quinta-feira, dezembro 17, 2015

Marxismo e Criança

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Iniciei um artigo científico a ser publicado em uma revista. Aqui, publico seus dois primeiros parágrafos.

Ei-los:

Em qual livro de história lemos a luta de classe como luta da “estética do falso”? Tais páginas jamais foram escritas na história do marxismo, porque, entre o patrão e o empregado, as lutas nas ruas da Europa e do Brasil sempre se marcaram por sua natureza orgânica, isto é, a práxis do corpo sempre se reduziu a ser meio ou a ser  instrumento da violência ou instrumento da força do corpo enquanto corpo reduzido ao orgânico.



Em qual pensador lemos o marxismo brincando com as crianças? Nas entrelinhas ou de forma invisível, elas podem estar em certos filósofos; porém, de maneira tão visível, não há outro senão ele: quem, nos últimos dias da frágil República de Weimar, em 1933, aproximou marxismo e criança no livro Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação; não há outro senão este filósofo: quem afirma nessa obra que “a encenação contrapõe-se ao treinamento pedagógico como libertação radical do jogo” (pág. 87) - enfim, eis o nome: Walter Benedix Schönflies Benjamin ou tão somente Walter Benjamin (1892-1940). 


segunda-feira, dezembro 14, 2015

Bela obra

Termino 2015 lendo a bela obra de Feuerbach. Muitos nunca leram estas páginas e repetem o que o senso comum repete quando se trata das palavras deste pensador.

O Deus de Feuerbach é antropológico. Não é bem isso. Não é bem assim.

Há uma beleza nesta obra de 1841 que não lemos em "A ideologia alemã", de Marx.  


segunda-feira, novembro 02, 2015

O BRINCAR COMO ATO POLÍTICO


No filme "Tempo Modernos", de 1936, o capital industrial divide o mesmo espaço com Carlitos, o homo ludens, aquele que, por brincar, é antioperário.


Embora estejam no mesmo espaço, capital e a arte de brincar não se identificam. Nesse filme, brincar ainda é estranho ao capital.

Hoje, além de estarem no mesmo lugar, o capitalismo e o brincar se identificam. O capital cada vez mais se infiltra no mundo infantil. O capitalismo também brinca.
O que é Brincar?

Quem brinca se (vinc)ula a; brincar é laçar(-se) com, é unir(-se) a. Quem brinca apoda, isto é, não corta as relações internas do conjunto a fim de isolar as partes cortadas.

Cada parte pensa ser agora autossuficiente.

Mas brincar é apodar, porque cortar, sabemos, separa, impondo, à parte separada, nenhuma alteração, visto que a parte separada não se relaciona mais com. Repousada então em si mesma, ela agora é pura, limpa, estável.

Não quero ser chato, por isso termino.


Quem “poda” tem o “poder de cortar” a fim de tomar posse da parte cortada.

Posse e poder derivam de "pos", da raiz "pot", cujo significado é “senhor, assentar como dono ou como proprietário”, enfim, é aquele que exerce (“não dá folga”) o domínio sobre algum limite do que foi cortado, quer dizer, ao cortar, excesso ou extensão é interrompido, pois aquele que se assenta como dono delimita ou define a fim de que o excesso ou a extensão não escape, afinal, ninguém é senhor sobre o que escapa e, com efeito, por ser incapaz, não domina.

Brincar, portanto, é apodar.


sábado, outubro 24, 2015

A BANDEIRA DO ACRE




Quando existem espetáculos no Rio ou em Sampa, não raro ver uma bandeira acriana. Nunca vi bandeira do Amapá. Jamais vi bandeira de Roraima.

Para estarem no show, não são acrianos que moram à margem dos rios, os ribeirinhos; não são pessoas pobres, classe social com pouco poder aquisitivo.

Pagar passagem de avião. Pagar ingresso. Pagar hospedagem No mínimo, uma classe média acriana vai aos espetáculos.

Por que essa classe social leva bandeira para ser vista por todo país?

Querem mostrar que o Acre precisa existir para o Brasil?

Tolos, escondam a bandeira, o Acre não existe, ou melhor, o Acre não precisa existir para o Rio de Janeiro, para São Paulo, para o Paraná.

