segunda-feira, agosto 30, 2010

Não rimos da Frente Popular

Em 22 de agosto, o riso realizou uma passeata em Copacabana contra o artigo 45 da Lei das Eleições, vigente desde 1º de outubro de 1997, que proíbe em período eleitoral rir dos políticos. “Humorista unido jamais será comido”, era a palavra de (des)ordem.

Três dias depois, o antropólogo Roberto DaMatta publica no jornal O Globo o artigo "Legislar o riso e sacralizar o poder. Diz o autor de Carnavais, malandros e heróis: “O nosso sistema de poder protege, dignifica, hierarquiza e sacraliza o governante. E o quanto somos coniventes com isso.”

No Acre, essas palavras de DaMatta caem muito bem. Aqui, depois que a Frente Popular chegou ao poder, o riso contra Jorge Viana foi inibido quando eu trabalhava no Página 20. O talentoso Braga publicaria uma charge que, claro, ria de Jorge Viana. Entretanto, o assessor Oly – hoje na prefeitura de Rio Branco – “pediu” ao chargista retirar porque não se podia rir do governante Jorge Viana.

No Acre, não existe mais chargistas. Braga recebe sempre o Prêmio Chalub Leite de Melhor Chargista porque ele é único nesse deserto e porque sua charge não galhofa do poder, da Frente Popular, de Jorge Viana, de Edvaldo Magalhães.

Pergunta DaMatta em seu artigo: “Seria possível proibir o riso e o humor neste momento, como fazem os radicais, que se levam tão a sério que não podem rir de si próprios?”. O poder oculta-se com sua seriedade, e o riso (des)cobre o que há escondido sob o discurso sério de um político. O poder sempre mente. O riso sempre revela.

Depois da passeata, o artigo 45 da Lei das Eleições perdeu validade, agora podemos rir dos políticos, menos no Acre. “Amordaçado o riso, o poder sacraliza-se porque não há mais a liberdade de desafiá-lo”, diz Roberto DaMatta.

quarta-feira, agosto 25, 2010

A duas pessoas

Estou querendo que vocês dois escrevam para a revista "Visões Amazônicas", porque vocês não ruminam no pasto do senso comum. Há pagamento simbólico.

Altino e Fátima Almeida, meu correio eletrônico é lingua.portuguesa@uol.com.br, quero apresentar a vocês a proposta livre e ética da revista "Visões Amazônicas". Vamos conversar.

segunda-feira, agosto 23, 2010

Conselho à minha filha

Quando a Frente Popular do Acre completar 12 anos no poder, deixará os professores estaduais com salário inicial de R$ 1.500,00, ou seja, três salários mínimos. Jorge Viana ainda diz que é um dos melhores salários do Brasil. Bom salário, Jorge, é receber todo mês R$ 20 mil como ex-governador, até a morte.

Oito anos como governador deram-lhe uma pensão vitalícia, o que penso ser muito injusto. Não votei em ti para isso. Por isso, não votarei outra vez em teu nome.

Enquanto o "professor" Edvaldo Magalhães aumenta seu patrimônio por causa de sua condição de deputado estadual, eu, que sou candidato a lecionar, não aconselho minha filha a ser professora. A ela, dedico estas sóbrias palavras:

LEIA COM ATENÇÃO OS SETE MOTIVOS PARA VOCÊ SER UM PROFESSOR

7 (sete) é um número de destaque, pois ele simboliza a perfeição: em sete dias Deus fez o mundo, sete são as cores do arco-íris, mas também sete é conta de mentiroso. O 7 aqui será utilizado em relação à educação e, mais especificamente, ao professor.

Leia-os com atenção e anote todos os detalhes:

1. Estude muito e leia bastante, principalmente a vida de São Francisco de Assis; lembre-se de que você também terá que fazer um voto eterno de pobreza;

2. Prepare-se para manejar certos instrumentos, como o giz e o apagador. Para tal, orientamos o personal stylist de Michael Jackson; você precisará de luva e máscara durante as aulas;

3. Manter-se em forma não será problema para você; com o corre-corre de uma escola para outra, você estará evitando o sedentarismo; com o salarial que recebeu, não precisará fazer regime;

