segunda-feira, dezembro 08, 2014

Erro



Para os ignorantes - e isso inclui alguns professores de Língua Portuguesa -, EXCLUIR a gramática da produção textual e da leitura é erro.







segunda-feira, dezembro 01, 2014

12 homens e uma sentença. A verdade



A relação entre o filme “Doze homens e uma sentença” e
o pensamento “para lutarmos contra a palavra mentirosa,
só possuímos uma arma:a palavra verdadeira”, de Platão.

Filme de 1957 e dirigido por Sidney Lumet, “Doze homens e uma sentença” inicia-se com escadas e com pilastras gregas. O câmera man focaliza em primeiro plano a arquitetura da justiça, conduzindo nosso olhar lentamente ao alto. A justiça surge superior, imponente, grandiosa, acima de quem a vê.

Em outro momento, à direita do juiz, doze homens ouvem o magistrado e, entre o que foi dito, destaco estas palavras: “Agora é dever de vocês tentar separar os fatos da versão”. A partir disso, destaco, entre os personagens, dois que no começo se opõem: o proprietário de uma firma, aquele que se irrita com advogados prolixos, que quase dormiu no julgamento, que, em casos óbvios, advogados falam sem parar, por isso ele pouparia tempo e dinheiro; o outro, único que votou contra a condenação, levanta a dúvida de “não saber”.

O primeiro prende-se aos fatos, defende a condenação do jovem pelo que foi apresentado a ele, isto é, esse personagem recebe o já dado, o que foi falado no julgamento. Dessa forma, contra fatos, não existe argumentação, mas o argumento não pertence a ele porque, antes, no tribunal, a palavra foi dada a ele. Além disso, como esse personagem afirmou anteriormente, “quase dormiu”. Assim, ao dialogar com quem votou contra a condenação, ele cita os fatos: a localidade da vítima e a hora do assassinato, a precisão dos legistas. Enfim, para ele, fato é fato, ou seja, sua fala é tautológica. Esse personagem, portanto, jamais se pergunta, nunca reflete sobre o que está estabelecido enquanto fato.
Diferente dele, o outro personagem, aquele que fica à janela, que olha para lá fora de forma pensativa, separa, de sua versão, o fato apresentado no tribunal, porque o fato, para ele, motiva dúvidas. Sua linguagem, por reflexiva, busca a verdade, isto é, busca a adequação “justa” ou ajustada entre palavra e objeto.

O primeiro reproduz o fato apresentado no tribunal, não havendo a sua versão e, quando digo versão, digo verso, digo o outro lado, quer dizer, o que não é frontal, o que já é dado. Por sua vez, a palavra ocultada pelo verso da folha ou pelo verso do fato, ele não a lê, porque, incapaz de refletir sobre, a folha não é “dobrada”, não é flexionada sobre ela mesma, por isso o fato é fato. No entanto, ao dizer isso, esse personagem não (des)cobre o fato, visto que se limita aos contornos da aparência. Aqui, portanto, diferente de Platão, a aparência é a verdade.

Como combater essa palavra? Ora, se o fato é modelo, não podemos nos afastar dele, por isso que cada parte do todo será re-visto pela decomposição de uma versão. Esse personagem reflexivo colocará uma linguagem que copiará o modelo, por isso usa uma planta do local onde houve o assassinato. Se a cópia é representar, e se representar é ordenar a fim de que a cópia se aproxime do modelo, a linguagem reflexiva, aquela que se dobra sobre ela mesma, copiará com precisão cada detalhe do modelo. É a versão que se ajusta ao fato, porque ela sabe que o que havia antes não passava de aparência do fato. Entretanto, ajustar palavra e o fato não é dizer que a palavra é o fato, porque, entre os 12 homens e o modelo, há uma mulher-testemunha que assistiu a tudo, ou seja, ela quem fala do modelo, ela quem “viu”, sendo os 12, portanto, o simulacro. Como esse personagem reflexivo afirma, “o preconceito sempre obscurece a verdade”. O pré-conceito obscurece. Contudo, ainda que os doze assistissem ao fato, o fato em si é verdade? Eis, portanto, a palavra verdadeira da filosofia, a arma de que fala Platão: duvidar.