Preservem o Acre como segredo; não o exponham aos que ignoram o que seja a brisa verde e molhada de um igarapé. Escondam o Acre dos que pensam - se é que pensam - que progresso é só consumir marcas, carros, bebidas.

O Acre não existe porque o tempo parou nele.

Parou entre um tambaqui em folha de bananeira e um cupuaçu à beira do rio vazante ou à beira de rios onde borboletas voam sobre melancias fartas.

Parou entre suas mulheres que desobedecem o excesso de igrejas para doarem seus corpos em forma de alegria nortista. Parou entre sexos que gozam sob um céu que cariocas e paulistas jamais gozarão.

O tempo no Acre parou entre amigos acrianos que, por não serem baixos, não apunhalam pelas costas, uma gente boa que não tem vergonha de comer o simples prato "Baixaria".

O tempo no Acre parou entre pobres que não passam fome caso queiram plantar em terras fartas de abacaxi maior do que cérebro de políticos atrofiados.

Escondam a bandeira do Acre, ele não existe.

Rio e Sampa são cidades devassadas pela miséria do tumulto e pela selvageria da civilização inútil.

O Acre não é civilizado. O Rio é civilizado. Sampa é civilizado. O Acre ri da civilização com seus índios, com suas adolescentes de pernas grossas de Cruzeiro do Sul que correm seminuas ao sabor da chuva do norte.



O Acre não existe. Ele só existe para quem viveu no Acre e saiu mais humano dele.

O Acre só existe (deformado) para que nunca o viu de dentro e só fala de longe entre as fezes da Baía da Guanabara e os arrastões em Ipanema.

O Acre só existe (atrasado) para quem nunca se banhou no rio de Mâncio Lima e só fala de longe entre três horas para retornar à sua casa depois do trabalho e o estupro em uma van aos pés do Cristo Redentor.

Não, o Acre não existe. Ele é um segredo inefável para muito além das horas pesadas e cansadas das metrópoles.


Escondam a bandeira, o Acre não precisa estar à mostra. Que somente os acrianos e os que viveram nesta farta terra saibam de coração que o Acre existe.

Para o resto que nunca viu as estrelas do céu, o Acre não existe.


sábado, outubro 03, 2015

Hume-Kant-Hegel



Antes de o ano de 2016 concluir seu ciclo, cheguei ao fim da leitura de "O Tratado da Natureza Humana", de David Hume.

Mas termino o ano lendo outra vez o mesmo livro para entender Kant e para entender Hegel. É o básico.

quinta-feira, setembro 17, 2015

CAMELÔNIBUS


Quando saio da faculdade, caminho à avenida Presidente Vargas, perto da Candelária.

Entro no ônibus para Ipanema, para Irajá, para Jacarepaguá.

Não existe um dia sequer que um camelô não entre. Mais: da Candelária à serra Grajaú-Jacarepaguá, o tempo expõe, no mínimo, dois ou três camelôs.

Vendem escova de dente, doce variado, descascador de cozinha, manual de regra ortográfica, biscoito, batatinha, barra de chocolate.

Esses homens, todos negros, só não vendem a alma ao diabo. Parece que creem na vida quando me dão o troco, e é o vendedor que diz "obrigado".

Eles são muitos.

sábado, setembro 05, 2015

Razão Instrumental



Por ser guerreiro, Ulisses ou Odisseu, que significa “homem de dor”, pertence à ordem militar, quer dizer, a razão desse protagonista de Homero é bélica e, por ser de natureza belicosa, essa razão possui as marcas do instrumental. Do latim strŭō, essa raiz representa como primeiro significado “reunir”, ou seja, “arruma, dispõe, ordena”, havendo então o sentido de “compor”, e só compõe porque “causa”.

O instrumental reúne, ordena, compõe e cria, sendo que reúne, ordena, compõe e cria para que ele mesmo, o instrumental, seja meio ou passagem entre o sujeito e o objeto. A razão instrumental é, portanto, objeto de uso, por exemplo, enquanto linguagem ordinária. Entretanto, não é por reunir, por ordenar, por compor e por motivar que a linguagem instrumental é objeto de uso, mas ela é objeto de uso ordinário porque, uma vez sendo instrumental, é imediata, direta, objetiva, como é reta a linguagem de Lacônica, a polis dos espartanos.

