terça-feira, maio 01, 2012

"Lírica e Sociedade"...


é uma obra de Adorno (1903-1969). Como meus alunos estão postando versos em seus blogues, quero deixar aqui algumas breves palavras relacionadas à linguagem lírica segundo o sociólogo Theodor Adorno.

1. O eu-lírico ou linguagem lírica não pulsa somente nos versos. Podemos encontrá-la, por exemplo, nos cinemas "O Carteiro e o Poeta", "Lavoura Arcaica", "Doutores da Alegria"; nas minisséries "Hoje é Dia de Maria", "A Pedra do Reino";

2. A linguagem lírica é a força provocativa do ato estético. Compreendamos como estético o sentido da "forma", do significante, ou seja, o adversário do significado conforme diz Roland Barthes;

3. A importância do significante, eu a encontrei quando li "Da Sedução", de Baudrillard. Por que seduz? Seduz porque não significa, ou seja, a sedução é o significante;

4. Ao Adorno. Ele afirma que "o conteúdo de um poema não é a mera expressão de emoções e experiências individuais". Para esse alemão, a universalidade do conteúdo lírico é essencialmente social;

5. Nesse aspecto, a poesia "tem sua grandeza unicamente em deixar falar aquilo que a ideologia esconde". O eu-lírico (des)cobre;

6. A poesia "implica o protesto contra um estado social que todo indivíduo experimenta como hostil, alheio, frio, opressivo (...)";

7. Hostil, "desfavorável"; alheio, "estranho"; frio, "sem vigor"; opressivo, "fechado". Essas palavras, nós as encontramos no filme "O cheiro do ralo", onde predomina o realismo, ou seja, a presença dos objetos, a presença da palavra-objeto, da palavra ordinária, da palavra utilitária. 

8. Despossuída de lirismo, a palavra sindical é opressiva porque, fechada em si mesma, ela  asfixia ou sufoca a transfiguração, o desejo, o imaginário;

9. "O eu que ganha voz na lírica é um eu que se determina e se exprime como oposto ao coletivo, à objetividade", diz Adorno. A fala sindical destina-se ao coletivo, por isso ela é fechada.    
O grande erro dos movimento sociais foi negar, por causa de suas incompreensões, o ato estético nas lutas políticas.

No entanto, o capital, há um bom tempo, manipula, a seu favor, a estética.

O capital, que ironia!, poetizou-se.

Aos velhos do PT, poesia


O governador do Acre eliminou dois valores apreciados por meu paladar: a bienal do livro e o festival de teatro na Usina João Donato.

Em termos de cultura, o PT de Tião Viana tem sido um zero "à esquerda".

Você já reparou que governantes não falam aos jornais de cultura? Só falam frases feitas de estradas, de economia, de mercado.

Um desses dias, estava lendo os versos de Camões. Lembrei-me de dirigentes petistas acrianos.

A eles, os velhos do PT, dedico o que não entendem, ela: a poesia.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo de esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.