

Senador, tudo começa pela palavra bem escrita.

TudO pelA coiSa púBliCa


Hoje, pela manhã, a professora-diretora Lúcia reuniu os professores para votar a favor ou não de um feriado prolongado. A maioria dos professores da escola Heloísa Mourão Marques votou a favor de não lecionar na sexta-feira.


Como a democracia é eficiente, soberana, não é verdade?, quando o assunto toma a forma de descanso no espaço público. Como servidores, votamos a favor do que não queremos, no caso, trabalhar, porque essa democracia sabe o que é melhor para nós. Um dia não faz diferença.

Até hoje, essa democracia não votou a favor de uma qualificação radical no ensino, por exemplo, de Língua Portuguesa. Nós preparamos mal nossos alunos, mas, para transformar a realidade do aluno, não há votação; há uma sutil e simpática indiferença. Não exigimos de nós para haver trabalho, não exigimos de nós o resultado melhor de nosso ato de lecionar.

Votar no professor que deseja
Em reuniões, tenho ofertado idéias para buscar qualificação. Defendo, por exemplo, a idéia de que, no segundo ano do ensino médio, o aluno deve votar no professor que ele deseja para estudar no terceiro ano, porque o último ano do ensino médio possui uma natureza própria de ensino, qual seja, colocar o aluno na faculdade pelo vestibular ou pelo Enem.

Não que os outros anos não tenham esse propósito, mas no terceiro ano isso deve se intensificar.

Questionário
Outra questão refere-se ao aluno responder a um questionário sobre o desempenho do professor. Falei sobre isso com a diretora Lúcia, e ela disse que adotaria a idéia. Até hoje...

Conselhos
Sobre os Conselhos de Disciplina e de Turma, não avançamos. Existem reuniões e Reuniões. Sobre Conselho de Turma, aprovamos no Conselho Escolar, mas não existe vontade político-educacional da diretora para que isso seja um hábito na escola.

Atividades lúdicas na escola deveriam partir dos Conselhos de Turma, mas, ainda que aprovados, inexistem, porque não passaram de idéia no papel.

Democracia

Para isso, votamos. Para aquilo, não votamos.


Metas
Quais nossas metas enquanto escola pública? Nós, até hoje, não temos um Plano Político Pedagógico. Eu já entreguei a Deus.

Corpus Christi
Os professores ressuscitarão na escola pública somente na segunda-feira.





terça-feira, junho 05, 2007

Assassinato em escola pública

Meu blog não é lido por muitas pessoas, e a educação não é notícia no Acre como é notícia o assalto em páginas policiais.

Ontem, às 22 horas, um carro desgovernado bateu contra um poste quando um cãozinho fazia xixi.

João mata mulher com 69 facadas.

Polícia apreende 69 quilos de maconha.

Todo dia a mesma notícia sem importância. Nomes mudam. Os fatos, os mesmos. Diante disso, a educação ainda consegue ser menor.

Restou-me este inexpressivo blog, bolha à deriva do tumulto, à deriva dos jornais, à deriva dos enfadonhos fatos policiais.

Aqui, neste espaço, a educação é fato. Eis a matéria.
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Morte em escola estadual

Na terça-feira, 29 de maio, jornais acreanos não noticiaram a morte no corredor da escola estadual, porque assassinato na educação importa muito menos do que um carro bater em poste.

Por volta das 8 horas, o corpo levou vários tiros. O professor-diretor Lulu não chegou a tempo para prender os assassinos, mas a PM realizou o cerco e os três meliantes foram presos.

João da Silva, de 15 anos; Silva da Silva João, de 16 anos; e João da Silva João, de 17 anos, mataram Aula, de 78 anos, com "requintes de crueldade" - frase feita horrível - para perturbar a ordem escolar.

Depois que esfaquearam a idosa na cabeça, saíram de sala de aula para causar tumulto no corredor, impedindo que o professor Bakunin lecionasse sobre anarquismo. Uma inspetora, muito religiosa, abriu a Bíblia para pedir a Deus paciência. Outra inspetora fazia tricô. Uma outra não se moveu por causa de sua condição de pedra.

Como o fato ocorreu pela manhã, o diretor ainda escova os dentes e passava batom. A escola pública pode esperar.

"Esse problema se arrasta há anos com uma perna só", reclama a professora. "Os alunos não viajam para a Europa neste período do ano e resolvem ser turistas na escola".