Ulisses e espartanos igualam-se na mesma ordem, qual seja, a militar. Por causa de sua natureza bélica, a palavra do guerreiro é funcional, isto é, a res-posta deve ser rápida, e, para tanto, a palavra deve se grudar ao objeto, ou melhor: a palavra é o objeto. Na guerra, jamais pode a palavra ser errante, jamais contraditória, devendo ser, portanto, precisa como objeto que mata, nesse caso, a polissemia. Nesse sentido, a palavra é coisa, ou seja, o meio entre sujeito e objeto é reificação.

domingo, agosto 23, 2015

Para TRÊS aulas de FILOSOFIA

“(...) são forçados a reconhecer que a lei e a verdade dos números escapam ao domínio dos sentidos corporais, e que essas leis são invariáveis e puras, oferecendo-se universalmente aos olhos de todos aqueles que são capazes de raciocínio”
                                                                               (O Livre-Arbitrário, de Agostinho)






I. Patrística Apostólica ou Padres Apostólicos (século I d.C) 

a.
Clemente Romano ou papa São Clemente I, nascido em Roma, seria discípulo de São Pedro e morto no ano 100, lançado ao mar com uma pedra ao pescoço; e  


b. Sem preocupação pela filosofia e interesse moral.



II. Patrística Apologista ou Padres Apologistas (séculos II e III)                                                       

1. Roma : a. Essa patrística recorreu também a argumentos filosóficos: Justino Mártir (110/114 d.C  - 162/168 d.C) é o mais destacado e é o primeiro platônico cristão. Nasceu na palestina e retoma a palavra logos de Fílon de Alexandria ou o judeu Fílon (23 a.C - 41 d.C), considerado por alguns o  primeiro padre. Ele pensou uniu filosofia grega (Razão) e judaísmo (Fé), retomando uma das palavras gregas dos estoicos: logo;

2.
Escola de Alexandria: a. Patrística Helênica: Clemente de Alexandria (150-215) e Orígenes (185-253). O pensador cristão Clemente de Alexandria busca uma harmonia entre Razão e Fé, colocando o logos como o centro de seu pensamento. Se a ideia de logos, que se origina dos estoicos, parte da ordenação da natureza, isto é, da phisis, Orígenes afirma que Deus não pode ser entendido como corpo, matéria, natureza, por isso Ele, o Senhor, é incorpóreo. Diz Orígenes: “Deus é incompreensível e inescrutável”, porque transcende as capacidades da mente humana. Orígenes foi aluno de Clemente e aluno de Amônio Sacas (175-242), mestre de Plotino (204-270).

II. Patrística Apologista Latina ou Padres Apologistas Latinos                                                          

1. África: 

a. Patrística Latina: Tertuliano (160-240), Cartago (Tunísia); e Agostinho (354-430), Tagasta (Argélia). Enquanto este tem a fé com a filosofia, aquele afirma que crê porque é absurdo. Para Tertuliano, Jerusalém  (óleo) e Atenas (águas) não se misturam. Sem o pensamento metafísico dos gregos, o cartaginês prega o rigorismo moral por meio de fé, porque, como a filosofia destrói, só a fé constrói. Muito próprio da cultura latina, a patrística tertuliana é objetiva, pragmática.                                                                                           .

1.1. Igreja Estatal do Império Romano do Ocidente (380 d.C - 476 d.C): Fé e Razão de Agostinho 


a. Βάρβαρος (não gregos): em 410, visigodos de Alarico devastam Roma; e, em 476, o bárbaro Odoacro, chefe da guarda da pretoriana, depunha Rômulo Augústulo;                                                                           .

b.
São bárbaros cristanizados pelas ideias de Ário (256-336), que defendia não ser Jesus Deus, ou seja, não defendia a consubstancialidade, além de Deus, segundo Ário, ser um grande eterno mistério, oculto em si mesmo, e que nenhuma criatura conseguiria revelá-lo. Em 325, o Concílio de Niceia condena esse pensamento, e povos bárbaros se convertem ao cristianismo niceano;                                                            
.   

