sábado, março 31, 2012

Beijo


Em uma turma, um bom aluno encontra-se encantado por uma jovem bem educada. "Professor, ela não é qualquer uma".

Imagino o primeiro beijo entre eles: igual àquele conquistado por casais seculares: batimento cardíaco disparado, suor nas mãos, circulação sanguínea intensa, sem chão, silêncio trêmulo.

No exato instante do toque, nuvens, nuvens, nuvens, e eles, extasiados, contemplam o brilho intenso do sol ainda que seus olhos estejam selados pelo silêncio à margem da alegria dos que beijam escondidos.



"O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar
"





Beijo







Em sua insana consciência,






o Amante jamais pensa como beijará
o ser 
Amado,

porque a essência do beijo

é não pensar.
Inebriar-se!

Uma vez no Beijo, digo,
uma vez entre
lábios,

línguas,
salivas,

chega-se ao céu...

ao céu da boca

com os olhos divagando
na escuridão. 


Já não há mais
vontade de ver o mundo,
por isso fechamos os olhos
para sentir na boca 
a fartura da alegria mais profunda.      

Tudo no beijo é
sobra,
excesso,
largura.

Nada no beijo é
exato, 
preciso,calculado ou
nulo.

Quanto mais errado,
quanto mais desordem ele excita, 
a língua mais escapa, foge,

escorre.

Quanto (dê)mais a língua se movimenta
no precipício

a boca deseja mais ainda
perder,
na boca Amada, o juízo.

Mas quem disse que o beijo
são só os movimentos da carne?


Antes de eu ter minha boca de volta
ao normal,

antes de eu sair de ti,

deixei na tua não só o pecado molhado
da saliva,


mas meu sopro...
sinta! 

meu sopro de vida!
    

Ganhei 10 aulas em dois sábados

A esquerda acriana e os sindicatos da educação
foram às ruas de Rio Branco hoje para que
a memória do golpe de 64 não morra do mal de Alzheimer.
Adoro a cor rosa, acho tão feminina (Ui!)

Hoje, 31 de março, dia em que a esquerda e em que os sindicatos da educação do Acre saíram às ruas para que os 48 anos de golpe militar de 64 não sejam esquecidos,

eu confesso que tenho dado meu golpe na escola onde leciono.

Eu não presto, principalmente, nas gestões da professora Osmarina e, agora, na gestão do professor Waldir. Meus amiguinhos de micropoder.

Serei claro como a água do Saerb.

Meus alunos assistiram a um filme no sábado passado segundo meu interesse mesquinho de receber aula e mais aula extra, aulas extra ou aulas extras.

Sábado passado, recebi 5 aulas por uma projeção cinematográfica de 2h20min. Safado. Canalha.

Por causa disso, sábado sim e sábado não, meus alunos assistem a bons filmes, o próximo será "Anaconda"; no próximo sábado, "Homem-Aranha 1".

Se a coisa for assim, em outubro - ou até antes -, concluirei minhas aulas.

Mas tem coisa melhor do que isso: a gincana de conhecimento.

Com a finalidade de receber mais 5 aulas, meus alunos das turmas A e B disputaram, hoje, dia do golpe, os conhecimentos  

da obra "Álbum de família";

da   "Nova Ortografia";

dos textos "A força das palavras" (material da Secretaria de Educação), de Lya Luft, "Grande Amor", de Cruz e Sousa;

das escolas literárias "Naturalista",  "Realista" e "Simbolista"; e

dos filmes "Lavoura Arcaica" e "O carteiro e o poeta".


Como a secretaria exige que o professor seja criativo, porque todas as condições são ofertadas pelo Estado para isso, eu sei que o governo aumentará meu salário, deixando-o alto e forte como Anderson Silva, algo perto de um UFCDAS.


Também sei que, assim como o educador Iraílton, serei premiado e convidado para trabalhar no MEC, porque eu poderia ter dormido até meio-dia ou ter assistido ao  programa Teletubbies neste sábado, mas acordei cedo para alegrar meus alunos com uma gincana do conhecimento. Tudo em nome de 1 + 1 + 1 + 1 + 1 = 5 aulas.

E não é só.

Em minha alma à margem esplêndida, sinto em meu ovário que conseguirei um cargo importante ao lado do diretor Waldir (por exemplo, puxa-saco) para, em uma segunda situação de puro interesse, trabalhar na secretaria.

Bem, depois que eu disse todas essas verdades, hoje, 31 de março, sairei com o PT, com o PC do B, com o P-SoL, com o PSB e com o PPS pelas ruas de Rio Branco para dizer ao Luan Santana e ao seu povo que eu não me esqueci do golpe militar de 1964.

   

Mas não é hoje que tem a reprise dos teletubies na tevê?



Poderia ter ficado em casa com meus amiguinhos








 

Duas ideias à equipe técnica da SEE

Em pleno período de velocidade de arquivo pela internete - sim, com "e" no final, existe registro de gramático -, eu proponho a invenção da roda.

A equipe de Língua Portuguesa e (de Literatura)  da Secretaria de Educação do Acre possui bons materiais sobre as disciplinas.

Na última reunião, por exemplo, a professora queria passar arquivos para o seu "pendraive" - aportuguesamento é questão ideológica -, mas, como estava com pressa, não pôde.