Sem solução, o professor, entregue à indiferença dos que deveriam colocar ordem, retirou o revólver da cintura e suicidou-se em sala de aula. Os alunos pularam de alegria. "Ele morreu, viva".




segunda-feira, junho 04, 2007

Ronda Gramatical

"A possibilidade de o governo do Amazonas aposentar a proposta federal de recuperar e asfaltar a BR-319, que liga Manaus à Porto Velho (...)."

1. à Porto Velho - Altino Machado & Flamínio Araripe erraram feio, feio como Altino. No blog do feio, há muitos erros, mas, como não tenho tempo para comentar sobre todos, escolhi um: à Porto Velho;

2. Esse tipo de erro assemelha-se a 1 + 1= 3. Erro bobinho. Ingênuo;

3. Nós não escrevemos "a Porto Velho é bonita", porque o artigo "a" inexiste antes de Porto Velho. Ora, se não há artigo "a", não pode haver o acento grave, indicador do fenômeno da crase (união entre artigo "a" + preposição "a"). Permanece, portanto, somente a preposição "a", não havendo a união (crase).

Ronda Gramatical

"Segundo ele, as supostas conversas atribuídas a ele e os dirigentes dos partidos que fazem oposição à Frente Popular do Acre (FPA), à qual seu partido faz parte, na realidade nunca existiram."

1. a ele e os - Coloca-se a preposição "a" antes de "ele" e não coloca antes de "dirigentes". É um erro. "Atribuídas a ele e aos dirigentes";

2. à qual - Seu partido não faz "parte a". Seu partido faz "parte de". O correto é "de que seu partido faz parte"; e

3. que fazem oposição - Usa-se o verbo "fazer" como muleta, porque existem jornalistas que coxeiam quando usam a língua portuguesa. Melhor escrever "dirigentes dos partidos que se opõem à Frente Popular do Acre (FPA), de que seu partido faz parte, na realidade, nunca existiram".

Texto do Mais!


Sempre indico aos alunos do Ideal a leitura do caderno Mais!, da Folha de São Paulo. O texto de hoje veio de lá.

Em uma redação, não é só a forma e a gramática, mas, também, o que se pensa, mesmo que isso não seja levado em consideração pela Copeve ou pelas universidades particulares.

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Do ladrão ao barão


Tesoureiro-mor de d. João 6o, Francisco Targini é um caso exemplar de corrupção e impunidade nas altas esferas da administração pública


LUSTOSA

ESPECIAL PARA A FOLHA

Durante o reinado carioca de D. João 6ø, tornou-se popular uma quadrinha que dizia: "Quem furta pouco é ladrão,/ quem furta muito é barão,/ quem mais furta e mais esconde/ passa de barão a visconde". Seu alvo era o tesoureiro-mor do reino, Francisco Bento Maria Targini, visconde de São Lourenço.

Nascido em 1756, em Lisboa, Targini era filho de um italiano e começara a carreira numa casa de comércio como caixeiro, progredindo depois para guarda-livros. Na vida pública, seu primeiro cargo importante foi o de arrecadador de rendas da Província do Ceará.

Nomeado em 1783, lá permaneceu até 1799, segundo Oliveira Lima, malquistando-se com os governadores e ouvidores por seus excessos no combate a práticas administrativas desonestas. Targini veio para o Rio com a corte em 1807.

Ao que parece, sua rápida elevação a homem forte das finanças da época teve o apoio de um poderoso grupo de negociantes ingleses.

Depois de nomeado tesoureiro-mor, ele foi agraciado com o título de barão de São Lourenço, em 1811, e elevado a visconde, em 1819. Santos Marrocos menciona em suas cartas que, no Rio de Janeiro, circulavam muitos pasquins contra Targini com quadrinhas como esta: "Furta Azevedo no Paço/ Targini rouba no Erário/ E o povo aflito carrega/ Pesada cruz ao Calvário".

Um dos boatos que se contavam dizia respeito à compra de mantas para o Exército que Targini fizera a um fornecedor inglês. O hábil homem público teria mandado dividir cada uma das peça ao meio, revendendo-as depois ao governo pelo dobro do preço original.

