quarta-feira, setembro 30, 2009

Em época de Enem, eis as pérolas

1) "o problema da amazônia tem uma percussão mundial. Várias Ongs já se estalaram na floresta." (percussão e estalos. Vai ficar animado o negócio)

2) "A amazônia é explorada de forma piedosa." (boa)

3) "Vamos nos unir juntos de mãos dadas para salvar planeta."
(tamo junto nessa, companheiro. Mais juntos, impossível)

4) "A floresta tá ali paradinha no lugar dela e vem o homem e créu."
(e na velocidade 5!)

5) "Tem que destruir os destruidores por que o destruimento salva a floresta."
(pra deixar bem claro o tamanho da destruição)

6) "O grande excesso de desmatamento exagerado é a causa da devastação."
(pleonasmo é a lei)

7) "Espero que o desmatamento seja instinto." (selvagem)

8) "A floresta está cheia de animais já extintos. Tem que parar de desmatar para que os animais que estão extintos possam se reproduzirem e aumentarem seu número respirando um ar mais limpo." (o verdadeiro milagre da vida)

9) "A emoção de poluentes atmosféricos aquece a floresta."
(também fiquei emocionado com essa)

10) "Tem empresas que contribui para a realização de árvores renováveis."
(todo mundo na vida tem que ter um filho, escrever um livro, e realizar uma árvore renovável)

11) "Animais ficam sem comida e sem dormida por causa das queimadas."
(esqueceu que também ficam sem o home theater e os dvd's da coleção do Chaves)

12) "Precisamos de oxigênio para nossa vida eterna."
(amém)

13) "Os desmatadores cortam árvores naturais da natureza."
(e as renováveis?)

14) "A principal vítima do desmatamento é a vida ecológica."
(deve ser culpa da morte ecológica)

15) "A amazônia tem valor ambiental ilastimável."
(ignorem, por favor)

16) "Explorar sem atingir árvores sedentárias."
(peguem só as que estiverem fazendo caminhadas e flexões)

17) "Os estrangeiros já demonstraram diversas fezes enteresse pela amazônia."
(o quê?)

18) "Paremos e reflitemos."
(beleza)

19) "A floresta amazônica não pode ser destruída por pessoas não autorizadas."
(onde está o Guarda Belo nessas horas?)

20) "Retirada claudestina de árvores."
(caraulio)

21) "Temos que criar leis legais contra isso."
(bacana)

22) "A camada de ozonel."
(Chris O'Zonnell?)

23) "a amazônia está sendo devastada por pessoas que não tem senso de humor."
(a solução é colocar lá o pessoal da Zorra Total pra cortar árvores)

24) "A cada hora, muitas árvores são derrubadas por mãos poluídas, sem coração."
(para fabricar o papel que ele fica escrevendo asneiras)

25) "A amazônia está sofrendo um grande, enorme e profundíssimo dsmatamento devastador, intenso e imperdoável."
(campeão da categoria "maior enchedor de lingüiça")

26) "Vamos gritar não à devastação e sim à reflorestação."
(NÃO!)

27) "Uma vez que se paga uma punição xis, se ganha depois vários xises."
(gênio da matemática)

28) "A natureza está cobrando uma atitude mais energética dos governantes."
(red bull neles - dizem as árvores)

29) "O povo amazônico está sendo usado como bote expiatório"
(ótima)

30) "O aumento da temperatura na terra está cada vez mais aumentando."
(subindo!)

31) "Na floresta amazônica tem muitos animais: passarinhos, leões, ursos, etc."
(deve ser a globalização)

32) "Convivemos com a merchendagem e a politicagem."
(gzus)

33) "Na cama dos deputados foram votadas muitas leis."
(imaginem as que foram votadas no banheiro deles)

34) "Os dismatamentos é a fonte de inlegalidade e distruição da froresta amazonia."
(oh god)

35) "O que vamos deixar para nossos antecedentes?"
(dicionários)

terça-feira, setembro 29, 2009

Partidarização, Osmarina e um Prêmio

Nos jornais acrianos, carros batem em postes todo dia, policiais prendem marginais e drogas são apreendidas, porém não sabemos o que ocorre na escola pública. Só sabemos dela quando o governo a propaga por meio dos veículos de comunicação de massa.

Mas a propaganda de governo não emite uma imagem reflexiva sobre educação pública. Por meio dos jornais, da TV e do rádio, o governo da Frente Popular se elogia, confinando a escola à condição de um objeto superficial.

Antes, propagava-se que tínhamos o melhor salário do país. São Paulo, governo do PSDB, paga o melhor salário hoje. Quando os resultados são negativos, os dados do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, não servem. Quando são positivos, servem.

No Acre, a escola pública é objeto da partidarização. Os sindicatos da educação poderiam transformar a rede pública de ensino em discurso reflexivo; suas lideranças, porém, sempre foram incapazes disso.

Partidarização da escola pública

Desde 2003, quando comecei a lecionar na escola Heloísa Mourão Marques, vi a presença cancerígena de partidos políticos com a finalidade única de colocar na gestão escolar pessoas de seus interesses.

Por ser um erro, o atual processo eleitoral permite essa partidarização na escola. Quem padeceu com a presença de partidos de esquerda foi a professora Osmarina. Difamaram-na e, por causa disso, perdeu muitas eleições.

Porque o partido escolheu, submeteram o corpo docente a aceitar depois pessoas incapacitadas para coordenar o ensino. Entretanto, com muito jeito, com muita articulação, a professora Osmarina foi escolhida após tantas derrotas. Colocar o professor Gleidson como coordenador de ensino também não foi fácil.