Eu sugeri que a equipe colocasse seus arquivos no sítio - aportuguesamento é ideológico - da Secretaria da Educação.

Com isso, um professor de Mâncio Lima ou de Cruzeiro do Sul poderiam acessar a página da secretaria para realizar a transferência para seu computador.

Outra:

a secretaria poderia deixar um espaço chamativo para os professores da rede pública estadual publicarem seus textos, suas opiniões e suas críticas propositivas inerentes às suas disciplinas.

Espaços virtuais para para os professores interessados pensarem a Língua Portuguesa na escola ou até deixarem propostas de atividades em sala de aula.

Mais: como o governo petista faz propaganda de estrada, ele também poderia realizar boas propagandas para divulgar esse tipo de comunicação virtual a favor da educação.

Como o PT é um partido revolucionário no campo das ideias educacionais, eu gostaria de deixar, no sítio da Secretaria de Educação do Acre, um convincente artigo de opinião sobre Literatura e sobre Língua Portuguesa.      

Veio da Secretaria de Educação

Faz uns anos.


Ouvi de um professor (ou terá sido de uma professora?) da equipe de Língua Portuguesa da Secretaria de Educação do Acre que gramática só tem sentido se for no texto.

Quando parte de uma equipe da secretaria afirma isso, dissemina um grande equívoco nas escolas públicas. Melhor: um imenso erro.

Na escola Heloísa Mourão Marques, por exemplo, o estudo gramatical está deixando de existir, porque esse estudo realiza-se somente no texto - se é que se realiza.

Mais do que estudar substantivo ou orações adverbiais, o pensamento gramatical -  Protágoras, Platão, Aristóteles - é uma forma de organizar, por exemplo, as relações entre professor e aluno e até de administrar uma escola.

Não irei, no entanto, tão longe.

Pergunto:

em quantos textos os alunos registram o fenômeno da crase?

Nesses meus dez anos de Heloísa Mourão Marques, não me lembro de ter visto o acento agudo, indicador do fenômeno da crase.

Ora, formas variadas de escrever implicam formas variadas de expressar o pensamento. Minhas ideias ou meus conteúdos precisam de formas ou de significantes para haver variações, deslocamentos, expansões do meu raciocínio.

Quem leu bem "Estética da Criação Verbal", de Mikhail Bakhtin, sabe que significantes permitem a distensão do raciocínio.  

"Se me sirvo da língua" - e não "se uso a língua", como poeticamente escreve o sedutor  Merleau-Ponty -, falar ou escrever "à" não só expõe um conhecimento, mas esse significante (
"à") acolhe e amplia a ideia, o conteúdo, o raciocínio.

"Sim, então dê ao aluno textos para ele saber usar crase", diz o representante da secretaria.  

Muita abstração. Aplique a sugestão do representante na realidade.

Aplicou?

O professor deverá procurar durante um bom tempo textos e mais textos para o aluno entender, nos textos, as muitas variações do fenômeno da crase.

Possível?            

Oposto ao técnico da secretaria.

O professor, servindo-se do pensamento gramática, deverá retirar as partes do todo, ou seja, ele dará ao aluno uma relação de exercícios descontextualizada de como se servir do fenômeno da crase.

Ora, não é isso que Celso Pedro Luft registra em seu livro "Decifrando a crase", da editora Globo? Ele não explica crase nos textos. Ele explica por meio de frases-oracionais isoladas; Celso, contudo - aí é muito interessante -, constrói textos para explicar.  

Hoje, no Acre, por causa da banalização das palavras "produção textual" e "leitura", não se estuda gramática fora do texto, exemplo, repito: Celso Pedro Luft usa frase isoladas e, por causa delas, constrói texto para explicá-las.

O pensamento gramatical retira do todo (o texto) a parte para ser estuda em si mesma. Lecionada essa prática, deve-se, evidente, em outro momento, alterar construções sintáticas dos alunos para eles se servirem do fenômeno da crase.

"Aqui, nesta parte, você pode retirar este verbo e, no lugar dele, colocar outro - pesquise no dicionário - que possibilite com sua regência a preposição 'a'. Repare, após o verbo com a preposição 
'a', existe um substantivo feminino, existe o artigo 'a'. Neste caso, se você encontrar o verbo adequado, realizar-se-á a crase, ou seja, a contração entre preposição e artigo", explica o professor ao aluno na aula de reconstrução textual.

Como se trata de um exemplo importante para todos, o professor escreve na lousa.



Assim, o aluno poderá escrever uma frase-oracional mais elaborada porque, na aula de gramática pela gramática, o aluno aprendeu por meio de exercícios separados do texto.

Na escola Heloísa Mourão Marques, o aluno não estuda gramática à parte do texto.

Tudo bem, tudo bem, nos próximos anos, o governo federal apresentará um currículo nacional, onde o aluno deverá estudar gramática.

Como alguns colegas de profissão são incapazes do milagre da antecipação, em um futuro bem próximo, eles farão o que o "tio mandar", no caso, o Ministério da Educação.

Só para concluir: assim como existe o cálculo  matemático ou a continha à parte de uma equação de 2º grau a ser resolvida (o todo), assim também existe a gramática à parte do texto. Um não anula o outro.

Os dois métodos completam-se: gramática à parte e gramática no texto.