c.
Agostinho ajusta o platonismo no mundo ocidental por meio de Plotino, trazido por Ambrósio (340-397);

1.2
O livre-arbítrio (388-391), de Agostinho                                                                                               
.
d. O que é liberdade? Do latim lībĕr, liberdade significa “desregrado, licencioso; não sujeito a paixões; espaçoso, extenso; e do latim lībĕrālĭs, liberdade significa “distinto; bem educado; belo; bom; abundante”;


d.1 In(stru)ção: struō significa “levantar, sustentar; retirar; confortar; juntar, ligar, preparar, compor, tecer, relacionar, tramar, formar, causar, cobrir; tem também o sentido de autor, isto é, o que produz, o que causa”; e


d.2 O que é vício? Do latim vĭtĭŭm, significa “falha, falta; má qualidade; defeito”.





Estou bem




Domingo, inverno carioca é brisa fria pela janela e sol sem castigo. Não há nuvens. Acordei por volta das 9 horas e, como sempre, leio o que me interessa nos jornais O Globo e Folha de São Paulo.

Depois, abro um livro, dois. Meu trabalho é ler. Meu trabalho, entender as palavras neste dia tão calmo para retirar do belo livro "Experiência do Nada como Princípio do Mundo", de Guy Van de Beuque, professor da UFRJ, esta frase-oracional: "O pássaro é vermelho".

Diz o autor: "Nossa atenção se atém ao 'pássaro' e ao 'vermelho' de sua plumagem. O 'é', de tão pequeno, não atrai nosso olhar. É um mero conectivo, apenas uma palavra de ligação. O 'ser', então, nem se fala, parece uma mera abstração retirada do 'é'. Por sua presença constante, o ser nos passa despercebido, e mal conseguimos reparar nessa força que se impõe como a ligação de tudo que é."

O senso comum usa todo dia é, mas usa como praxis jamais pensada. Usa-se porque é comum. No entanto, existe uma profundidade do "ser", do "é", uma profundidade que nos lança à vertigem, por exemplo, na obra "Ser e Tempo", de Martin Heidegger.



No Brasil, há duas traduções, gosto das duas, mas a tradução de Fausto Castilho, que levou mais de 60 anos, é menos obscura do que a tradução de Márcia de Sá Cavalcante. A de Fausto flui mais.

Se filosofia "é recomeço", como pensa Heidegger, esse recomeço se chama por meio dos conceitos, por meio das categorias, por meio das palavras. Heidegger pensa a palavra.

A fim de saber o que é o ser, o pensador alemão pergunta o que (é) perguntar. E ele responde: "Jedes Fragen ein Suche" ou "todo perguntar é uma busca".

Ele inventou a relação entre "pergunta" e "busca"? Ele reproduziu isso? Não, jamais. Para afirmar isso, ele foi à palavra PERGUNTA segundo os gregos, não conforme os romanos.



E aí permita-me este texto meu:
________________
Em grego, “perguntar” é εрωτώ; e “pergunta”, εрώτηση. O sentido profundo da palavra “pergunta”, acolhido pelo significante grego εрώτηση, morreu no exato momento em que se transliterou esse significante para o latim vulgar como praecunto e para o latim clássico como percontāre.

Com efeito, se em latim “pergunta” implica “o todo inteiro”, em grego o sentido da palavra “pergunta” (εрώτηση) acessa a ideia mítica do deus Eros (Éрως), e, assim sendo, habita, na própria palavra “pergunta”, a ação de cortejar ou de enamorar o que é, visto que, por ser impulso que nos aproxima em direção ao que é, “perguntar” (εрωτώ) nos movimenta ao encontro amoroso, ao íntimo.

Se a filosofia, ao ver, pergunta, é porque o que é visto atrai; mas o atrair, sabemos, que namora o que é, já mora na pergunta. Uma vez atraída, a filosofia, que vê, pergunta sabendo que perguntar já é atração.
______________________

Há na palavra "pergunta" um princípio, princípio que não tem nada a ver com a minha OPINIÃO.