Os vícios do setor público

Hoje, a escola não deixou antigos problemas. Funcionário, por exemplo, quebra um cabo de DVD, mas acha que não deve pagar. Professor acha que não deve ser cobrado. Mesmo assim, a escola apresenta outra imagem por causa da gestora-professora Osmarina.

Embora trabalhe para melhorar a escola, dois professores a processaram. Quando a antiga gestora (?) deixava a escola por um mês, esses dois professores calaram-se.

Algo simples. Para muitos, sem importância. A escola Heloísa Mourão Marques recebeu um prêmio por causa de um projeto interdisciplinar (foto). Nem todos lutam para que a escola pública seja premiada. Osmarina luta. Gleidson luta.

domingo, setembro 27, 2009

Os comunistas











Soldados chineses formam o desenho da foice e do martelo

Aos domingos, quando há um ótimo texto no caderno Mais!, do jornal a Folha de São Paulo, eu publico neste blogue. Achei pertinente esta publicação porque ontem o Partido Comunista do Brasil, o PC do B acriano, realizou um encontro estadual.

Boa leitura!

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Dos nove homens mais poderosos da China, membros do Politburo do Partido Comunista, oito são engenheiros. Apenas um é advogado. O debate político parece mínimo, mas a execução das obras e o planejamento estão em todo lugar na transformação da China dos últimos anos.

Os dois membros mais jovens do Politburo têm doutorado -eles devem se tornar os próximos presidente e primeiro-ministro. Um deles, o atual vice-presidente, Xi Jinping, 56, deve ser o próximo presidente, ainda que não seja o preferido de quem hoje ocupa o cargo, Hu Jintao, prova da tímida democracia interna que começou a crescer na última década.

"Antes de morrer, Deng Xiaoping escolheu Jiang Zemin e Hu Jintao como seus sucessores e ninguém ousou desrespeitar seus planos, mesmo quando já estava no túmulo", diz o cientista político Victor Shih, chinês de Hong Kong, que fez doutorado em Harvard sobre política chinesa.

"Não há mais Mao Tse-tung ou Deng Xiaoping, que decidiam tudo. Cada geração tem menos poder que a anterior, e as diferentes facções se monitoram entre si", afirma Shih.

Ainda não se fala em democracia ou em múltiplos partidos, mas o Partido Comunista chinês passa por uma discreta transformação. Dos 371 membros do Comitê Central, 92% têm diploma universitário.

A partir de 1978, depois de três décadas de revolucionários que souberam derrotar japoneses e nacionalistas, mas que afundaram a economia chinesa, o partido só quis saber de crescimento econômico e "estabilidade" social.

Hoje, quem promove maiores altas no PIB em suas cidades e Províncias e reprime ou previne protestos sobe mais rapidamente na hierarquia.

Jiang Zemin é considerado responsável pela transformação econômica de Xangai e esteve entre os responsáveis pela repressão aos estudantes na praça da Paz Celestial. Hu Jintao era secretário-geral do partido no Tibete em 1989 e, diz-se, reprimiu protestos de monges budistas de "forma exemplar". De ditadores poderosos, o PCC passou a uma liderança coletiva com prazo de validade. A aposentadoria é compulsória para quem chega aos 65 anos no Comitê Central e 70 anos no Politburo.

Principezinhos
Meritocracia e bons contatos às vezes se misturam ou competem na ascensão no partido, que tem 76 milhões de afiliados. Um dos grupos em alta no PCC é o dos "principezinhos", filhos de lideranças partidárias que subiram rapidamente na hierarquia pelos contatos herdados. Xi Jinping é um principezinho.

Outro é Bo Xilai, 60, secretário-geral do partido para a região metropolitana mais populosa da China, Chongqing. Bo foi prefeito de Dalian, porto importante do norte do país. Transformou a cidade em modelo ambiental, com programas de transporte público, despoluição e reciclagem de lixo elogiados e um crescimento econômico recorde. De lá, virou ministro do Comércio.

"Parece prêmio ao mérito, mas, por ser filho de pai influente, ele conseguiu atrair investimentos de Pequim, mais créditos nos bancos estatais, investimentos estrangeiros foram dirigidos para lá, então o "quem indica" precedeu o mérito", diz o professor Shih.

Dali foi enviado para chefiar o partido em Chongqing, 31 milhões de habitantes e barril de pólvora político -8 milhões de pessoas desalojadas para a construção da hidrelétrica de Três Gargantas foram para lá. Chongqing vive periódicos protestos sociais e inúmeros casos de corrupção.

No mês passado, Bo colocou na prisão 1.500 pessoas acusadas de participar de tríades, a máfia chinesa. O feito, divulgado amplamente pela mídia estatal, já colocou Bo como outro candidato a suceder Hu -e como adversário de Xi Jinping.

As punições no partido obedecem à mesma dualidade entre performance e padrinhos. Casos de corrupção podem ser punidos com prisão perpétua ou até pena de morte por servirem de "exemplo" a outros milhares de corruptos que estejam fazendo o mesmo -ou como revanche de alguma facção que quer exibir seu poder.

Mudança limitada
A corrupção se espalha de empreiteiras e venda de terras até a educação, a saúde e o interior do partido. Nas Províncias, há esquemas de propina para promoções, cargos bem remunerados ou para aqueles em que é mais fácil fazer dinheiro -como administração de terras ou estatais.

