quarta-feira, março 14, 2007

pOesiA - a voz do Eu-Lírico


Sobre poesia, a Literatura na escola padece de inocência, beira a uma compreensão bobinha de alguns professores, porque se acomodaram com seus livros didáticos.

Há um texto da Escola de Frankfurt, no entanto, que retira a poesia de sua infantilização em sala, é Lírica e Sociedade, de Adorno.
A voz lírica, para esse pensador, não é a mera expressão de emoções e de experiências individuais; o eu-lírico, a linguagem poética, manifesta-se quando adquire participação no universal. "Da mais irrestrita individuação, a formação lírica tem esperança de extrair o universal", escreveu Adorno.

Com essa compreensão, individuação e universal, o eu-lírico é uma voz que reage à influência de agentes exteriores "contra a prepotência das coisas", é uma forma de reação "à coisificação do mundo".

Coisificação no sentido de que, desde a Revolução Industrial, no século 18, as mercadorias dominam os homens. O amor, por exemplo, adquire a condição de coisa quando se reduz ao "orgânico", à funcionalidade, por meio de músicas que submetem o amor à regressão auditiva.
"Lapada na rachada" nunca foi música, mas ruído que "preenche os vazios do silêncio que se instalam entre as pessoas deformadas pela docilidade de escravos sem exigências". O eu-lírico se opõe a esse coletivo.
Oposto a essa "lapada", oferto a teus olhos, então, Castro Alves, que hoje faz 160 anos de nascido.
Amar e ser amado

Amar e ser amado! com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sentimento:
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano —,
Beijar teus dedos em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante — amado —
Como um anjo feliz... que pensamento!?