Manhã de domingo, tenho andado tão bem com a vida.


sábado, agosto 08, 2015

Idade Média (476-1453)


1. A Fé e a Lógica


a. A reforma educacional de Carlos Magno (século VIII), a fim de fortalecer a unidade de seu império, estabeleceu, por meio do monge beneditino Alcuíno, as artes liberais, o trivium: o ensino literário (gramática, retórica e dialética); preparando o caminho para o Renascimento do século XII;

b. Antes, no século XI, alguns sacerdotes da Igreja  já tinham o ardor da dialética e da retórica. Pedro Damião (1007-1072) queixava-se de que o interesse era pelo seu estilo, pela sua eloquência, pela sua sutileza dialética, pelo silogismo, e não o interesse pela verdade do conteúdo. Até o dogma foi submetido à dedução silogística. Por causa disso, Pedro Damião rejeita a razão dialética porque ela não pode questionar a autoridade. Cristo é a autoridade maior e única, e não Aristóteles com sua razão. Monge não precisa de filosofia, mas Pedro Damião usa a filosofia contra a filosofia. Para Anselmo de Cantuária (1033-1109), “não se compreende para crer, mas, ao contrário, crê-se para compreender”. Anselmo trilha o caminho da lógica; e


c. O ápice dessa razão é Guilherme de Ockham (1288-1347).

quinta-feira, julho 30, 2015

A fala no espaço sindical



Ver a imagem e não pensar a imagem, mas a aparência deve ser lida para que tenhamos um pouco de profundidade. Um pouco.

A foto, reunião de professores paralisados e, diante deles, um professor fala para todos. Mas foto, sabemos, não emite som. 

Imagem comum. Imagem habitual. Imagem tradicional. Em que sentido comum, habitual, tradicional? O sentido encontra-se, claro, no que vemos. 

Mas o que é comum? Mas o que é hábito? Mas o que é tradição? O que é esse comum? O que é esse hábito? O que é essa tradição nesta foto?

Os professores que estão na foto respondem a isso? Ele desejam refletir sobre isso? O que a foto diz por meio de pensar isento de ideologias?

Esse, portanto, o abismal problema de muitos professores: eles não pensam - e nem querem - o que veem em suas próprias práticas.

segunda-feira, julho 27, 2015

Para um ex-senador, é muito pouco


A forma como professores agem contra o governador do Acre é a mesma como professores de São Paulo e do Paraná agiram neste ano contra seus governantes. Há um padrão CUT de luta, modelo que tem como estrutura estruturante uma rede de conceitos, um deles, o conceito de práxis. Sem repensar palavras, sem repensar conceitos, o agir sempre será o mesmo, ou seja, a luta sempre será o confronto físico ou o confronto verbal bem chulo. Inteligência limitada e ausência de criatividade eternizam e limitam a luta da educação.

Embora discorde desse padrão CUT, discordo mais ainda quando um ex-senador da República só escreve aos professores quando estes não servem às propagandas de Acre Feliz na Escola Pública do governo petista. Eu disse ex-senador, eu não disse professor que leciona todo dia em salas de aula sem ares-condicionados. Aníbal é ótima pessoa, ótimo amigo, ótimo marido, ótimo pai, ou seja, isso não me interessa, pois o que me interessa aqui é que, enquanto homem partidário e governista, escreve para justificar o “momento inoportuno” dos professores e para defender um partido que está governo há quase 20 anos.

Vamos às palavras do ex-senador.

O desconforto causado pelo barulho e pela longevidade, apesar da pouca adesão, da greve dos trabalhadores da educação, chama a atenção de todos. Por isso, dedico algumas linhas de reflexão sobre o assunto.
Antes, o ex-senador, formado em história, desconhece o que seja o uso correto da vírgula; erro, para mim, inadmissível vindo de um homem público que só ocupou elevados cargos no PT ou na República.
Observado isso, evidente que neste parágrafo os professores causam desconforto por causa do barulho e da longevidade da greve dos trabalhadores da educação. Greve, por sinal, com pouca adesão. Sobre esse assunto, sua reflexão.