Na reunião anual do Comitê Central do PCC, ocorrida há dez dias, uma das prioridades divulgadas pela imprensa estatal foi o combate à corrupção.

"Um burocrata provincial pode ganhar 5.000 yuans por mês (R$ 1.300), enquanto um diretor de banco estatal pode ganhar 20 vezes isso", diz Shih.

Centenas de casos de corrupção nas Províncias e suas punições, que servem de advertência aos demais, são divulgados diariamente pela imprensa oficial. Não é o que acontece quando os escândalos chegam ao topo da hierarquia comunista.

O "New York Times" noticiou um esquema de propinas na África da empresa chinesa Nuctech, que produz scanners e outros equipamentos de inspeção. Hu Haifeng, filho do presidente Hu Jintao, dirigia a empresa, que até participou de concorrência internacional da Receita Federal no Brasil.

O filho do presidente virou secretário-geral do Partido na holding das empresas criadas pela Universidade Tsinghua, onde pai e filho estudaram. Todas as reportagens sobre a Nuctech são bloqueadas na internet chinesa e o assunto é ignorado pela mídia estatal.

"As políticas anticorrupção não estão funcionando e o próprio governo reconhece", diz Shih. "Apesar da modernização do partido, a inexistência de imprensa livre e de Judiciário autônomo limita a mudança."

sexta-feira, setembro 25, 2009

Blogue aberto a Moisés Diniz

Deputado,

Li com muita atenção a matéria sobre seu projeto, publicada neste blogue (abaixo). Trata-se de um atraso, deputado, quando evangélicos submetem o Estado à vontade de dogmas.

Sou professor da rede pública estadual e, em minhas salas, há alunos homossexuais. Na semana passada, no canto de um corredor, deparei-me com um aluno chorando. Estudioso, educado, bom ser humano, sua homossexualidade não se esfrega na vulgaridade.

Parei para ouvi-lo. Disse-me que seu pai bateu nele durante um bom tempo com galho fino de goiabeira e, agora, aos 16 anos, esse mesmo pai disse à esposa que não tolera mais ver o filho ser protegido pela mãe. "Minha casa não é lugar de viado."

"Por causa de mim, meu pai vai sair de casa, ele vai deixar a minha mãe", disse-me.

Sua avô é evangélica e não aceita o neto como ele é. Um dia que você tiver maturidade para amar alguém e ser amado, realize essa união com dignidade, com respeito. Mas, antes desse amor, estude, dedique-se ao saber para conseguir no futuro um bom emprego e assim não depender de pessoas, por exemplo, de sua família.

Disse isso e mais, mas sei que foi pouco. A injustiça das igrejas evangélicas sobrepõe-se ao equilíbrio da educação. Penso que a escola onde leciono deveria criar a temática homossexual de forma interdisciplinar, um saber entre história, literatura, biologia.

Deputado, a questão é seríssima, lamentável seu caráter recuar perante o fanatismo.

E agora, deputado?

Deputado diz que pode rever projeto contra a homofobia
Texto não é meu

O deputado estadual Moisés Diniz (PC do B), líder do governo na Assembleia Legislativa, vem sofrendo uma campanha implacável e desumana liderada por alguns pastores de Rio Branco, pelo fato de ter apresentado projeto de lei contra a homofobia.

Devido a campanha pesada dos pastores, o deputado está disposto a rever o seu projeto contra a homofobia. Diniz tinha apresentado projeto na Aleac, aprovado por 15 votos a 6, que cria o Dia Estadual de Combate a Homofobia.

“A cada dois dias um homossexual é assassinado no Brasil. O nosso projeto era contra isso, a favor da vida. Eu não pensava que fosse possível ter ódio onde se prega o amor ao próximo”, desabafou o deputado.

O que mais estranha nesse episódio é que o bombardeio e o ódio contra o projeto do parlamentar comunista esteja partindo de um grupo de pastores que deveria ter na essência de suas pregações a defesa da vida e o amor ao próximo, regra e essência dos ensinamentos de Jesus que esses pastores afirmam defender no palco de seus templos.

Esses pastores chegaram ao absurdo de se reunir com o governador Binho Marques, ontem pela manhã, e pedir a ele que vete o projeto.

O parlamentar disse que ficou surpreso com a repercussão do projeto. Ontem à tarde Diniz telefonou para alguns pastores e informou que está disposto a rever o projeto. Detalhe: um outro grupo desses religiosos já se manifestou contrário a campanha que os colegas vêm pregando contra o deputado.

“Eu estou disposto a pedir ao governador que vete o meu projeto. É triste isso, mas eu não recebi nenhum apoio, apenas oposição”, afirmou o líder. A Tribuna apurou que essa campanha contra o projeto do deputado teve apenas um lado: pastores contra. E que nenhum sindicato ou associação da sociedade civil, por exemplo, se manifestou. O recuo de Diniz é exatamente porque apenas um lado está tomando partido.

Os pastores estão na contramão da sociedade moderna, já que o projeto nasceu para combater uma discriminação que gera morte. O deputado não apresentou nada ligado a religião e não propôs nenhum debate religioso, apenas um dia de combate a homofobia, um dia para a defesa da vida.

O projeto de Diniz, ao qual A Tribuna teve acesso, não defende que o cidadão seja homossexual, mas prega a luta contra a perseguição, contra o preconceito que produz a morte.

O deputado disse que há 25 anos já filiava pastores evangélicos no PCdoB em Tarauacá, demonstrando ser um profundo defensor da liberdade religiosa. Disse ainda que não vai constranger os deputados que votaram a favor e nem o governador.