4. O educador é o único que pode acumular cargos: além de ministrar aulas em 3 ou 4 colégios diferentes, ainda sobra tempo para ser sacoleiro, levando para as escolas os últimos lançamentos do Paraguai ou sendo importante representante de empresas como a AVON, a HERMES e a SHOPPING MAIS;

5. A formação continuada do professor é algo bastante importante e valorizada pelo governo. Com sorte ( principalmente para que é do município) você será selecionado para ficar em um grande e luxuoso hotel como o IAT, desfrutar de ótimas instalações e saborear um cardápio variado; tudo isso com uma localização privilegiada e com vista para o ma...to;

6. O local de trabalho deve ser evidenciado: o educador, quase sempre, trabalha em escolas-modelo, cujo slogan é a fartura: 'farta' limpeza,'farta' funcionário, 'farta' material didático, enfim, 'farta' tudo;

7. Por fim, você desfrutará de um plano de saúde de ótima qualidade (SUS), cuja eficiência é demonstrada nos consultórios psiquiátricos repletos de professores que, ao completarem a idade e o tempo de serviço, já se encontram fatigados pelo trabalho, sugados pelo sistema e em pleno desmoronamento físico além do mental.

A você que aguarda por um concurso público. O nosso lema é: 'PAGUE PARA ENTRAR, REZE PARA SAIR'. Aos que já se encontram desfrutando desse 'néctar' que é ser funcionário da secretaria de educação, nossos parabéns, você é persistente e capaz. Possivelmente, não terá recompensa aqui na terra, mas é certo que já tenha adquirido lugar privilegiado no céu.

(autoria desconhecida)

segunda-feira, agosto 16, 2010

Se houver quando

Não sei quando deixarei minhas palavras neste espaço. Talvez, não sei, às vezes, quem sabe. Amanhã? Só sei que será quando será. Tudo é incerto. Mas será.

Não serei diário. Todo dia, não serei mais. Serei... às vezes e, por muito tempo, silêncio.

Não falta mais...

Tempo. Não queria deixar minhas aulas, mas o meu corpo dá sinais de que ele chegou a um limite. Não sei quando voltarei, se é que voltarei, a única verdade é que o Tempo, esse senhor silencioso, aponta para outra direção, e eu, obediente que sou, sei que ele sempre tem razão.

O Tempo não nos dá escolha porque Ele sabe que nós perdemos Tempo na vida com coisas poucas, por exemplo, quando não entramos em sala para transformar a vida de nosso aluno, expondo a uma turma a mais densa apatia pelo ato (nobre) de lecionar.

Perdemos Tempo quando só sabemos reclamar de alunos, acreditando que eles são incapazes, burros, tolos. Perdemos Tempo quando a palavra do professor não é autoridade para colocar a ordem e a brincadeira.

Mas o Tempo sempre impõe a nós o seu limite de morte, de despedida, de fim, é quando percebemos tarde que dedicamos o nosso Tempo a não exigir de nós o melhor para o nosso semelhante em sala de aula.

Quem foi meu aluno sabe que eu nunca perdi Tempo com eles.

Agoa é Tempo de deixá-los. Fora de sala, sentirei saudade dos dias dedicados ao ato nobre e bricalhão de lecionar. Quando deixo de ser professor, quando sou obrigado a me afastar de minha profissão, vivo menos porque deixo de aprender.

No fundo, minhas aulas sempre foram, primeiro, para mim; sempre foram um meio para eu acreditar na vida, para eu acreditar em meu semelhante, porque, em sala de aula, na condição rígida e alegre de professor de Literatura, descobri desde cedo que a palavra (bem)dita promove a alegria do encontro e a descoberta da reflexão.

Lecionar é precisar do outro e ser querido pelo outro.

sexta-feira, agosto 13, 2010

Quem se enriquece com dinheiro público?

Em 12 de junho de 1998, quando candidatou-se a deputado estadual, Edvaldo Soares Magalhães, do Partido Comunista do Brasil, declarou ao Tribunal Regional Eleitoral do Acre ter um imóvel de R$ 25.000,00 e um Corsa de R$ 12.100,00.

Um declaração de bens, portanto, de R$ 37.100,00.

Em 5 de julho de 2002, recandidata-se a deputado estadual pelo mesmo partido, mas não declara bens à Justiça Eleitoral. "Declaro não possuir bens."

Em 2006, ele apresenta sua declaração de bens, e seu valor chega a R$ 410.428,81. De 1998 a 2006, sua declaração passou por um aumento de R$ 373.328,00.