Antes de tudo, quero deixar claro que não há dúvida quanto ao direito de greve, à livre manifestação e à justeza da reivindicação salarial de professores e outros profissionais da educação.
Aqui, o ex-senador reconhece direito de greve, livre manifestação e justeza da reivindicação salarial.

Então, ele refletirá qual assunto, o do primeiro ou do segundo parágrafos?



O problema é o momento inoportuno em que se dá o movimento, num cenário de crise profunda da economia nacional, com reflexos inevitáveis na diminuição dos repasses para estados e municípios.
Eis a resposta: ele não pensará direito de greve, livre manifestação e justeza da reivindicação salarial, e sim barulho e longevidade da greve dos trabalhadores da educação, pouca adesão. Não é isso?


Eu não tenho informação precisa do tamanho do comprometimento do orçamento do Acre com o pagamento de pessoal, mas sei que, desde a implantação do PCCS – Plano de Cargos, Carreiras e Salários no primeiro governo de Jorge Viana, a folha de pagamento vem tendo crescimento automático superior a 0,5% a cada mês.
Aqui, entra não os professores, mas o governo do PT. Embora seja ex-senador, Aníbal não tem informação exata do comprometimento do orçamento estadual com o pagamento a funcionários. Não tem informação exata. Deveria ter. Eu diria ainda: muito exata. Mas ele sabe, com precisão, que a folha de pagamento cresce 05% a cada mês.

Até aqui, o texto de Aníbal Diniz desqualifica os professores paralisados (desconforto, barulho, pouca adesão) e qualifica o governo de Jorge Viana. Outra observação: o ex-senador coloca um só travessão, o que, nesse caso, está errado.


E posso afirmar, sem risco de cometer impropério, que o maior investimento do Governo do Acre na era das administrações do PT e da Frente Popular, sempre foi na melhoria das condições de trabalho e de salário dos servidores, chegando ao patamar atual de R$ 160 milhões mensais com o pagamento da folha.
Amplia seu elogio ao governo (melhor condição de trabalho, de salário e R$ 160 milhões mensais ao pagamento) e permanece a errar ao usar a vírgula.   


Para quem tem dúvida a respeito, é só fazer algumas comparações: se somarmos todo investimento que o Governo do Estado fez na BR – 364 entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul ao longo dos últimos 16 anos será seguramente menor que o investimento anual que o Estado faz com o pagamento dos seus servidores. O mesmo pode ser feito com o montante investido na construção de milhares de casas na cidade do povo, no complexo da piscicultura, na aquisição de máquinas agrícolas ou no programa ruas do povo.
Para quem tem dúvida, basta, segundo Aníbal, comparar e, para tanto, devemos somar todo investimento do governo na BR-364 (Rio Branco-Cruzeiro do Sul) durante 16 anos. Depois, esse valor somado é menor do que o investimento anual do governo petista para a construção de milhares de casas na cidade do povo, para o complexo da piscicultura, para a aquisição de máquinas agrícolas ou para o programa Ruas do Povo.

Uma pergunta: onde está a reflexão anunciada no primeiro parágrafo? Outra pergunta: onde estão os professores? Até aqui, Aníbal cumpre sua função, que não é refletir, mas defender o seu governo, ou seja, o seu salário.


Todos os investimentos feitos nos maiores programas e políticas públicas do Governo do Acre não se comparam aos investimentos feitos a cada ano no pagamento dos funcionários públicos. Ouvi o anúncio do governador de que destinará R$ 260 milhões para o programa Ruas do Povo em 2015, ao passo que, também em 2015, serão investidos mais de R$ 1,92 bilhão (Um bilhão e 920 milhões) sem contar com o 13º, em pagamento de servidores.
Seu aqui se repete nas primeiras linhas. Retorno fixo de ideia ao próprio governo. Depois, ele especifica (R$ 260 milhões) para o programa Ruas do Povo em 2015 e mais R$ 1,92 bilhão no mesmo programa. Por fim o 13º.

Até aqui, não há professores mas servidores, ou seja, Aníbal enxerga o todo, e não uma parte desse todo, no caso, os professores. Outra observação: onde está a reflexão?   