“Eu continuo acreditando que Deus ama a todos os homens, principalmente os pecadores. Não vou entrar em debate religioso e nem insuflar ânimos. Deus vai julgar o que nós estamos fazendo agora”, concluiu.

De alunos e aos alunos

Em minha casa, guardo com muito carinho processos que pessoas moveram contra mim. Para rir delas - e rio muito -, já fui processado por não lecionar gramática em sala de aula, por lecionar produção textual. Até ler Monteiro Lobato para alunos do ensino fundamental foi motivo de processo.

Na Universidade Federal do Acre, consta em um processo que eu lecionava "A República", de Platão, em Literatura Infanto-Juvenil, e isso, acredite, repito, foi motivo para eu ser processado .

O tempo... é preciso paciência para que o rosto das horas e dos dias revele seus traços serenos de verdade. É preciso esperar. No passado dessas folhas processuais até hoje, coleciono em meu álbum minutos, horas, dias, semanas, meses, anos.

À sombra das folhas mortas de outono, é preciso esperar sem jamais deixar de acolher na memória de minha história nomes que me traíram em páginas desses processos.

Como me esquecer de João de Carvalho? como me esquecer de Milton Chamarelli? esquecer-me de Vicente Serqueira, como? Não me esqueço desses nomes - há mais - como quem não se esquece do Deus, o do Velho Testamento.

Ainda permaneço muito vivo em sala de aula, e meus alunos, os mais dedicados, os mais interessados, os inquietos, os que incomodam a mediocridade, reconhecem a voracidade carinhosa de minhas aulas e a desobediência de minha paixão por lecionar. Deles, recebo o mais sincero respeito e admiração após 10 anos, após 15 anos.

Recentemente, a turma A, segundo ano do ensino médio da escola Heloísa Mourão Marques, criou uma festa para o corpo docente, e eu, em minha condição humana, não pude deixar de me emocionar diante de alunos inteligentes, esforçados, amorosos, inquietos. Mesmo os que não passaram, mesmo eles, creia-me, não deixaram de reconhecer a minha vontade de transformar suas vidas por meio da educação, da cultura, do saber.

Deus sabe o quanto desejo revê-los no futuro como adultos vitoriosos em suas profissões, e isso significa dizer servir suas profissões com paixão aos seus semelhantes, porque a essência do trabalho não se reduz a receber o salário no final do mês, porém transformar, para melhor, a vida do semelhante.

Fui teu professor para que tu nunca te esqueças de mim como obstáculo ultrapassado por seu esforço e por sua inteligência. Quem não me transpos, paciência, ainda não era a tua hora, o teu tempo.

Dois alunos passaram pelo obstáculo e deixaram estas palavras neste blogue.

"Professor, como aluna, posso dizer que suas aulas são excelentes!!!. Outros professores de outras disciplinas até se questionam se o senhor, um homem tão rígido, tem um 'mel' que conquista os alunos! Bom seria se todos os professores utilizassem métodos assim, que, além de descontraírem, estimulam o aprendizado! Abraços!"

"Por isso que eu o admiro como professor, como pessoa. Sinto falta das tuas aulas. Um abraço!"

quinta-feira, setembro 24, 2009

Bagunça Escolar









Aldoro uma bagunça em minha sala de aula. Gosto da ordem, sei o quanto ela é importante por vários motivos. A desordem (outra forma de ordem) me seduz. Os poetas árcades desprezavam a estética barroca por achar que ela pertencia à impureza da desordem.











O barroco, entretanto, representa uma outra ordem que a ordem árcade não quer entender, por exemplo, a ordem lúdica. Brincar em sala. Gritar. Bagunçar. Desordem sob controle.

Hoje, mais uma vez, permiti que meus alunos brincassem, e eu também, claro. Divididos em grupos de três, uma disputa entre rapazes e moças para colocar em ordem parágrafos fora da ordem lógica de raciocínio. Muito bom.

Leciono há quase 20 anos e ainda me oponho a uma sala SOMENTE séria, formal, inflexível. Até hoje, não me deixo ser possuído pelo condicionamento monótono das escolas. Não consigo imaginar o ato de lecionar sem a presença prazerosa do lúdico.

Senhores, brinquemos!

Da Ufac ao Gazeta Alerta

Diante do poder comunicativo da televisão, este blogue não passa de um indigente, um corpo verbal sepultado pelo esquecimento da indiferença. Quem é Aldo Nascimento perante a audiência de um Edvaldo Sousa, do programa Gazeta Alerta?

Mas, por eu não ser senso comum - e nem gostaria -, motivo-me a manter uma crítica sóbria não à pessoa de Edvaldo Sousa, por sinal, homem honrado, idôneo, mas à sua condição de comunicador de massa. Sua imagem pública, portanto, incomoda-me como fenômeno social. Repito: como fenômeno social. Quando a opinião é sobre violência, ele influencia telespectadores de classes sociais.

Sobre isso, o silêncio espesso de professores das faculdades de jornalismo. São intelectuais que lecionam entre quatro paredes teorias da comunicação; porém, além dessas paredes, noticiam mudez na imprensa escrita. Não se lê no jornais locais um artigo sequer sobre comunicação de massa do Acre.

Na tela
Não tenho hábito de assistir ao progrma Gazeta Alerta, gostaria se o tempo estivesse a meu favor. Às vezes, quando está, assito.