Targini também passou à história por ter feito nomear diretor da Academia de Artes, em 1820, após a morte de Lebreton, um medíocre pintor português, Henrique José da Silva, e, como secretário, o padre Luís Rafael Soyé - que, segundo Taunay, era um "velho eclesiástico espanhol, de origem francesa, sem honorabilidade nem compostura, poeta de água doce e parasita do ministro Targini, que se oferecera para trabalhar pela metade do preço".

Também foi nas águas de Targini que se criou um outro parasita, João Rocha Pinto, valido e amigo do peito de d. Pedro 1ø.

Homem rico, erário pobreNas cartas ao cunhado e ministro, o conde de Linhares, Palmela, homem da ilustração portuguesa, apontava Targini como o homem mais corrupto da corte de d. João e recomendava sua demissão.

José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu, em sua "História dos Principais Sucessos Políticos do Brasil", diz que Targini "... fazia ostentação de opulência mui superior ao ordenado do seu emprego".Hipólito da Costa, no "Correio Braziliense", admirava-se de que Targini, sem outros bens mais que o seu minguado salário, tivesse se tornado um homem riquíssimo, enquanto o erário se achava pobre. E completava:

"Se a habilidade de um indivíduo em aumentar suas riquezas fosse por si só bastante para qualificar alguém a ser administrador das finanças de um reino, sem dúvida Targini, barão do que quer que é que não nos lembra, devia reputar-se um excelente financista".

A edição da "Arte de Furtar" que consta da coleção do Instituto Histórico do Ceará é dedicada a um ex-funcionário da Fazenda no Ceará. Trata-se possivelmente da que foi publicada em Londres, em 1821, por Hipólito da Costa, que, ironicamente, a dedicava ao Visconde S. Lourenço.

A imagem de Targini aparece na página de rosto emoldurada por uma corda, como se fosse uma forca.Nas agitações que antecederam a partida do rei, em 1821, Targini chegara a ser preso na Ilha das Cobras. Mas, segundo se disse, isso fora apenas para poupá-lo de agressões, tal era a sua impopularidade. Logo foi solto e embarcou rumo a Lisboa.

No "Correio", Hipólito criticaria o fato de o conde dos Arcos, principal ministro do regente, d. Pedro, ter dado por justas e liquidadas as contas do tesoureiro-mor e concedido passaporte para aquele se pôr ao fresco.

Segundo Oliveira Lima, o inquérito contra Targini, conduzido pelo conde dos Arcos, "estabeleceu a integridade do funcionário, a quem foi concedida uma pensão".Talvez Lima não conhecesse um manuscrito de 17 páginas datado de 1807 e intitulado "Ode ao Conde dos Arcos", que consta do acervo da Biblioteca Nacional e assinado por Francisco Bento Maria Targini.Segundo Antonio Paim, Targini foi o responsável pela tradução para o português do tratado publicado por Charles Villers, em 1801, "A Filosofia de Kant ou Princípios Fundamentais da Filosofia Transcendental".

Uma das coisas que Oliveira Lima alega em defesa de Targini é o fato de ser homem culto que traduziu o "Ensaio sobre o Homem", de Pope, e "O Paraíso Perdido", de Milton. Esta última foi publicada em Paris, em 1823, com reflexões e notas do tradutor, numa edição muito luxuosa.

De fato, Targini, quando chegou a Lisboa, em 1821, foi impedido de desembarcar, retirando-se para Paris. Ali viveu até morrer em 1827, certamente com tempo e dinheiro para gastar em suas obras de erudição.Creio que, apesar da defesa de Oliveira Lima, vale o refrão espanhol que Hipólito da Costa usou para ilustrar a situação de Targini:

"Quem cabras não tem e cabritos vende, é porque de algum lugar lhe vêm".

Seu enriquecimento no cargo de tesoureiro-mor de um reino tão empobrecido devia ser indício suficiente para condená-lo. Sua vasta erudição não é atenuante, e sim, agravante. Os pequenos corruptos, incultos e quase analfabetos, como o barbeiro Plácido e a marquesa de Santos, roubavam no varejo, da despensa do rei e do bolsinho do imperador.

Targini roubava à grande, ostentando seus ganhos e correspondendo fielmente a uma outra versão da quadrinha popular citada no início dessa matéria e que terminava dizendo: "Quem mais rouba e não esconde/ passa de barão a visconde".

ISABEL LUSTOSA é historiadora da Casa de Rui Barbosa (RJ) e autora de "Insultos Impressos" (Companhia das Letras), entre outros livros.