Isso quer dizer que os servidores ganham muito? Não! É apenas uma demonstração de que o Governo faz o que pode, dentro de suas condições e limitações, para manter o pagamento de pessoal em dia, com uma folha que cresce vegetativamente, com as chamadas vantagens e puladinhas, a cada mês.
Quase 20 anos de PT, e os servidores não muito, porque, dentro de suas condições e de suas limitações, o governo faz o que pode. O governo do Modo Petista de Governar (lembra-se?) faz o que pode. O partido do Orçamento Participativo (lembra-se?) faz o que pode. O partido da Ética (lembra-se?) faz o que pode para manter o pagamento de pessoal em dia, e aí Aníbal escreve “com uma folha que cresce vegetativamente, com as chamadas vantagens e puladinhas”. Qual o sentido de “vegetativamente”? Aqui, diferente quando é governo, ele critica, mas não se aprofunda, não expõe abertamente seu pensamento quanto ao “vegetativamente”. Aqui, ele fala, finalmente, dos professores, mas deixa sua crítica subentendida.

Além do mais, já tivemos exemplo de irresponsabilidade no passado, durante o governo Romildo Magalhães, em que o Governo cedeu à pressão dos funcionários e o resultado foi de gravíssimas consequências para todos: primeiro, porque o Governo teve que lançar mão do fundo previdenciário dos próprios servidores (o que se espera que nunca mais aconteça!) e depois foi o histórico atraso no pagamento dos salários. Ou será que já nos esquecemos de que quando Jorge Viana assumiu o Governo havia atrasos de três, quatro e até cinco meses de salários para algumas categorias?
Uma das marcas do neurótico é a repetição. Desde que chegaram ao poder, os petistas remetem-se ao passado, e eles remetem-se ao passado para que o mal não retorne. Aníbal é o bem. O seu grupo, ungido por Deus. Aqui, mais uma vez, seu texto existe para o governo e, para isso, só colocou os professores no primeiro parágrafo como meio.  
 
Temos que cair na real! Vivemos um momento de crise profunda, com acordos de redução de jornadas de trabalho e redução de salários para a preservação dos empregos em muitas indústrias dos grandes centros econômicos do país, e o melhor que podemos fazer, como Estado pobre que somos, é usar do bom senso!
Só o governo cai na real, os professores não caíram na real. E aí surge “Estado pobre que somos, é só usar o bom senso”. Estado pobre, mas... pensões altíssimas para ex-governadores. Estado pobre, mas... DAS altíssimos para amigos e partidários. Estado pobre, mas... salários altíssimos para secretários. Estado pobre, mas... verbas altíssimas para gabinetes.  

E aí eu me pergunto: onde está a reflexão do ex-senador? Isso é reflexão? Além de não saber pontuar, além de escrever um texto mal estruturado, o ex-senador da República ignora o que seja reflexão. 


terça-feira, julho 14, 2015

A morte do infantil

 


MC Melody, 8 anos, canta
"e te confesso que um beijo já me desperta o desejo"


MC Vilãozin, 6 anos, canta
"senta com a pepeca"

Um trecho do meu artigo a ser publicado pela UERJ
Obs: neste espaço, ele está fragmentado.

Nesses tempos tão sérios e pilhados de coisas úteis, escrever sobre o bobo e sobre o palhaço é escrever sobre cadáveres, inutilidades sepultadas por crianças na cova rasa da indigência. 

O mundo infantil nem reconhece mais seus defuntos. Crianças agora são acolhidas pela estética agradável do shopping, onde o consumo alegra crianças neste templo mítico de PlayStation, de tablete, de Iphone, de marcas. 

Alegria, entretenimento utilitário. A criança, pequeno proprietário. Ela não assiste mais à invenção do mundo e muito menos o inventa, utiliza-o; pois, sem saber o que é o palhaço e muito menos o que ele conta, o adulto presenteia a inocência com gestos sem encontros, sem o imprevisível, sem aventura, gestos sem a fantasia. 

Para o bebê que chora por não querer comer, a mãe ameaça chamar o palhaço, por isso, quem sabe, a pequena Larissa de Macedo Machado tenha confessado que, quando criança, sentia muito medo de palhaço, até hoje Anitta se assusta com suas cores, suas formas, seu riso, suas brincadeiras. 