Ontem, após a condenação de Hildebrando Pascoal, vi o comunicador em seu programa sem o mesmo tom de voz de outras vezs. Para falar da sentença, do caso Baiano, o âncora foi comedido, prudente, limitando-se ao fato em si, isto é, à sua superfície.

Não ouvi "sua subjetividade" em ação, sua dramaticidade, porque falar da violência dos marginalizados pelo Estado ao londo de décadas não se equipara à violência de uma classe social que transformou o poder institucional em esquadrão da morte.

Neste ano, por falta de tempo, não apresentarei ensaio a um concurso da Prefeitura de Rio Branco, droga. Quando o tempo estiver a meu favor, escreverei um ensaio, quem sabe, sobre Gazeta Alerta.

quarta-feira, setembro 23, 2009

A caneta









Foto de Debora Mangrich,
a gorda

Conforme acordo, a TV Justiça passaria às TVs acrianas as imagens do caso Baiano. O Sindicato dos Jornalistas do Acre assinou.

O chefe de jornalismo da TV Acre, Jefson Dourado, resolveu registrar as imagens por meio de uma caneta-filmadora. Foi detido.

segunda-feira, setembro 21, 2009

Quinta Parada GLBT de Rio Branco

Íris é a deusa do arco-íris. Ela é descrita como uma figura feminina alada e muito bonita, na maioria das vezes, ela parece vestida com uma longa túnica, e suas asas possuem coloração dourada. Seus símbolos são o arco-íris e um cálice dourado.

Deusa mensageira, como Hermes, era venerada pelos gregos que acreditavam que Íris tinha como função manter a ligação entre o céu e a terra, entre os deuses e os homens, transmitindo ordens, pedidos e conselhos.

No Olimpo, Íris atendia aos deuses, principalmente, a Zeus, mas se dedicava mais à deusa Hera. Segundo a lenda, as asas adquiriam as cores do arco-íris quando a jovem partia para suas tarefas. Foto de Debora Mangrich.















Foto de Debora Mangrich. Quando fanáticos neopentecostais buscam a verdade absoluta, a ambivalência do homossexual desorganiza, relativiza.




















Foto de Debora Mangrich. Os gays reverenciam o excesso, são muitas cores, muitas formas. Há neles o culto à vida intensa, mas há também um culto ao mito de Narciso. Esse mito grego é homossexual porque, por meio de seu reflexo na água, o outro, a imagem, é seu próprio sexo.










Foto de Debora Mangrich. Fui à Parada Gay (letras maiúsculas). A liberdade de se fantasiar, e o desejo por outro homem. O gay da foto não matou seu semelhante como o Deus de Israel mata até hoje na Faixa de Gaza palestinos. Penso ser inumano matar homossexuais ou chamá-los de sujos.


sexta-feira, setembro 18, 2009

Xonarlismo

"Eu não posso está fora do cenário político. Eu vou está presente onde eu possa expressar ao mundo os meus valores."

Comum entre nossos jornalistas. Buscar o correto nesse caso depende de colocar outro verbo no lugar de "está". Nós não falamos "posso morre", mas "posso morrer". Feita a troca, nós falamos "posso estar" e não "posso está".

Meninos Livres












Debora Mangrich é atenta aos movimentos da cidade. Nessa foto, ela, muito mais do que fotografar, sacaneou dois alunos que pularam os limites do colégio Meta.

Livres dos cálculos, das ligações covalentes, dos versos de Oswald de Andrade, libertos da Revolução Russa, esses dois jovens foram buscar o sentido da vida exercendo a desobediência.

Como é doce e boba a (falsa) liberdade.

quinta-feira, setembro 17, 2009

O que sobrará do PT?

Com muita tristeza, li a matéria da jornalista Nayanne Santana. Antes, o Partido dos Trabalhadores orgulhava-se de ser uma legenda que admitia a pluralidade de ideias. O PT, entretanto, depois de seus anos iniciais, transformou-se em um grupo fechado que não ouve a fala diferente do outro, no caso, a do deputado federal Henrique Afonso.

A Comissão de Ética do PT puniu-o por ele inaceitar o aborto. Não há outra saída para Afonso. Por ser evangélico, ele não rasgará a Bíblia para ler ajoealhado a cartilha do partido. É uma questão de tempo sua saída.

O que sobrará do PT depois do poder?

PT pune Henrique Afonso
DeNayanne Santana

O deputado federal Henrique Afonso (PT) foi punido pelo Partido dos Trabalhadores por ser contrário ao aborto. Desde junho de 2010, o deputado aguardava o resultado do julgamento que decidiria se ele seria expulso da legenda de que ele faz parte há décadas. O resultado foi anunciado na quinta-feira, dia 17, por volta das 18 horas.

O diretório nacional do Partido dos Trabalhadores decidiu que Henrique será punido com suspensão por três meses das atividades partidárias e está proibido de participar, pelo período de dois anos, como representante do partido na qualidade de membro titular ou suplente da Comissão de Seguridade Social Saúde e Família da Câmara dos Deputados.

Por meio de sua assessoria, o parlamentar informou que se manifestará sobre a decisão na próxima semana “depois de ouvir atentamente sua família, lideranças ligadas ao mandato e os companheiros do PT do Acre”, informou a assessoria parlamentar.

Entenda o caso

O pedido de expulsão do parlamentar acriano foi feito pela Secretaria Nacional de Mulheres do PT em junho de 2008 durante um encontro realizado em Brasília.