Em 2010, na condição de candidato a uma vaga confortável no Senado, ele declara R$ 544.391,00.

Em 12 anos de vida pública, o comunista Edvaldo Magalhães saiu de R$ 37.100,00 em 1998 para chegar à quantia de R$ 544.391,00 em 2010.

Como presidente da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), Edvaldo a deixou como uma das mais caras do Brasil conforme números do sítio http://www.transparencia.org.br/. Além disso, a Aleac não é transparente quando o assunto é dinheiro público. O cidadão desconhece quanto se gasta, por exemplo, com verba indenizatória e viagens.

quinta-feira, agosto 12, 2010

Quem se enriquece com dinheiro público?

Em época de eleições, darei uma pequena contribuição a quem acessa este blogue.

O dinheiro público não melhora a vida da população na mesma velocidade em que enriquece homens públicos.

Hoje, para começar, escolhi Sérgio Petecão (PMN), candidato a uma cadeira confortável do Senado.

Em 3 de julho de 1998, Petecão apresenta uma declaração de bens ao Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Acre com o seguinte valor: R$ 140.045,47.

Em 2002, sua declaração expõe R$ 243.169,77, ou seja, em quatro anos, sua riqueza aumentou em R$ 103.124,30 ou R$ 25.781,07 em um ano.

Em 2006, quando se candidata a deputado federal, Petecão declara R$ 392.456,66. Em oito anos, sua declaração de bens teve um aumento de R$ 252.411,19.

Mais informações em http://www.politicosdobrasil.com.br/

quarta-feira, agosto 11, 2010

Isso não é político. Isso não é jornalismo

Confesso que não estou em meus melhores dias para tecer neste blogue meu sarcasmo.

Candidato ao Senado pelo PMDB, João Correia, professor da Universidade Federal do Acre, não economizou esforços para se eternizar no YouTube com seus ideais políticos, e o jornalista Demóstenes Nascimento, da TV 5, realizou, finalmente, a sua entrevista mais inteligente.

Político equilibrado, João Correia foi direto: "Você é um merda de nada, você é um parasita, seu lacaio do governo." O ótimo entrevistador respondeu à altura dos pequenos: "Merda é você." Depois disso, os dois atores da pornochanchada acriana espancaram a nossa puta Democracia.

Em defesa de João Correia, afirmo que ele não é um merda, longe disso. Digo, isso sim, que João Correia não é político. Também afirmo que o entrevistador não é um merda, longe disso. Digo, isso sim, que Demóstenes Nascimento não é jornalista.

João, como toda oposição acriana, lança a palavra para agredir o PT. Demóstenes, como todo subjornalismo acriano, não passa de um menino de recado do governo. Vazios de ideias, de conhecimento e de boa infomação, restou a esses anormais homens públicos o irrisório, o chulo, a pocilga televisiva.

Ambos são dois erros em um lugar errado. Diante de câmeras, os desqualificados aumentaram a audiência da TV 5 com aquilo que o povo aprecia: violência. Não somos afeitos a boas ideias em campanhas políticas. Tanto para se pensar, tanto para se questionar; porém, no lugar das boas ideias, João e Demóstenes brigaram por nada, agrediram-se por nada.

Por estar muito acima dessa merda que esses dois jogaram na audiência, a democracia não precisa deles.

segunda-feira, agosto 09, 2010

Faltam 8 dias

Ouço os passos descalços do tempo, já sinto sua maneira segura de chegar a mim. Tudo nele é inevitável como o fim ou a morte. Longe de eu ser senhor de meu destino, o tempo me dobra e me domina.

Depois, quando a contagem for concluída - faltam oito dias -, não sei quando voltarei, se é que voltarei. Só sei que retorno para cuidar de meus pais. O som do tempo chegou, e ele é triste.

quinta-feira, agosto 05, 2010

Um bom livro











Nesses dias, comprei "Por trás das palavras - manual de etimologia do português", de Mário Eduardo Viaro, editora Globo. (Des)cobrir o que se oculta nas palavras.

A história da palavra "ler" é muito interessante. Repare o que o autor escreve.

"Legere, de raiz leg, também sob a forma apofônica lig, cujo particípio é lectus, de radical lec.t-, transformada em português em l(e)-, lh(e)-, le.ç- ou lei.t-".