Crianças se alegram agora ao som do funk pornô (“senta com a pepeca”) de MC Vilãozin, de 6 anos, e do funk sensual (“e te confesso que um beijo já me desperta o desejo) de MC Melody, de 8 anos. A infância não se identifica mais com a inocência do palhaço.

quinta-feira, julho 09, 2015

Velhas práticas. Velhos erros.


ndical.
Os professores do Acre, após quase 3 anos, juntam-se como sempre para que as aulas sejam interrompidas.

Os de São Paulo pararam por mais de 90 dias, e os professores pararam.

A mesma prática ocorre no padrão sindical de luta do Acre. Por que sairiam vitoriosos?

sexta-feira, junho 19, 2015

Constantino Kaváfis (1863-1933)



O que esperamos na ágora reunidos?
É que os bárbaros chegam hoje.
Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?
É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.
Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?
É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.
Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?
É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.
Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?
É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloqüências.
Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?
Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.
Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.

terça-feira, junho 16, 2015

Crime e Biologia

Franz J. Gall, pai da frenologia

A palavra frenologia foi registrada pela primeira vez no dicionário, em 1836, como doutrina segundo a qual cada faculdade mental se localiza em uma parte do córtex cerebral, sendo, portanto, uma teoria que reivindica ser capaz de determinar o caráter, as características da personalidade e o grau de criminalidade pela forma da cabeça. Foi o médico alemão Franz Joseph Gall (1758-1828) que desenvolveu, por volta de 1800, a frenologia. Quem mais defendeu essa “ciência” e quem ficou mais famoso com ela foi Cesare Lombroso (1835-1909), criador da antropologia criminal e, de suas ideias, nasceu a Escola Positiva de Direito Penal. Em 1895, Lombroso publicou Antropologia criminal, onde associa características craniofaciais ao tipo de criminoso. Primo de Charles Darwin, Francis Galton (1822-1911), antropólogo e matemático, cunhou o conceito de eugenia em 1883, cujo significado é melhorar determinada espécie por meio da seleção artificial. Em 1964, o psicólogo britânico Hans Eysenck (1916-1997) editou Crime e personalidade, onde o delito é o resultado de uma interação entre condições do ambiente e características do sistema nervoso. Em 2002, a alemã neurocientista Terrie Moffitt publicou o primeiro estudo que relaciona fatores genéticos ao comportamento criminoso. O neurocientista e criminólogo britânico Adrian Raine foi um dos pioneiros a estudar o cérebro de criminosos violentos e, até 2013, pretendia fundar a disciplina “neurocriminologia”.
A sequência desses nomes no período de 213 anos aproximadamente é a permanência fixa no tempo de uma episteme pós-kantiana, cuja razão, sem poder conhecer a substância ou a essência do real, afirma o que é verdade por conhecer o fenômeno, a aparência do real. Um dos fundamentos de Lombroso encontra-se no positivismo de Auguste Comte (1798-1857), e, a fim de alicerçar a relação entre características da personalidade, grau de criminalidade e forma da cabeça, Franz Joseph Gall leu contornos, o exterior, a superfície, enfim, a razão pós-Kant leu a aparência de protuberâncias na cabeça para, após mapeá-la, sentenciar o que é a natureza personalidade-crime-fenômeno.


quinta-feira, junho 11, 2015

Quando o ódio é democrático

Na democracia, fala-se o que quiser, e o que é pior: fala-se o que nem entende. 

Quando se fala o que nem entende, não é para pensar, mas para agredir.

Quando se fala o que entende, fala-se não para agredir o adversário; porém, quando se fala sem entender, inventam-se inimigos políticos a fim então de odiá-los.

Uma forma de democracia serve a isso e se mantém assim por causa disso.

A última eleição presidencial foi a mais agressiva de qualquer outra anterior, ou seja, foi uma campanha para não pensar ideias para o país.

Ataques pessoais serviram para desviar a atenção do que é essencial à democracia: as ideias.

Assim, enquanto ideias não foram pensadas por causa do ódio pessoal, mentiras foram propagadas.