A secretaria pediu que o partido entrasse com processo contra o parlamentar acriano e contra o deputado federal Luiz Bassuma (PT-BA), que também é contra o aborto. Na época, foi divulgada uma nota em que Afonso explicava como foi formalizado o pedido de expulsão ou de punição.

Segundo a nota, a Secretaria Nacional de Mulheres, que faz parte da Executiva Nacional do PT, entrou com uma representação que solicita a instalação ‘imediata de Comissão de Ética’ para os deputados federais Luiz Bassuma (PT-BA) e Henrique Afonso (PT-AC), porque ambos tinham posições públicas contra a legalização do aborto no Brasil.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Estudante de Jornalismo

No último período da Uninorte, uma estudante de Xonarlismo evacuou a seguinte pergunta: "Que porra é essa de Aleac?".

Para quem não sabe, Aleac é Assembleia Legislativa do Acre.

terça-feira, setembro 15, 2009

Nem tudo é perfeito












Sempre votei em Jorge Viana. Nele, porém, incomoda-me sua pensão vitalícia de ex-governador e o peso de sua mão na imprensa acriana.

Quando foi governador, os chargistas deixaram de existir nos jornais do Estado, não podíamos rir de sua imagem, brincar com o representande do poder.

As fotos tinham de ser perfeitas. Na de acima, o fotógrafo congelou seu gesto inadequado, imperfeito. Jorge Viana é humano.

domingo, setembro 13, 2009

Nesta semana, Deus também é gay

De Aldo Nascimento

Nesses meus anos no Acre, ouvi muitas vezes de evangélicos desqualificados que homossexuais não são criaturas de Deus. Sujos, essas anomalias disseminam promiscuidade, devassidão, luxúria, pecados aos olhos de seres humanos normais. “O Senhor criou o homem e a mulher no Paraíso, não o homossexual”, disse-me um pastor.

Respondi-lhe que também não havia prostituta no Paraíso, porém Jesus, mesmo assim, impediu que Madalena fosse apedrejada. Há muito tempo, esses fanáticos atiram pedras em homossexuais porque a Madalena de ontem é o gay, é o travesti, é a lésbica de hoje.

Atire a primeira pedra quem não pecou.” Os homófobos cristãos, entretanto, por acharem que não pecam, por acharem que são puros, atiram suas pedras imensas e pesadas como a verdade. O Deus desses evangélicos é másculo e, em sua divina masculinidade, ergue sua viril homofobia.

Mas quem pensa que eles entregam tudo à lei de Moisés comete um judaico engano. O Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (Cimeb) questionava uma lei paulista que pune administrativamente quem discriminar alguém devido à orientação sexual.

Por causa dessa lei, a 10.948/01, o Cimeb afirmava que a Constituição estava sendo “rasgada e aviltada” pela criação de uma lei estadual que protege um grupo específico da sociedade. Os pastores evangélicos ligados ao conselho lembraram que outros grupos - mulheres, idosos, negros, nordestinos, divorciados, casais que não têm filhos, evangélicos, religiosos africanos, católicos e judeus - também sofrem discriminação sem ter uma lei semelhante.

Os homófobos da fé definiram a lei como uma “mordaça” que viola o direito constitucional de liberdade do pensamento. “A manifestação pública sob o ponto de vista moral, filosófico ou psicológico contrário aos homossexuais é passível de punição”, afirmam os “puros”. Contrariando as pedras desses evangélicos, o Supremo Tribunal Federal (STF) arquivou na semana passada a ação judicial do Cimeb, graças a Deus.

Poderia exemplificar outros casos, mas esse do Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil deixa bem claro que evangélicos - os únicos representantes, segundo eles, de Deus na Terra - ambicionam um Poder Legislativo que seja a extensão da lei judaica, patriarcal e máscula.

Em Êxodo (32 :25-29), esse mesmo Deus-homem, criador da lei, ordena que Moisés retire a vida dos seus: “(...) e mate cada um a seu irmão, cada um, a seu amigo, e cada um, a seu vizinho (...).” Antes, ainda em Êxodo (11:5-7), esse Deus ordena que “todo primogênito na terra do Egito morrerá (...).” O Deus de Israel mata crianças, seres inocentes e puros, para que o Faraó liberte o povo hebreu. Ainda hoje, esse Deus de evangélicos mata crianças palestinas, sufocando-as lentamente em um campo de concentração chamado Faixa de Gaza.

Certa vez, abrindo suas páginas, Carlos Drummond de Andrade disse aos meus olhos... “quando digo ‘meu Deus’/afirmo a propriedade./Há mil deuses pessoais/em nichos da cidade.” Se é assim, eu não creio em um Deus que mata ou em um Deus que chama homossexuais de sujos. O meu Deus não segura na mão da intolerância a pedra imensa e pesada da verdade.

Assim como no jardim há várias cores, várias formas e vários aromas, o meu Deus criou verdades. Nele, cabem os povos com suas línguas e com seus livros: Bíblia, Alcorão. Que triste seria a vida se houvesse arco-íris com uma só cor. Se há beleza na vida, é porque nela pulsa a diversidade das cores. O meu Deus é mulher. O meu Deus é homem. O meu Deus também é gay.

Na Semana da Diversidade, homossexuais não matarão seu semelhante, porque, do semelhante, eles desejam o corpo para o gozo, para o beijo, para o amor. Que homens beijem seus homens e que mulheres beijem suas mulheres sem perder na intimidade a dignidade humana, e essa dignidade não se encontra no orifício. Conheço muitos homossexuais mais dignos que heterossexuais.

