quinta-feira, junho 14, 2007

Deu na Folha de São Paulo


NOTA da coluna BOM-DIA!, do jornal A TRIBUNA

Deu na Folha
Know-how. Ao saber que Sibá Machado (PT-AC) já foi coveiro, um senador ficou todo animado. Segundo ele, o presidente do Conselho de Ética poderá utilizar sua experiência para enterrar a investigação contra Renan. Sibá nada respondeu. Fez de conta que não era com ele, ou seja, se fez de morto.

Ronda Gramatical - "Oportunizar"

"Eu quero elogiar a iniciativa da Assembléia Legislativa de oportunizar às lideranças do Alto Acre, desde o prefeito ao líder dos produtores rurais, a chance de dizermos o que queremos, o que é melhor para quem vive no interior. Esse exemplo deve ser seguido e posto em prática por outros setores da administração pública. O povo não quer muito, quer apenas ser ouvido e falar, dizer dos seus problemas e sonhos." (Joais Santos, prefeito de Capixaba)

1. Oportunizar - Não há esse verbo no dicionário Houaiss. Não há esse verbo no dicionário Aurélio. Não há esse verbo no livro Regência Verbal, de Celso Pedro Luft. Como estamos na floresta, existem fadas, gnomos e oportunizar.


Ontem, depois de sair do jornal, cheguei ao meu descanso às 22h45min. Abri a porta. Do outro lado da rua, um homem, à porta de sua bela casa, falava alto para outro homem.

O outro homem procurava em seu lixo. "Não mexa em meu lixo, saia daí". "Eu arrumo, quando eu acabar de catar em seu lixo, eu deixo tudo arrumado." "Não, deixe isso aí".

A porta aberta. Não entrei. "Deixe o homem, é um miserável, não está fazendo mal a ninguém", eu disse.

O lixo foi arrumado. O homem da bela casa entrou. Fechei a porta e fui ao encontro do homem que mexeu e arrumou o lixo.
Qual seu nome?
José Alves.

Sua idade.
26 anos.

Ele não concluiu a 4a série. Muito falador, esse rapaz fedia muito e catava comida no lixo de alguém que não queria que ele mexesse no lixo. Na foto, à direita dele, restos.

Eu poderia ter ignorado sua vida, porque ele não pode dar nada em troca. Pior: ele não existe. José não tem vida.

Por que o senhor está falando comigo?, perguntou o rapaz
Porque você me incomodou. Seu resto de comida, catada no lixo, me incomodou.

Em final de mês, a comida é menor. Na geladeira, pouco. Peguei uma caixa de leite, duas laranjas e pão de forma.

Tome.
Obrigado, que Deus lhe dê sempre mais.

"Deus está morto". Os homens O mataram com suas palavras no Poder Legislativo, nas igrejas. A miséria desses homens é maior que a sua.

Não posso sempre lhe dar comida, mas, quando a necessidade apertar, não vá à Assembléia Legislativa do Acre, porque o povo é uma idéia abstrata, genérica lá. O Cristo na cruz só ornamenta o espaço.

Pode ir a meu quitinete. Eu, tendo, darei um pouco de alimento a ti. Não poderei dar sempre.

Como é fácil ignorar o semelhante. Semelhante!?!?!? Deputados, por exemplo, não se assemelham a José Alves. Igrejas, idem.

Por que não ignorei José? Foram duas laranjas, um pacote de leite, pão de forma. Por que não o ignorei? A indiferença é tão elegante, soberba, inflexível. Deveria ter tomado conta de minha vida.

Blog não sensibiliza.

Respondendo a dois bloguistas

Michelle Stephane

Estou afim de escrever um texto sobre a ruim minissérie Amazônia: de Galvez a Chico Mendes e a ótima minissérie Pedra do Reino.



Marcos Afonso

Grande pessoa humana, meu correio eletrônico é lingua.portuguesa@uol.com.br Mande sua carta. Um abraço em teu destino.