Com esse estudo, "ler" encontra-se, portanto, nas palavras "colheita", "colhidos", "encolhesse", "acolhida", "legumes".

Repare. Somente as plantas que tinham grãos em vagens e que, portanto, podiam ser escolhidos eram chamados de "leg-umes".

Sabe o significado de "colega"? "Colega" significa "quem lê junto".

Sabe o que significa "ler"? A palavra tem raízes no mundo rural e quer dizer "escolher". Quem não "lê" é incapaz de escolher.

"Eleger" é "escolher", mas, como há muitos analfabetos entre nós - de cada cinco eleitores, um é analfabeto -, o cidadão não sabe "escolher", ou seja, separar o bom do ruim.

segunda-feira, agosto 02, 2010

Faltam 15 dias

Aos poucos, de forma bem silenciosa, o tempo chega, ele sempre chega para impor a nós a sua verdade absoluta. Nada resiste a ele, nem o Deus dos cristãos. O tempo emerge em nós em forma de ruga, em forma de dor, em forma de morte, mas também brota em forma de amor.

Senhor indomesticável, ele nos devora e devolve a nós a nossa justa insignificãncia. Quem se lembrará de nós daqui a mil anos?

Resta viver. Voltar para casa e rever o tempo em meus pais e em meu irmão. Saber que perdemos preciosos dias quando éramos jovens e, só agora, com as marcas do tempo em nós, cuidar do outro é vital. Compreender. Ser tolerante. O tempo nos educa.

Quero ficar à beira do mar - esse símbolo romântico - para ouvir seu som e esquecer o barulho do mundo.

domingo, agosto 01, 2010

O Acre em revista

Diretor da Faculdade Euclides da Cunha, o professor-doutor Carlos Alberto destinou a mim a publicação da revista Visões Amazônicas, cujo propósito não poderia ser outro a não ser este: pensar o Acre.

No entanto, eis o problema: pensar. Há dois meses, busco nomes da Universidade Federal do Acre, de jornalistas e de pessoas em geral que queiram escrever; porém, mesmo indo à caça de boas cabeças, minha insistência obteve só dois textos: o de Cláudio Ezequiel e o da professora-gestora Osmarina.

Há um vazio de ideias no Acre. Quem poderia fecundar críticas, por exemplo, professores universitários, permanece com suas dissertações de mestrado e com suas teses de doutorado asfixiadas pela falta de leitores. A escrita desses intelectuais, sepultada em bibliotecas, não tem leitores.

Por meio de uma revista muito bem diagramada, onde o texto deve estar a serviço da imagem, penso desenterrar as palavras desses professores das bibliotecas para colocá-las em salões de beleza, em consultórios dentários, em clínicas médicas. Um desses professores, Manoel Severo.

Quem já leu o professor-doutor Severo? Como sua palavra é desconhecida, sou obrigado a ouvir ou a ler, em nossos jornais tão rasos, políticos ou o governo soletrarem "educação pública", e os jornalistas publicam.

Assembleia Legislativa do Acre e Câmara dos Vereadores

Não só professores universitários, mas bons jornalistas inquietos poderiam publicar matérias elaboradíssimas na revista a respeito das atividades da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) e da Câmara dos Vereadores de Rio Branco.

O que essas casas pensam sobre educação pública? Quais debates e propostas seus homens públicos promovem? Não sabemos se essas instituições pensam; sabemos, isso sim, que seus parlamentares se enriquecem rápido.

Para a revista, o repórter deveria publicar a pobreza de ideias dos homens público acrianos, sabendo que eleitores mais pobres de ideia os colocaram lá.

Durante um mês, a revista tentou obter uma entrevista com a deputada estadual Perpétua de Sá (PT), presidente da Comissão de Educação da Aleac, mas ela simplesmente ignorou, seu gabinete permaneceu indiferente.

Ao deputado estadual Edvaldo Magalhães (PC do B), presidente da Aleac, a revista enviou-lhe um requerimento, solicitando todo tipo de informação relacionada à educação pública. O nobre deputado nos deu como resposta a indiferença.

Difícil encontrar quem queira escrever, difícil passar o Acre em revista. Quem quiser ocupar os espaços de Visões Amazônicas, por favor, fale comigo pelo correio eletrônico (lingua.portuguesa@uol.com.br).