Tanta fome neste país. Tanta miséria nesta pátria. Por entre os dedos de políticos, sai tanta injustiça social. O meu Deus tem mais o que fazer, não fica olhando para o rabo dos outros.

terça-feira, setembro 08, 2009

Entre a folia e a violência

Sena-Folia registra uma morte, uma tentativa de homicídio e 29 prisões

O Carnaval fora de época, o já tradicional Sena-Folia, realizado na noite de sábado em Sena Madureira, não foi dos mais tranquilos. Mais de cinco mil pessoas lotaram as dependências da praça 25 de Setembro.

As Polícias Civil e Militar prenderam 29 foliões. A grande maioria por excesso de bebida, desordem ou pequenas desavenças, nada de muito grave. O saldo negativo ficou por conta de um homicídio e uma tentativa de homicídio.

TRÊS TIROS
Era madrugada de domingo, o jovem Francisco Rodrigues da Silva, o Barrão (22), retornava para casa quando dois homens encapuzados dispararam contra ele. Atingido nas costas, no abdome e no braço, o rapaz correu para pedir ajuda.

Depois de passar pelo hospital, foi transferido para o hospital de Rio Branco e submetido a cirurgias de emergências. Um acerto de contas seria a causa do atentado.

ASSASSINATO
Na madrugada de domingo, policiais souberam que um homem havia sido assassinado nas proximidades da área da folia. No local, eles se depararam com um jovem de uns 22 anos morto a pauladas. Ele estava com o rosto desfigurado.

Como não tinha documento, foi encaminhado ao Instituto Médico Legal de Rio Branco, onde permanecia até ontem à espera de parentes.

Os dois crimes estão sendo investigadores pelo delegado Jarlen Alexandre.

Um bom livro



O poeta da filosofia, Nietzsche, diz que
não existe verdade, mas interpretações.







Sete de Setembro, o desfile, mereceu uma caprichosa interpretação de Roberto DaMatta no livro Carnavais, malandros e heróis. Assim como Raízes do Brasil e Casa-Grande e Senzala, a obra de DaMatta é um clássico para o brasileiro entender melhor sua pátria.

No Acre, o desfile iniciou-se à noite, o que é um erro simbólico. A parada militar emerge ao amanhecer. O carnaval é que pertence à noite. Para o antropólogo, o Dia da Pátria representa o reforço; o carnaval, a inversão; e a procissão, a neutralização.

Conforme Roberto DaMatta escreve, a parada militar e a procissão assemelham-se porque elas fazem uma trajetória familiar. Ele chama a parada militar de uma segunda procissão.

Mas os soldados não reverenciam a população, e sim as autoridades. A continência, que é com a mão direita - por que a direita? -, representa uma obediência à ordem, a uma organização social fixa. A parada militar é moralizadora.

Nesse sentido, 7 de Setembro se mantém organizado como há anos, diferente do carnaval. No Acre, a Frente Popular organiza o carnaval para também ser familiar, perdendo assim sua força de subversão da ordem social. Não são assimilados os signos da festa de Momo, mas os signos do Dia da Pátria, a população os assimila. Como escreve DaMatta na página 52, "o Dia sa Pátria é um rito formal e que celebra a estrutura", no caso, a divisão social, a divisão de classe.

O carnaval, informal que é, não celebra essa divisão, mas a inverte, por isso a Secretaria de Cultura do Estado do Acre, sem compreender a importância cultural do carnaval, deforma-o.

Leia essa dica que oferto a teus olhos.

Banco Irreal

Em Rio Branco, Acre, o banco pode se chamar Real, mas a realidade do cliente é irreal. Blogueiro(a), repare nos minutos.

domingo, setembro 06, 2009

Ainda sobre Marina Silva

Jogo embaralhado

Como Collor e Jânio Quadros, Marina Silva encarna figura salvadora em um cenário político degradado, mas sua "doce" presença terá efeitos mais promissores, defende José Arthur Giannotti

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI
COLUNISTA DA FOLHA

A senadora Marina Silva abandona o PT, inscreve-se no Partido Verde e se prepara para lançar-se como candidata à Presidência da República. De repente, todo o jogo político anterior, que tendia a se polarizar entre dois candidatos, se embaralha e se torna mais imprevisível. O que está acontecendo?

Antes explico meu vocabulário. Em geral não uso o conceito de sistema político porque me parece muito abstrato, pois capta antes de tudo a estrutura das regras de um processo mais rico. Prefiro aquele de jogo, não no sentido da teoria dos jogos porque, assim fazendo, cairia nas mesmas armadilhas armadas pelo conceito de sistema. Mas tomo "jogo" para descrever um processo real, como se fosse uma partida de futebol. O sistema demarca as regras; a partida, o curso das interações sociais; os times e partidos, os grupos socializados.

Posso então dizer que o jogo político brasileiro endoideceu, deixando de cumprir as tarefas que lhe correspondem em uma sociedade moderna: representar interesses dos vários grupos sociais, encená-los em um palco a ser visto e corrigido pela opinião pública, sempre com o intuito de reforçar e projetar um ideal de nação.

Note-se que a implosão do jogo pode muito bem não corresponder à destruição do sistema. Desse último ponto de vista, as regras da política democrática continuam sendo seguidas e os partidos têm mantido os desempenhos esperados. Mas cada partida é um desastre, os atores comem bola, revelam-se fantoches a mando de caciques debochados. Qual é a qualidade de nossa democracia?

Seria longo demais fazer a análise e a história desse derretimento. Mas me parece evidente que uma das causas foi a vinda do PT para o centro político e o pragmatismo cada vez mais descarado do lulo-petismo. De modo nenhum estou isentando as oposições da responsabilidade pelo desastre, apenas lembro que a ponta de lança da confusão se formou quando o PT de Lula, nas pistas do PSDB, aderiu a uma social-democracia de cunho "neoliberal", bebeu até a última gota do cálice das alianças envenenadas -se a política é essa sujeira, então não há como não aderir a ela, dizem eles- e se entregou a tal ponto às práticas tradicionais que ressuscita os velhos coronéis da política brasileira.

Luta política
É de esperar que, numa situação de anomia, surja uma força nova, capaz de refazer o sentido das jogadas. A disputa eleitoral já está nas ruas e caminhava para um duelo entre situação e oposição, cada parte fazendo todo o possível para aparentar o que de fato não é.

De repente surge "santa" Marina. O que isso significa? Costuma-se dizer que o poder corrompe. Isso tem muito de verdade, pois reside na essência da ação política. Se no início esta é quase sempre estimulada por ideais moralmente impecáveis, ela se degrada ao longo de seu exercício. Isso sobretudo porque se faz por meio de alianças que tanto aglutinam vários atores em vista de certos ideais como estabelecem uma divisão entre aliados e adversários.

Pouco importa se ambas as partes formulam esses ideais pelas mesmas palavras, as práticas emprestam a elas sentidos diferentes, à medida que ações, manipulando os fundos públicos e orientando o exercício da violência legítima, constroem forças coletivas que sempre encobrem uma diferença larvar.

Procurando conciliar, a ação política separa aliados e adversários. A decisão por maioria apenas posterga, ou transfere para outro plano, diferenças que se mantêm conforme vão sendo reformuladas. A luta pelo poder junta e divide.

Ora, nos últimos tempos, essa luta tanto se embaralhou que as ações e os próprios atores políticos estão progressivamente perdendo suas identidades. O termômetro é o presidente Lula, cujas falas e práticas contraditórias se espalham por todas as direções.

Renovação possível
Nessa situação de derretimento das ações instituintes, se espera que se levante um novo ideário. Já tenho idade para ter assistido a várias dessas irrupções salvadoras e moralizadoras: Jânio, Collor... Qual seria o conselheiro da vez? Temia um novo ator truculento, feroz demagogo querendo nos curar a ferro e a fogo.

Mas veio a doce Marina Silva. Sua presença já promete uma renovação possível, pode tornar mais higiênico nosso jogo político. Não me parece, até agora, que possa vencer a eleição para a Presidência, mas simplesmente sua atuação mobiliza novos atores, eleva o debate político, tende a reduzir os golpes baixos e a demarcar regras e personagens.

Se fizer uma campanha de alto nível e inovadora, coloca de vez a problemática do desenvolvimento sustentável na agenda de qualquer governo que resulte da próxima eleição.

E pode levantar a pergunta básica: que desenvolvimento queremos ter? Mas que ela não caia no abismo que a espreita: uma campanha altamente centrada nos problemas da moralidade pública desemboca, como já sabemos, na politicalha da sujeira.
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JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI é professor emérito da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Escreve na seção "Autores", do Mais! .

Habilidade matemática de uma menina

Em 31 de agosto de 2009, a Globo emitiu, mais uma vez, a imagem de Marina Silva no Programa do Jô. Ao ícone ambientalista, Jô Soares concedeu dois blocos. Quanto custa um minuto na maior audiência do país? A senadora Marina falou por muito tempo, uns 15 minutos por bloco.

No primeiro, suas palavras passearam pela floresta. Outra vez, Marina ratificou sua imagem de “protetora do meio ambiente” e, em nenhum momento, a mulher que nasceu em uma classe social pobre mostrou-se indignada com a miséria, com a exploração. No meio ambiente de Marina Silva, as injustiças sociais calaram-se na entrevista.

Pedi a Deus para a senadora falar dos desenganados, por isso esperei pelo segundo bloco. Ela, entretanto, usou o tempo caríssimo da televisão para falar dela mesma, da menina pobre que ajudou o pai a calcular a péla quando pesada. A menina Marina era hábil com os números. A senadora só não falou das oligarquias que sempre foram mais hábeis para trapacear nos cálculos.

Uma entrevista amena para entreter o público. Se eu quisesse assistir a uma provocação, a senadora Mariana Silva deveria estar diante de outro gordo, Antônio Abujamra (foto).

Mas quem saberia das habilidades matemáticas de uma menina se a audiência da TV Cultura é tão pequena?

terça-feira, setembro 01, 2009

Dez sugestões para uma manchete de jornal

No Acre, o PMDB colocará Pinto como candidato a governador. A princípio, posso afirmar que a campanha do PMDB acriano será ambígua. Leiamo:)

1. Pinto surpreende e cresce;
2. Pinto dispara na frente;
3. Pinto cresce nas pesquisas de boca;
4. Pinto perde a cabeça na campanha;
5. Indeciso na reta final, Pinto não sabe se sai ou continua;
6. No debate da TV, Pinto goza de adversários;
7. Pinto já está na boca do povo;
8. Pinto conquista donas de casa;
9. Comunidade gay dá todo apoio a Pinto; e
10. Mesmo sem força para subir na boca de urna, Pinto ainda acredita na virada.

Deixando de lado essas anfibologias, não acredito que na campanha de 2010 Pinto irá endurecer contra a Frente Popular.